“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-O à ignomínia”.
Estes versos, através dos séculos, têm deixado seus leitores angustiados e perplexos, porque, à primeira vista, parecem ensinar que não há esperança de arrependimento ou de aceitação divina para aqueles que aceitaram a Cristo e depois O rejeitaram.
Para melhor compreensão do problema, Hebreus 6:4-6 deve ser estudado juntamente com as declarações que tratam do mesmo assunto em Hebreus 10:26-31 e 12:15-17, 25-29.
Há várias interpretações sugeridas para solucionar os aparentes paradoxos desta passagem com as demais doutrinas escriturísticas, destacando-se entre estas as arminianas e as calvinistas, apresentadas por Russell Champlin, em O Novo Testamento Interpretado, vol. 5, págs. 537 e 538.
Em uma coisa os comentaristas estão de acordo: há neste trecho referências ao pecado da apostasia.
Declara o Comentário Bíblico Adventista:
“Entre as várias opiniões que têm sido sugeridas, duas são dignas de consideração:
1º) Que a apostasia aqui referida é o ato de cometer o pecado imperdoável (Mateus 12:31-32), uma vez que esta é a única forma de apostasia que é sem esperança.
2º) Que a passagem corretamente compreendida não ensina a absoluta desesperança da apostasia aqui descrita, mas uma desesperança condicional (Hebreus 6:6). A maioria dos comentaristas aceita a primeira alternativa, embora a segunda tenha méritos e possa ser baseada no grego”.
Como bem salientou Cotton: “Nada pode existir nesta passagem que nos leve a duvidar da total misericórdia de Deus, pois, do contrário, esta passagem destruiria o Evangelho”.
Deduzimos da leitura de Hebreus 6:4-6, e das outras passagens correlatas, que Paulo fala de pessoas que propositadamente rejeitaram a Cristo e os princípios do Evangelho.
As afirmações aqui consignadas pelo apóstolo trouxeram sérios problemas para a igreja cristã, especialmente durante as perseguições, quando alguns fraquejaram e posteriormente arrependidos de terem sido tíbios na fé quiseram voltar, muitas comunidades cristãs não queriam aceitá-los escudados em Hebreus 6:6.
A seguinte verdade não pode ser esquecida: Cristo está sempre de braços abertos para receber o mais indigno pecador, que reconhece o erro e apela pelo perdão como nos relata Mateus 18:22 e se comprova na triste experiência de Pedro. Em contrapartida, outra verdade escriturística deve ser lembrada: não há esperança para quem consciente e deliberadamente rejeita os ensinamentos de Cristo e o Seu sacrifício vicário em nosso favor.
Algumas ponderações esclarecedoras:
“Caíram” (6:6) significa não pecados grosseiros, mas, antes, nada menos que apostasia deliberada, uma completa rejeição e execração à fé de Cristo. No que lhes diz respeito (isto é, para si mesmos) tais pessoas expulsam Cristo de suas próprias vidas, ou rejeitam Sua reivindicação de ser o Filho de Deus, por ação similar à daqueles que procuraram livrar-se dEle ao crucificá-Lo. Desse modo expõem Cristo publicamente à vergonha” (O Novo Comentário da Bíblia, editado em português por Russell P. Shedd).
“Há aqui referências aos apostatados do cristianismo, àqueles que rejeitaram todo o sistema cristão e seu Autor, o Senhor Jesus.
O apóstolo se refere também àqueles que se uniram com os judeus blasfemos, chamando a Cristo de impostor, sustentando que Sua morte na cruz foi consequência de ser um malfeitor. Este procedimento tornou impossível sua salvação, porque de maneira obstinada e maliciosa rejeitaram ao Senhor que os resgatara. Ninguém que creia em Cristo como o grande sacrifício pelo pecado e conhece o cristianismo como uma revelação divina está aqui incluído, embora ele possa ter desventuradamente apostatado de algum aspecto da salvação de Deus.
Estão crucificando novamente a Jesus Cristo, isto é, eles mostram abertamente que julgam a Cristo como digno da morte que Ele sofreu, tornando-se um exemplo público por ter sido crucificado.
Isto mostra que é a apostasia final, pela total rejeição do Evangelho e blasfêmia ao Salvador dos homens, que o apóstolo tem em vista neste relato” (Notas de Adam Clarke sobre Hebreus 6:4 a 6).
“Algumas pessoas ficam perturbadas com estes textos, pensando que é possível que eles se refiram ao apostatado comum, que em seu coração jamais rejeitou ao Senhor, e que está constantemente pensando que algum dia voltará a servi-Lo novamente. E muitas vezes, quando ele começa a pensar seriamente em fazer isto o mais depressa possível, então o inimigo das almas o confronta com estes textos, da mesma forma que confrontou o próprio Cristo com textos da Escritura, procurando dar-lhes una aplicação errônea.
“O texto fala de indivíduos que verdadeiramente foram iluminados.Verdadeiramente provaram o dom celestial, e sabem por experiência o que ele significa. Tornaram-se participantes do Espírito Santo. Provaram a Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro. Sua experiência alcançou as profundezas de um conhecimento definido, de forma que conheceram os explícitos fundamentos do divino dom. E então estes indivíduos se afastam de tudo isto, e, segundo o texto citado dodécimo capítulo de Hebreus, consideram o sangue da aliança, pelo qual foramsantificados, como coisa profana, comum. Desprezaram o Espírito da graça.
“O texto fala de uma deserção real que leva um homem a renunciar a coisas que ele realmente sabe serem a verdade, e a tratar com desrespeito e desprezo o Espírito Santo, cujas influências em toda a sua bendita realidade ele sentiu no próprio coração e vida.
“E tendo desertado desta maneira pode ser prontamente visto que ele se desligou de todas as influências que o atrairiam ao céu, e propositada e determinadamente se colocou numa posição sem esperança e fora do alcance de Deus. O texto mostra que ele fez isto voluntariamente – exercitou sua vontade para fazê-lo.
“Mas o pobre apostatado, em vez de exercitar qualquer poder da vontade simplesmente deixou que sua vontade fosse vencida e destronada pelos persistentes ataques de Satanás; e para todos estes, o Senhor envia muitos apelos graciosos em Sua Palavra, como (Jereremias 35:12-14, 22). De todos os benditos atributos de Deus, há um que Ele destacou como preeminente: O Senhor… tem prazer na misericórdia. Miquéias7:18” (Questions and Answers, F. M. Wilcox, vol. 2, págs. 210-212).
Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.
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