“A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um”.
Os que acreditam no purgatório, assim o definem: lugar onde as almas dos justos são purificadas através de padecimentos. As almas que lá se encontram são chamadas de “pobres” por estarem padecendo; de outro lado são também denominadas “santas”, porque se arrependeram profundamente de seus pecados.
Seus defensores assim o justificam:
Após a morte, os que cometeram pecado mortal irão para o inferno. Aqueles que estiverem na graça de Deus e livres de pecados venais ou mortais irão diretamente para o paraíso. As pessoas cujas faltas não foram expiadas cabalmente permanecerão no purgatório até estarem em condições de irem para o céu.
Segundo os teólogos católicos as pessoas necessitam pagar através do sofrimento as penas devidas aos seus pecados.
Argumentos Católicos em Defesa do Purgatório:
1º) Declarações Bíblicas:
a) Mateus 12:32 – Esta declaração bíblica admite que há pecados que serão perdoados em outra vida.
b) 2Timóteo 1:18 – O apelo a Cristo para obter misericórdia junto de Deus, no dia do juízo, em favor de Onésimo, supõe a convicção de que também após a morte ainda é possível uma sentença mais favorável que a estritamente merecida.
c) 1Coríntios 3:12-15.
d) Mateus 5:26.
e) 2Macabeus 12:39-43 – Nos versos deste livro há referências aos sacrifícios expiatórios pelos que morreram. A Igreja Católica baseada neste relato sentencia: Há um lugar de expiação e pode-se orar pelos mortos, mesmo porque é santo e salutar este procedimento.
Esta declaração, por ser de um livro apócrifo, não é inspirada, por isso contradiz os ensinos dos livros canônicos.
2º) O ensino da tradição e da constante doutrina da Igreja:
Desde os tempos apostólicos os pais da Igreja e outros escritores eclesiásticos pregam tal doutrina. Cipriano, Tertuliano, Cirilo de Jerusalém, Crisóstomo, Santo Agostinho e outros foram defensores deste ensinamento.
Os concílios da Igreja, começando com o de Cartago, que faz referência ao assunto, prosseguindo com os de Florença (1439-1445) e o de Trento (1545-1563), que o consideraram como dogma de fé, contribuíram para a difusão desta crença.
3º) Por um raciocínio lógico:
Se para o céu vão as almas limpas e para o inferno as que deixaram este mundo com pecado mortal, naturalmente sobram aquelas que não podem entrar no céu por não estarem ainda purificadas de pecados leves e venais, e de igual modo também, não podem ir para o inferno por não terem cometido pecados mortais.
Provas Bíblicas Contrárias ao Purgatório
1ª) A passagem de Mateus 12:32 jamais pode ser usada como argumento de que os pecados poderão ser perdoados na outra vida.
A doutrina da “Segunda Oportunidade” defendida pelos católicos (missa, purgatório), pelos espíritas (reencarnação) e pelas Testemunhas de Jeová (durante o milênio existe outra oportunidade para a salvação) é um ardil do inimigo, que leva à descrença nas Escrituras.
As seguintes passagens bíblicas são suficientes para provarem a inconsistência dessa doutrina: 2Coríntios 6:2 – “… eis aqui agora o tempo sobremodo oportuno, eis aqui agora o dia da salvação”; Hebreus 3:7-8 – “Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações”.
2ª) 1Coríntios 3:13 – “Manifesta se tornará a obra de cada um; pois o dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará”.
Os exegetas católicos se baseiam especialmente nesta passagem para justificar a sua doutrina do purgatório.
O fogo mencionado neste verso será originado pela glória de Cristo ao retornar à Terra. Os que O rejeitaram serão destruídos pelo fogo, mas os que o aceitaram como seu Salvador pessoal serão preservados. O exemplo dos três hebreus na fornalha ardente é a confirmação de que os crentes não serão atingidos pelas chamas destruidoras do juízo final.
No verso 15 Paulo escreveu: “Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano, mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo”.
Ser salvo através do fogo parece ser valioso argumento em prol do purgatório. Esta declaração está longe de afirmar que o fogo ou o sofrimento salvará a pessoa, pois se o fizesse seria a salvação pelas obras, denodadamente condenada por Paulo. Ele afirma que a pessoa será provada ao máximo.
O comentarista Adam Clarke afirma sobre este texto: “O fogo aqui mencionado destina-se a provar a obra do homem e não a purificar sua alma, não havendo aqui referência a nenhum suposto purgatório. Acrescentando que é possível haver aí alusão à purificação de diferentes espécies de vasos, segundo a lei dos judeus. Os elementos que resistem ao fogo são purificados enquanto substâncias como a madeira e a palha são facilmente consumidas”.
Outros comentaristas afirmam que o apóstolo tem em vista os ensinadores judaizantes que pregavam a circuncisão e outros ritos abolidos por Cristo na cruz, em vez de pregarem o evangelho. As verdadeiras e as falsas doutrinas serão reveladas naquele grande dia.
A Bíblia de Jerusalém (tradução católica) traz a seguinte nota sobre 1Coríntios 3:13: “O purgatório não é diretamente considerado aqui, mas este texto, juntamente com outros, serviu de base à explicitação de tal doutrina por parte da Igreja”.
3ª) Mateus (5:26), que afirma: “Em verdade te digo que não sairás dali enquanto não pagares o último centavo”, é outra passagem usada em defesa do purgatório.
Cristo, com estas palavras, jamais poderia referir-se a um hipotético purgatório, ensinamento que não encontra nenhuma base bíblica. Seria inconcebível alguém deduzir de Mateus 5:25-26 a existência do purgatório. O que encontramos aqui é a ilustração de um delinquente que deve endireitar o mal que cometeu para não ser encerrado na prisão.
O comentário da Bíblia de Matos Soares apresenta para Mateus 5:26 a seguinte aplicação espiritual: “Jesus mostra a necessidade que temos de nos reconciliar com o próximo ofendido, antes de aparecermos no tribunal de Deus”.
A hierarquia de pecados não é apregoada pela Bíblia, que declara de maneira enfática: “A alma que pecar, essa morrerá” (Ezequiel 18:20).
Não existem provas bíblicas para classificar os pecados como fazem os comentaristas católicos. As Escrituras nos esclarecem:
a) “Todo o que comete pecado é escravo do pecado” (João 8:34).
b) A única solução para o estado miserável do homem (Romanos 7:24) é o perdão provido por Cristo e alcançado pelos seus méritos.
Conclusão:
As provas bíblicas apresentadas pelos paladinos de um lugar de purificação para os pecados após a morte são trechos retirados dos livros apócrifos, comprovadamente falsos por terem origem em ensinamentos pagãos. Os textos bíblicos retirados dos livros canônicos são apresentados sem levar em consideração os princípios exegéticos, especialmente este: uma passagem jamais deve ser usada fora do seu contexto.
A Bíblia é bastante clara ao afirmar que muitas passagens, como a de 1Coríntios 3:13-15 e 2Coríntios 5:10, que todos no juízo final serão julgados conforme suas obras. O erro doutrinário do purgatório católico é o ensino antibíblico de que o castigo se segue imediatamente após a morte, e ainda mais que será concedida uma segunda oportunidade para muitos.
Um dos maiores absurdos relacionados com o purgatório é a crença pagã de que o sofrimento dos que lá se encontram pode ser aliviado por missas e orações feitas pelos vivos, mediante pagamento em dinheiro. Não é possível conseguir a salvação negociando com coisas sagradas. O apóstolo Pedro condenaria a simonia moderna com a mesma veemência que a desaprovou em seus dias.
[Simonia é a venda de favores divinos, bênçãos, cargos eclesiásticos, prosperidade material, bens espirituais, coisas sagradas, objetos ungidos, etc. em troca de dinheiro. É o ato de pagar por sacramentos e consequentemente por cargos eclesiásticos ou posições na hierarquia da igreja. A etimologia da palavra provém de Simão, o mago, personagem referido em Atos 8:18-19, que procurou comprar de Pedro o poder de transmitir pela imposição das mãos o Espírito Santo ou de efetuar milagres (Wikipédia)].
Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.