domingo, 29 de maio de 2016

Encontrado Carbono -14 em ossos de dinossauro: pesquisa censurada

 
Uma equipe de pesquisadores fez uma apresentação em um encontro anual de Geofísica do Pacífico Ocidental, em Cingapura, de 13 a 17 de agosto de 2012, no qual mostrou resultados de datação de carbono 14 (C-14) de múltiplas amostras de ossos a partir de oito espécimes de dinossauros. Todos deram positivos para C-14, com idades variando de 22.000 a 39.000 anos de radiocarbono, bem “aproximado” do que é previsto pelos criacionistas.[1] Mas se os dinossauros tivessem realmente milhões de anos, não deveria existir sequer um átomo de C-14 restante neles. Esse foi um evento conjunto da União Americana de Geofísica (AGU) e da Sociedade de Geociências da Oceania Asiática (AOGS). Parece que os pesquisadores abordaram o assunto com profissionalismo considerável, inclusive tomando medidas para eliminar a possibilidade de contaminação com carbono moderno como uma fonte de sinal de C-14 nos ossos. O apresentador do trabalho foi o Dr. Thomas Seiler, um físico alemão cujo PhD é da Universidade Técnica de Munique. O vídeo de sua apresentação (clique aqui para ver) foi postado no YouTube no momento da redação deste artigo.

Os pesquisadores parecem estar associados a grupos criacionistas católicos, os quais têm divulgado relatórios sobre a conferência com mais antecedência e intensidade do que os criacionistas evangélicos. Um desses relatórios afirma que depois “o resumo foi retirado do site da conferência por dois presidentes porque eles não podiam aceitar as conclusões. Recusando-se a desafiar os dados abertamente, eles apagaram o resumo da vista do público, sem comunicar os autores ou membros os oficiais da AOGS, mesmo após uma investigação. Isso não vai ser restaurado”.[2]

Na verdade, é possível acessar online a captura de tela feita do programa original (confira). Mas, indo para o site oficial da conferência, pode-se ver que a conversa foi claramente removida. A verdade apresentada foi pesada demais para a suposta abertura da ciência aos dados. O “poder do paradigma”' pôde ser visto claramente.

Dois dos físicos e coautores do trabalho, Dr. Robert Bennett e Dr. Jean de Pontcharra, até recentemente associados ao Centro de Pesquisa Grenoble da Comissão Francesa de Energia Atômica, estão estimulando colegas a fazer sua própria datação por carbono de ossos de dinossauros. Eles dizem que a mídia deveria estar encorajando os cientistas a fazer isso também e apresentar os resultados de forma aberta e honesta em conferências similares. Isso certamente deveria estar entre os interesses da verdade científica – especialmente seguindo os achados repetidos de tecidos moles em ossos de dinossauros, e agora mesmo no aparentemente irrefutável DNA em espécimes de dinossauros.[3] O público tem o direito de conhecer a cronologia real dos dinossauros, e a verdadeira história da Terra.

É claro que as pessoas que você conhece geralmente não vão tomar conhecimento dessas poderosas informações a partir de fontes regulares. Temos sido repetidamente surpreendidos em excursões ministeriais ao ver como poucas pessoas sequer sabem sobre tecidos moles encontrados por cientistas seculares. Este é um momento emocionante para ser um criacionista, ambos recebendo esse tipo de informação, e sendo capazes de transmiti-lo. Por isso é mais importante do que nunca ser não apenas assinante, mas apoiador das organizações criacionistas respeitáveis [como a Sociedade Criacionista Brasileira, por exemplo], não sensacionalistas e comprometidas com essa importante tarefa. [...]

(Texto traduzido do original Wieland[4] por Everton F. Alves, enfermeiro e mestre em Ciências da Saúde pela UEM e diretor de ensino do Núcleo Maringaense da Sociedade Criacionista Brasileira [NUMAR-SCB])

Qual o Significado de “Sábado segundo-primeiro” de Lucas 6:1?




“E aconteceu que, no sábado segundo-primeiro, passou pelas searas, e os Seus discípulos iam arrancando espigas, e, esfregando-as com as mãos comiam”.

Na Almeida Revista e Atualizada no Brasil não aparece o problema:

“Aconteceu que, num sábado, passando Jesus pelas searas, os Seus discípulos colhiam e comiam espigas, debulhando-as com as mãos”.

A expressão sábado segundo-primeiro que aparece em muitas traduções tem dado muito trabalho aos comentaristas. Pelo fato dos estudiosos estarem muito divididos em suas explicações, até hoje não foi possível chegar a uma solução definitiva.

Russell Norman Champlin escreveu:

“Essas palavras têm deixado perplexos a muitos eruditos, e a verdade é que não parece existir um meio de explicá-las convenientemente. Não aparecem em nenhum dos manuscritos antigos, e muitos acreditam que não são autênticas no texto, tendo resultado de anotações feitas por escribas em manuscritos posteriores. Uma explicação possível sobre a sua existência é a observação que Lucas mencionara as atividades de Jesus em outros dias de sábado, antes desta narrativa (Ver Lucas 4:31-32). Assim, este seria o segundo sábado mencionado por Lucas, ao descrever as ações de Jesus. É possível, pois, que isso seja tudo quanto está envolvido nas palavras ‘no segundo sábado depois do primeiro'”.

Essas palavras aparecem, segundo ele, em alguns manuscritos unciais e em poucas traduções.

“A evidência textual favorece esmagadoramente a versão mais simples. É provável que algum escriba tenha feito essa adição, a fim de distinguir esse sábado dos outros dias de sábado, mencionados em narrativas próximas. Alguns editores têm defendido o texto mais longo, sobretudo porque é o texto mais difícil, podendo ter sido descontinuado de manuscritos mais antigos para efeito de simplificação do texto, posto que alguns podem ter deixado de compreender o sentido da observação” (O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. 2, pág. 60).

Adam Clarke se estende bastante em suas notas sobre Lucas 6:1 apresentando suas ideias e de outros estudiosos. A essência do que ele escreveu seria o seguinte:

Este sábado tinha que ver com os que estavam incluídos nos dias que iam da Páscoa ao Pentecostes. E assim este “sábado segundo-primeiro” era o segundo sábado, a começar com o segundo dia da festa dos pães asmos, que era o primeiro dia da semana. Outros comentaristas concordam em que os judeus tinham três primeiros sábados: o primeiro, no primeiro sábado depois da páscoa; o segundo, no primeiro sábado depois do pentecostes; e o terceiro, no primeiro sábado depois da festa dos tabernáculos.

Em nosso livro História do Texto Bíblico apresentamos esta ideia: Sendo que esta expressão não aparece em outra parte, tem sido um problema exegético difícil de ser solucionado. Em virtude da palavra não constar nos melhores manuscritos, poder-se-ia afirmar que ela não se encontra no original, não fosse a suspeita de que algum copista a tivesse omitido por causa de sua obscuridade.

O princípio da probabilidade transcricional torna necessário explicar a sua inserção, se não é genuína. Meyer engenhosamente sugere que a palavra é simplesmente a fusão de duas notas marginais, opinião esta que foi adotada por W. H. e outros.

Como no versículo 6 está a expressão “noutro” (heteros) sábado, algum escriba pôs na margem do primeiro verso a nota “num primeiro” (proto). Mas a recordação de diversos incidentes, que se tinham dado em sábados anteriores, levou outro copista a acrescentar “num segundo” (deuteros) sobre a outra margem. Disto se originou o anômalo “deuteroproto” que algum copista posterior intercalou no texto para confusão dos comentaristas. Ou seja assim, ou não, o fato esclarece uma deturpação do texto original.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

sábado, 28 de maio de 2016

O estranho fóssil de baleia: evidência do dilúvio universal?

 
A fossilização é um evento raro e, para tanto, deve haver soterramento de forma rápida, antes que o animal morto comece a apodrecer, a se decompor ou a ser consumido no ambiente – devido a animais carniceiros, a microorganismos, à ação da chuva e do sol, etc. Em abril de 1976, foram encontrados os restos fósseis de uma baleia de cerca de 25 metros no interior de um depósito de diatomáceas (esqueletos minúsculos de algas unicelulares), na mina Miguelito, em Lompoc, Califórnia, EUA. Infelizmente, naquele mesmo ano, o fóssil ainda não tinha sido completamente desenterrado quando o artigo descrevendo o achado foi publicado.[1] Mas ao longo do período de escavação a equipe do Museu de História Natural de Los Angeles teve uma surpresa em relação à posição em que o fóssil da baleia se encontrava.

O fóssil estava na posição vertical, apoiado sobre a cauda, ultrapassando vários estratos geológicos. Como poderia esse fóssil de baleia ter mantido sua posição e integridade ao longo de centenas de milhares de anos, sendo enterrado gradual e lentamente milímetro após milímetro? Uma investigação no local, a partir de uma perspectiva atualista, revelou que a unidade de diatomito (rocha porosa e absorvente) que enterrou a baleia também estava inclinada no mesmo ângulo, portanto, a baleia deve ter sido enterrada no diatomito quando ambas estavam na posição horizontal, e mais tarde os movimentos de terra foram elevando-as e inclinando-as em sua orientação atual.

Portanto, a explicação atualista é a de que houve um deslizamento de terra submarino durante um dos inúmeros terremotos da Califórnia e o conjunto rochoso se deslocou e soterrou o animal, porém, o que o atualismo não explica satisfatoriamente é a sedimentação que teria de ser muito rápida para poder preservar cada osso da baleia em sua posição original, sem qualquer deslocamento com relação à sua orientação.[2] O modelo criacionista prevê um enterro catastrófico e, também, uma rápida deposição das camadas de sedimentos, sepultando as diatomáceas; isso somente ocorreria por meio de um enorme episódio catastrófico: um dilúvio universal.[3]

De fato, para ser evitada a dispersão dos ossos, o soterramento deve ter ocorrido no máximo em três anos. Parece que as correntes marinhas teriam acumulado enormes quantidades desses seres (isto é, de diatomáceas) para formar o que alguns chamaram de “um purê de organismos”. Aliás, se esse diatomito foi depositado gradualmente, como reivindicado por geólogos atualistas, o diatomito não seria puro, como ele é. Ademais, a taxa de deposição lenta resultaria em corrosão e eliminação dos ossos da baleia, porque a caixa torácica, por exemplo, teria ficado aguardando sepultamento por eras. 

Se não bastasse, a deposição Lompoc não apresentou moradores de fundo do mar (moluscos, mexilhões e caracóis), em vez disso foram encontrados no local outros companheiros fósseis para a baleia, tais como “bacalhau, peixes arenque, peixes-agulha [parente dos cavalos-marinhos], leões marinhos e pássaros, nenhum dos quais é morador do fundo do mar”, tornando-se evidente que “o conjunto Lompoc representa um cemitério fóssil catastroficamente enterrado, não o enterro progressivo de um habitat.”[2: p. 256]

O curioso é que, de acordo com o pessoal do museu, até meados de 1997, a camada de rocha de diatomito contendo o fóssil da baleia permanecia sobre um vagão no fundo do museu devido à falta de dinheiro e ao espaço necessário para que fosse curadoriada.[4] Será mesmo esse o real motivo de o achado ter sido ignorado por décadas? Talvez uma evidência como essa que aponta para uma catástrofe de grande escala e contraria o atualismo vigente não ofereça mesmo um bom motivo para curadoriá-la.

(Everton Fernando Alves é enfermeiro e mestre em Ciências da Saúde pela UEM; seu e-book pode ser lido aqui)

Referências:
[1] Reese KM. “Workers find whale in diatomaceous earth quarry.” Chemical and Engineering News 1976; 54(41):40.
[2] Snelling AA. “The Whale Fossil in Diatomite, Lompoc, California.” CEN Tech. J. 1995; 9(2):244-58. Disponível em: http://creation.com/images/pdfs/tj/j09_2/j09_2_244-258.pdf
[3] Ackerman PD. It’s a Young World After All. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1986, p. 81-83.
[4] South D. “A Whale of a Tale.” The TalkOrigins Archive, 1997. Disponível em: http://www.talkorigins.org/faqs/polystrate/whale.html

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Os 1290 E 1335 Dias de Daniel 12

 

Resumo: Vários intérpretes das Escrituras estão contestando a tradicional interpretação adventista-historicista dia-ano dos “1.290″ e “1.335 dias” de Daniel 12. Eles argumentam que esses períodos proféticos devem ser interpretados como dias literais, em vez de dias que representam o mesmo número de anos. O presente artigo provê cinco importantes argumentos porque a teoria dos “dias literais” é inaceitável para uma interpretação adventista-historicista do livro de Daniel.

Palavras-chave: interpretação historicista, interpretação futurista, dia-ano, Ellen White, 1.290 dias, 1.335 dias, Daniel 12.

1. Introdução
A interpretação dos “1.290 dias” e dos “1.335 dias” de Daniel 12:11-12, respectivamente como 1.290 anos e 1.335 anos, pode ser encontrada já entre os expositores judeus do século 8 d.C. Essa interpretação, baseada no princípio dia-ano (ver Números 14:34; Ezequiel 4:6-7), continuou sendo advogada pelos seguidores de Joaquim de Fiore (1130-1202), bem como por vários outros expositores, durante a Pré-Reforma, a Reforma e a tradição protestante subsequente.[1]

Guilherme Miller (1782-1849), por sua vez, cria (1) que tanto os 1.290 anos como os 1.335 anos haviam iniciado em 508, quando Clóvis obteve a vitória sobre os visigodos arianos, passo esse decisivo na união dos poderes político e eclesiástico para a punição dos “hereges” pelo catolicismo medieval; (2) que os 1.290 anos haviam se cumprido em 1798, com o aprisionamento do Papa Pio VI pelos exércitos franceses; e (3) que os 1.335 anos se estenderiam por mais 45 anos, até o término dos 2.300 anos de Daniel 8:14, em 1843/1844.[2] 
Essa interpretação foi mantida pelos primeiros adventistas observadores do sábado,[3] transformando-se na posição histórica da Igreja Adventista do Sétimo Dia até hoje.[4]

Porém, em anos recentes, alguns pregadores independentes começaram a propagar uma “nova luz” sobre os 1.290 e 1.335 dias de Daniel 12. Rompendo com a tradicional compreensão adventista, tais indivíduos alegam que ambos os períodos são compostos por dias “literais” (e não dias que representam “anos”), a se cumprirem ainda no futuro. Alguns deles sugerem que ambos os períodos iniciarão com o futuro decreto dominical; que os 1.290 dias “literais” são o período reservado para o povo de Deus sair das cidades; e que ao término dos 1.335 dias “literais” a voz de Deus será ouvida anunciando “o dia e a hora” da volta de Cristo.[5]

Por mais interessante que essa teoria possa parecer, existem pelo menos cinco razões básicas que nos impedem de aceitá-la.

2. Essa teoria se baseia numa leitura parcial e tendenciosa do Espírito de Profecia
 
Um dos argumentos usados para justificar o cumprimento futuro dos 1.290 e 1.335 dias é a falsa alegação de que Ellen White considerava como errônea a noção de que os 1.335 dias já haviam se cumprido no passado. Alusões são feitas à carta de Ellen G. White “à igreja na casa do Irmão Hestings”, datada de 7 de novembro de 1850, na qual são mencionados alguns problemas relacionados com o irmão O. Hewit, de Dead River. No texto original em inglês dessa carta, aparece a seguinte declaração: “We told him of some of his errors in the past, that the 1,335 days were ended and numerous errors of his”.[6]

Esta sentença deveria ser traduzida simplesmente como: “Nós lhe mencionamos alguns dos seus erros do passado, que os 1.335 dias haviam se cumprido e muitos dos seus erros.” No entanto, alguns defensores da “nova luz” profética preferem substituir a conjunção “que” (inglês “that”) pela expressão “tais como” (inglês “such as”), alterando desta forma o sentido do texto. Assim, eles conseguem fazer com que a sentença diga que entre os erros advogados por Hewit estava também a ideia de “que os 1.335 dias haviam se cumprido”.

Se a intenção de Ellen White era realmente corrigir o irmão Hewit por crer que os 1.335 dias já haviam se cumprido, permaneceriam as indagações: Por que Ellen White se limitou a corrigir, em 1850, de forma parcial e tendenciosa, apenas a posição pessoal desse irmão, sem qualquer repreensão aos demais líderes do movimento adventista que também criam que esse período profético já havia se cumprido em 1844? Por que ela não reprovou o seu próprio esposo (Tiago White) por afirmar na Review, ainda em 1857, que “os 1.335 dias terminaram com os 2.300, com o Clamor da Meia-Noite em 1844″?[7] Por que ela não o repreendeu por continuar publicando na Review vários artigos de outros autores, advogando a mesma ideia?[8] E mais, como poderia Ellen White haver declarado, em 1891, que “nunca mais haverá para o povo de Deus uma mensagem baseada em tempo”,[9] se o cumprimento dos 1.290 e 1.335 dias ainda estivesse no futuro?

Evidências de que Ellen White cria que esses períodos já haviam se cumprido em seus dias podem ser encontradas também em suas declarações que falam de que Daniel já estava sendo vindicado em sua sorte (ver Daniel 12:13) desde o início do tempo do fim.[10] Cremos, portanto, que o Dr. P. Gerard Damsteegt, professor do Seminário Teológico da Universidade Andrews, estava correto ao declarar que “já em 1850 E. G. White havia escrito que os 1.335 dias haviam se cumprido, sem especificar o tempo do seu término”.[11]

3. Essa teoria quebra o paralelismo profético-literário do livro de Daniel
 
Para justificar o suposto cumprimento futuro dos 1.290 e 1.335 dias, os advogados dessa “nova luz” profética alegam, sem qualquer constrangimento, que o conteúdo de Daniel 12:5-13, onde são mencionados esses períodos, não é parte integrante da cadeia profética de Daniel 11. Porém, uma análise mais detida da estrutura literária do livro de Daniel não confirma essa teoria.

O Dr. William H. Shea esclarece que no livro de Daniel cada período profético (1.260, 1.290, 1.335 e 2.300 dias) aparece como um apêndice calibrador ao corpo básico da respectiva profecia que lhe corresponde. Por exemplo, a visão do capítulo 7 é descrita nos versos 1-14, mas o tempo a ela relacionado só aparece no verso 25. No capítulo 8, o corpo da visão é relatado nos versos 1-12, mas o tempo só ocorre no verso 14. De modo semelhante, os tempos proféticos relacionados com a visão do capítulo 11 só são mencionados no capítulo 12.[12]

Esse paralelismo comprova que os 1.290 dias e os 1.335 dias, de Daniel 12:11 e 12, compartilham da mesma natureza profético-apocalíptica que os “tempo, tempos e metade de um tempo”, de Daniel 7:25, e as 2.300 tardes e manhãs, de Daniel 8:14. Assim, se aplicamos o princípio dia-ano aos períodos profético de Daniel 7 e 8, também devemos aplicá-lo aos períodos de Daniel 12, pois todos esses períodos estão interligados entre si, de alguma forma, e a descrição de cada visão indica apenas um único cumprimento para o período profético que lhe corresponde.

Além disso, a alusão em Daniel 12:11 ao “sacrifício diário” e à “abominação desoladora” conecta os 1.290 e 1.335 dias não apenas com o conteúdo da visão de Daniel 11 (ver Daniel 11:31) mas também com as 2.300 tardes e manhãs de Daniel 8:14 (ver Daniel 8:13; 9:27). O mesmo poder apóstata que haveria de estabelecer a “abominação desoladora” em lugar do “sacrifício diário” é descrito em Daniel 7 e 8 como o “chifre pequeno”, e em Daniel 11 como o “rei do Norte”.

Portanto, a tentativa de interpretar alguns períodos proféticos de Daniel (70 semanas, 2.300 tardes e manhãs) como dias que simbolizam anos, e outros (1.260 dias, 1.335 dias) como meros dias literais, é totalmente incoerente com o paralelismo profético-literário do livro de Daniel.

4. Essa teoria se apoia em uma interpretação não bíblica do termo hebraico tamid (“diário”, “contínuo”)
 
A teoria de que tanto os 1.290 dias, quanto os 1.335 dias iniciam com o futuro decreto dominical é baseada na suposição de que, em Daniel 12:11, as expressões “sacrifício diário” e “abominação desoladora” significam respectivamente o sábado e o domingo. Mas também essa suposição carece de fundamentação escriturística.

A expressão “sacrifício diário” é a tradução do termo hebraico tamid, que significa “diário” ou “contínuo”, ao qual foi acrescentada a palavra “sacrifício”, que não se encontra no texto original de Daniel 8:13 e 12:11. Esse termo (tamid) é usado nas Escrituras em relação não apenas com o sacrifício diário do santuário terrestre (ver Êxodo 29:38 e 42) mas também com vários outros aspectos da ministração contínua daquele santuário (ver Êxodo 25:30; 27:20; 28:29 e 38; 30:8; 1Crônicas 16:6). No livro de Daniel o termo se refere, obviamente, ao contínuo ministério sacerdotal de Cristo no santuário/templo celestial (ver Daniel 8:9-14). Já a expressão “transgressão assoladora” ou “abominação desoladora” subentende o amplo sistema de contrafação a esse ministério, construído sobre as teorias antibíblicas da imortalidade natural da alma, da mediação dos santos, do confissionário, do sacrifício da missa, etc.
Não podemos concordar com a teoria de que em Daniel 12 o “diário” representa simplesmente o sábado, e a “abominação desoladora”, o domingo. Para crermos desta forma, teríamos que esvaziar essas expressões do amplo significado que lhes é atribuído tanto pelo próprio contexto bíblico no qual aparecem, como também pelo consenso geral das Escrituras.

5. Essa teoria reflete a interpretação jesuíta-futurista da Contra-Reforma Católica
 
Os defensores da interpretação literal-futurista dos 1.290 e 1.335 dias alegam que sua posição é genuinamente adventista e plenamente sancionada pelos escritos de Ellen G. White. Mas se analisarmos mais detidamente o assunto à luz da história, perceberemos que essa teoria rejeita o historicismo e o princípio dia-ano, da tradição Protestante, para se alinhar abertamente com o futurismo literalista da Contra-Reforma Católica.

Os reformadores protestantes do século 16 identificavam o “chifre pequeno” com o papado, do qual se originaria a “abominação desoladora” de que fala Daniel.[13] Foi para inocentar o papado dessas acusações que o cardeal italiano Roberto Bellarmino (1542-1621), o mais capaz e renomado de todos os polemistas jesuítas, sugeriu que o “chifre pequeno” era um mero rei e que os 1.260, 1.290 e 1.335 dias eram apenas dias literais, a se cumprirem somente no período que antecederia o fim do mundo.[14] Desta forma, o papado contemporâneo não poderia mais ser identificado como o “chifre pequeno” ou “rei do Norte” e, consequentemente, não mais poderia ser responsabilizado pela “transgressão assoladora” ou “abominação desoladora”.
Muitos dos defensores contemporâneos da interpretação futurista dos 1.290 e 1.335 dias desconhecem o comprometimento dessa teoria com o futurismo da Contra-Reforma Católica. Mas, mesmo assim, tais indivíduos deveriam pelo menos reconhecer que “essas propostas futuristas repousam, essencialmente, sobre uma má compreensão dos padrões de pensamento da poesia hebraica”, e que “elas representam uma leitura do idioma hebraico através de óculos ocidentais”.[15]

6. Essa teoria menospreza as advertências do Espírito de Profecia, contra a tentativa de se estender o cumprimento de qualquer profecia de tempo para além de 1844
 
Se essa teoria fosse correta, bastaria ser promulgado o decreto dominical, e já saberíamos por antecipação quando a porta da graça se fecharia e quando ocorreria a segunda vinda de Cristo. Essa é, por conseguinte, mais uma forma sutil e capciosa de se estabelecer datas para os eventos finais. Por mais originais e criativas que possam parecer, essas tentativas não passam de propostas especulativas, que desconhecem e/ou menosprezam, em nome do Espírito de Profecia, as próprias advertências do Espírito de Profecia sobre o assunto.

Já em 1850, Ellen White advertiu: “O Senhor me mostrou que o TEMPO não tem sido um teste desde 1844, e que o tempo nunca mais será um teste”.[16] Posteriormente ela acrescentou que “nunca mais haverá para o povo de Deus uma mensagem baseada em tempo.” “O Senhor mostrou-me que a mensagem deve ir, e que não deve depender de tempo; pois o tempo não será nunca mais uma prova.” “Deus não nos revelou o tempo em que esta mensagem será concluída, ou quando terá fim o tempo de graça.”[17] Será somente depois do fechamento da porta da graça, e pouco antes da segunda vinda de Cristo, que Deus há de declarar aos salvos “o dia e a hora da vinda de Jesus”.[18]

Comentando a expressão “que não haveria mais tempo” (Apocalipse 10:6, KJV), em 1900 Ellen White asseverou: “Esse tempo, que o anjo declara com um solene juramento, não é o fim da história deste mundo, nem o tempo de graça, mas o tempo profético, que precederia o advento de nosso Senhor. Ou seja, o povo não terá outra mensagem a respeito de um tempo definido. Após este período de tempo, que se estende de 1842 a 1844, não pode haver qualquer cálculo definido de tempo profético.”[19]

Sendo este o caso, por que então alguns professos adventistas ainda continuam insistindo em reaplicar os 1.290 dias e os 1.335 dias de Daniel 12 para o futuro? Cabe somente a Deus julgar o grau de sinceridade de tais pessoas; mas uma coisa é certa: “A fé em uma mentira não terá influência santificadora sobre a vida ou o caráter. Nenhum erro é verdade, nem pode tornar-se verdade pela repetição, ou por fé nele. … Posso ser perfeitamente sincera em seguir um caminho errado, mas isto não torna o caminho certo, nem me levará ao lugar a que eu desejava chegar”.[20]

7. Conclusão
É evidente, portanto, que a teoria de um cumprimento futuro dos 1.290 e 1.335 dias (1) se baseia numa leitura parcial e tendenciosa do Espírito de Profecia; (2) quebra o paralelismo profético-literário do livro de Daniel; (3) se apoia em uma interpretação não bíblica do termo hebraico tamid (“diário”, “contínuo”); (4) reflete a interpretação jesuíta-futurista da Contra-Reforma Católica; e (5) menospreza as advertências do Espírito de Profecia contra a tentativa de se estender o cumprimento de qualquer profecia de tempo para além de 1844.

Numa época em que os vendavais de falsas doutrinas estarão soprando com forte intensidade (ver Efésios 4:14), “para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mateus 24:24), só estaremos seguros se alicerçados sobre a clara e inamovível Palavra de Deus. Toda “nova luz”, para ser verdadeira, deve estar em perfeita harmonia com o consenso geral das Escrituras e dos escritos inspirados de Ellen White.[21] Os atalaias do povo de Deus jamais deveriam permitir que as conjecturas e as especulações humanas os impeçam de dar à trombeta o sonido certo (ver Ezequiel 33:1-9; 1Coríntios 14:8).

Referências:
[1] LeRoy E. Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers (Washington, DC: Review and Herald, 1954), vol. 4, pp. 205-206.
[2] William Miller, Evidences from Scripture and History of the Second Coming of Christ about the Year A.D. 1843, and of His Personal Reign of 1000 Years (Brandon, [VT]: Vermont Telegraph Office, 1833), p. 31; idem, Evidence from Scripture and History of the Second Coming of Christ, about the Year 1843; Exhibited in a Course of Lectures (Boston: Joshua V. Himes, 1842), pp. 95-104, 296-297; idem, “Synopsis of Miller’s Views”, Signs of the Times, 25 de janeiro de 1843, pp. 148-149.
[3] Ver P. Gerard Damsteegt, Foundations of the Seventh-day Adventist Message and Mission (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1977), pp. 168-170.
[4] Ver, por exemplo, [Uriah Smith], “Synopsis of the Present Truth. No. 12″, Review and Herald, 28 de janeiro de 1858, pp. 92-92; Stephen N. Haskell, The Story of Daniel the Prophet (Berrien Springs, MI: Advocate Publishing Company, 1903), pp. 263-265; J. N. Loughborough, “The Thirteen Hundred and Thirty-Five Days”, Review and Herald, 4 de abril de 1907, pp. 9-10; Uriah Smith, The Prophecies of Daniel and the Revelation, ed. rev. (Washington, DC: Review and Herald, 1944), pp. 330-331: George M. Price, The Greatest of the Prophetes: A New Commentary on the Book of Daniel (Mountain View, CA: Pacific Press, 1955), pp. 337-342; Araceli S. Melo, Testemunhos Históricos das Profecias de Daniel (Rio de Janeiro: [Laemmert], 1968), pp. 727-729; Francis D. Nichol, ed., The Seventh-day Adventist Bible Commentary, ed. rev. (Washington, DC: Review and Herald, 1977), vol. 4, pp. 880-881; Vilmar E. González, “Os 1.290 e 1.335 dias em Daniel 12″, Revista Adventista, setembro 1982, pp. 43-45; Jacques B. Doukhan, Daniel: The Vision of the End, ed. rev. (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1989), p. 153; William H. Shea, “Time Prophecies of Daniel 12 and Revelation 12-13″, em Frank B. Holbrook, ed., Symposium on Revelation – Book I, Daniel and Revelation Committee Series, vol. 6 (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute of the General Conference of Seventh-day Adventists, 1992), pp. 327-360; William H. Shea, Daniel 7-12: Prophecies of the End Time, The Abundant Life Bible Amplifier (Boise, ID: Pacific Press, 1996), pp. 217-223.
[5] Uma importante análise crítica de várias teorias mais recentes sobre o cumprimento dos 1.260, 1.290 e 1.335 dias pode ser encontrada em Victor Michaelson, Delayed Time-Setting Heresies Exposed (Payson, AZ: Leaves-Of-Autumn, 1989).
[6] E. G. White, “To the Church in Bro. Hastings house”, 7 de novembro de 1850 (carta H-28, 1850). Republicada em idem, Manuscript Releases, vol. 5, p. 203; ibidem, vol. 6, p. 251; ibidem, vol. 16, p. 208.
[7] James White, “The Judgment”, Review and Herald, 29 de janeiro de 1857, p. 100.
[8] Ver, por exemplo, J. N. Loughborough, “The Hour of His Judgment Come”, Review and Herald, 14 de fevereiro de 1854, p. 30; U[riah] S[mith], “Short Interviews with Correspondents”, Review and Herald, 24 de fevereiro de 1863, p. 100; [idem], “The Sanctuary”, Review and Herald, 8 de setembro de 1863, p. 116.
[9] E. G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 188.
[10] [Idem], “Temperance”, Ms. 50, 1893 (publicado em idem, Sermons and Talks, vol. 1, pp. 225-226); idem, para o “Dr. J. H. Kellogg”, Carta K-59, de 22 de novembro de 1896 (publicada em idem, Testemunhos Para Ministros, p. 115); idem, “Diary”, Ms. 176, de 4 de novembro de 1899 (publicado em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 4, p. 1174); idem, “Help to Be Given to Our Schools”, Ms. 10, 1900 (publicado em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 7, p. 949); idem, “To Our Church Members in Australasia”, Carta B-6, de 17 de janeiro de 1907 (publicada em [Australasian] Union Conference Record, 11 de março de 1907, pp. 1-2).
[11] Damsteegt, p. 169.
[12] Shea, Daniel 7-12, pp. 217-218.
[13] Ver Froom, vol. 2, pp. 241-463, passim.
[14] Ver ibid., pp. 495-502.
[15] [Frank B. Holbrook], “Editorial Synopsis” ao artigo de W. H. Shea, “Time Prophecies of Daniel 12 and Revelation 12-13″, em Holbrook, ed., Symposium on Revelation – Book I, p. 327.
[16] E. G. White, “Dear Brethren and Sisters”, Present Truth, novembro de 1850, p. 87. Ver também idem, Primeiros Escritos, p. 75.
[17] Idem, Mensagens Escolhidas, vol. 1, pp. 188, 191.
[18] Idem, O Grande Conflito, p. 640. Ver também idem, Primeiros Escritos, pp. 15, 296-297.
[19] Comentários de Ellen G. White em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 7, p. 971.
[20] Idem, Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 56.
[21] Ver idem, Counsels to Writers and Editors, pp. 33-51.
* O presente artigo foi publicado originalmente em Ministério (Brasil), maio-junho de 1999, pp. 16- 18. O mesmo artigo foi publicado em espanhol em Logos (Universidad Adventista del Plata, Argentina) ano 3, n.º 2, setembro de 1999, pp. 20-23; El Ministério Adventista (Argentina), novembro-dezembro de 2003, pp. 28-31; e está disponível também em inglês no site oficial do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia (http://biblicalresearch.gc.adventist.org/documents/daniel12.htm).

Alberto Timm, “Revista do Ancião”, janeiro–fevereiro de 2004.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Conversão de Saulo. Ouviram, mas não viram – ou – não ouviram, mas viram? Atos 9:7 e 22:9

 
Existe, à primeira vista, uma aparente tensão entre as descrições de Atos 9:7 e 22:9 sobre a experiência dos companheiros de Saulo por ocasião da conversão dele. Porém, considerando mais detidamente esses textos, percebe-se que em Atos 9:7 é dito que os companheiros ouviram “a voz”, mas não viram “ninguém”, enquanto que Atos 22:9 acrescenta que eles “viram a luz, sem contudo perceberem o sentido da voz que falava” com Saulo.

Tanto a voz quanto a luz mencionadas nessas passagens eram do próprio Jesus (ver Atos 9:5; 22:8; 26:15). Os companheiros de Saulo ouviram a “voz” de Jesus falando com ele, mas não entenderam o “sentido” das palavras proferidas. Viram apenas uma “luz” sobrenatural, sem terem o privilégio de contemplar a forma específica dAquele que Se revelara a Saulo. Cremos, assim, que os textos se complementam em suas declarações.

Alberto Timm, “Sinais dos Tempos”, novembro–dezembro de 2001, p. 30.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Voto Batismal: em nome da Trindade ou em nome de Jesus? (Mateus 28:18-20)



Na grande comissão evangélica de Mateus 28:18-20, Cristo ordenou que o Evangelho fosse pregado a “todas as nações”, e que os conversos dessas nações fossem batizados “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (verso 19). No entanto, eventos registrados no livro de Atos falam de conversos que foram batizados “em nome de Jesus Cristo” (Atos 2:38; 8:16; 10:48; 19:5). Diante disso surge a indagação: esses batismos “em nome de Jesus” invalidam a ordem de ministrar-se o batismo em nome da Trindade?
Várias teorias têm sido propostas para explicar essa aparente tensão entre a ordem de Cristo e a prática da igreja apostólica. A mais convincente delas parece ser a de que as referências ao batismo “em nome de Jesus Cristo” não estejam sugerindo uma nova fórmula batismal, mas apenas enfatizando a condição básica para esse rito ser ministrado. Em outras palavras, um judeu étnico ou prosélito, que já cria no verdadeiro Deus, só poderia ser batizado na comunidade cristã se ele cresse também em Jesus de Nazaré como o prometido Messias.

O mesmo Cristo que declarou, em Mateus 28:19, que o rito do batismo deve ser ministrado “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”, também afirmou, em Marcos 16:16, que a submissão a esse rito deve ser precedida pela fé que se centraliza no próprio Cristo (João 3:16; Hebreus 12:2). Por ocasião do Pentecostes, aqueles que, em resposta ao discurso de Pedro, aceitaram a Jesus de Nazaré como o Messias, foram batizados “em nome de Jesus Cristo” (Atos 2:38) como demonstração pública dessa aceitação.
Mas é importante notar que mesmo os textos que falam do batismo “em nome de Jesus Cristo” estão impregnados pelo conceito da Trindade. Analisando-se o conteúdo desses textos, percebe-se, em primeiro lugar, que aqueles que foram então batizados “em nome de Jesus Cristo” eram pessoas que já criam previamente em Deus o Pai. Além disso, em todas essas ocasiões o batismo “em nome de Jesus Cristo” foi acompanhado pelo recebimento prévio, simultâneo ou posterior do “dom do Espírito Santo” (Atos 2:38; 8:14-17; 10:44-48; 19:1-6).

Procurando invalidar a fórmula batismal em nome da Trindade, alguns indivíduos alegam que o texto de Mateus 28:19 não aparece no original grego do Novo Testamento. Essa alegação é totalmente infundada, pois não existem quaisquer evidências textuais que a comprovem. Embora hajam discussões significativas a respeito do conteúdo original de Marcos 16:9-20 (ver Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament, ed. corr. [Londres: United Bible Societies, 1975], págs. 122-128), o mesmo não ocorre com Mateus 28:18-20.

Cremos, portanto, que a ministração do batismo “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito” é parte dos ensinos de Cristo que devem ser observados por Sua igreja “até à consumação do século” (Mateus 28:20).

Alberto Timm, “Sinais dos Tempos”, agosto de 1999, p. 29.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Rebatismo. Se existe “um só batismo” (Efésios 4:5), por que rebatizar pessoas já batizadas por imersão?



Algumas pessoas alegam, com base em Efésios 4:5 (“há um só Senhor, uma só fé, um só batismo”), que o batismo por imersão só pode ser ministrado uma única vez a cada indivíduo. Essa teoria acaba distorcendo não apenas o sentido básico do texto bíblico, mas, também, o significado do rito batismal e o ensino de outros textos inspirados que abordam a questão do rebatismo. Efésios 4:1-6 fala a respeito da unidade que deveria existir entre todos aqueles que ingressaram na comunidade dos crentes através do mesmo rito batismal. Andrew T. Lincoln esclarece que “o ‘um só batismo’ é o batismo nas águas, o rito público de confissão da única fé no único Senhor. O batismo é único, não por ter uma única forma ou por ser ministrado uma única vez, mas por ser a iniciação em Cristo, no único corpo”. Como todos os crentes se tornaram membros do corpo de Cristo através do batismo, esse rito é um “fator unificador” da igreja (Word Biblical Commentary, vol. 42, pág. 240).

Biblicamente, o batismo não é um sacramento que concede méritos à salvação, e sim um símbolo visível de uma nova aliança salvífica entre Deus e o pecador regenerado pela graça divina. Através desse ato público, a pessoa se compromete a deixar de servir o pecado, passando a viver “em novidade de vida” (Romanos 6:1-7). A nova vida em Cristo implica na aceitação de Cristo como Salvador e Senhor, bem como na vivência prática de Sua vontade revelada nas Escrituras.

O ideal é que o batismo seja ministrado uma única vez aos novos conversos, no início da vida cristã. Mas o Manual da Igreja (rev. 2000), págs. 42 e 43, menciona duas circunstâncias nas quais é aconselhável que a pessoa seja rebatizada.

Uma delas diz respeito aos conversos provenientes de outras comunidades cristãs nas quais já foram batizados por imersão. Mesmo nunca tendo rompido seu relacionamento com Cristo, essas pessoas podem selar publicamente, por um novo batismo, sua aceitação de uma nova plataforma doutrinária, mais ampla e mais comprometida com o conteúdo geral das Escrituras (ver Mateus 4:4; 28:19 e 20; João 16:13).
Que a aceitação de novos componentes doutrinários fundamentais pode justificar o rebatismo de um cristão é evidente nas experiências tanto de um grupo de crentes em Éfeso como de Ellen G. White. Somos informados em Atos 19:1-7 que, em Éfeso, o apóstolo Paulo encontrou “uns doze” discípulos já batizados por João Batista no “batismo de arrependimento” que nem ao menos haviam ouvido falar “que existe o Espírito Santo”. Após compreenderem essa verdade, eles foram rebatizados “em o nome do Senhor Jesus”. No caso de Ellen G. White, ela já havia sido batizada por imersão em Portland, Maine, em 1842, sendo ainda metodista. Mas, após compreender a verdade do sábado em 1846, pediu que o seu próprio esposo, Pastor Tiago White, a rebatizasse (Arthur L. White, Ellen G. White, vol. 1 – “The Early Years”, págs. 121 e 122). Tiago White, em seu livro Life Incidents, pág. 273, declara que ela foi tomada em visão após essa experiência. “Ao ser batizada por mim, em um período inicial de sua experiência, quando eu a levantei das águas, ela foi imediatamente tomada em visão”.

Outra circunstância mencionada no Manual da Igreja, na qual é aconselhável que a pessoa seja rebatizada diz respeito a pessoas que já foram adventistas e apostataram da fé. Quando o crente rompe sua aliança com Cristo e volta a uma vida de pecado, ele se torna passível de ter seu nome eliminado do rol de membros da igreja. O seu reingresso na comunidade dos crentes deve ser assinalado por um novo testemunho público de uma mudança de vida, selado pelo rebatismo.

As principais declarações de Ellen G. White sobre a prática do rebatismo aparecem em seu livro Evangelismo, págs. 372-375. Analisando-se essas declarações, pode-se concluir, em primeiro lugar, que adventistas apostatados que se convertem e desejam voltar à comunhão da igreja devem submeter-se ao rebatismo; e, em segundo lugar, que crentes já batizados por imersão em outras denominações seriam aceitos na comunhão da igreja idealmente pelo rebatismo, mas sem jamais coagi-los a se submeterem a esse rito, caso não sintam genuína necessidade dele. Portanto, Efésios 4:1-6 ratifica a unidade da fé ao mencionar que todos os crentes se tornaram parte do corpo de Cristo através do mesmo rito público (o batismo) de confissão da única fé no único Senhor. Mas essa realidade não desaprova o rebatismo daqueles que assumem uma nova aliança com Cristo e com Sua Palavra.

Alberto Timm, “Revista do Ancião”, outubro–dezembro de 2004.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Como é possível saber se um sonho é de Deus ou não?


Determinar a natureza específica de cada sonho de uma pessoa é um assunto muito complexo e subjetivo. Além dos “sonhos mentirosos” e não autênticos (Jeremias 23:32; 29:8-9), existem dois grandes grupos de sonhos reais. O primeiro e mais comum deles é o formado pelos sonhos naturais, que fazem parte do processo normal de descanso durante o sono, e cujo conteúdo pode apresentar-se de forma organizada ou desorganizada. Uma vez que “dos muitos trabalhos vêm os sonhos” (Eclesiastes 5:3), é provável que pessoas envolvidas em assuntos religiosos acabem sonhando com eles, sem que tais sonhos sejam de origem sobrenatural.

Já o segundo grupo básico de sonhos é formado pelos sonhos sobrenaturais, que podem ser de origem divina ou satânica. Os sonhos de origem divina tem normalmente um propósito salvífico bem definido, e podem ser concedidos tanto aos profetas verdadeiros (Números 12:6), como aos membros comuns do povo de Deus (Joel 2:28), e mesmo às pessoas que não pertencem ao povo de Deus (Gênesis 41; Daniel 2). Por sua vez, os sonhos de origem satânica são quase sempre fascinantes, e podem conter verdades, para confundir a pessoa. Suas predições podem até se cumprir, mas eles tendem a afastar, eventualmente e de alguma forma, a pessoa de Deus e de Sua vontade (ver Jeremias 29:8; Mateus 24:24; 1Pedro 5:8).

Torna-se evidente, portanto, que tanto os sonhos naturais como os sobrenaturais (quer divinos ou satânicos) podem ter um conteúdo religioso. Além disso, o simples fato de Deus conceder um sonho sobrenatural a alguém não transforma essa pessoa automaticamente num profeta, como pode-se inferir das experiências de Faraó (Gênesis 41) e de Nabucodonosor (Daniel 2). Embora todo profeta receba sonhos de origem divina (Números 12:6), nem todos os que recebem tais sonhos podem ser considerados profetas. O chamado para os ministérios proféticos é algo diferente e bem mais abrangente.

A atitude de atribuir a Deus a origem de todos os sonhos de cunho religioso, e de buscar sempre um significado especial para o seu conteúdo, é altamente perigosa. Aqueles que assim agem são tentados a se considerar mais privilegiados por Deus do que os demais, tornando-se presas fáceis das artimanhas do maligno. Somos advertidos pelo próprio Deus de que todos os sonhos (até mesmo os dos profetas) devem permanecer subordinados à autoridade normativa das Escrituras. “O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a Minha palavra, fale a Minha palavra como verdade. Que tem a palha com o trigo? – diz o Senhor” (Jeremias 23:28). ”À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8:20; ver também Mateus 7:21-23; Gálatas 1:8-9; 1João 2:4; 4:1).

Sonhos jamais são usados por Deus como um fim em si mesmos, mas apenas como um meio de nos aproximar mais dEle e de Sua Palavra (ver João 20:29). Ademais, não podemos permitir que nossa fé dependa de tais meios, possíveis de serem usados também por Satanás. Portanto, se você tiver um sonho que julga ser de procedência divina, mas não tem plena certeza disso, o mais prudente é tentar extrair dele uma lição positiva para a vida, até que a sua origem e o seu propósito fiquem mais bem esclarecidos.

Alberto Timm, “Sinais dos Tempos” – julho de 1999

domingo, 22 de maio de 2016

Só o Pastor “Pode” Batizar? (Mateus 28:18-20)



O relacionamento entre o clero e os leigos foi desequilibrado por duas distorções opostas que emergiram no meio do cristianismo. A primeira foi a superênfase do catolicismo medieval sobre as funções sacerdotais, que acabou enaltecendo o clero em detrimento dos leigos. A segunda foi a tentativa anabatista, no século 16, de eliminar toda e qualquer distinção entre clérigos e leigos, obliterando assim as funções eclesiásticas. O equilíbrio entre esses dois extremos foi mantido por Lutero, que restaurou o conceito bíblico do “sacerdócio universal” de todos os crentes, sem abolir as funções sacerdotais exercidas por alguns crentes escolhidos especificamente para tais funções.
Rompendo com os dogmas católicos da confissão auricular e da mediação dos santos, Lutero ensinava que todos os crentes tinham pleno direito (1) de orar diretamente ao Pai, por meio de Jesus Cristo (João 14:6; 1Timóteo 2:5), e (2) de testemunhar a outros as boas-novas da salvação (Atos 1:8). Mas esse “sacerdócio universal” não eliminava a necessidade de um bem-organizado ofício ministerial; pois, de acordo com Lutero, “o povo não pode fazê-lo como um todo, mas tem que delegá-lo a uma pessoa ou deixá-lo aos cuidados de alguém. Do contrário, que aconteceria se cada qual quisesse falar e administrar [o sacramento], e ninguém quisesse ceder ao outro?” (Martinho Lutero: Obras Selecionadas, vol. 3, p. 413).

A importância do ofício dentro da comunidade dos crentes é enfatizada tanto no Antigo Testamento, por meio da instituição do sacerdócio levítico (Êxodo 28), como no Novo Testamento, através do ensino apostólico. Paulo é claro em afirmar que o próprio Cristo “concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4:11 e 12). Isso significa que nem todos são chamados a exercer as mesmas funções dentro da igreja.
Além disso, o Novo Testamento atesta que o rito do batismo não era oficiado por todos os crentes da igreja primitiva. Por exemplo, o batismo de arrependimento que preparava o caminho do Messias era ministrado especificamente por João Batista (Mateus 3; João 1:19-34). Aqueles que aceitavam o evangelho, durante o ministério de Cristo, eram batizados pelos “Seus discípulos” (João 4:1 e 2). Já o livro de Atos revela que, após a ascensão de Cristo, esse rito era oficiado pelos apóstolos e por outros líderes da igreja (ver Atos 2:38-41; 8:12, 35-39; 9:18; 10:44-48; 16:14 e 15, 30-34; 18:8).

Embora o imperativo de ir e fazer “discípulos de todas as nações, batizando-os…” (Mateus 28:19) fosse dado originalmente aos “onze discípulos” (versos 16 e 18), cremos que ele se aplica a todos os cristãos, de todas as épocas e lugares. Todos os crentes têm, portanto, a solene responsabilidade de testemunhar do evangelho aos descrentes, incentivando-os a uma experiência genuína com Cristo que culmine com o batismo. Isso não significa que todo crente deva oficiar pessoalmente o batismo de seus conversos; pois essa cerimônia deve ser ministrada apenas por aqueles que foram escolhidos dentro da comunidade dos crentes, como ministros do evangelho, para esse ofício.

Alberto Timm, “Sinais dos Tempos”, junho de 1998, p. 29.

sábado, 21 de maio de 2016

O que aconteceu com as pessoas que ressuscitaram quando Jesus morreu?

 

Mateus 27:51-53 nos diz que, por ocasião da morte de Jesus, “o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas; abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram”. Alguns mortos, como o filho da sunamita (2Reis 4:18-37), a filha de Jairo (Mateus 9:23-26), o filho da viúva de Naim (Lucas 7:11-17) e Lázaro (João 11:146), já haviam sido ressuscitados antes da morte e ressurreição de Jesus. Estes, porém, não foram glorificados e nem receberam o dom da imortalidade ao serem ressuscitados.

Cristo mesmo havia declarado ser Ele “a ressurreição e a vida” (João 11:25; 10:17 e 18) e ter poder para conceder a “vida eterna” a todos quantos nEle cressem (João 3:14-16; 5:24-29; 17:2). O poder de Cristo sobre a morte evidenciou-se não apenas em Sua própria ressurreição, como “as primícias dos que dormem” (1Coríntios 15:20 e 23), mas também na ressurreição de um grupo de “santos” que ressuscitou com Ele (Mateus 27:51-53). Os líderes judeus haviam subornado os guardas para negarem a ressurreição de Jesus (Mateus 28:11-15), mas esses santos ressuscitados “entraram” em Jerusalém “e apareceram a muitos” (Mateus 27:53) como testemunhas autênticas da ressurreição de Cristo e do Seu poder sobre a morte (ver Apocalipse 1:18).

O texto bíblico não entra em detalhes a respeito do futuro daqueles que ressuscitaram com Jesus. Mas, se considerados como os “primeiros frutos” (ver Êxodo 23:16; 34:22 e 26; Levítico 23:9-14) da grande messe de salvos que ressuscitarão incorruptíveis por ocasião da segunda vinda de Cristo (1Coríntios 15:51-55), então eles só podem ter sido ressuscitados também incorruptíveis para receber o galardão da vida eterna. Em seu comentário sobre Mateus 27:53, Jamieson, Fausset e Brown declaram que “esta foi uma ressurreição uma vez por todas, para a vida eterna; e, desta forma, não existe lugar para dúvidas de que eles foram para a glória com o seu Senhor, como esplêndidos troféus da Sua vitória sobre a morte” (Commentary on the Whole Bible, Grand Rapids, MI: Zondervan, 1961, p. 948).

Alberto Timm, “Sinais dos Tempos”, maio – junho de 2000.

Veja o que Ellen White disse  no livro “O Desejado de Todas as Nações“, capítulo 81 – “O Senhor ressuscitou”.

 Durante Seu ministério, Jesus ressuscitara mortos. Fizera reviver o filho da viúva de Naim, a filha do principal, e Lázaro. Estes não foram revestidos de imortalidade. Ressurgidos, estavam ainda sujeitos à morte. Aqueles, porém, que ressurgiram por ocasião da ressurreição de Cristo, saíram para a vida eterna. Ascenderam com Ele, como troféus de Sua vitória sobre a morte e o sepulcro. Estes, disse Cristo, não mais são cativos de Satanás. Eu os redimi. Trouxe-os da sepultura como as primícias de Meu poder, para estarem comigo onde Eu estiver, para nunca mais verem a morte nem experimentarem a dor.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Esqueletos no armário



“Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento” (Mateus 9:3).

Se analisarmos a vida de alguns personagens bíblicos, encontraremos alguns esqueletos em seus armários. No Antigo Testamento nos deparamos com Abraão, um homem exemplar conhecido como “pai da fé”, que, para salvar o pescoço, mentiu duas vezes sobre Sara, dizendo que ela era sua irmã. Jacó, o pai da nação israelita, aproveitando-se da fraqueza de seu irmão Esaú, roubou-lhe a bênção da primogenitura, e depois disso enganou o pai. E o rei Davi, um homem segundo o coração de Deus, cometeu adultério com a esposa de um fiel general seu e depois mandou mata-lo para tentar encobrir o pecado.

O Novo Testamento conta que Pedro passou três anos e meio com Jesus e foi considerado um dos Seus três amigos mais chegados.  Mas, durante o julgamento de Jesus, Pedro negou que O conhecesse, embora tivesse sido avisado com antecedência que faria isso.

Note que esses quatro heróis cometeram seus pecados mais graves APÓS terem dedicado a vida a Deus. Transportando isso para o nosso contexto, podemos dizer que eles escorregaram após “terem sido batizados e se tornado membros regulares da igreja”.

Paulo, antes de se tornar o “apóstolo dos gentios”, foi, segundo suas próprias palavras, “blasfemo, e perseguidor, e insolente” (1Tm 1:13). Mas, mesmo depois de convertido, ele confessou: “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7:19).

A que conclusão podemos chegar com base nesses antecedentes nada recomendáveis dos heróis bíblicos? Que Jesus não veio “chamar justos, e sim pecadores [ao arrependimento]” (Mt 9:13). Paulo apontou para si mesmo como exemplo dessa verdade ao dizer: “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1Tm 1:15).

A Bíblia é um livro confiável, pois não esconde o fato de que os seus heróis eram seres humanos falíveis e tinham deficiências de caráter como nós. Entre eles havia covardes, mentirosos, homicidas, adúlteros. Mas Deus os amava a despeito disso. Ele via neles não só defeitos, mas também virtudes, e um grande potencial para se tornarem cidadãos do Seu reino. E isso deve ser um estímulo para nós, porque, por piores que sejam nossos defeitos, Ele nos ama e quer nos salvar.

Por mais repulsivos que sejam os esqueletos em nosso armário, se permitirmos que Ele nos transforme, seremos mais que vencedores.

Tempo de Refletir

Havia ou Não Lei Desde Adão até Moisés? – Romanos 5:13 e 14




“Pois até à Lei, havia pecado no mundo; o pecado, porém, não é levado em conta quando não existe lei. Todavia, a morte imperou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram de modo semelhante à transgressão de Adão, que é figura daquele que devia vir” (A Bíblia de Jerusalém).

Muitas interpretações têm sido apresentadas para estes versos, mas o caminho mais fácil para uma solução, de acordo com o que Paulo tencionava dizer, é estudá-los no contexto dos versos 12 a 21. Ele nos relata que Adão através de seu pecado trouxe a morte para todos os homens, mesmo àqueles que não pecaram a sua semelhança.

Adão, o primeiro homem, é um tipo de Cristo, que Paulo chama de “segundo homem” ou “o último Adão” (1Coríntios 15:45 e 47). É digno de menção que o único vulto do Velho Testamento a ser chamado expressamente de tipo de Cristo é Adão. (Há personagens do Velho Testamento que implicitamente são tratados como “tipos” de Cristo, sendo talvez o mais notável Melquisedeque).

A frase de Thomas Goodwin, presidente do Magdalene College, de Oxford, é muito significativa: “Diante de Deus há dois homens, Adão e Jesus Cristo, e todos os outros estão pendurados em seus cinturões“.

O relato bíblico nos informa que quando um homem falha Deus escolhe outro para o substituir (Davi substituiu Saul).

A desobediência de Adão trouxe a morte para todos, a obediência de Cristo trouxe vida a todos que O aceitaram.

Sobre esta verdade, assim se expressou F.F. Bruce:

“Assim, se a queda de Adão colocou toda a sua posteridade sob o domínio da morte, a obediência de Cristo introduziu triunfalmente uma nova raça nos domínios da graça e da vida” (Comentário de Romanos, pág. 104).

Não esquecer que Cristo é um tipo de Adão por contraste.

Em Adão encontramos um ato de transgressão (Versos 12, 15, 17, 19).

Em Cristo, um ato de Justiça (Verso 18).

Em Adão, todos condenados à morte.

Em Cristo todos têm a possibilidade da justificação para a vida.

O Problema do Texto

Vários comentaristas têm achado este texto muito difícil, e até apresentado explicações que não podem ser aceitas, por colidirem com outras doutrinas da Bíblia.

“Todavia, a morte imperou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram de modo semelhante à transgressão de Adão…”

Em poucas e simples palavras, o verso nos mostra que a morte reinou devido à transgressão de Adão, por que então morrer? O argumento de Paulo é que, pelo pecado de Adão, todos pecaram mesmo antes da lei ter sido dada por escrito no Sinai (verso 13).

O comentarista Nygreen diz o seguinte sobre esta passagem:

“Adão tinha recebido definido mandamento de Deus, instruindo-o com respeito ao seu comportamento. Portanto quando ele pecou, sua ação tinha o caráter de direta transgressão. Antes de falar em transgressão precisa haver um mandamento ou uma lei. Tal era o caso de Adão, mas não o caso daqueles que vieram depois, até que a lei foi dada através de Moisés”.

Havia ou não lei desde Adão até Moisés?

A leitura de apenas dois versos (14 e 15) de Romanos 2 esclarece esta pergunta:

“Quando, pois, os gentios que não têm lei procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.

Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se”.

Duas expressões precisam ser realçadas destes versos:

Eles possuíam a lei da consciência.

A lei gravada no coração era a mesma escrita em tábuas de pedra.

De vários comentários lidos, o mais expressivo a meu ver é o do The Interpreter’s Bible, vol. 9, pág. 464, que se segue:

“A dificuldade que acabamos de mencionar é o de explicar a morte como penalidade do pecado em vista do fato de que a morte reinou de Adão até Moisés. Pode-se argumentar que, uma vez que foi Moisés quem deu a lei, não poderia haver transgressão nem portanto punição pela transgressão antes de seu tempo; porém, a morte havia de fato reinado. A resposta de Paulo não é tão persuasiva quanto se ele houvesse aqui feito uso da concepção de ‘lei natural’ à qual aludira anteriormente (2:14-15). Sua verdadeira resposta é dizer que embora o pecado não seja levado em conta onde não há lei, ele estava, não obstante, no mundo.

Mas poder-se-ia perguntar: ‘Se não era levado em conta, por que então deveria o homem morrer por causa dele? Cogita-se por que Paulo não responde apelando para a lei ‘gravada no coração’. Em outras palavras, a lei foi dada muito antes de Moisés, e Deus estava assim em posição de ‘levar em conta’ e punir o pecado desde o princípio. A descrição dos que foram desde Adão até Moisés como aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão pode ajudar a explicar o silêncio de Paulo aqui. Sanday e Headlam entendem a frase ‘não … à semelhança da transgressão de Adão ‘como significando ‘não em violação de um mandamento expresso'”.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Jesus Tinha Irmãos de Sangue? Maria Permaneceu Virgem?




Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

Os títulos que ensinam este assunto têm dado motivo para intermináveis controvérsias entre católicos e protestantes.

Os irmãos são mencionados nas seguintes passagens: Mateus 12:46; 13:55; 28:10; e Marcos 6:3.

Outras duas passagens relacionadas com os irmãos de Jesus e a virgindade de Maria são: Mateus 1:25 e Lucas 2:7.

Em Marcos 6:3 lemos: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? e não vivem aqui entre nós Suas irmãs?”.

Este versículo já deu origem a muitas conjecturas e continua sendo motivo de acaloradas divergências. Muitos protestantes, baseados neste verso, concluem que Maria foi mãe, não apenas de Jesus, mas em virtude de sua união com José, de quatro homens mais e de algumas mulheres, nascidos todos depois de Jesus, que foi o primogênito. É uma realidade inegável que não se encontra nos Evangelhos e em nenhum outro livro da Bíblia nenhuma referência a outros filhos de Maria além de Jesus.

Lucas 2:7. Descrevendo o nascimento de Jesus, usa, com referência a Maria, a conhecida frase “ela deu à luz o seu filho primogênito”.

Os defensores de outros filhos de Maria apresentam Mateus 1:25 como prova para assim crerem, especialmente as palavras “conheceu” e “até”. Conhecer é um eufemismo semita para indicar as relações conjugais. Os comentaristas, de modo geral, citando a expressão “até que”, afirmam que Mateus quis especificar o que acontecera (nenhum contato) antes do nascimento de Jesus e não o que se verificou depois. Segundo nossa sintaxe, as palavras “até que” pressupõem o fim de uma situação e o início de uma outra contrária. Outros argumentam que no hebraico e no grego a expressão pode ser usada, mesmo que não haja uma mudança de situação.

O Dicionário da Bíblia, de João Davis, pág. 288, declara: “O que parece mais razoável e mais natural é que eles eram filhos de Maria depois de nascido Jesus. Que esta teve mais filhos é claramente deduzido de Mateus 1:25 e Lucas 2:7, que explica a constante associação dos irmãos do Senhor com Maria”.

Os católicos, começando por Jerônimo, sempre solícitos em defenderem o dogma da perpétua virgindade de Maria, afirmam que os chamados irmãos, nas passagens citadas, são na realidade primos de Jesus, filhos de uma irmã de Maria, mulher de Alfeu ou Clopas, segundo João 19:25. A opinião mais defendida desde a antiguidade apoia que esses irmãos eram apenas “primos – irmãos”. Os que apóiam essa ideia alegam que em todas as línguas, mas especialmente naquela falada por Jesus, o termo “irmão” tem uma elasticidade notável; emprega-se para irmão, por parte de pai ou de mãe, primo, e também para um parente mais afastado. Apresentam citações bíblicas para provar que os judeus tinham por costume chamar de irmãos a certos parentes.

A Igreja Católica, desde os primeiros séculos, sempre venerou Maria como virgem em sentido absoluto, antes, durante e depois do nascimento de Jesus. Para nós esse dogma é uma simples tradição, admitida mesmo por alguns comentaristas católicos, como podemos verificar em “Cem Problemas Bíblicos“, pág. 278, Edições Paulinas. É real que tal tradição não teria surgido se os apóstolos tivessem conhecido e mencionado autênticos “filhos” de Maria além de Jesus.

Há uma terceira interpretação, semelhante às mencionadas e que foi defendida também pelos antigos pais da igreja (Orígenes, Eusébio de Cesareia, Epifânio, Ambrósio e outros), segundo a qual José era viúvo quando se casou com Maria, e os aludidos irmãos e irmãs eram filhos de seu matrimônio anterior, com uma tal Melca, ou Esca, chamada por outros de Salomé.

Sabemos que os Evangelhos nada dizem com respeito a José, sobre seu estado de viuvez antes de seu casamento com Maria.

Apesar do silêncio dos evangelistas, esta versão é a que deve ser aceita por nós, como nos comprova o Comentário Bíblico Adventista e o Espírito de Profecia.

“Seus irmãos. Os escritores dos evangelhos tornam claro que esses eram filhos de José em razão de matrimônio anterior. O fato de que Jesus confiou Sua mãe aos cuidados de João (ver João 19:26-27) indica que os ‘irmãos’ (e irmãs) de Jesus não eram propriamente filhos de Maria. Que eles eram mais velhos que Jesus é demonstrado pela atitude deles e seu relacionamento para com o Senhor. Eles tentavam repreendê-Lo e falavam-Lhe com severidade (João 7:3-4) procurando interferir em Sua conduta por outras maneiras. Tais atitudes somente seriam cabíveis a irmãos mais velhos, segundo os costumes da época. Para quem está familiarizado coma vida nas terras bíblicas, esse argumento, por si só, parece conclusivo… “Embora esses ‘irmãos’ não cressem em Jesus naquele tempo (João 7:3-5), eles posteriormente O aceitaram e foram contados entre Seus seguidores (ver Atos 1:4)” (Comentário Bíblico Adventista, referente Mateus 12:46).

“Seus irmãos, como eram chamados os filhos de José, tomavam o lado dos rabinos” […]

“Tudo isso desgostava os irmãos. Sendo mais velhos que Jesus, achavam que Ele devia estar sob sua direção” (O Desejado de Todas as Nações, capítulo “Dias de Luta”).

O Pastor Juan Ferri defendeu tese idêntica, declarando:

1º) Que os chamados “irmãos” mencionados em Mateus 13:55 e Marcos 6:3 não são primos do Senhor.

2º) Que são pessoas diferentes e não os filhos de Maria, esposa de Alfeu, embora tivessem nomes iguais.

3º) Que a única conclusão lógica seria que fossem filhos de um primeiro matrimônio de José, o que é confirmado por antiga tradição.

A seguir apresenta as provas bíblicas que, segundo seu parecer, constituem a base dessa última conclusão. Não as transcreveremos por duas razões:

1º) Não as reputamos essenciais;

2º) Por serem muito extensas. (O Pregador Adventista, março-abril de 1949, págs.3-8).

A Castidade de José

A Igreja Católica, apoiada em ideias defendidas por Jerônimo e Agostinho, afirma que José se conservara casto não somente depois do seu casamento com Maria, mas também antes dele.

Juan Ferri, no artigo já citado, sustenta a castidade de José após o nascimento de Jesus, declarando:

“Vejo nisso nada mais do que a atitude consequente de um homem que, desde o momento em que o anjo Gabriel lhe revelara o propósito divino, compreendeu seu dever, aceitando a sagrada incumbência e se limitando a ser o que Deus queria que fosse: o pai legal e mantenedor de Jesus e o esposo legal e mantenedor de Maria […]

A sua união legal com a virgem era requerida somente como uma medida indispensável para que o bom nome daquela santa mulher permanecesse protegido de calúnia e infâmia”.

É bom frisar que ele declara ser esta uma opinião pessoal e não a posição da Igreja.

Conclusões Gerais

Tanto católicos como protestantes têm tomado posições extremadas, para as quais não se acham nenhuma base bíblica.

Não encontramos nada em o Novo Testamento a respeito da eterna virgindade de Maria; se esse fato fosse essencial para o plano da salvação ele seria apresentado.

Em contrapartida os protestantes também não podem, pela Bíblia, apresentar provas convincentes de que os irmãos e irmãs de Jesus fossem filhos de José e Maria. Russell Norman Champlin, em seu Novo Testamento Interpretado, vol. 1, pág. 396, apresenta argumentos, na sua opinião irrefutáveis de que José e Maria tiveram vários filhos. Para mim ao menos, os argumentos não são convincentes.

Em face destas duas posições exageradas, nossa posição devia estar no meio termo: Maria somente deu à luz a um filho, o nosso Salvador; e por ser virgem “antes do parto”, não há nenhuma base para crer que continuasse a sê-lo no parto e depois dele.

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