Determinar a natureza específica de cada sonho de uma pessoa é um
assunto muito complexo e subjetivo. Além dos “sonhos mentirosos” e não
autênticos (Jeremias 23:32; 29:8-9), existem dois grandes grupos de
sonhos reais. O primeiro e mais comum deles é o formado pelos sonhos
naturais, que fazem parte do processo normal de descanso durante o sono,
e cujo conteúdo pode apresentar-se de forma organizada ou
desorganizada. Uma vez que “dos muitos trabalhos vêm os sonhos”
(Eclesiastes 5:3), é provável que pessoas envolvidas em assuntos
religiosos acabem sonhando com eles, sem que tais sonhos sejam de origem
sobrenatural.
Já o segundo grupo básico de sonhos é formado pelos sonhos
sobrenaturais, que podem ser de origem divina ou satânica. Os sonhos de
origem divina tem normalmente um propósito salvífico bem definido, e
podem ser concedidos tanto aos profetas verdadeiros (Números 12:6), como
aos membros comuns do povo de Deus (Joel 2:28), e mesmo às pessoas que
não pertencem ao povo de Deus (Gênesis 41; Daniel 2). Por sua vez, os
sonhos de origem satânica são quase sempre fascinantes, e podem conter
verdades, para confundir a pessoa. Suas predições podem até se cumprir,
mas eles tendem a afastar, eventualmente e de alguma forma, a pessoa de
Deus e de Sua vontade (ver Jeremias 29:8; Mateus 24:24; 1Pedro 5:8).
Torna-se evidente, portanto, que tanto os sonhos naturais como os
sobrenaturais (quer divinos ou satânicos) podem ter um conteúdo
religioso. Além disso, o simples fato de Deus conceder um sonho
sobrenatural a alguém não transforma essa pessoa automaticamente num
profeta, como pode-se inferir das experiências de Faraó (Gênesis 41) e
de Nabucodonosor (Daniel 2). Embora todo profeta receba sonhos de origem
divina (Números 12:6), nem todos os que recebem tais sonhos podem ser
considerados profetas. O chamado para os ministérios proféticos é
algo diferente e bem mais abrangente.
A atitude de atribuir a Deus a origem de todos os sonhos de cunho
religioso, e de buscar sempre um significado especial para o seu
conteúdo, é altamente perigosa. Aqueles que assim agem são tentados a se
considerar mais privilegiados por Deus do que os demais, tornando-se
presas fáceis das artimanhas do maligno. Somos advertidos pelo próprio
Deus de que todos os sonhos (até mesmo os dos profetas) devem permanecer
subordinados à autoridade normativa das Escrituras. “O profeta que tem
sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a Minha
palavra, fale a Minha palavra como verdade. Que tem a palha com o trigo?
– diz o Senhor” (Jeremias 23:28). ”À lei e ao testemunho! Se eles não
falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8:20; ver também
Mateus 7:21-23; Gálatas 1:8-9; 1João 2:4; 4:1).
Sonhos jamais são usados por Deus como um fim em si mesmos, mas
apenas como um meio de nos aproximar mais dEle e de Sua Palavra (ver
João 20:29). Ademais, não podemos permitir que nossa fé dependa de tais
meios, possíveis de serem usados também por Satanás. Portanto, se você
tiver um sonho que julga ser de procedência divina, mas não tem plena
certeza disso, o mais prudente é tentar extrair dele uma lição positiva
para a vida, até que a sua origem e o seu propósito fiquem mais bem
esclarecidos.
Alberto Timm, “Sinais dos Tempos” – julho de 1999