Marcadores: A Natureza de Cristo
‘”Quando Cristo foi crucificado, foi Sua natureza humana que morreu. A divindade não sucumbiu e morreu; isso teria sido impossível” (Manuscript Releases, v. 21, p. 408). “Eu sou a ressurreição e a vida.” (João 11:25). Aquele que disse: “Dou a Minha vida para tornar a tomá-la” (João 10:17), ressurgiu do túmulo para a vida que estava nEle mesmo. A humanidade morreu; a divindade não morreu. Em Sua divindade, possuía Cristo o poder de romper os laços da morte. Declara Ele que tem vida nEle mesmo, para dar vida a quem quer.” (Mensagens Escolhidas, v. 1 p. 301)
Vocês poderiam me indicar algumas fontes adventistas contemporâneas que comentem esse conceito da deidade/divindade de Cristo não morrer?
Desconheço fontes adventistas contemporâneas que comentem esse conceito, embora possa haver algumas. Estamos simplesmente lidando com um dos mistérios da Encarnação. Jesus era inteiramente Deus e inteiramente humano, com Suas duas naturezas unidas em uma só. Encontrei mais sobre a declaração que você citou nesta referência extraída de The Seventh-Day Adventist Bible Comentary (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia), no volume 5, p. 1113, 1114, nos “Ellen G. White Comments” (Comentários de Ellen G. White) sobre Marcos16:6:
6 (Jo 1:1-3,14; Fp 2:5-8; Cl 2:9; Hb 1:6, 8; 2:14-17; Hb 4:15).]A Divindade Não Morreu. – A natureza humana do Filho de Maria se transformou na natureza divina do Filho de Deus? Não; as duas naturezas foram misteriosamente mescladas em uma pessoa – o homem Jesus Cristo. NEle habitava corporalmente toda a divindade. Quando Cristo foi crucificado, foi Sua natureza humana que morreu. A divindade não sucumbiu e morreu; isso seria impossível. Cristo, Aquele que não pecou, salvará cada filho e filha de Adão que aceitar a salvação que lhes é oferecida, consentindo em se tornarem filhos de Deus. O Salvador comprou a raça caída com Seu próprio sangue.
Isso é um grande mistério, um mistério que não será inteira e completamente compreendido em toda sua grandeza até que os redimidos sejam trasladados. Só então o poder, a grandeza e a eficácia do dom de Deus para o homem serão entendidos. Mas o inimigo está determinado a fazer com que essa dádiva seja tão mistificada que venha a tornar-se como nada (Carta 280,1904). [...]
“Eu sou a ressurreição e a vida.” Aquele que disse “Eu dou a Minha vida para a retomar” emergiu da sepultura para a vida que era Ele mesmo. A humanidade morreu; a divindade não morreu. Em Sua divindade, Cristo possuía o poder de romper os grilhões da morte. Ele declara ter vida em Si mesmo para reviver quem Ele quiser.
Todos os seres criados vivem pela vontade e poder de Deus. Eles são recipientes da vida do Filho de Deus. Por mais capazes e talentosos, por maiores que sejam suas habilidades, eles são reabastecidos com vida que vem da Fonte de toda vida. Ele é a fonte de vida. Somente Aquele único que possui a imortalidade e faz Sua habitação na luz e na vida pode dizer: “Tenho autoridade para dar [Minha vida], e tenho autoridade para retomá-la.” [...]
Cristo estava investido com o direito de dar imortalidade. A vida que, em Sua humanidade, Ele doou, outra vez Ele a tomou, e deu para a raça humana. “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Youth Instructor, 4 de agosto de 1898).
Se por definição Deus é imortal, como pode a divindade morrer? Como disse a Sra. White, “isso seria impossível”. Mesmo assim, Jesus morreu, e Sua morte afetou até mesmo Sua divindade. Ela não morreu, mas esteve pelo menos quiescente lá na tumba.
FAGAL, William. 101 perguntas sobre Ellen White e seus escritos. Tatuí, SP : Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 120 .
Marcadores: A Natureza de Cristo, Jesus
Alguns entendem de forma equivocada Romanos 8:3, que afirma que Jesus veio "em semelhança de carne pecaminosa", para "provar" que Cristo veio com a natureza de Adão depois da queda. Porém, eles esquecem que o próprio texto não diz que Jesus veio com uma natureza pecaminosa, mas sim que veio em semelhança de carne pecaminosa.
Tais indivíduos também alegam que "para vencermos como Cristo, Ele tem que ter vindo com a natureza de Adão depois da queda; do contrário, não poderia ser nosso modelo". É claro que Cristo é nosso modelo (1Jo 2:6), mas de modo algum podemos esquecer de que primeiro Ele é o nosso Salvador. Se pudéssemos imitar o exemplo de perfeição dEle (Mateus 5:48 também é mal interpretado), o Senhor nem precisaria ter vindo aqui. Poderíamos com nossas próprias obras chegar a um nível de perfeição elevado.
Só podemos obedecer a Deus e seguir o exemplo de Cristo se primeiro O aceitarmos como Salvador e depois continuarmos, durante a vida toda, passando pelo processo de santificação (Hb 12:14; Rm 6:22; Fp 3:13-16). É por isso que para sermos bons ou fazermos qualquer ato digno de aprovação do Senhor,dependemos totalmente da graça dEle e não das nossas obras! "Pois Deus [não o próprio ser humano, fraco pelo pecado]está sempre agindo em vocês para que obedeçam à vontade dEle, tanto no pensamento como nas ações" (Fp 2:13; veja também Ef 2:8, 9).
A pergunta ainda não quer calar: Cristo veio com a natureza de Adão antes ou depois da queda?
No aspecto FÍSICO, realmente Jesus nasceu com a natureza de Adão DEPOIS da queda. O Salvador não veio a este mundo com a mesma altura e vigor físico de Adão. Pelo contrário: a Bíblia diz que no aspecto físico o Salvador não chamava atenção (ver Isaías 53:2).
Entretanto, no aspecto ESPIRITUAL, Jesus veio com a natureza de Adão ANTES da queda, ou seja, moralmente perfeito. E não poderia ser diferente, pois a Bíblia diz que Jesus é o segundo adão (cf. 1Co 15:45). Se Jesus tivesse vindo com alguma propensão ao pecado, sendo o "segundo Adão", isso indicaria que o "primeiro Adão" também foi criado imperfeito, o que seria uma heresia! E mais: se Cristo tivesse tendências para o mal, seria um pecador. Consequentemente, não poderia nos salvar, pois também precisaria de um Salvador.
Alguém poderia ainda perguntar: "Então, como Jesus poderia ser tentado (Mt 4:1-11) se Ele não tinha uma natureza pecaminosa?"
Não há um porquê de Cristo precisar ter uma natureza pecaminosa para ser tentado. Adão era perfeito e mesmo assim pôde ser tentado. O fato de Adão poder ser tentado não indica que Deus o tivesse criado com propensões pecaminosas. O mesmo se dá em relação a Cristo, o "segundo Adão", como vimos anteriormente. O detalhe é que a tentação de Adão e de Jesus era apenas externa, e não interna (eles não tinham a vontade de pecar). Poderiam escolher pecar, devido ao livre-arbítrio, mas sem sentir aquele desejo pecaminoso. Se Cristo tivesse a tendência interna para o mal, o simbolismo do cordeiro perfeito, sem defeito (Êx 12:5), usado nos dias do Antigo Testamento para simbolizar a Cristo (João 1:29), perderia todo o sentido! Além do mais, contradiria frontalmente textos como Hebreus 4:15, 7:26, 1 Pedro 2:22... (confira-os em sua Bíblia).
O fato de Jesus ter algumas "debilidades inocentes" como sentir fome, sede e ficar cansado (Jo 4:6, 7; Mt 4:2) não indica que Ele tinha natureza pecaminosa. Ter tais características humanas em nada afetou a perfeita natureza espiritual dEle.
Podemos resumir e concluir o assunto com uma frase, dita pelo professor e doutor Amim Rodor (do Centro Universitário Adventista ) em uma de suas aulas de Cristologia: "Jesus foi afetado pelo pecado (fisicamente), mas não infectado (moralmente)."
Àqueles que acreditam que Jesus veio com uma natureza pecaminosa, Ele pergunta: "Quem dentre vós Me convence de pecado?" (Jo 8:46).
Leandro Quadros
Marcadores: A Natureza de Cristo, Jesus
Marcadores: A Natureza de Cristo, Amazing Facts
Marcadores: A Natureza de Cristo
Marcadores: A Natureza de Cristo, Jesus, Perguntas e Respostas Bíblicas
Marcadores: A Natureza de Cristo, Jesus
Ao longo da história do cristianismo, houve muita discussão a respeito do significado do termo “primogênito” (grego protótokos) quando usado em relação a Cristo. No Novo Testamento, Cristo é chamado de “o Primogênito” (Hb 1:6), “o primogênito de toda a criação” (Cl 1:15), “o Primogênito dos mortos” (Ap 1:5), “o primogênito de entre os mortos” (Cl 1:18) e “o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8:29).
Para entender essa questão, é importante ter em mente que, entre os israelitas, todo o primogênito deveria ser consagrado ao Senhor (Êx 13:1-16; ver Lc 2:22-24), recebendo herança “dobrada” em relação aos demais irmãos (Dt 21:15-17). Embora o termo “primogênito” seja normalmente usado para designar o primeiro filho de um casal, ele é também empregado na Bíblia em relação a um dos demais filhos, que não o mais velho, mas que tenha se destacado entre os seus irmãos. É neste sentido que Deus qualificou a Israel, que não era a nação mais antiga da terra, de “meu primogênito” (Êx 4:22); a Efraim, o segundo filho de José e Azenate, de “o meu primogênito” (Jr 31:9); e a Davi, o mais novo dos oito filhos de Jessé, de “meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra” (Sl 89:27).
Cristo é qualificado de “o primogênito de toda a criação” (Cl 1:15) em um contexto que O enaltece como o Criador que está acima de toda a criação. Em Colossenses 1:15-17, Paulo afirma que Cristo “é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois nEle foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas. NEle tudo subsiste.”
Se o próprio Cristo fosse uma criatura do Pai, como alegam alguns pretensos cristãos, como poderia o texto acima afirmar que “tudo” o que foi criado foi “por meio dEle” criado? Se Cristo houvesse sido gerado em algum momento da eternidade, como poderia ser chamado em Isaías 9:6 de “Deus Forte” e “Pai da Eternidade”? Nesse caso, Ele não seria “Pai da Eternidade”, mas simplesmente uma criatura que veio à existência em algum momento específico da eternidade! Cremos, porém, que como “o primogênito de toda a criação” Cristo é o Soberano absoluto sobre toda a criação, pois “nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Cl 2:9).
Texto de autoria do Dr. Alberto Timm, publicado na Revista Sinais dos Tempos, novembro/dezembro de 2001. p. 30. Via Sétimo Dia
Marcadores: A Natureza de Cristo, Jesus, Perguntas e Respostas Bíblicas
Marcadores: A Natureza de Cristo, Cruz, Jesus, Perguntas e Respostas Bíblicas
Ellen White menciona em seus livros História da Redenção (cap. 1) e Patriarcas e Profetas (cap. 1) que Deus o Pai confirmou a plena autoridade do Seu Filho diante das hostes angélicas na época em que a criação deste mundo estava sendo planejada nos conselhos divinos. Para entendermos essa “exaltação” de Cristo, devemos ter em mente, em primeiro lugar, que ela ocorreu em uma situação de crise, em que a Sua posição estava sendo invejada e desafiada por Lúcifer. Insatisfeito por não ser convidado para os conselhos divinos dos quais Cristo participava, Lúcifer começou a propagar seu descontentamento pessoal entre os anjos.
Em face dessa situação, Deus confirmou diante das hostes angélicas o poder e a autoridade de Cristo. Mas esse ato do Pai não representou qualquer capacitação adicional de poder que o Filho ainda não possuísse. Ellen White esclarece, no mesmo contexto, que não houve “mudança alguma na posição ou autoridade de Cristo. A inveja e falsa representação de Lúcifer, bem como sua pretensão à igualdade com Cristo, tornaram necessária uma declaração a respeito da verdadeira posição do Filho Deus; mas esta havia sido a mesma desde o princípio.” – Patriarcas e Profetas, pág. 38.
Estudando detidamente as Escrituras, percebe-se que sempre existiu e sempre existirá uma eterna unidade essencial entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo (João 5:17, 18; 10:30; I Cor. 2:10), e que também houve uma planejada subordinação funcional entre Eles no contexto da Criação (Gên. 1:2; Heb. 1:2; Apoc. 3:14) e da Redenção (João 14:26
e 28; 16:14). É provável que Lúcifer tenha se valido dessa evidente subordinação funcional por ocasião do planejamento da Criação, para propagar entre as hostes angélicas o sofisma de que Cristo não tinha o direito de reivindicar para Si qualquer unidade essencial com a própria Divindade. É lamentável que, ainda hoje, muitas pessoas usam o mesmo argumento para negar a plena divindade de Cristo.
Se Ellen White não cresse que Cristo era co-eterno com o Pai, ela jamais teria afirmado que “em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 530); que “desde toda a eternidade esteve Cristo unido ao Pai” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 228); que “nunca houve tempo em que Ele não estivesse em íntima comunhão com o eterno Deus” (Evangelismo, pág. 615); e que devemos proclamar ao mundo “que somos crentes em Cristo, que, cremos na divindade de Cristo e em Sua preexistência” (Testemunhos para Ministros, pág. 253). Se a vida de Cristo tivesse sido derivada do Pai, mesmo em algum momento remoto da eternidade, como Cristo poderia ser chamado em Isaías 9:6 de “Deus Forte” e “Pai da Eternidade”?
Luiz Nunes, em sua obra Crises na Igreja Apostólica e na Igreja Adventista do Sétimo Dia (Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 1999), págs. 24-33 e 71-79, compara e contrasta algumas compreensões distorcidas sobre a natureza de Cristo, que apareceram tanto na Era Apostólica como nos primórdios da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Praticamente todas essas distorções se originaram com uma leitura parcial e tendenciosa dos textos bíblicos e, no caso de alguns adventistas, também dos escritos de Ellen White. Distorções doutrinárias acabam surgindo toda vez que alguém superenfatiza algumas declarações da Bíblia ou da Sra. White, em detrimento de outras igualmente importantes.
As declarações de Ellen White sobre a “exaltação” de Cristo, no contexto da criação do mundo, não devem ser isoladas de outras declarações que se referem a Cristo como sempre havendo possuído a plenitude do poder divino. Uma compreensão correta da natureza de Cristo só pode ser obtida se não enfatizarmos a subordinação funcional entre Cristo e Deus o Pai em detrimento da unidade essencial que sempre houve entre Eles. Embora durante a encarnação Cristo tenha Se humilhado, assumindo a forma de servo, nunca houve um tempo em que Ele não fosse plenamente Deus (Fil. 2:5-11). Como
cristãos adventistas, cremos que em Cristo sempre habitou e sempre habitará “toda a plenitude da Divindade” (Col. 2:9).
Texto de autoria do Dr. Alberto Timm publicado na Revista do Ancião (janeiro – março de 2003).
Marcadores: A Natureza de Cristo, Ellen White
A palavra “unigénito” (monogenês), quando aplicada a Cristo, destaca Sua singularidade – Ele é o único através do qual podemos obter vida eterna.
As Escrituras falam de Jesus como sendo eterno (Jo 1:1; Hb 1:8,10-12, etc). No entanto, deparamo-nos com passagens onde Jesus é chamado de “unigênito” (por exemplo, Jo 3:16), palavra que vem do latim ”unigenitus” cujo significado é “único gerado por seus pais, filho único”.1 Mas, se Jesus é eterno, como pode ter sido “gerado”?
As línguas bíblicas são de muito auxílio para uma boa interpretação dos textos bíblicos. Nesse sentido, um estudo do significado da palavra grega monogenês nos ajuda a compreender melhor a Pessoa do Filho em Sua relação com o Pai e a humanidade.
A palavra grega monogenês é composta de duas outras: monos, que significa “único” “só” “sozinho” “sem igual”2 e genos, cujo significado é “espécie” “gênero” “classe”3 Sua melhor tradução seria, então, “único” “único de sua espécie” “único de seu gênero”4.
A palavra monogenês tem sua correspondente na palavra hebraica yachíd , cuja tradução é “único” “precioso” como era o caso de Isaque (Gn22:2,12,16). Ele era “único”, no sentido de ser o único filho da promessa, e não no sentido de ser o único filho gerado por Abraão.5 Talvez a melhor tradução da palavra [monogenês] seja ”único” no sentido de “sem igual”.6
“Monogenês, único! é achado como título cristológico somente em João. Monogenês se emprega para destacar Jesus de modo sem igual, acima de todos os seres terrestres e celestiais.”7 Jerônimo empregou “unigenitus” na Vulgata, para combater a alegação ariana de que Jesus teria sido feito pelo Pai. Ao dizer que Jesus era “unigenitus” (“único gerado”), queria dizer que o Filho procede do Pai e que tem a mesma natureza divina do Pai, mas não foi feito 8, como é o caso das demais criaturas. “Jesus como monogenês é Aquele que pode dizer ‘Eu e o Pai somos um’” (Jo 10:30).9
Monogenês – [...] se traduz corretamente como “único” “único de seu gênero” [...] Monogenês se refere à posição (único em seu gênero). [...] Assim também com respeito aos cinco textos de João que se referem a Cristo, a tradução deveria ser uma das seguintes: “único” “precioso” “exclusivo” “incomparável” “o único de sua classe”; porém não “unigénito” que se originou com os primeiros pais da Igreja Católica e entrou nas primeiras traduções da Bíblia devido à influência da Vulgata Latina, texto oficial da Bíblia para a Igreja Católica. Refletindo com exatidão o grego, vários manuscritos redigidos em latim antigo, anteriores à Vulgata, dizem ”único” e não “unigénito”10
O vocábulo monogenês aparece nove vezes em o Novo Testamento11, três vezes no Evangelho de Lucas, cinco no Evangelho de João e uma vez no livro de Hebreus.
No Pvangelho de Lucas, monogenês não tem conotação teológica ou cristológica, mas se refere a filhos únicos de seus pais: o filho único de uma viúva de Naim (Lc 7:12), a filha única de Jairo (8:42), e o filho único de certo homem que rogou a Jesus que expulsasse o demônio de seu filho (9:38).
Já em Hebreus (11:17) o vocábulo monogenês é empregado para se referir a Isaque – filho único de Abraão e Sara (pois esse patriarca tinha outros filhos: Ismael, de sua escrava Hagar, cf. Gn 16:15; mais seis filhos, de sua esposa Quetura, cf. Gn 25:1, 2; além de outros filhos, de várias concubinas, cf. Gn 25:6). Pode-se também aplicar o termo monogenês a Isaque no sentido de que ele era o único filho da promessa.12
João é o único que aplica o termo monogenês como título cristológico, e o faz em todas as cinco vezes onde 0 termo aparece em seus escritos (4 vezes em seu Pvangelho e 1 vez em 1 Jo 4:9). João faz uso desse vocábulo para enfatizar a natureza ímpar, sem igual, de Jesus Cristo. Analisemos, mais detidamente, as passagens joaninas onde ele emprega o vocábulo monogenês:
João 1:14: “E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do unigénito do Pai.” Nesse texto, aparecem dois títulos dados ao Filho: Ele é o Verbo [lógos] ou a Palavra divina, o Criador, Aquele que ”estava com Deus” quando tudo foi criado, e “era Deus” (Jo 1:1-3). Além de Criador, Ele é também o Filho único de Deus, único de Sua espécie, pois é Deus pleno e homem pleno. Ele é o homem lesus Cristo, mas também é “Emanuel” – “Deus conosco” (Mt 1:23). “Quando João fala do Filho de Deus, ele tem primeiramente a idéia de que o homem Jesus Cristo não é exclusivamente homem, mas também o exaltado e pré-existente Senhor.”13 Assim, tendo em vista a argumentação no início deste artigo quanto ao significado de monogenês, poderia se traduzir esse termo como ”único”: “E vimos a Sua glória, glória como do [Filho] único do Pai.”
João 1:18: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem O revelou.” A expressão “Deus unigênito” (seria mais bem traduzida para “Deus único”) aparece em alguns manuscritos.14 Outros, no entanto, em vez de ”Deus único” trazem “o Filho único”15 Aqueles manuscritos que trazem ”Deus único” contribuem com uma afirmação adicional quanto à divindade do Verbo.16 Os que apresentam a expressão “o Filho único” destacam o relacionamento de Jesus com o Pai. ”Como Filho único Jesus está em íntima comunhão com Deus. Não há outro com o qual Deus possa ter semelhante relacionamento. Ele compartilha cada coisa com Seu Filho. Por essa razão, Jesus pode revelar Deus, não por ouvir dizer, mas por causa de Sua incomparável proximidade de relacionamento com Ele [o Pai] .”17
João 3:16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” Essa passagem pode ser considerada o resumo do Evangelho, e até da Bíblia. Como vimos, “unigênito” deveria ter sido traduzido por ”único” O emprego de monogenês, neste verso, segue a idéia joanina de enfatizar a forma particular de comunhão que o Filho tem com o Pai, como nenhum outro ser o tem. Cristo não é Filho de Deus por Seu nascimento natural (Encarnação), pois Seu relacionamento com o Pai antecede a esse acontecimento. Tal relacionamento é eterno. Assim, o fato de Deus dar Seu único Filho realça a profundidade de Seu amor pela humanidade.18 Ele deu o que de mais precioso poderia ser dado.
João 3:18: “Quem nEle crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigénito Filho de Deus.” Mais uma passagem de João, onde ele enfatiza a natureza ímpar de Jesus como o Filho de Deus.19 Só pode haver salvação se houver a aceitação do Filho único de Deus, “o qual, devido à Sua natureza sem par, é o único salvador dos homens.”20 Essa passagem de João ecoa as palavras de Pedro: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4:12).
1 João 4:9: “Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o Seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dEle.” Mais uma vez o vocábulo monogenês é empregado por João para destacar a natureza sem igual de Jesus Cristo, sem qualquer ênfase na idéia de geração. “Ele é o único Salvador e Mediador. O Filho de Deus é declarado unigênito, ‘termo que fala sobre ’relacionamento’ e não sobre origem.. Tal relacionamento é eterno.”21
Em conclusão ao estudo da palavra monogenês no Novo Testamento, pode-se ver que, nas passagens referentes a Cristo, ela é empregada pelo apóstolo João para destacar Sua singularidade, Jesus é o Único que é Deus pleno e homem pleno, o Único através do qual podemos obter vida eterna, o Único que tem poder absoluto sobre a morte, pois a venceu, ao ressurgir dos mortos pela vida que havia em Si mesmo (Jo 10:17 e 18; 11:25).
Referências:
1. Novo Dicionário Aurélio da Língua Poituguesa, p. 2020.
2. BARTELS, K. H, in: COENEN, L. & BROWN, C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 2. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 2564.
3. NICHOL, F. D, ed. Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia, v. 5. Boise: Publicaciones lnteramerianas, 1987, p. 880.
4. Angel Manuel Rodriguez chama a atenção para o fato de genos estar relacionado ao verbo ginomai (nascer, ser feito, tornar-se), e assim o vocábulo monogenès poderia também significar “único gerado”. Contudo, afirma ainda Rodriguez, que “há evidência lingüística indicando que no tempo do Novo testamento a idéia de derivação ou nascimento estava separada do substantivo verbal genos”. Assim, seria melhor não dar demasiada ênfase na etimologia de monogenês, mas na maneira como os autores o empregam. (R0DRÍGUEZ, M. A. “Christ as Monogenês: Proper Translation and Theological Significance”, Reflections – A BRI Newsletter, January, 2007, p. 6).
5. WRIGHT, J, in: COENEN, L. & BROWN, Dicionário lntemacional de Teologia do Movo Testamento, v. 2, op. cit, p. 565.
6. Ibid.
7. BARTELS, K, in: Ibid, p. 25 65.
8. Quisesse um escritor bíblico dizer que Jesus foi “gerado” no sentido de”ter sido feito” ou “concebido”pelo Pai teria empregado monogênnetos e não monogenês (cf. MOULTON e MILLIGAN, citado por APOLINÁRIO, P. As Testemunhas de Jeová e sua Interpretação da Bíblia,4. ed. São Paulo: Instituto Adventista de Ensino, 1986, p. 147).
9. Ibid, p. 2566.
10. NICH0L, F.D., ed. Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia,v.5. Boise: Publicaciones Interamericanas, 1987, p. 880.
11. As citações são da Versão Almeida Revista e Atualizada no Brasil, edição de 1993.
12. WRIGHT, J., in: COENEN, L & BR0WN, Dicionário Internacional do Novo Testamento, v. 2, op. cit, p. 565.
13. KITTEL, G., Theological Dictionary of the New Testament, v. 4. Grand Rapids: Eerdmans Printing Company, 2006, p. 741.
14.
15.
16. WRIGHT, J, in: COENEN, L. & BROWN, C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 2, op. cit, p. 570.
17. KITTEL, G., ed. Theologial Dictionary of the New Testament, v. 4, op. cit., p. 740.
18. CHAMPLIN, R.N.O Novo Testamento lnterpretado, v. 2. São Paulo: Candeia, 1995, p. 312.
19. Ibid, p. 313.
20. Ibid.
21.lbid,v.6,p.278.
Texto de autoria de Ozeas C. Moura,Th . D., editor na Casa Publicadora Brasileira. Publicado na Revista Adventista de Janeiro/2008.
You can replace this text by going to "Layout" and then "Page Elements" section. Edit " About "