Mostrando postagens com marcador Justificação pelas Obras. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Justificação pelas Obras. Mostrar todas as postagens

domingo, 10 de julho de 2016

Por que Tiago afirmou que uma pessoa é “justificada por obras” e não “por fé” somente? – Tiago 2:24




Com frequência, Tiago 2:14-26 é entendido como uma “correção” à ênfase dada por Paulo à justificação pela fé somente. Hoje, felizmente, a maioria dos estudiosos, assim como eu, não concorda com essa afirmação. Em primeiro lugar, ao procurar entender o argumento de Tiago, precisamos manter em mente o contexto geral e o objetivo de sua carta. Em segundo lugar, devemos compreender que diferentes escritores bíblicos podem, às vezes, usar a mesma terminologia para sentidos diferentes ou para um propósito específico. Pode depender também do contexto. (Leia Tiago 2:14-26 antes de continuar.)

1. Objetivo principal de Tiago: A mensagem de Tiago é muito simples em sua natureza, abordando os sofrimentos e provações da comunidade dos crentes e a opressão da estratificação social. Seu interesse foca o impacto social da fé cristã. Rejeita tratamento preferencial baseado em posses ou status social (Tiago 2:1-7) e condena a exploração social e o abuso dos pobres (Tiago 5:1-6). Para Tiago, a fé cristã não pode ser desconectada da sociedade, uma vez que ele afirma sua relevância. Sua mensagem teológica está embutida na preocupação de que a religião deve ser parte da essência da sociedade. Isso significa que tudo o que Tiago diz no capítulo 2:14-26 deve ser relacionado à sua maior ênfase.

2. Fé e obras: A passagem em consideração deve ser lida em seus próprios termos. Devemos determinar como Tiago usa a palavra “fé”. Contextualmente, isso não é difícil. Ele não a usa na forma salvífica tradicional, mas como conhecimento interior e convicção. Em outras palavras, o que depositamos em Cristo, inicialmente, não é fé, mas uma convicção religiosa que não determina a conduta. Isso se torna claro quando ele escreve: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem” (verso 19). Fé é estar persuadido de que nossas convicções estão corretas; os demônios podem ter esse tipo de compreensão. Esse tipo de fé é inútil na vida cristã se ela nos conduz a uma atitude de indiferença em relação às necessidades dos outros (versos 14-16, 20). Tiago argumenta que a fé sem as obras é morta (verso 17).

De fato, alegar que a fé existe na ausência de obras equivale a afirmar que o corpo pode existir independente do espírito. Um não pode existir sem o outro. Fé e obras formam uma unidade indivisível na vida cristã (verso 26); as obras tornam visível a nossa fé (verso 18). São evidências da realidade da fé na vida do crente.

3. Fé e justificação: Sob a influência de Paulo, a justificação geralmente é vista como a absolvição dos pecados de pecadores arrependidos diante do tribunal divino, no início da vida cristã, independente das obras.

Tiago não está negando essa crença, mas também não está se referindo a esse assunto em particular. Ele escreve para membros da igreja, pessoas que já haviam sido justificadas pela fé em Cristo. O problema é que a fé que professavam não estava afetando o modo como deveriam viver a vida cristã. Para eles, Tiago diz: “A pessoa é justificada pelo que faz e não apenas pela fé”.

O elemento mais importante nesse verso é o verbo “justificar”. Uma vez que, no contexto, a presença da fé é comprovada ou demonstrada pelas obras, o verbo justificar provavelmente significa “mostrar ou demonstrar o que é ser justificado”.

O verbo exerce uma função demonstrativa, isto é, o crente mostra/demonstra que foi justificado não apenas por alegar que tem fé, mas especificamente pelo que faz. Essa foi a experiência de Abraão e Raabe, que demonstraram justificação por suas obras (verso 21 e 25). Essas não são as obras da lei pelas quais, segundo Paulo, alguns procuram ser justificados. Tiago está falando sobre o que Paulo chama de “boas obras”. Ambos concordariam que “somos feitura dEle, criados em Cristo Jesus para boas obras” (Efésios 2:10).

A mensagem de Tiago ecoa em Apocalipse 3:15-18 e nos desafia a permitir que nossa fé, pelo poder do Espírito, se expresse numa verdadeira conduta cristã e em profundo interesse pelos pobres e oprimidos. Afinal, “qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras?” (Tiago 2:14).

Angel Manuel Rodríguez, Revista “Adventist World” – outubro de 2008

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Defende Paulo a Justificação Pelas Obras? – Romanos 2:13


“Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados”.

Esta passagem tem sido apresentada pelos legalistas em defesa da salvação pelas obras. Se fosse possível a salvação pela obediência à lei ou prática de boas obras, isto iria contradizer toda a teologia de Paulo. Dentre os escritores bíblicos, ele foi o mais ardoroso defensor da justificação pela fé. A verdade fundamental da sua teologia é esta: o crente não é salvo por praticar boas obras. Ser “justificado por obras” na ideia de Paulo seria a rejeição de Cristo como nosso Salvador. Se o praticar boas obras propiciasse a salvação, Cristo não precisaria ter morrido por nós.

“Paulo afirma que um homem é justificado perante Deus não por realizações, mas por uma fé verdadeira” (Introdução ao Novo Testamento em Inglês Moderno).

Antes da análise propriamente dita desta passagem, seria bom relembrar dois princípios hermenêuticos que mais se aplicam a este caso.

1º) A regra a que Orígenes deu o nome de “Analogia da Fé”. De acordo com este princípio o texto deve ser interpretado através do conjunto das Escrituras, e nunca através de passagens isoladas.

2º) Consultar as passagens paralelas, isto é, aquelas que tratam do mesmo assunto.

A Crítica Textual nos informa que não há nesta passagem nenhum problema de tradução.

A comparação deste verso em algumas traduções nos mostra que o sentido é sempre o mesmo:

“Porque os simples ouvidores da lei não são justificados, mas os que praticam a lei hão de ser justificados”– Almeida Revista e Atualizada no Brasil.

“Porque não são justos diante de Deus os que ouvem a Lei, mas os que obram a Lei hão de ser justificados” – Trinitária.

“Não é pelo ouvir a lei, mas pelo cumpri-la que os homens serão justificados perante Deus” – New English Bible.

“Porque não são os que ouvem a Lei que são justos perante Deus, mas os que cumprem a Lei é que serão justificados”– A Bíblia de Jerusalém.

“Porque Deus não aceita os que somente ouvem a Lei; Ele aceita os que fazem o que a Lei manda” – A Bíblia na Linguagem de Hoje.

Para melhor compreensão deste texto devemos considerar estas duas questões:

1º) O que representava a lei em o NT e neste texto de Paulo para os judeus e gentios.

2º) Está Paulo neste verso defendendo a salvação pelas obras?

A Lei em o Novo Testamento

De acordo com W. E. Vine, no Novo Testamento, nomos – lei é usada como:

a) Lei em geral: Romanos 2:12-13; 3:27; 4:15;

b) Força ou influência impelindo para a ação: Romanos 7:21-23;

c) Lei Mosaica, Lei do Sinai, com artigo definido: Romanos 2:15, 18, 20; Mateus 5:18; Gálatas 3:10; 5:3…

d) Por metonímia, dos livros que contêm a lei.

1) Do Pentateuco: Mateus 5:17; 12:5…

2) Dos Salmos – João 10:34; 15:25…

De tudo isso, pode ser deduzido que a “Lei”, num sentido amplo, foi o título alternativo para “As Escrituras” (Expository Dictionary of New Testament Words).

Pelo contexto vemos Paulo dividindo o mundo em duas classes de pessoas: os judeus com sua lei dada diretamente por Deus e colocada por escrito para que todos pudessem lê-la. Os gentios, sem essa lei escrita, porém, com um conhecimento interno ou instintivo do bem e do mal implantado por Deus em seu coração.

Diante destas duas classes surge a pergunta: Quais os princípios que Deus utilizará no Dia do Juízo?

Charles R. Erdman em seu Comentário de Romanos apresenta a seguinte resposta:

a) Cada pecador será julgado segundo suas obras (vs. 6-11);

b) Cada pecador será julgado conforme a luz que tenha.

Ele prossegue dizendo que no julgamento final a recompensa será de acordo com as obras e não com o que a pessoa professa crer. O julgamento será segundo a luz que cada um recebeu individualmente (v. 11).

William Barclay, em seu Estudo Sobre Romanos, pág. 57, pondera:

“O homem será julgado pelo que tem tido oportunidade de conhecer. Se conhece a Lei, será julgado como quem conhece a lei. Se não conhece a Lei, será julgado como quem não conhece a lei”.

Os judeus descansavam contentes no grande privilégio que tinham de serem conhecedores da lei, mas muitas vezes não viviam de conformidade com o que a lei preceituava. Paulo estava dizendo mais ou menos o seguinte: mais importante do que ouvir, conhecer, é o praticar.

Russell N. Champlin comentando este verso sob a epígrafe: Eles Ouviram a Lei, escreveu:

“1) Eram ensinados a cada sábado.

2) Nos seus lares, eram obrigados a memorizar a lei.

3) Havia escolas especiais que preparavam a elite, os doutores da lei.

4) Israel foi a mais religiosa nação de toda a história.

5) Essa busca era um privilégio, e produziu muito fruto.

6) Porém, a mera instrução não basta, a menos que o coração seja comovido, amenos que a alma seja alterada.

7) Seus “ouvidos” estavam educados, mas em muitos casos os seus “corações” estavam longe da Fonte da sabedoria que lhes era ensinada.

8) Quanto a uma outra passagem que faz o contraste entre os meros “ouvintes” e os “praticantes” da lei, ver Tiago 1:22-25″ (O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. 3, págs. 295-296).

F. F. Bruce, ao comentar este verso no livro Romanos – Introdução e Comentário, pág. 74, declara:

“Talvez Paulo tenha em mente Levíticos 18:5: ‘Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; cumprindo os quais, o homem viverá por eles’, passagem que ele cita depois, em 10:5. O curso seguido por seu argumento indica que, embora o homem fosse justificado se fosse praticante da lei, contudo desde que ninguém a pratica perfeitamente não há justificação desse modo. A antítese entre simplesmente ouvir a lei e praticá-la e desenvolvida em Tiago 1:22-25″.

Russell Norman Champlin, prosseguindo na análise deste verso, considera a expressão “os que praticam a lei hão de ser justificados” da seguinte maneira:

“No que diz respeito à possibilidade que tal coisa possa ser conseguida, por aqueles que observam princípios rituais e legais, a declaração que temos aqui é hipotética; e por detrás da mesma, está o pensamento que isso é simplesmente impossível o que Paulo termina por mostrar no terceiro capítulo de sua epístola. Não obstante, existem aqueles que por fim haverão de praticar perfeitamente todas as exigências da lei, e isso por terem sido aperfeiçoados em Cristo, quando possuirão a plena e perfeita santidade de Deus. Todavia, isso só pode ser conseguido mediante a redenção que há em Cristo, o que é a tese dominante do livro inteiro aos Romanos, e que encontra sua expressão mais alta no oitavo capítulo”.

Do Comentário Bíblico Adventista, merece destaque esta parte:

“Justificados. Ou ‘considerados justos’, ‘declarados justos’. Paulo está ainda contrastando a posição no julgamento daqueles que conhecem a vontade de Deus, e ainda assim são relutantes em obedecer-lhe, com a posição daqueles que não somente conhecem a vontade de Deus mas a ela se submetem totalmente. Que tal obediência pode vir somente através da fé já tem sido mencionado na epístola (cap. 1:5, 17; conf. cap. 3:20). Este verso dá mais ênfase ao fato que os homens são julgados, não pelo que eles alegam saber ou professam ser, mas pelo que realmente fazem (cap. 2:6)”.

Kittel, no Theological Dictionary of the New Testament, ao estudar a palavra nomos (lei), faz a seguinte declaração:

“Desde que a Lei é uma declaração da vontade de Deus, ela orienta o que o homem necessita fazer. Quando Paulo cita a declaração de Levíticos 18:5, a ênfase repousa no verbo poien = fazer… Para Paulo o cumprimento da Lei através do Espírito nos crentes é a real intenção da Lei”.

O objetivo de Paulo é condenar o procedimento daqueles que pensavam que por serem conhecedores da lei podiam alegar justiça diante de Deus. Adverte-os de que necessitam praticar a lei conforme o seu conhecimento. Em outras palavras, orienta os seus leitores para esta verdade: a justificação pela fé não nos desobriga do cumprimento da Lei ou das orientações dadas por Aquele que justifica.

Calvino declarou sobre Romanos 2:13:

“Aqueles que abusam desta passagem para estabelecer a justificação pelas obras são merecedores de que até as crianças zombem deles e os apontem com os dedos”.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Os limites da graça


 A vontade de Deus pode ser frustrada
Quando falamos da graça divina, não estamos falando da bondade humana ou da nobre propensão humanista. Estamos nos referindo ao princípio fundamental de Deus da redenção do pecado. Como pecadores, merecemos a morte; Deus oferece a vida. Estamos separados; Ele oferece reconciliação. Estamos sob julgamento; Ele provê liberdade. Somos pródigos no chiqueiro de porcos; Ele nos traz de volta ao lar. Tudo gratuitamente.


As obras humanas, embora boas e nobres, nada têm que ver com o perdão divino. Para o apóstolo Paulo, no que diz respeito à salvação, a graça e as obras são mutuamente exclusivas. A salvação é pela graça mediante a fé; não há algo como a graça divina mais alguma coisa humana. “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.”(Ef 2:8, 9)*


A Bíblia descreve a graça salvadora de Deus como:


O meio pelo qual podemos ser “justificados por graça, [e] nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.” (Tt 3:7)


A dádiva de Deus, “[...] mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, [...].” (Rm 3:24, 25)


Superabundante (2Co 9:14).


“no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência.” (Ef 1:7,8)


O instrumento pelo qual Deus nos salvou da morte para a ressurreição (Ef 2:5).


“que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança, pela graça.” (2Ts 2:16)


“a abundância da graça”  (Rm 5:17).


O ensino da Bíblia é óbvio, claro e simples. Não há pecado demasiadamente grande para não ser perdoado; não há pessoa que tenha ido longe demais para não ser alcançada pela graça de Deus quando dEle se aproxima em total entrega e fé. “Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei.” (Jo 6:37, NVI) Essa é a promessa e a provisão.


A graça de Deus é maravilhosa, ilimitada, abundante e eternamente asseverada. Não obstante, a leitura de hoje tem o título incomum: “Os Limites da Graça”. A chave para compreender a diferença entre o ilimitado e o limitado na graça de Deus se encontra no processo bíblico da salvação. O limite da graça pode ser visto de quatro formas: (1) O amor de Deus e a liberdade humana; (2) a futilidade da justificação pelas obras; (3) a vida infrutífera; e (4) a possibilidade de rejeitar a graça.


O Amor de Deus e a Liberdade Humana


A redenção tem sua fonte, seus meios, sua conclusão no amor de Deus, conforme manifestado em Jesus Cristo. Esse é o fundamento sobre o qual o evangelho todo foi erigido e proclamado. Aqueles que creem em Jesus são salvos e os que não creem são condenados. “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, [...] visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.” (Rm 1:16, 17)


Porém, exatamente o fato de que a salvação é tecida no amor de Deus mostra que a primeira limitação da graça de Deus é nossa resposta humana a essa graça. “Deus é amor” (1Jo 4:8), e o amor não força a lealdade. Tudo o que Deus faz, Seu plano da criação, providência, redenção, relacionamento, restauração e juízo, procedem do amor. Embora Ele não “rejeite” nenhum pecador que a Ele venha (Jo 6:37, NVI), não pode forçar ninguém a vir a Ele contra a própria vontade.


A liberdade de escolha desempenha um papel essencial na salvação. Se esta for uma lealdade forçada a Deus, não será um ato de um Deus amoroso, mas uma medida desesperada de um grande tirano, algo totalmente diferente do que de fato é o caráter de Deus. Visto que a graça abundante, gratuita e toda poderosa de Deus não pode salvar um pecador que não queira ir a Ele e aceitar, pela fé, a redenção provida por Deus em Jesus. Nossa liberdade de escolha pode, definitivamente, limitar a atuação da graça.


Justificação pela Obras


Outra limitação da graça de Deus ocorre devido ao orgulho humano que diz que pode salvar-se por suas próprias obras. A doutrina da justificação pelas obras é tão antiga quanto o pecado. “O princípio de que o homem se pode salvar por suas próprias obras, e que jaz à base de toda religião pagã [...].”[1]


A história de tentar alcançar a salvação por suas próprias obras se repete ainda hoje. Ela tem assumido muitos contornos e formas: filantropia, ética e estilo de vida, humanismo e honestidade moral, justiça social e evangelhos social, meditação universal e até mesmo obediência aos Dez Mandamentos.


Outra palavra para tal pretensão é legalismo. O apóstolo Paulo acusou os gálatas por rapidamente abandonarem Aquele que os “chamou na graça de Cristo para outro evangelho” (Gl 1:6).


Os gálatas que aceitaram a Cristo e entraram na experiência da salvação pela fé nEle (Gl 3:1, 2) corriam agora em grave perigo de perder essa experiência porque estavam atribuindo a salvação a suas obras. O apóstolo perguntou: “Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?” (v. 2)


Paulo foi muito firme: “[...] e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.” (Gl 2:16). Ellen White escreveu que o manto da justiça de Cristo “fiado nos teares do Céu não tem um fio de origem humana.”[2]


As pessoas boas e honestas que aceitam a salvação pela fé no Salvador crucificado podem acabar voltando para outro assim chamado evangelho, o “evangelho das obras”. Mas o legalismo nunca pode ser as boas novas da salvação. Certamente é a má notícia de acrescentar um fardo ao que o pecador já carrega.


O antidoto para a heresia dos gálatas é seguir mantendo diante dos cristãos a finalidade da cruz. “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.” (Gl 1:8). Qualquer limitação a esse ato divino limita a graça.


Vida Infrutífera


Uma terceira limitação à graça é dizer que a graça de Deus nos livra da exigência da obediência. A graça nos liberta do pecado, mas não remove de nós a obrigação de obedecer à lei. Paulo perguntou: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos? [...] Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida.” (Rm 6:1-4)


Somos salvos pela graça mediante a fé e o resultado dessa liberdade não significa que iremos viver como nos agrada, mas viver de acordo com a vontade de Deus, conforme revelado em Sua lei. A salvação é pela fé, mas leva à obediência, a sequência natural da liberação do pecado mediante a graça de Deus.


Considere a afirmação de Jesus e esperança em João 14 e 15. Assim como o relacionamento de Jesus com o Pai precedeu Sua obediência ao Pai, o mesmo relacionamento devem ter os discípulos com Jesus antes de Lhe obedecer. “Se me amais, guardareis os meus mandamentos.” (Jo 14:15)


Observe a esperança que Jesus tem para Seus discípulos. “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim.” (Jo 15:4)


O discipulado cristão não é alcançar um status moral, mas aceitar o chamado de Cristo; não é a perfeição moral, mas a constante habitação dEle em nós. Uma vez que é estabelecida essa habitação pela fé na graça de Deus, os frutos seguirão como algo natural. O princípio é simples: primeiro amar, então dar frutos; primeiro a graça, então a obediência.


O discipulado cristão não dá espaço para a heresia do legalismo ou o luxo da graça barata. Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão, escreveu: “A graça barata é a pregação do perdão sem o devido arrependimento, o batismo sem a disciplina da igreja, a comunhão sem a confissão, a absolvição sem a confissão pessoal. A graça barata é a graça sem o discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo, vivo e encarnado.”[3]


Ser discípulo é ser seguidor e ser seguidor de Jesus não é um truque fácil. Aos coríntios Paulo escreveu: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.” (1Co 15:10) Paulo não recebeu a graça a fim de levar vida vã e vazia.


A graça de Deus não veio para nos redimir de um tipo de vazio para preenchê-lo com outro. Ela veio à família de Deus, dando frutos do amor de Deus mediante o poder de Sua graça. A graça barata que ignora a obediência e os frutos limitam a graça de Deus.


Rejeitar a Graça


A última limitação à graça de Deus pode ser resumida na falsa crença do “uma vez salvo, salvo para sempre”. Em parte alguma a Bíblia ensina essa falsa pressuposição. Certamente, foi uma manobra astuta de Satanás levar os cristãos a crerem em sua experiência da salvação como algo certo e viver na letargia e na indiferença.


Embora o poder do amor e da graça de Deus seja grande e abundante, não garante que uma vez que a pessoa aceita esse amor e graça não irá pecar. Se assim não fosse, por que a Escritura nos advertiria a vigiarmos? Considerem as seguintes admoestações:


“Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos.” (1 Co 16:13)


” Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão.” (Gl 5:1)


” Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo” (Ef 6:11, 12).


” Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.” (1Co 10:12)


“Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum.” (2Pe 1:10)


Permanecer Firme


Nosso chamado e eleição na família de Deus se tornaram possíveis mediante a graça de Cristo quando a aceitamos pela fé. Fazendo parte dessa família, damos frutos do amor de Deus mediante o poder de Sua graça. Enquanto abitamos nessa graça, dando frutos, vivendo um relacionamento de amor com Cristo, não precisamos temer qualquer limitação na operação da graça de Deus. Ele é capaz de nos salvar totalmente (Hb 7:25).


Perguntas para Compartilhar:


1. Qual das quatro limitações à graça de Deus você considera especialmente perigosa? Por quê?





2. Como é possível experimentar todos os benefícios da graça pretendidos por Deus? Quais passos práticos podemos dar para permanecermos em “um estado de graça”?





3. Como você poderia abordar alguém que aceitou um dos quatro fatores que limitam a graça de Deus: o legalismo; a vida desregrada; “uma vez salvo, salvo para sempre”, por exemplo?


_________________________


John M. Fowler tornou-se adventista na adolescência, em seu país natal, a Índia. Ele serve a igreja por 45 anos como pastor, professor, editor e administrador e, atualmente, é diretor associado do Departamento de Educação da Associação Geral.


* Salvo indicação contrária, todos os textos foram extraídos da Bíblia na Edição Revista de Almeida.


[1] Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 35, 36.


[2] Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 311.


[3] Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship (Nova York: Macmillan Co., 1965), p. 47.
Por Reavivamento e Reforma

▲ TOPO DA PÁGINA