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Em treze anos de carreira no futebol profissional, Carlos Vítor da Costa Ressurreição nunca esteve tão exposto à mídia quanto nos últimos dias. Titular do Londrina Esporte Clube, o goleiro Vítor, como é mais conhecido, foi manchete nos principais sites, jornais e programas esportivos brasileiros depois de revelar que, por suas convicções religiosas, não iria treinar nem jogar aos sábados. “Durante todos esses anos de dedicação e trabalho no futebol, nunca tomei uma decisão que repercutiu tanto quanto agora. Uma simples decisão de obedecer a Deus ganhou uma enorme proporção”, disse o jogador ao comentar as notícias da semana.
Vítor foi batizado na Igreja Adventista do bairro Pituba, em Salvador (BA), no dia 27 de dezembro de 2015. Desde então, decidiu que sua nova fé determinaria os rumos de sua vida dentro e fora de campo. Essa convicção o levou a rejeitar a proposta de disputar a Série A do Campeonato Brasileiro pelo Chapecoense, ganhando duas vezes mais no clube catarinense do que ele recebe atualmente no Londrina Esporte Clube. Como noticiou o site do jornal Lance, as negociações não avançaram porque Vítor deixou claro que não poderia jogar nem treinar entre o pôr da sexta-feira e o de sábado.
Por causa do que considera um “impedimento” resultante de sua escolha religiosa, a direção do clube no qual Vítor atua também decidiu nesta quarta-feira, 20 de janeiro, que o contrato do jogador, que vence em maio, não será renovado.
Aos 29 anos, embora com um futuro incerto no futebol profissional, o goleiro permanece firme em sua decisão. Em entrevista ao site do Globo Esporte, ele disse não temer as consequências de sua escolha. “Quando tomei essa decisão, eu sabia que teria consequências, ainda mais no futebol! Para muitos, o que mais importa é o dinheiro. Mas para mim, isso não é o mais importante. Eu decidi ouvir meu coração. Minha conversão me faz um homem melhor, um marido melhor, um pai melhor e até um profissional muito melhor. Estudei muito a Bíblia e percebi a importância de dedicar o sábado ao Criador. Eu poderia esquecer, pensar só no trabalho. Mas optei por ouvir meu coração. Eu sei que tudo o que conquistei no Londrina nesses dois anos não foi por acaso. Tenho fé e acredito que Deus tem me ajudado em tudo”, afirmou.
Casado com Gabriela e pai de dois filhos – Vítor Gabriel (9) e Ana Valentina (6 meses) –, nesta entrevista concedida ao portal da Revista Adventista, o goleiro Vítor, que vem de um berço católico, descreve como conheceu o adventismo e fala sobre as implicações de guardar o sábado, a repercussão do caso na mídia, seu futuro no esporte e os possíveis resultados desse testemunho.
Como você conheceu o adventismo?
Foi por meio da família da minha esposa, que é adventista. Quando comecei a namorá-la, minha sogra tinha o costume de fazer cultos na casa dela. Como passei a frequentar esse ambiente, comecei a ter um contato maior com os pastores, com a própria igreja e seus ensinamentos.
Em que momento decidiu aceitar as doutrinas bíblicas pregadas pelos adventistas e ser batizado?
Comecei a estudar a Bíblia com os adventistas há mais de dez anos. Ao examinar as Escrituras, a questão do sábado era o que mais dificultava a aceitação. Isso ia de encontro às minhas conveniências. Mas estudei bastante, pesquisei e tive experiências pessoais com Deus. E, assim, acabei sendo convencido pelo Espírito Santo. Desde 2013 até hoje a guarda do sábado me comove. No fim do ano passado, reconhecendo todas as bênçãos recebidas de Deus, decidi firmar um compromisso definitivo com Ele. Optei por obedecê-Lo e pedi o batismo.
Como foi o processo de guardar o sábado e deixar os interesses pessoais de lado?
Essa era uma ideia que eu vinha amadurecendo há mais de um ano. Chegava a falar para meus colegas de trabalho sobre a questão do sábado, mas eu mesmo não vivenciava essa realidade. No entanto, me sentia incomodado. Até que não consegui mais ignorar a observância de um dia tão especial. Entendi que a verdade que eu tinha descoberto por meio da Palavra de Deus deveria ser cumprida independentemente das consequências dessa decisão.
Desde quando você joga profissionalmente?
Desde 2003. Já passei pelo Vitória (BA) [clube que o revelou], pelo Ponte Preta (SP), pelo Joinville (SC), pelo Portuguesa (SP), pelo Atlético (GO), pelo Bragantino (SP), pelo ABC (RN), pelo Arapongas (PR) e pelo São José (RS). Mas comecei a jogar com 13 anos de idade. Então, a rotina de treinamento existe há 17 anos. Durante esse tempo, tive muitas conquistas. No ano passado, por exemplo, fui considerado o melhor goleiro da Série C e ajudei o Londrina Esporte Clube a passar para a Série B, além de ter participado da conquista do título paranaense em 2014.
E quanto ao seu futuro no esporte, depois de ter rejeitado o convite para jogar no Chapecoense e de saber que seu contrato no Londrina não será renovado?
Pretendo continuar jogando se não houver nada que entre em conflito com minhas crenças. Se minhas convicções forem respeitadas, não vejo motivo algum em deixar o futebol profissional. Enquanto existir um clube que abra as portas para mim e aceite minha fé, vou continuar trabalhando e crescendo no esporte. Tenho os pés no chão. Sei que é difícil a situação de um jogador de futebol que não trabalha aos sábados. Caso as portas se fechem, procurarei outras atividades para desempenhar.
Que avaliação você faz sobre o modo pelo qual a mídia tem abordado sua decisão?
Pelo que tenho acompanhado, além das mensagens que chegam diretamente a mim, as pessoas têm se manifestado favoravelmente, apoiando, confortando e parabenizando o que consideram uma atitude corajosa. No clube, alguns ficaram curiosos, mas, no geral, meus colegas têm demonstrado respeito. Na minha opinião, a repercussão tem sido boa, apesar de algumas manifestações preconceituosas e intolerantes. Entretanto, sou otimista e sei que o alcance da verdade supera qualquer manifestação contrária a isso.
Como sua família está considerando essa postura?
Minha família está apoiando, o que é o mais importante. Espero que o torcedor respeite essa decisão. No mundo em que vivemos, a maioria se preocupa com dinheiro, com bens materiais, em trabalhar sem parar. Mas, do que vale isso tudo? O mais importante é o respeito, o amor, ser uma boa pessoa com seus familiares, com quem está perto de você.
Vale a pena colocar Deus em primeiro lugar?
Totalmente! Até porque a crença em Deus é muito maior do que em qualquer ser humano. Creio que as promessas que leio na Bíblia e as experiências do povo de Deus com Ele não se limitam apenas a uma época. O mesmo Deus que fazia aqueles milagres é o mesmo Deus de hoje. Não vejo a fé como um impedimento.
Fonte: Revista Adventista
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Há poucos dias, surgiu certa inquietação nas redes sociais relacionada à confiabilidade da interpretação profética apresentada pela Bíblia de Estudo Andrews quanto aos textos de Daniel 7:25 e Apocalipse 13:1-3. Comentários sem base factual postados inicialmente por um pastor insinuaram uma pretensa mudança de interpretação por parte dos editores da Bíblia de Estudo Andrews. Apresentamos as informações a seguir com o objetivo de esclarecer as dúvidas e demonstrar respeito pelos milhares de membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia que prezam pela fidelidade à Bíblia e à sua mensagem.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que a excelente Bíblia de Estudo Andrews não tem a pretensão de apresentar todos os pormenores de cada verso bíblico, o que tornaria sua publicação inviável. Por esse motivo, é necessário compreender que ela interage de maneira complementar com outras obras de referência como, por exemplo, o Comentário Bíblico Adventista. Ainda assim, possui milhares de notas explicativas que, atendo-se a detalhes textuais, enriquecem o estudo das Escrituras e ampliam a visão do leitor quanto à compreensão da Palavra de Deus.
No estudo de qualquer texto bíblico, considera-se o contexto em que ele está inserido. Da mesma forma, qualquer nota explicativa da Bíblia de Estudo Andrews deve ser lida em seu devido contexto. As informações de uma nota se relacionam com outras informações, gerando um estudo em cadeia temática. Ignorar esse fato poderá conduzir o leitor a um estudo deficitário e a conclusões precipitadas e equivocadas.
Por uma questão de transparência e lisura de nossa parte, para responder às perguntas referentes aos textos em debate, transcreveremos as notas relacionadas aos livros de Daniel e Apocalipse assim como elas se apresentam na Bíblia de Estudo Andrews (destacadas aqui em tom de cinza) e faremos apenas breves comentários. Isso ajudará o leitor a perceber que a questão levantada nas redes sociais não tem o menor fundamento.
1. Em Daniel 7:25, primeiro versículo questionado, a nota diz: “os tempos e a lei. Os tempos e a lei de Deus. Não seria profeticamente significativo o poder designado como ‘chifre pequeno’ tentar mudar leis e tempos humanos. Isso é algo comum na luta por domínio mundial. O conflito descrito nesta passagem é entre os Céus e a Terra. O chifre pequeno tenta mudar os tempos e a lei de Deus, vista com mais clareza nos dez mandamentos. Uma ilustração clara de um ‘tempo’ de Deus é seu sábado. Qualquer tentativa, por parte de um poder terreno, de mudar o sábado do Senhor é também uma tentativa de mudar sua lei, cujo centro é o próprio sábado. Por fim, as tentativas do chifre de mudar os tempos e as leis não são bem-sucedidas […] um tempo, dois tempos e metade de um tempo. Também mencionado em 12:7 e Ap 12:14. Entende-se que significa três tempos e meio ou três anos proféticos e meio. Um ano profético equivale a 12 meses de 30 dias proféticos cada, ou seja, 360 dias proféticos. Os três anos e meio, também chamados de 42 meses (Ap 11:2; 13:5), ou 1.260 dias proféticos (Ap 11:3; 12:6), correspondem a 1.260 anos (sobre o princípio da equivalência dia-ano, ver Nm 14:34; Ez 4:4‑6). Portanto, o tempo predito para o reinado impiedoso do chifre pequeno é de 1.260 anos, que tem sido identificado como que se estendendo de 538 a 1798 d.C. (ver Ap 11:2; 12:6, 14)”.
Essa nota apresenta detalhes muito específicos em relação ao poder do chifre pequeno: o ataque à lei de Deus, com especial referência ao sábado, e o início e o fim de seu tempo de atuação. Uma das inquietações em relação à nota mencionada está relacionada com a identificação do “chifre pequeno”, algo distintivo da teologia adventista do sétimo dia. Para alguns, houve omissão da parte dos editores quanto a dizer quem, de fato, está representado por esse símbolo. Contudo, a nota explicativa de Daniel 7:7 começa a apresentar essa informação. Ela diz: “quarto animal, terrível, espantoso. Este monstro não se parecia com nenhuma espécie de animal que Daniel soubesse identificar. Seus dentes eram de ferro, metal forte e esmagador que simbolizava o quarto reino no cap. 2 (v. 40): Roma.” Observa-se aqui a identificação clara em relação ao quarto animal da profecia de maneira coerente com a interpretação adventista.
O texto continua aprofundando sua argumentação: “dez chifres. No simbolismo bíblico, os chifres representam poder contra os inimigos (Dt 33:17; 1Sm 2:1, 10; 2Sm 22:3 etc.). Neste caso, os chifres estão ligados a Roma. Em Dn 8, vemos que os chifres de um animal simbólico representam os poderes que formam um império (8:3, 20) ou partes nas quais o império se divide (8:8, 21, 22). O vasto império romano era formado de muitas partes, as quais se dividiram depois que a cidade de Roma foi conquistada pelos bárbaros em 476 d.C., conforme Dn 7:24 prevê (comparar com 2:41‑43).”
Continuando, Daniel 7:8 apresenta as características do chifre pequeno que, anteriormente, já havia sido identificado com Roma: “outro pequeno. Este chifre mais novo começa pequeno, mas cresce e fica maior do que os outros (v. 20; comparar com 8:9 — literalmente, ‘um chifre da pequenez’). diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados. A ascensão do poder do chifre pequeno depois da divisão do império romano envolve a queda de três outros poderes pós-romanos (ver 7:24). olhos, como os de homem, e uma boca que falava. Discernimento e comunicação como os de um ser humano (comparar com v. 4). com insolência. Discurso de blasfêmia contra o Deus Altíssimo (comparar com v. 25; para ‘Altíssimo’ como referência a Deus, comparar com 3:26; 4:2, etc.). O poder do chifre pequeno não é apenas orgulhoso. Também tem uma forte característica religiosa e é blasfemo.”
Como é característico das Bíblias anotadas, as notas interagem entre si, e isso aponta para informações mais amplas. Em meio às explicações de Daniel 2 (p. 1102), há uma tabela que mostra a relação dos símbolos proféticos descritos nas profecias de Daniel 2, 7 e 8. Nessa tabela, o “animal feroz com dentes de ferro, dez chifres e um chifre pequeno, com olhos de homem e uma boca”, descrito em Daniel 7, é claramente identificado com Roma.
Em relação a Daniel 7:25, diante das notas transcritas, apresentamos informações suficientes para demonstrar que em nenhum momento houve da parte dos comentaristas qualquer tipo de pensamento contrário à interpretação tradicional adventista. Assim, Roma, tanto em sua fase secular quanto em sua fase religiosa, está indicada no texto da Bíblia de Estudo Andrews.
2. A outra nota controversa se encontra em Apocalipse 13:1-3 e diz: “golpeada de morte. Literalmente, ‘ferida de morte’, uma alusão à cruz (v. 8). curada. Recuperação quase que milagrosa de uma ferida que tinha tudo para ser mortal. se maravilhou. O ressurgimento da besta no fim do tempo é uma surpresa.” Esse comentário está inserido no contexto mais amplo de Apocalipse 13 e precisa ser analisado como tal.
A nota que se refere a Apocalipse 13:1-18 apresenta as seguintes informações: “Esta passagem acrescenta detalhes ao cap. 12, sobretudo em relação à guerra do tempo do fim (de 12:17). Neste capítulo, o dragão reúne dois de seus aliados para o conflito final. Com o dragão, a besta do mar (uma aparente paródia de Cristo) e a besta da terra (uma aparente paródia do Espírito Santo) sugerem uma falsa trindade (16:13, 14) em conspiração para enganar o mundo (13:13, 14).”
O que significa a besta do mar ser uma “paródia de Cristo”? Paródia, de acordo com o dicionário, é uma “imitação engraçada ou crítica de uma obra (literária, teatral, musical)”. Desse modo, a besta que emerge do mar tenta ser uma imitação grotesca de Cristo. Observa-se nela as seguintes características: a besta recebe autoridade do dragão (que simula o Pai), assim como Cristo recebeu autoridade do Pai (Mt 28:18); a besta tem um ministério de 42 meses (três anos e meio), assim como Cristo teve um ministério de três anos e meio; a besta declara “quem é semelhante à besta?”, num contraste direto ao significado do nome Miguel, “quem é como Deus”; a besta quer ter poder para perdoar pecados, assim como Cristo tem o poder de perdoar pecados. Em outras palavras, a obra da besta é uma contrafação diabólica do ministério de Cristo.
Dito isso, quando a nota explicativa de Apocalipse 13:3 diz “literalmente, ferida de morte, uma alusão à cruz”, está dizendo que a besta, uma imitação grotesca de Cristo, também recebeu um golpe mortal, mas “ressuscitou” depois de um período, atraindo a atenção do mundo, do mesmo modo que Cristo morreu, ressuscitou e atraiu bilhões de seguidores ao longo da história. De acordo com a interpretação tradicional adventista, a “ferida de morte” ocorreu em 1798, data que foi mencionada na nota de Daniel 7:25, como fim do império do chifre pequeno, já identificado como Roma nos comentários mencionados acima.
Contudo, paira ainda sobre os comentaristas e editores da Bíblia de Estudo Andrews a suspeita de que houve omissão da identificação da besta que emerge do mar. Tal atitude não se sustenta quando se lê a nota explicativa de Apocalipse 13:1-7: “Escrita no passado, esta seção conta a história da besta que emerge do mar antes de sua atividade do tempo do fim. Ela surge depois do dragão (Roma imperial) e usurpa a obra de Cristo. Os eruditos protestantes ao longo dos séculos têm identificado esta besta com o papado da Idade Média (comparar as descrições com Dn 7:3-7, 25; 8:11-14).”
É possível observar que a nota não somente declara que a besta que emerge do mar é uma referência a Roma papal, como também menciona Daniel 7:25 como prova dessa afirmação.
Apesar de extensa, esta declaração demonstra factualmente que a posição interpretativa da Igreja Adventista do Sétimo Dia quanto aos símbolos proféticos de Daniel e Apocalipse colocados em questão se mantém intacta no conjunto de notas explicativas da Bíblia de Estudo Andrews.
Esperamos ter ajudado aqueles que, de alguma maneira, ficaram inquietos quanto a essa situação, provendo uma resposta adequada às dúvidas levantadas. A Casa Publicadora Brasileira tem como princípio prezar pela excelência editorial e, sobretudo, “pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos” (Jd 3).
Equipe editorial da Casa Publicadora Brasileira
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Como a riqueza musical dos Salmos pode inspirar os compositores cristãos hoje
O maior livro da Bíblia é um hinário com 150 poemas e canções: o livro dos Salmos. A beleza de seus versos só encontra paralelo na amplitude de seus temas, que cobrem não só a história da redenção como também as angústias, alegrias e esperanças dos seres humanos.
Mesmo que não saibamos como eram suas antigas melodias, os Salmos têm algo a nos dizer sobre música cristã. Há pelo menos quatro pontos que podem orientar músicos, cantores, regentes e a congregação de adoradores:
1. Criatividade poética. A sugestão de imagens nos Salmos é bastante rica: “O meu corpo Te almeja como terra árida” (Sl 63:1); “Tirou-me de um poço de perdição, salvou-me da lama e meus pés firmou na rocha; Ele me pôs nos lábios nova canção” (Sl 40:2-3); “E se tomar as asas da alva e habitar no extremo do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá” (Sl 139:9-10). Em tempos de chavões desgastados e refrões repetitivos, encontramos originalidade, beleza poética e riqueza vocabular nos antigos salmos.
2. Variação temática. Os Salmos convidam ao louvor alegre (Sl 100) e também à exaltação reverente do nome de Deus (Sl 46:10). Nos Salmos, Cristo é apresentado como cordeiro e pastor, como vítima e como salvador. Deus é apontado como criador e mantenedor do mundo (Sl 24) e também como aquele que guia os humildes e ensina os mansos (Sl 25:9). Há salmos de súplica e de esperança (Sl 91), de confissão de pecados (Sl 32) e de declaração de amor à lei de Deus (Sl 119).
O repertório criado pelos músicos cristãos ao longo da história apresenta grande amplitude temática, incluindo hinos de louvor e adoração a Deus (sem deixar de mencionar a Trindade) e cânticos sobre o perdão divino, a cruz, a ressurreição, o chamado missionário, o caráter de Deus, a conversão, a vitória pela fé, o novo céu, a segunda vinda de Cristo etc.. Em contraste, atualmente vigora um repertório evangélico de louvor e adoração que tem reduzido os temas a uma música alegre sobre a soberania do Pai, uma canção apaixonada pelo Filho e um pedido choroso pelo derramamento do Espírito.
Em todo tempo, a diversidade de temas, como nos Salmos, merece ser buscada pelo compositor cristão e pela comunidade de fiéis.
3. A dupla dimensão da vida cristã. Os Salmos revelam uma dimensão teológica objetiva, que proclama a criação, a lei de Deus, o perdão e a salvação, descrevendo o modo divino de agir; e uma dimensão teológica subjetiva, que representa os sentimentos humanos de alegria e reverência, de angústia e esperança.
Esse duplo aspecto teológico sempre esteve presente na prática musical cristã. Assim, há músicas que buscam celebrar a grandiosidade do poder e do amor de Deus e a esperança de Seu povo e há músicas que contam os fracassos e vitórias espirituais de cada um de nós. Há canções que transmitem o “nós”, a coletividade de crentes que adora a Deus, e outras que expressam o “eu”, a individualidade de cada pessoa que está vivendo a experiência cristã em seu cotidiano.
4. A renovação musical. Os Salmos foram escritos num período de 900 anos. Cada capítulo da história do povo de Israel gerava a produção de um novo repertório. Isso nos diz que a inovação musical anda ao lado das canções mais antigas. A inevitável renovação das formas musicais é companheira dos tradicionais hinos que nos conectam às raízes da igreja.
É possível extrair do livro dos Salmos um aprendizado sobre a tensão entre o tradicional e o moderno. Em vez de justificar atritos de gerações e de gostos, essa tensão pode funcionar como ponto de equilíbrio entre sentimento humano e atuação divina, entre o simples e o sofisticado, entre tradição e atualização. Não por acaso, o apóstolo Paulo escreveu que uma igreja cheia do Espírito busca o diálogo “com salmos, hinos e cânticos espirituais”. Tal igreja avançará em sua missão “cantando e salmodiando ao Senhor” (Ef 5:19).
Joêzer Mendonça, doutor em Música (UNASP), é professor da PUC-PR e autor do livro Música e Religião na Era do Pop.
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Apesar de doloroso, superar o ressentimento é possível e a única opção para quem experimentou a graça de Deus
A palavra grega para perdão significa algo
como “jogar para longe”, “libertar-se”, “soltar”.
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Na manhã de 19 de abril de 1995, uma caminhonete estacionou com 2 mil quilos de explosivos na garagem de um edifício do governo federal norte-americano, em Oklahoma. Após alguns minutos, a terrível explosão derrubou metade do prédio, matou 168 pessoas e feriu mais de 700. Foi o segundo maior atentado terrorista da história dos Estados Unidos.
Dois dias depois, o suspeito do crime foi preso. Timothy McVeigh, 27 anos, filho de uma família de classe média, assumiu a responsabilidade pelo ataque. Ele afirmou que sua atitude era uma reação à repressão do governo contra grupos radicais de extrema direita.
McVeigh foi julgado e condenado à morte. Segundo a revista Veja de 9 de maio de 2001, uma pesquisa mostrou que 71% dos americanos queriam que ele morresse. Até seu pai, Bill McVeigh, admitiu: “Como perdoar alguém que matou 168 pessoas?” Os familiares das vítimas pensavam a mesma coisa, principalmente os pais das 19 crianças que morreram no atentado.
Lendo ou ouvindo a história de McVeigh, surge inevitavelmente a pergunta: seria justo perdoar alguém como ele? O perdão não é uma atitude natural ao coração humano. Temos imensa dificuldade em experimentá-lo e muitos são os que consideram o perdão algo injusto. O escritor romano Públio Siro, que viveu no 1º século antes de Cristo, afirmou: “Quem perdoa uma culpa encoraja a cometer muitas outras.” Para alguns, o ato de perdoar significa deixar a justiça de lado e ceder ao sentimentalismo.
O ponto é que, sem o perdão, um ciclo funesto de sofrimento é iniciado, separando casais, amigos e povos por anos ou décadas. Há algum tempo, assisti perplexo a uma entrevista num programa televisivo. A pauta era sobre um casal de idosos do Nordeste que não se falava havia 40 anos. E tudo começou logo após o casamento deles, quando alguém disse para o marido que a esposa poderia estar traindo-o com outro homem da cidade. Nada ficou provado, mas o orgulho ferido contabilizou quatro décadas de total silêncio em represália à esposa.
ORIENTAÇÃO BÍBLICA
A palavra grega para perdão (aphiêmi), por exemplo, significa algo como “jogar para longe”, “libertar-se”, “soltar”. Inúmeros personagens bíblicos lidaram com o dilema do perdão. Pedro foi um deles. Enfrentando possivelmente uma batalha interior para perdoar alguém, ele perguntou: “Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus respondeu: ‘Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete’” (Mt 18:21 e 22, NVI). Pedro deve ter se surpreendido com a resposta de Jesus, mas o Mestre não lhe deu alternativa: perdoar era a única opção.
Talvez Pedro tenha entendido melhor as palavras de Cristo depois de ter ouvido o doce som do perdão, quando esperava ser repreendido pelo Mestre diante dos demais discípulos (Jo 21). A atitude de Jesus mostrou que Deus abriu mão de seu direito de vingança contra um mundo pecador e idólatra, para exercer a graça. E, para ser justo, Deus exigiu um alto custo de quem serviu de substituto da humanidade, recebendo em si a penalidade que cabia a todos (2Co 5:21). Por meio de seu sacrifício vicário, Cristo garantiu o direito de pedir: “Pai, perdoa-lhes” (Lc 23:34).
José também perdoou. Quando governou o Egito, o filho predileto de Jacó teve a oportunidade de se vingar de seus irmãos. O poder para fazer “justiça” estava nas mãos dele. Contudo, em meio a abundantes e solitárias lágrimas
(Gn 43:30), ele percebeu que seu coração desejava ardentemente algo mais. E, quando José cedeu a essa convicção, o som do perdão foi ouvido em todo o Egito (Gn 45:15).
Depois de assistir à execução de McVeigh, a mãe de uma das vítimas disse num canal de TV: “A morte dele não me trouxe alívio algum.” O perdão pode parecer por vezes doloroso e aparentemente injusto, mas, quando entendemos essa atitude a partir da postura de Deus em relação a nós (Mt 18:23-35), esse gesto se torna possível e libertador.
FERNANDO BEIER é pastor em Hortolândia (SP) e autor do livro Crise Espiritual (CPB)
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A alimentação perfeita ainda está somente no futuro
Assim como no passado a busca pela fonte da juventude foi ilusória, a dieta perfeita também permanece inatingível no presente. Créditos da imagem: Fotolia
A busca pela dieta perfeita tem atraído muitos reformadores da saúde contemporâneos da mesma forma que a mitológica fonte da juventude atraiu milhares de pessoas ao longo dos séculos. Entre os diferentes grupos que buscam a dieta perfeita estão os que defendem a dieta edênica como padrão dietético para nossos dias, alegando que a dieta originalmente dada a Adão e Eva é válida para nosso tempo. Porém, uma análise dessa proposta não resiste ao escrutínio teológico nem ao científico. Ela mostra sérias inconsistências nessas duas áreas, como pontuaremos.
1. É impossível ter uma dieta perfeita neste mundo imperfeito, em que os seres humanos e toda a criação sofrem as consequências do pecado (Rm 8:22). Isso significa que, em menor ou maior quantidade, todos os alimentos possuem algum ingrediente tóxico. Fitatos, fitohemaglutinina, ácido fítico, tanino, cianetos, solaninas, oxalatos, urushiol e goitrogênicos são alguns elementos tóxicos presentes em muitos alimentos considerados saudáveis, entre eles castanha de caju, trigo, repolho, brócolis, tomate, maçã, cereja, amêndoa, feijões e espinafre, para citar alguns exemplos. Em resumo, eles são considerados alimentos bons, mas não perfeitos. Mesmo a germinação não consegue neutralizar as toxinas presentes em alguns alimentos. O segredo para reduzir os efeitos dessas toxinas a longo prazo é buscar uma alimentação variada com produtos da estação, dando ao organismo a oportunidade de metabolizá-los em tempos diferentes e evitando o acúmulo em um nível que possa ser prejudicial.
2. A dieta edênica também defende o crudivorismo, ou seja, consumir os alimentos crus. O problema é que muitas substâncias tóxicas perigosas neles presentes são neutralizadas pelo cozimento e, paradoxalmente, certos nutrientes, como o licopeno (existente no tomate), são potencializados quando cozidos. Portanto, comer alimentos crus com alimentos cozidos é uma escolha estratégica e equilibrada. Uma dieta crudívora por um período de tempo pode ter efeitos positivos na recuperação de enfermidades, mas como estilo de vida pode ter efeitos não desejáveis.
3. A dieta edênica original continha o fruto da árvore da vida, ao qual não temos acesso desde a entrada do pecado na Terra (Gn 3:22). Na realidade, um estudo dos primeiros livros da Bíblia nos revela que, para cada período, Deus indicou uma dieta especial: a edênica, a pós-edênica, a pós-diluviana e a israelita. O regime para o nosso tempo (do fim) é descrito por Ellen White como constituindo-se de “cereais, nozes, frutas e verduras”. E inclui alimentos que nascem debaixo da terra, como a batata.
4. Deus não exige nossa perfeição em termos de alimentação, mas sim que cada um busque os alimentos mais saudáveis dentro da sua realidade, aproveitando cada oportunidade que ele nos deu para escolher o melhor disponível. Isso significa, por exemplo, que a população ribeirinha do Amazonas, que tem uma dieta à base de peixe e farinha e vive onde há carência de frutas, verduras e cereais integrais, deve ser orientada de maneira diferente das pessoas que moram em regiões onde existe variedade de alimentos. No contexto da selva, o conselho aos ribeirinhos é para que evitem os animais imundos (Lv 11), cuidem da higiene pessoal e ambiental e busquem alternativas mais saudáveis quando disponíveis.
5. Os componentes da dieta edênica foram preservados por Deus e voltaremos a usar esse regime na nova Terra. Lá tornaremos a comer do fruto da árvore da vida, e os animais desfrutarão da dieta originalmente dada a eles (Gn 1:30; Is 65:25). Porém, até lá, temos que fazer nosso melhor, sempre com responsabilidade e equilíbrio, nas condições imperfeitas em que vivemos.
SILMAR CRISTO é médico, consultor e autor de vários livros sobre saúde e qualidade de vida.
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Como entender êxodo 20:5, onde é dito que o senhor “visita a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração”? João Marcelo Alves Carvalho
A Bíblia é clara em afirmar que Deus não castiga uma pessoa pelos pecados de outra: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai, a iniquidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este” (Ez 18:20). Então, como entender a afirmação de que Deus “visita a iniquidade dos pais nos filhos” (Êx 20:5)?
Deve-se fazer diferença entre punição direta de Deus e sua não interferência nas leis da hereditariedade. O conteúdo de Êxodo 20:5 deve ser entendido no sentido de que Deus não interfere nessas leis. Ou seja, filhos de pais viciados, promíscuos ou de má conduta podem nascer prejudicados moral e fisicamente, devido às tendências herdadas dos pais.
O Comentário Bíblico Adventista (v. 1, p. 647) assim menciona Êxodo 20:5: “Não se pode escapar por completo das consequências da intemperança, enfermidade, libertinagem, do mau proceder, da ignorância e dos maus hábitos transmitidos por gerações anteriores. Os descendentes de idólatras degradados e os filhos de pessoas más, em geral, iniciam a vida com as limitações provocadas por pecados de ordem física e moral, e colhem o fruto da semente plantada por seus pais. A delinquência juvenil prova a verdade do segundo mandamento. O ambiente também tem efeito decisivo sobre cada geração. Mas, visto que Deus é justo e misericordioso, podemos confiar que ele tratará cada pessoa com justiça, levando em conta as desvantagens do nascimento, as predisposições herdadas e a influência do ambiente sobre o caráter […]. Deus ‘visita’ ou ‘aponta’ os resultados da iniquidade, não de forma negativa, mas para ensinar os pecadores que uma conduta errada inevitavelmente traz resultados infelizes.”
Serve de conforto aos que lutam com más tendências herdadas a promessa divina de que “onde aumentou o pecado, transbordou a graça” (Rm 5:20, NVI). Ou seja, a graça de Cristo é mais que suficiente para nos ajudar na luta contra as más tendências que herdamos, e assim não podemos alegar más tendências herdadas nem um ambiente ruim como desculpas para pecar.
A boa notícia é que Deus “visita a iniquidade dos pais nos filhos” somente até a “terceira e quarta geração” daqueles que o aborrecem (Êx 20:5), mas trata com “misericórdia até mil gerações” daqueles que o amam e guardam seus mandamentos (20:6).
Êxodo 20:5 e 6 é um chamado a cada pai e mãe no sentido de procurar desenvolver um bom estilo de vida, de acordo com as instruções divinas contidas na Bíblia, para que seus filhos herdem boas tendências, para que sejam uma bênção à sua família, à comunidade e, por extensão, ao mundo. [Créditos da imagem: Fotolia]
OZEAS C. MOURA, doutor em Teologia Bíblica na área de Antigo Testamento, é professor no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP)
Revista Adventista
Para o menino, ele é o espelho; para a menina, o porto seguro
Uma pesquisa da Universidade de Connecticut (EUA) mostrou que, em caso de rejeição, a influência do pai é a que mais tem impacto sobre a personalidade do filho. Créditos da imagem ilustrativa: Fotolia
A chegada de um filho muda completamente a vida de um casal. Não é só em termos de rotina ou gastos que isso acontece, mas principalmente na dinâmica psíquica do relacionamento, pois precisa haver espaço para mais um. Quando bem acomodada a essas mudanças, a nova família pode exercitar a flexibilidade e afetividade necessárias para a saúde mental do casal e da criança. Nesse contexto, faz muita diferença se o pai for uma figura presente e singular.
O pai pode participar de tudo. É um grande erro quando os pais se omitem ou as mães os excluem da educação do filho. Pai e mãe têm papéis distintos, mas complementares. A mãe representa o conforto; o pai, a lei e a ruptura desse conforto para ajudar o filho a internalizar limites e reconhecer a si mesmo como alguém diferente. À mãe cabe ajudar na formação da identidade, afetividade e vínculo. Ao pai cabe ensinar como se relacionar com outros e quando neles confiar.
Para um menino, o pai funciona como um espelho. Observando o pai o menino aprende a ser homem. E mesmo que não aprove o jeito do pai, muito provavelmente vai ser mais parecido com ele do que imagina. A forma pela qual o pai trata a mãe também influenciará a maneira pela qual esse garoto tratará sua futura companheira. O pai ajuda na formação da identidade sexual masculina, pois quando brinca com o filho com as coisas de “menino” – bola, lutinhas, carro – está desenvolvendo no filho uma identificação com um mundo que a mãe não pode oferecer em sua totalidade.
Para uma menina, o pai diz muito sobre a importância que ela tem como pessoa e futura mulher. O pai ensina valorização à garota. E sempre que essa garotinha sentir segurança e aceitação incondicional no amor desse pai estarão sendo lançadas as bases para a escolha de um parceiro que a respeite e ame. Não precisará mendigar o amor de um homem se aprendeu do afeto de um pai que a ama pelo que ela é.
No contato do dia a dia, o pai transmite valores e crenças. Sempre que tiver atitudes coerentes com esses princípios, o filho aprenderá. Por outro lado, nada é mais nocivo do que a incoerência. Às vezes, na frente dos outros, parece ser amoroso e adequado, mas em casa é crítico e explosivo. Além de revoltar os filhos, será exatamente dessa forma que eles o tratarão no futuro.
O pai precisa motivar a criança. Sempre dizer algo que seja positivo na construção de sua personalidade. Ninguém muda para melhor se sentido mal com as críticas. O pai deve indicar os pontos em que o filho precisa melhorar, mas não deve reforçar os erros com frases do tipo: “você não tem jeito mesmo”, “nunca vai mudar”, “não adianta eu falar” ou “já cansei de dizer”.
Uma pesquisa da Universidade de Connecticut (EUA) demonstrou que, no caso de haver rejeição, a influência do pai na personalidade do filho pode ser mais impactante do que a da mãe. O estudo revisou 36 trabalhos diferentes com mais de 10 mil pessoas em todo o mundo. Os pesquisadores concluíram que crianças rejeitadas pelo pai sentem mais ansiedade e insegurança, tornando-se mais agressivas e hostis.
Muitas vezes, em caso de morte ou em situações cujo convívio não mais é possível, os filhos sofrem com a falta do pai. Nesses casos, a mãe precisa conciliar carinho e limites. É saudável a proximidade com outro modelo masculino que tenha condutas positivas – avô, tio, padrinho ou irmão mais velho.
Uma coisa é certa: se você é pai, pode se considerar privilegiado. Muitos gostariam de ser pais e não podem. Aproveite cada momento com seu filho – abrace, beije, brinque, toque e elogie. Lance boas sementes e colha os frutos duradouros do companheirismo, respeito, amizade e amor. Acredite, o tempo dessa semeadura é breve e, se você deixá-lo passar, nunca colherá nada. E vai perder o melhor de tudo: seu filho.
TALITA BORGES CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
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Não foi só em termos econômicos que alguns países emergentes do Hemisfério Sul passaram a exercer maior protagonismo no cenário mundial nos últimos anos. O chamado Sul Global também assumiu um papel de destaque no contexto da Igreja Adventista pelo fato de concentrar a maior parte dos membros da denominação. Atualmente, 92% dos 18,5 milhões de adventistas vivem nessa parte do globo. Em 1960, o quadro era praticamente o oposto. Para se ter uma ideia, hoje a África reúne 38% do total de adventistas e a América Latinha, 32%. Os dados que mostram essa inversão histórica fizeram parte do relatório apresentado pelo secretário-executivo da sede mundial da organização, G. T. Ng, nesta sexta-feira, 3, durante a assembleia mundial que acontece em San Antonio, Texas (EUA).
T. Ng, que foi reeleito para continuar na função por mais cinco anos, apresentou estatísticas que mostram um avanço significativo da igreja no número de batismos. Hoje, de acordo com o secretário-executivo, a Igreja Adventista é a quinta maior comunidade cristã do mundo se for levada em conta a sua unidade mundial e o fato de que outras denominações, embora com maior número de membros, não possuem abrangência global ou são fragmentadas.
No ano passado, 1,6 milhão de novos membros foram batizados ou passaram a fazer parte da igreja por profissão de fé, o equivalente a 3.200 novos batismos por dia ou 2,2 batismos por segundo. Outro número recorde foi o plantio de 2.446 igrejas, uma congregação a cada 3 horas e 58 minutos. Esse crescimento chamou a atenção da mais prestigiada publicação evangélica norte-americana, a Christianity Today, que destacou o fato de, em 2014, mais de um milhão de fiéis terem se tornado adventistas pelo décimo ano consecutivo.
No entanto, a liderança da igreja vê as estatísticas com ponderação. Afinal, o número de membros em algumas partes do mundo tem estagnado ou entrado em declínio. Essa realidade é mais acentuada nos países ricos, fortemente influenciados pelo materialismo e o secularismo.
Conforme mostrou David Trim, responsável pela área de estatísticas da Igreja Adventista, em relatório apresentado na assembleia mundial, embora tenha havido crescimento, esse incremento foi lento nos últimos cinco anos. Na opinião dele, não está havendo uma crise de crescimento global, mas os dados emitem um sinal de alerta. Por isso, de acordo com Trim, a igreja está tentando criar mecanismos mais sofisticados para obter diagnósticos que retratem com maior precisão a realidade da organização no mundo.
Não por acaso, G. T. Ng foi reeleito por unanimidade. Sua capacidade analítica, que lhe permite enxergar além dos números, tem ajudado a igreja a lidar com esses desafios. “Sua longa experiência como professor mostra a capacidade analítica que ele tem para questões difíceis e sua prontidão para enfrentar situações positivas e negativas”, avalia Lowell Cooper, vice-presidente da Associação Geral. “A liderança de Ng tem aumentado a consciência da igreja global quanto às oportunidades e desafios da missão”, acrescenta Cooper. Essa opinião também é compartilhada por Geoffrey Mbwana, outro vice-presidente da sede mundial adventista. “Muito além da manutenção e análise de estatísticas, ele tomou medidas concretas para abordar as questões da missão”, analisa. Nos próximos cinco anos, G. T. Ng contará com o apoio de Myron Iseminger, cujo nome também foi votado na última sexta-feira para atuar como secretário associado. [Márcio Tonetti, equipe RA / Com informações de Felipe Lemos, da ASN, e Stephen Chavez, da Adventist Review]
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Conheça dez passos que poderão ajudar você a lidar com a depressão
O número de pessoas com depressão aumentou assustadoramente nos últimos anos. Até algum tempo atrás, ela estava restrita às classes abastadas da sociedade, mas hoje afeta todas as camadas sociais, graças a vários fatores: democratização no acesso a alimentos processados e refinados, anteriormente “privilégio” dos ricos; dissolução do núcleo familiar, desestabilizando relacionamentos e gerando conflitos inter e intrapessoais; demandas e expectativas da vida moderna, em que estresse constante, competição desenfreada e consumo compulsivo causam uma gama de emoções difíceis de gerenciar.
Complexo e multifacetado como é o tema, não posso discutir aqui condutas terapêuticas ou correntes teóricas e filosóficas sobre o trato com a depressão, nem sua efetividade. Mas desejo mostrar o que você pode fazer por si mesmo:
1. Desenvolva espírito de gratidão. A mente é sensível à informação nova. Hábitos de pensamento adequados podem ser ensinados ao cérebro. Expressando gratidão, fruto de inevitável esforço para enxergar lados luminosos da vida, você inibe o principal combustível para a depressão: os pensamentos negativos. Não é apenas na física que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço/tempo. Você não precisa sentir gratidão para racionalmente descobrir motivos para mostrar-se grato.
2. Perdoe. Todos. Inclusive você mesmo. O perdão não muda o que aconteceu. Porém, há um presente e um futuro a ser vividos. Mágoas, abusos, ofensas e decepções do passado devem permanecer lá. Vire a página. Como? Perdoando. Esse é o modo mais eficiente de seguir em frente. “Feche a conta” através do perdão, remova o fardo dos ombros e recomece de maneira leve um novo dia.
3. Respire profundamente. Se não sabe fazê-lo, aprenda. O oxigênio é excelente antidepressivo. É tão precioso que ninguém poderia pagar por ele e, assim, é de graça. Caminhe em um lugar que lhe dê prazer, que canse seus músculos, que distraia sua mente, que o “alimente” com belezas, harmonias e estímulos para viver.
4. Não tenha pena de si mesmo. Nada de autocompaixão. Não se vitimize. Você precisa de autoestima adequada. Atribua-se o valor que você tem. Para isso, é claro, conheça-se bem.
5. Não se leve tão a sério. Ria de seus eventuais erros, acertos e dificuldades. Eles perdem muito do peso se você olhar para eles com olhos bem-humorados. Encontre companheiros com quem possa fazer (e achar) graça.
6. Estabeleça metas realistas. Conquiste alvos e congratule-se pelas vitórias. Aprenda com os insucessos circunstanciais.
7. Evite o consumo de produtos nocivos ao equilíbrio mental. Entre eles estão cafeína, cereais processados, açúcar refinado e adoçantes artificiais. Eles fazem oscilar seu humor (em geral, para pior), pois desequilibram seus hormônios e o estoque dos nutrientes de que você mais precisa, especialmente vitaminas do complexo B.
8. Tenha um mentor ou conselheiro. Pode ser um amigo que ajude você sem causar dependência. Num grupo de apoio mútuo, focalize a palavra “mútuo”: seja bom ouvinte e ajude o outro. Os dois saem da escuridão, não importa quem esteja guiando.
9. Conte com ajuda profissional. Discuta todas as questões com seu médico ou psicólogo, inclusive este artigo. Ele pode sincronizar estas dicas com seu caso específico.
10. Não se esqueça de Deus. Embora nem sempre o entendamos, ele sempre nos entende. Ore, leia, medite, ouça sermões e música inspiradora. Além dos pensamentos, sentimentos e emoções, a mente possui um componente espiritual que busca a transcendência.
SILMAR CRISTO é médico, consultor e autor de vários livros sobre saúde e qualidade de vida
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Se você cultivar bons hábitos de saúde e tiver confiança no poder divino, nove de cada dez enfermidades podem ser prevenidas ou revertidas. Créditos da imagem: Fotolia
Muitos acreditam que a saúde ou a enfermidade é obra do acaso. Porém, isso é um engano. Talvez tal comportamento seja um mecanismo de defesa, na tentativa de evitar a todo custo mudanças no modo de viver, pelo temor de perder algum prazer predileto. Por outro lado, crer que saúde ou doença é uma questão de sorte pode ser efeito do próprio estilo errôneo de vida, que acaba solapando a percepção e a força de vontade necessárias para implementar reformas.
Qualquer que seja a origem dessa atitude, o fato é que as enfermidades crônico-metabólicas e neuropsiquiátricas estão cobrando pesado tributo de grande parcela da população, e as projeções estatísticas não são nada animadoras. Multidões estão jogando roleta-russa com sua saúde, pois o aparecimento das doenças não é uma questão de se elas vão se manifestar, mas sim de quando isso vai ocorrer.
Ao contrário do que se pensa, o organismo humano é muito resistente. Fantásticos mecanismos de adaptação o protegem e o ajudam a se recuperar da maioria dos ataques. Entretanto, caso sejam submetidos a abuso prolongado, tecidos, órgãos e mesmo sistemas inteiros podem falhar, com consequências graves.
Você já deve ter ouvido alguém dizer: “Fulano morreu de um infarto fulminante. Foi de repente.” Que engano! Ninguém morre de enfermidade prevenível de repente. As condições mórbidas vão se acumulando por longo tempo antes de culminar no evento adverso. Maus hábitos acumulados por décadas desencadeiam a batalha final entre a defesa orgânica e as agressões externas. O indivíduo já vinha adoecendo por longo tempo, enquanto o organismo, usando mecanismos adaptativos, mascarou a evolução crônica da doença e tornou os sintomas imperceptíveis. Todos deveriam saber: seis de cada dez enfermidades podem permanecer completamente assintomáticas (ou apresentar sinais pouco perceptíveis), até o momento da fatalidade.
Com frequência, as pessoas se julgam imunes a problemas de saúde. Pensam que o infortúnio só atinge a casa do vizinho. Quando a doença chega à sua porta, negam, surpresas, qualquer responsabilidade. Dizem não entender por que adoeceram. Felizmente, algumas delas começam a raciocinar da causa para o efeito e abraçam uma reforma. Em muitos casos, reverte-se o quadro ou limitam-se as possíveis complicações. Outros indivíduos, iludidos, recorrem somente a remédios, sem lidar com as verdadeiras causas dos problemas, apenas adiando os infalíveis resultados desfavoráveis.
Para o bem e para o mal, nosso estado de saúde é fruto direto das condições de vida que criamos (ou aceitamos) para nós mesmos. Nossos hábitos podem nos tornar fortes ou débeis, enfermos ou saudáveis. Nós escolhemos a prevenção, a reversão ou o aprofundamento dos males que nos alcançam. Os efeitos sucedem invariavelmente as causas; os “débitos” um dia precisam ser pagos. Há leis divinas e científicas que regem isso.
Fomos dotados pelo Criador com mecanismos de restauração que trabalham a cada minuto para manter nossa saúde e preservar nossa vida. Compete-nos criar as condições para que esses mecanismos realizem seu trabalho na sua capacidade máxima.
SILMAR CRISTO é médico, consultor e autor de vários livros sobre saúde e qualidade de vida
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Ao adorar a Deus em liberdade, lembre-se dos que não têm esse privilégio.
No mundo, há cerca de dez países em que não existe liberdade religiosa. Mais de quarenta países impõem severas restrições a minorias religiosas. Como seria sua vida se você vivesse em tais circunstâncias?
Fidelidade sob pressão
Em muitos desses países, é proibido partilhar a fé com a intenção de que as pessoas se unam à igreja. Isso é visto como traição pela comunidade e a família. Em vinte e dois países, mudar de religião é considerado crime.
Suponha que cada pessoa com quem você falar sobre doutrina aceite sua religião. Nesse caso, a pessoa ficará sob ameaça de morte e não apenas ostracismo. No mínimo, será rejeitada pela família, perderá o emprego e, mais cedo ou mais tarde, será posta de lado. Você também enfrentará sérios problemas. Fanáticos religiosos poderão executá-lo sumariamente, ou, no mínimo, você e sua família entrarão em ostracismo.
Em 1999, autoridades do Turcomenistão destruíram o único templo adventista no país. Posteriormente, uma senhora adventista convidou algumas pessoas para adorar a Deus em seu apartamento. A polícia apareceu, anotou os nomes de todas elas e fez com que a vida dessa irmã ficasse tão difícil que ela teve que abandonar o país. Ela perdeu todas as suas posses. Por quê? Por ter promovido uma reunião de oração em seu apartamento!
Recentemente, policiais invadiram várias igrejas em horário de reuniões, prenderam pastores, anotaram nomes e endereços das pessoas presentes e ameaçaram os pais dizendo que lhes tomariam os filhos. Como você reagiria se vivesse em tal país?
Sobrevivendo a duras penas
Em alguns países, minorias cristãs têm sobrevivido ao longo dos séculos evitando todo e qualquer tipo de proselitismo. Para eles a equação é simples: para sobreviver, viva sua fé em sua comunidade, mas sem partilhá-la. Se você testemunhar abertamente, sua família e sua comunidade religiosa enfrentarão sérios problemas.
Em tais circunstâncias, eles se identificam como cristãos e, como não ameaçam a ordem estabelecida, escapam da morte. Têm que sobreviver para ser testemunhas de Jesus por meio de sua presença. Eles testemunham do poder do evangelho por meio de uma vida cristã coerente. Atividades evangelísticas ostensivas teriam ameaçado sua presença ali e impedido para sempre seu testemunho.
Para nós que vivemos em países com liberdade religiosa, é difícil entender essa situação. Desfrutamos o privilégio de pregar abertamente, usamos os recursos da mídia e somos protegidos pelas autoridades. No país em que moro, você pode até criticar as crenças de outras religiões sem que haja muitos problemas, exceto pelo fato de constranger seus seguidores. É possível ganhar muito dinheiro por meio da religião. Isso faz parte da liberdade de expressão, e nós a usamos com muita alegria, algumas vezes sem pensar nas conseqüências. Mas essa não é a situação de pelo menos um milhão de adventistas que vivem em países onde têm que agir prudentemente para sobreviver e partilhar sua luz.
Já visitei vários dos cinqüenta países em que a liberdade religiosa é limitada ou não existe. Vi as conseqüências da intolerância e do fanatismo religioso. Vi escombros de casas, universidades e templos que foram incendiados. Falei com famílias adventistas que ficaram semanas sob ameaça de morte ou perda de suas posses pelo fato de não aceitarem a religião do Estado. Sobreviveram e agora brilham nas trevas.
Pense nisto
Imagine como é viver num país repressivo. Você se levanta sexta-feira cedo, feliz porque o sábado está se aproximando. Mas, provavelmente, você enfrentará hostililidade, recriminação ou zombaria de seu chefe, colegas de trabalho ou professores. Por quê? No dia seguinte, sábado, você não irá à escola ou ao trabalho. Poderá perder o emprego ou ser forçado pela polícia a enviar seus filhos à escola. As pessoas o verão como alguém esquisito, diferente, um espia em potencial a serviço de um país cristão. Os olhares das pessoas dirão: O que você está fazendo aqui? Se nossa religião não é boa para você, retire-se e una-se a seus amigos na América! Você terá que explicar muitas vezes por que tomou a decisão de viver dessa maneira. Você se sentirá só, sem ninguém que o defenda.
Hoje, alguns oram porque estão na cova dos leões, enquanto outros desfrutam liberdade religiosa. Alguns oram para que não tenham que enfrentar uma tragédia como a de Waco, em que o nome adventista foi explorado impiedosamente pela mídia. Isso poderia pôr de cabeça para baixo a vida dessas pessoas e suas famílias. Alguns estão na cova dos leões e, mesmo que os leões estejam quietos no momento, seu temperamento poderá mudar repentinamente.
Para sovreviver na cova dos leões, tais pessoas precisam ser fiéis, devem orar muito e agir com discernimento. O sonho delas é viver num país em que haja liberdade religiosa, onde seus filhos possam escolher uma profissão e se preparar para exercê-la, onde possam partilhar sua fé com outros e seus direitos sejam protegidos. Alguns estão na cova dos leões e, mesmo assim, brilham pelo reino de Deus. Esses têm certeza de uma coisa: Deus é seu protetor e a vida deles está em Suas mãos. Estão na cova dos leões, mas Deus tem poder para fechar a boca desses ferozes animais.
Texto de autoria de John Graz, diretor do Departamento de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da Associação Geral. Publicado na RA de Setembro/2008.
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Descubra por que o Espírito Santo é retratado nas Escrituras como um personagem divino em ação, ao contrário do que dizem alguns cristãos.
Os autores bíblicos não teorizam sobre a identidade do Espírito Santo, mas assumem que ele é a poderosa e criativa presença pessoal de Deus no mundo. Foto: LightStock
Nos últimos anos, notáveis teólogos têm escrito sobre o Espírito Santo. Se antes era comum um autor iniciar um tratado de pneumatologia (estudo do Espírito) lamentando a falta de obras sérias sobre o assunto, agora é preciso começar ressaltando a mudança. Não mais se pode dizer que o Espírito Santo seja uma figura esquecida. O teólogo Robert Imbelli, de fato, comenta que o Espírito está rapidamente se tornando “o membro mais popular” da Divindade.
Porém, esse não é o quadro completo. Até pouco tempo atrás, a pneumatologia era um campo negligenciado, a “última fronteira inexplorada da teologia”, como disse Nikolay Berdayev no livro Spirit and Reality. A rigor, ainda não temos estudos acadêmicos em número suficiente, especialmente em português, embora o corpo literário sobre o tema esteja crescendo cada vez mais. Para fazer justiça, é bom observar que no Oriente o Espírito Santo sempre teve boa visibilidade na teologia, o que está acontecendo agora no Ocidente.
O Espírito Santo precisa ser estudado e buscado porque ele é tão essencial quanto o Pai e o Filho, caso desejemos levar a sério a doutrina da Trindade. Como diz Eugene Rogers em After the Spirit: “Se o Espírito é dispensável para o mundo, então o Deus triúno também é”. Mas como definir esse personagem?
INTERPRETAÇÕES
Ao longo da história do cristianismo, sérias controvérsias têm surgido sobre a natureza do Espírito Santo. Para colocar o assunto em perspectiva, até o 3º século, o trinitarianismo da igreja estava basicamente interessado nas manifestações da Divindade no contexto da salvação, preocupando-se com a missão dos dois agentes de Deus (o Filho e o Espírito Santo) no mundo. Nessa fase, dava-se certa primazia ao Pai. Então veio o modalismo, que foi uma tentativa de afirmar a plena divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo eliminando a distinção entre os três. Em reação à proposta modalista, o presbítero Ário ultrarradicalizou na direção do que ele entendia ser o antigo padrão correto, criando um abismo entre os membros da Divindade e colocando-os em categorias diferentes. Para restringir o arianismo, o Concílio de Niceia (325 d.C.) definiu o relacionamento Pai-Filho em termos de igualdade. Mais tarde, esses e outros fatores colocaram a natureza do Espírito Santo na agenda oficial da igreja. Portanto, desde o 4º século a corrente central do cristianismo tem apoiado a divindade e a personalidade do Espírito Santo.
Em termos de adventismo, parece que alguns pioneiros antitrinitarianos do século 19 tinham mais dificuldade para aceitar a personalidade do Espírito Santo do que a sua divindade, embora considerassem sua natureza divina apenas “um reflexo da divindade de Deus”, como observou Christy Mathewson Taylor. Para os que pensavam assim, o Filho era verdadeiramente pessoal, mas não plenamente divino, enquanto o Espírito Santo era verdadeiramente divino, mas não plenamente pessoal.
Hoje, o adventismo oficial é solidamente trinitariano e ortodoxo em relação à Divindade. Por volta do fim do século 19, ele já havia amplamente se movido na direção do trinitarianismo. Essa mudança, segundo Richard Schwarz e Floyd Greenleaf, autores de Portadores de Luz, pode ser atribuída grandemente a sentimentos expressos com frequência crescente por Ellen White.
CONCEITO BÍBLICO
Para aprofundar sua compreensão sobre o Espírito, a igreja deve apostar na investigação bíblica contínua. Afinal, as Escrituras são a matriz da teologia cristã. Quando olhamos para nossa fonte inesgotável de informação revelada em busca da identidade do Espírito Santo, o que encontramos?
Linguisticamente, tanto ruah (hebraico) quanto pneuma (grego) significam “fôlego/sopro”, “vento”, “ar em movimento” (veja o quadro “Dados bíblicos”). Conforme R. Albertz e C. Westermann explicam no Theological Lexicon of the Old Testament, os verbos associados com ruah são distribuídos “quase exclusivamente em duas categorias: (1) verbos de movimento e (2) verbos de colocar em movimento”. O significado básico de ruah, uma provável onomatopeia (palavra que imita o som de alguma coisa), é “vento” e “sopro” entendidos como o poder vital encontrado nesses fenômenos, e não como essência. No Novo Testamento, pneuma tinha basicamente o mesmo sentido, mas foi ganhando um tom religioso e psicológico mais técnico.
Lloyd Neve, autor de The Spirit of God in the Old Testament, acredita que o conceito hebraico de ruah fosse único: “Quando Israel falou do ruah de Deus, estava usando um conceito não encontrado em nenhum outro lugar do antigo Oriente Próximo. Nas culturas mesopotâmicas, o vento certamente existia e funcionava na esfera divina como um instrumento especial dos deuses, e no Egito era até divinizado como o deus Amon-Rá. Contudo, nenhuma outra nação do antigo Oriente Próximo falou de seus deuses como tendo um espírito. Em um povo peculiar, com um Senhor singular, ele era um conceito único.”
Para os hebreus, ruah tinha certamente a conotação de movimento, poder e mistério. No entanto, William Schoemaker explica que, na mentalidade hebraica antiga, “as duas principais características do vento eram energia e invisibilidade”. A ideia de “ar em movimento” veio mais tarde. Como Alasdair Heron observa em The Holy Spirit, o forte vento observado pelos israelitas, como aquele que dividiu o Mar Vermelho (Êx 14:21), “não é idêntico ao próprio ruah de Deus, mas seu poder elementar o tornou uma poderosa imagem da força divina”; na mente das pessoas do Antigo Testamento, ruah “carregava um senso do impacto devastador de Deus sobre os seres humanos e seu mundo”.
Em nossa mente ocidental, a palavra “espírito” costuma ser associada com algo etéreo, sem substância. Porém, a intangibilidade não era a ênfase primária dos autores bíblicos. Na Bíblia, ruah e pneuma não devem ser vistos basicamente como algo imaterial, em oposição a conceitos de “corpo” e “corporal”, mas como um poderoso e dinâmico princípio de vida que anima o corpo. Quando a Bíblia apresenta Deus como espírito, a ênfase parece estar no poder sem limites, na capacidade de cruzar todas as fronteiras e estar efetivamente em todos os lugares ao mesmo tempo.
Retratado na Bíblia como vento, fogo, água, óleo, nuvem e pomba, entre outros símbolos que expressam suas ações, o Espírito Santo causa efeitos maravilhosos. O objetivo primário dessas imagens não é descrever quem é o Espírito Santo, mas mostrar o que ele faz. Por exemplo, quando falamos de chuva, o foco não é entender esse fenômeno de maneira abstrata, mas ver o solo molhado e notar a natureza ser revitalizada. Por isso, o Espírito Santo não pode ser apenas uma teoria.
Esses aspectos nos ajudam a entender um pouco desse ser enigmático; mas, obviamente, não temos uma compreensão absoluta sobre ele. Como sublinha Ellen White em Atos dos Apóstolos (p. 51, 52), o pleno conhecimento da natureza exata do Espírito Santo é (1) impossível (é um “mistério”, um assunto não revelado, algo profundo demais para a mente humana, em que o “silêncio é ouro”) e (2) não é essencial para a salvação. Indispensável é conhecer experiencialmente o Espírito Santo e o que ele faz. No entanto, a Bíblia não nos deixa no escuro.
PESSOA DIVINA
Muitos acham mais fácil aceitar a divindade do que a personalidade do Espírito Santo. Que ele é divino fica claro em uma série de textos que focalizam seus títulos, associações e tarefas. Deus está onde o Espírito está (1Co 3:16, 17; 6:19). As ações de ambos são intercambiáveis.
A dificuldade maior tem que ver com a personalidade do Espírito Santo. Será que os autores bíblicos realmente o viam como um ser pessoal? Em caso afirmativo, eles o viam como uma personalidade distinta de Deus e de Cristo? Essas perguntas podem ser anacrônicas em relação aos autores bíblicos, mas se tornaram importantes para o público cristão posterior. Quando se considera o Espírito Santo uma figura divina, três hipóteses podem ser levantadas: (1) um ser criado semidivino, uma espécie de superanjo; (2) outro nome/estado para o Cristo glorificado; e (3) uma expressão personalizada da Divindade.
A hipótese número 1 é totalmente antibíblica e levaria ao politeísmo. Os anjos são espíritos ministradores (Hb 1:14), mas não são o Espírito de Deus. Na Bíblia, o Espírito Santo nunca é apresentado como um anjo. Para perceber o absurdo de considerá-lo o anjo Gabriel, a terceira pessoa em um ranking a partir de Deus, é suficiente relembrar que Maria foi engravidada pelo poder do Espírito Santo, igualado ao poder do Deus todo-poderoso (Mt 1:18, 20; Lc 1:35). Estão os defensores dessa hipótese preparados para aceitar a lógica (isto é, ilógica) conclusão de que Jesus foi gerado por um anjo?
A hipótese número 2 tem alguns defensores. Muito cedo, um segmento da tradição cristã começou a identificar o Espírito com o Cristo preexistente e, consequentemente, com o Cristo ressuscitado/exaltado. No evangelho de João, especialmente em 14:15-26, vemos um impressionante paralelismo entre Cristo e o Espírito, o que sugere uma identificação funcional dos dois. Como diz Gary Burge, em The Anointed Community, Cristo foi o “molde” que João usou para falar do Espírito Santo. A personalidade do Parakletos joanino reflete inteiramente a personalidade de Cristo. Contudo, “o paralelo funcional simplesmente significa que o Parakletos serve como a presença de Jesus enquanto Jesus está ausente”.
O fato de o Espírito Santo não falar de si mesmo, mas de Cristo (Jo 16:13), sugere que ele não é Cristo, senão estaria falando de si mesmo. O Espírito Santo é o representante de Cristo. Além disso, foi o Filho quem encarnou, não o Espírito Santo. Assim como João (14:9-11) identifica Cristo com o Pai e, no entanto, os dois não são a mesma pessoa, a identificação de Cristo com o Espírito Santo não os torna a mesma pessoa.
Em 2 Coríntios 3:18, Paulo menciona o “Senhor, o Espírito”, mas também não está fazendo uma identificação total. No verso 17, uma alternativa gramaticalmente aceitável é “o Espírito é Senhor”, implicando que o Espírito Santo é Yahweh, o Senhor do Antigo Testamento. Linda Belleville sugere que a tradução poderia ser: “Agora o termo ‘Senhor’ se refere ao Espírito Santo.” Outra opção, aparentemente estranha, mas viável, é “o Senhor do Espírito”, significando que Cristo é o Senhor do Espírito Santo, pois este o representa pessoalmente.
Aqui vale mencionar uma afirmação um tanto misteriosa de Ellen White escrita em fevereiro de 1895: “Limitado pela humanidade, Cristo não poderia estar em todos os lugares pessoalmente; portanto, era vantagem para eles [os discípulos] que ele os deixasse, fosse para o Pai e enviasse o Espírito Santo como seu sucessor na Terra. O Espírito Santo é ele próprio despido da personalidade humana e independente dela” (Manuscript Releases, vol. 14, p. 23).
À primeira vista, parece que ela está identificando Cristo com o Espírito Santo. Porém, o contexto mostra que não é esse o caso, conforme demonstrou o Dr. Alberto Timm na Revista do Ancião (julho-setembro de 2005). Outras declarações da autora tornam claro que ela considerava o Espírito Santo uma personalidade distinta. Em Evangelismo (p. 617), a autora escreveu: “O Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com nosso espírito que somos filhos de Deus. Deve ser também uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os segredos que jazem ocultos na mente de Deus.”
Portanto, a hipótese número 3 (acima) é a mais coerente. Se considerarmos o todo das Escrituras, devemos ver o Espírito Santo como uma pessoa divina. Ele é Deus/Cristo em ação, mas é uma personalidade real e se manifesta com uma identidade distinta. O Espírito Santo é a presença pessoal da Divindade no Universo. É o que possibilita a efetividade de Deus em todas as partes do cosmos de forma inteligente, sem depender das criaturas. É a liberdade e o poder que Deus tem de ser transcendente e imanente ao mesmo tempo.
EVIDÊNCIAS
Há um debate quanto à personalização do Espírito Santo no Antigo Testamento. Podemos dizer que o Espírito está presente no Antigo Testamento de modo pessoal, mas conseguimos vislumbrar melhor sua silhueta quando o contemplamos com a lente do Novo Testamento. A revelação não é contraditória, mas é progressiva. Cristo trouxe uma nova revelação não apenas sobre o caráter do Pai, mas também sobre sua própria identidade e a identidade do Espírito Santo.
No Novo Testamento, encontramos vários indícios de que o Espírito Santo é um agente divino. Os autores bíblicos, especialmente João, Lucas e Paulo, o retratam como um personagem divino na dinâmica da salvação – o que nos dá o direito de fazer o mesmo. Para citar algumas ações, o Espírito pensa, sente, fala, escolhe, decide, aponta, envia, comanda, convence, intercede, guia e santifica. Os textos que indicam as ações inteligentes e propositais dele são muitos para citar. Apenas como exemplos, podemos mencionar João 15:26; 16:8; 16:13; Atos 10:19; 13:2; 16:6-12; e Romanos 8:26; 15:16. Seus atributos, tratamentos e atividades pressupõem uma personalidade inteligente. Assim como o pronome “eu” é usado por Deus (Êx 3:14), Cristo (Mc 14:62) e os anjos (Ap 22:9), o Espírito Santo também diz “eu” (At 13:2). Essa perspectiva de “primeira pessoa” indica personalidade.
Na tentativa de despersonalizar o Espírito Santo, alguns o identificam com o poder de Deus. Naturalmente, o Espírito é o poder de Deus; porém, é mais do que isso. Por exemplo, Lucas informa que “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder” (At 10:38), e diz que Jesus voltou do deserto “no poder do Espírito” (Lc 4:14). Isso sugere que “Espírito” e “poder” não podem ser equacionados pura e simplesmente. Seria redundância dizer “o poder do Espírito” se ele fosse apenas um poder impessoal. O poder acompanha o Espírito Santo, mas o Espírito é o agente de poder.
Em Romanos 11:34 e em 1 Coríntios 2:16, o apóstolo Paulo, fazendo alusão a Isaías 40:13, diz que nós “temos a mente de Cristo”, mas isso igualmente não significa que o Espírito Santo seja a mente de Cristo/Deus. O ponto implícito é: ninguém conhece a mente do Senhor, mas nós que temos a mente (= Espírito) de Cristo a conhecemos. É bom lembrar que, em Romanos 8:27, Paulo inverte a perspectiva, escrevendo que Deus “sabe qual é a mente do Espírito”. Nesse caso, o Espírito Santo é visto como distinto de Deus, pois ele intercede pelos santos.
Vários autores, alguns num nível semipopular, outros num âmbito mais sofisticado, têm construído um argumento gramatical em favor da personalidade do Espírito Santo a partir dos pronomes aplicados a ele em João 14 a 16. A palavra pneuma é neutra em grego e, tecnicamente, exigiria pronomes neutros impessoais. Porém, contrariando a gramática, João (14:26; 16:8, 13, 14) emprega pronomes pessoais masculinos como “ele” (ekeinos) em relação ao Espírito Santo. O próprio George Ladd afirma em sua conhecida obra A Theology of the New Testament: “Onde pronomes que têm pneuma como seu antecedente imediato estão no masculino, só podemos concluir que a personalidade do Espírito Santo está sendo sugerida.” Porém, essa linha de argumento não deve ser supervalorizada, pois, como mostrou o especialista em grego Daniel Wallace, o substantivo masculino Parakletos (Consolador) influencia o tratamento de Pneuma (Espírito).
Talvez seja mais consistente enfatizar o papel do Confortador. Em João 14:16, Jesus usa a palavra grega allon (“outro” da mesma espécie, ordem ou qualidade, “outro igual”) ao falar do Parakletos. Se Jesus tinha uma personalidade, então o Espírito Santo também deve ter, já que ele é como Jesus e o representa. O Espírito é chamado quatro vezes de “Confortador”, não um mero “conforto”. Para todos os efeitos, quando o Espírito Santo age, é o Deus pessoal quem está agindo, não um poder impessoal. Ele representa o próprio Deus/Cristo em ação.
Os autores bíblicos às vezes usam expressões impessoais em relação ao Espírito Santo, como “batizar”, “derramar”, “encher”, “selar” e “ungir”. Mas essa linguagem metafórica não deve ser considerada evidência de impessoalidade, pois os autores usam o mesmo tipo de linguagem em referência a Moisés ou a Cristo. Os israelitas foram “batizados” em Moisés e “beberam” da rocha/Cristo (1Co 10:2, 4). Os crentes são “batizados” em Cristo e “revestidos” de Cristo (Rm 6:3; Gl 3:27). As palavras podem ser figuradas e ter mais de um sentido.
PRESENÇA GLORIOSA
Um dos conceitos mais belos a respeito do Espírito Santo é o de que ele é a gloriosa presença pessoal de Deus no Universo. Em várias instâncias, Espírito e presença são sinônimos. Essa equivalência é vista nos paralelismos da poesia hebraica. Dois exemplos: “Não me expulses da tua presença, nem tires de mim o teu Santo Espírito” (Sl 51:11); “Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face [presença]?” (Sl 139:7).
Os escritores do Novo Testamento também retratam o Espírito Santo como o meio pelo qual Deus está presente com seu povo. O mesmo verbo usado pela Septuaginta, tradução grega do Antigo Testamento, para descrever a presença da nuvem gloriosa sobre o tabernáculo em Êxodo 40:35 (episkiazo, “cobrir”, “envolver”, “sombrear”) é empregado para explicar a ação do Espírito sobre Maria (Lc 1:35) e sobre Jesus e os discípulos na transfiguração (Mt 17:5; Mc 9:7; Lc 9:34). Segundo Paulo, Deus habita nos crentes através de seu Espírito (1Co 3:16; 6:19; Ef 2:22).
O conceito de presença não é incompatível com a ideia da personalidade do Espírito Santo. Longe de ser uma simples essência ou energia material, ou poder despersonalizado, o Espírito é o dinamismo inteligente e pessoal de Deus ao ele se relacionar com o Universo, incluindo todas as categorias de seres e níveis de realidade. O Ruah/Pneuma bíblico é Deus manifestado e percebido como uma personalidade infinita, misteriosa e imprevisível movendo-se em íntima proximidade conosco, o poderoso vento divino criando um ambiente de intimidade e conspirando para a vida, a sabedoria e o amor.
Enfim, como Griffith Thomas sumariza em The Holy Spirit of God, “o Espírito Santo é pessoal porque Deus é pessoal e é divino porque Deus é divino; embora possa ser dito que a personalidade do Espírito não seja tão evidente como a personalidade do Pai e a do Filho, é impossível pensar verdadeiramente a respeito do Espírito Santo como impessoal”. Acima de tudo, ele é divino e pessoal porque é Deus. Enquanto o Filho corporifica e localiza o Pai, o Espírito espiritualiza e universaliza Deus – para personalizá-lo para cada um. Se Cristo é Deus conosco e por nós, o Espírito é Deus em nós.
MARCOS DE BENEDICTO, doutor em Ministério, é editor da Revista Adventista
Marcadores: Espírito Santo, Revista Adventista, Trindade
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