quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Entrevista exclusiva com o goleiro adventista que virou notícia na mídia

Em treze anos de carreira no futebol profissional, Carlos Vítor da Costa Ressurreição nunca esteve tão exposto à mídia quanto nos últimos dias. Titular do Londrina Esporte Clube, o goleiro Vítor, como é mais conhecido, foi manchete nos principais sites, jornais e programas esportivos brasileiros depois de revelar que, por suas convicções religiosas, não iria treinar nem jogar aos sábados. “Durante todos esses anos de dedicação e trabalho no futebol, nunca tomei uma decisão que repercutiu tanto quanto agora. Uma simples decisão de obedecer a Deus ganhou uma enorme proporção”, disse o jogador ao comentar as notícias da semana.





Vítor foi batizado na Igreja Adventista do bairro Pituba, em Salvador (BA), no dia 27 de dezembro de 2015. Desde então, decidiu que sua nova fé determinaria os rumos de sua vida dentro e fora de campo. Essa convicção o levou a rejeitar a proposta de disputar a Série A do Campeonato Brasileiro pelo Chapecoense, ganhando duas vezes mais no clube catarinense do que ele recebe atualmente no Londrina Esporte Clube. Como noticiou o site do jornal Lance, as negociações não avançaram porque Vítor deixou claro que não poderia jogar nem treinar entre o pôr da sexta-feira e o de sábado.

Por causa do que considera um “impedimento” resultante de sua escolha religiosa, a direção do clube no qual Vítor atua também decidiu nesta quarta-feira, 20 de janeiro, que o contrato do jogador, que vence em maio, não será renovado.

Aos 29 anos, embora com um futuro incerto no futebol profissional, o goleiro permanece firme em sua decisão. Em entrevista ao site do Globo Esporte, ele disse não temer as consequências de sua escolha. “Quando tomei essa decisão, eu sabia que teria consequências, ainda mais no futebol! Para muitos, o que mais importa é o dinheiro. Mas para mim, isso não é o mais importante. Eu decidi ouvir meu coração. Minha conversão me faz um homem melhor, um marido melhor, um pai melhor e até um profissional muito melhor. Estudei muito a Bíblia e percebi a importância de dedicar o sábado ao Criador. Eu poderia esquecer, pensar só no trabalho. Mas optei por ouvir meu coração. Eu sei que tudo o que conquistei no Londrina nesses dois anos não foi por acaso. Tenho fé e acredito que Deus tem me ajudado em tudo”, afirmou.

Casado com Gabriela e pai de dois filhos – Vítor Gabriel (9) e Ana Valentina (6 meses) –, nesta entrevista concedida ao portal da Revista Adventista, o goleiro Vítor, que vem de um berço católico, descreve como conheceu o adventismo e fala sobre as implicações de guardar o sábado, a repercussão do caso na mídia, seu futuro no esporte e os possíveis resultados desse testemunho.

Como você conheceu o adventismo?

Foi por meio da família da minha esposa, que é adventista. Quando comecei a namorá-la, minha sogra tinha o costume de fazer cultos na casa dela. Como passei a frequentar esse ambiente, comecei a ter um contato maior com os pastores, com a própria igreja e seus ensinamentos.

Em que momento decidiu aceitar as doutrinas bíblicas pregadas pelos adventistas e ser batizado?

Comecei a estudar a Bíblia com os adventistas há mais de dez anos. Ao examinar as Escrituras, a questão do sábado era o que mais dificultava a aceitação. Isso ia de encontro às minhas conveniências. Mas estudei bastante, pesquisei e tive experiências pessoais com Deus. E, assim, acabei sendo convencido pelo Espírito Santo. Desde 2013 até hoje a guarda do sábado me comove. No fim do ano passado, reconhecendo todas as bênçãos recebidas de Deus, decidi firmar um compromisso definitivo com Ele. Optei por obedecê-Lo e pedi o batismo.

Como foi o processo de guardar o sábado e deixar os interesses pessoais de lado?

Essa era uma ideia que eu vinha amadurecendo há mais de um ano. Chegava a falar para meus colegas de trabalho sobre a questão do sábado, mas eu mesmo não vivenciava essa realidade. No entanto, me sentia incomodado. Até que não consegui mais ignorar a observância de um dia tão especial. Entendi que a verdade que eu tinha descoberto por meio da Palavra de Deus deveria ser cumprida independentemente das consequências dessa decisão.

Desde quando você joga profissionalmente?

Desde 2003. Já passei pelo Vitória (BA) [clube que o revelou], pelo Ponte Preta (SP), pelo Joinville (SC), pelo Portuguesa (SP), pelo Atlético (GO), pelo Bragantino (SP), pelo ABC (RN), pelo Arapongas (PR) e pelo São José (RS). Mas comecei a jogar com 13 anos de idade. Então, a rotina de treinamento existe há 17 anos. Durante esse tempo, tive muitas conquistas. No ano passado, por exemplo, fui considerado o melhor goleiro da Série C e ajudei o Londrina Esporte Clube a passar para a Série B, além de ter participado da conquista do título paranaense em 2014.

E quanto ao seu futuro no esporte, depois de ter rejeitado o convite para jogar no Chapecoense e de saber que seu contrato no Londrina não será renovado?

Pretendo continuar jogando se não houver nada que entre em conflito com minhas crenças. Se minhas convicções forem respeitadas, não vejo motivo algum em deixar o futebol profissional. Enquanto existir um clube que abra as portas para mim e aceite minha fé, vou continuar trabalhando e crescendo no esporte. Tenho os pés no chão. Sei que é difícil a situação de um jogador de futebol que não trabalha aos sábados. Caso as portas se fechem, procurarei outras atividades para desempenhar.

Que avaliação você faz sobre o modo pelo qual a mídia tem abordado sua decisão?

Pelo que tenho acompanhado, além das mensagens que chegam diretamente a mim, as pessoas têm se manifestado favoravelmente, apoiando, confortando e parabenizando o que consideram uma atitude corajosa. No clube, alguns ficaram curiosos, mas, no geral, meus colegas têm demonstrado respeito. Na minha opinião, a repercussão tem sido boa, apesar de algumas manifestações preconceituosas e intolerantes. Entretanto, sou otimista e sei que o alcance da verdade supera qualquer manifestação contrária a isso.

Como sua família está considerando essa postura?

Minha família está apoiando, o que é o mais importante. Espero que o torcedor respeite essa decisão. No mundo em que vivemos, a maioria se preocupa com dinheiro, com bens materiais, em trabalhar sem parar. Mas, do que vale isso tudo? O mais importante é o respeito, o amor, ser uma boa pessoa com seus familiares, com quem está perto de você.

Vale a pena colocar Deus em primeiro lugar?

Totalmente! Até porque a crença em Deus é muito maior do que em qualquer ser humano. Creio que as promessas que leio na Bíblia e as experiências do povo de Deus com Ele não se limitam apenas a uma época. O mesmo Deus que fazia aqueles milagres é o mesmo Deus de hoje. Não vejo a fé como um impedimento.

Fonte: Revista Adventista

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