No entanto, Asafe resistiu a toda dúvida e sentimentos negativos. Afastou-os por amor do Senhor e por causa de Seu nome. Infelizmente, nem todos encontram a cura que Asafe alcançou. Balaão parece ter sido vítima desse mal. O pecado tornou-o mais embrutecido que um animal. O mesmo poderia ser dito de Demas, jovem ministro que participou das experiências missionárias de Paulo e sua equipe. O lamento de Paulo sobre sua apostasia dá-nos a entender que Demas não resistiu ao desejo da riqueza e de uma vida fácil: “Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica.” (II Tim. 4:10.)
O fracasso de Templeton Na crônica evangélica, Charles Templeton [6] é outro caso fatal do mal de Asafe. Ele foi um evangelista de tão grande sucesso que alguns pensaram que eclipsaria Billy Graham em bem pouco tempo. Ambos estão sofrendo de males físicos degenerativos. Graham, aos 80 anos de idade, mal pode se firmar em pé, sem a ajuda do púlpito. Está acometido do mal de Parkinson. Em 1949, aos 30 anos de idade, enquanto se preparava para a grande cruzada de Los Angeles, Billy já era amigo de Charles Templeton. Nessa época, Billy tornou-se alvo de grande incerteza: Como podia confiar plenamente no que a Bíblia lhe dizia? Ele revelou que duas forças operavam de modo contrário sobre sua vida, nessa ocasião.
Uma força era representada por Henrietta Mears, uma cristã comprometida com a Palavra, e que impulsionava Billy em direção a Deus. A outra força era representada por Charles Templeton, que injetava dúvidas na mente do grande pregador. Este sabia que, se não pudesse confiar na Bíblia, não tinha como prosseguir pregando. Billy conta que a influência de Charles Templeton estava “ganhando a queda de braço”. Contudo, o fardo de dúvidas foi removido por Deus quando Billy clamou por auxílio do Céu. A cruzada de Los Angeles teve grande sucesso, assim como todo o ministério do mais famoso evangelista do século 20. Adeus a Deus Templeton, infelizmente, não conseguiu resolver suas dúvidas. Ele disse acerca de Billy Graham que este havia cometido o suicídio intelectual ao fechar sua mente ao questionamento da fé. Na verdade, o contrário aconteceu: Templeton foi devastado por dúvidas cada vez maiores. Renunciou ao ministério e tornou-se comentarista e romancista, no Canadá. Suas dúvidas podem ser sumarizadas em oito pontos:
“1) Uma vez que o mal e o sofrimento existem, não pode haver um Deus amoroso;
2) Uma vez que os milagres contradizem a ciência, não podem ser verdadeiros;
3) Se Deus realmente criou o Universo, por que as evidências persuasivas da ciência impelem tantas pessoas a concluir que o processo espontâneo da evolução explica a vida?
4) Se Deus é moralmente puro, como pode sancionar o massacre de crianças inocentes, como afirma o Antigo Testamento?
5) Se Jesus é o caminho único para o Céu, que dizer dos milhões de pessoas que nunca ouviram falar dEle?
6) Se Deus Se preocupa com as pessoas que criou, como pode entregar tantas delas a uma eternidade de tormento no inferno somente porque não creram nas coisas certas a respeito dEle?
7) Se Deus é o dirigente supremo da igreja, por que ela tem estado repleta de hipocrisia e brutalidade ao longo dos séculos? 8) Se ainda sou assaltado por dúvidas, ainda posso ser cristão?” Curiosamente, Templeton tornou-se também vítima do mal de Alzheimer. Sua enfermidade física agravou sua condição espiritual. O sumário de sua história é que Templeton não soube conciliar o sofrimento dos outros e o dele com a bondade de Deus. Naufragou na fé e tornou-se ateu. Um de seus livros mais contrastantes com o seu passado de homem de fé intitula-se Farewell to God: my reasons for rejecting the Christian faith (Adeus a Deus: minhas razões para rejeitar a fé Cristã). Graças ao Senhor, Asafe agiu de modo diferente de Templeton. Resistiu a todos seus sentimentos negativos e deles se livou por amor do Senhor e por causa de Seu nome. Asafe foi salvo no meio do processo de apostasia mental. Foi salvo antes que seus pensamentos se tornassem ações pecaminosas.
Nesse extraordinário cântico de fé - o salmo 73 - Asafe prescreve três salvaguardas contra a tentação. Três salvaguardas Asafe controlou a língua. Ele disse: “Se eu pensara em falar tais palavras, já aí teria traído a geração de Teus filhos. Em só refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim” (versos 15 e 16). Ele rejeitou a tentação de conversar acerca de suas dúvidas, de sua inveja. Não espalhou sementes de incredulidade contra o caráter de Deus e Sua obra. Ellen White aconselha: “Quando alguém vos pergunta como vos sentis, não penseis em qualquer coisa triste para contar a fim de atrair simpatia. Não faleis de vossa falta de fé e de vossas aflições e sofrimentos. O tentador se deleita em ouvir palavras assim. Quando falas em assuntos sombrios, estais a glorificá-lo. “Não devemos nos demorar no grande poder de Satanás para nos vencer.” [7]
Asafe fez uso da sua memória religiosa: Ele tinha convicção do cuidado de Deus ao longo de sua vida e na história do seu povo. Assim, podia confessar não apenas que “Deus é bom para com Israel’ mas que o Senhor é bom “para com os de coração limpo” (verso 1). Um dos recursos de que lançou mão foi a lembrança de que é “bom estar junto a Deus” (verso 28).
Ellen G. White aconselha: “Quando o pecado luta pelo predomínio no coração, quando a culpa oprime a alma e sobrecarrega a consciência, quando a incredulidade obscurece a mente — lembrai-vos de que a graça de Cristo é suficiente para subjugar o pecado e banir a escuridão. Entrando em comunhão com o Salvador, penetramos na região da paz.” [8]
O santuário é o último lugar de onde brilhou e continua brilhando a luz para o povo Cristão. Asafe abriu sua vida ao Senhor do santuário. O assalto espiritual cessou quando ele entrou “no santuário de Deus” e atinou com o destino dos ímpios (verso 17). Podemos dizer que Asafe entrou no lugar certo. Podemos agir da mesma forma quando assaltados por dúvidas sobre o caráter e ações do soberano Deus. Asafe foi ao santuário e ali contemplou não apenas o fim dos ímpios, mas a recompensa dos fiéis. E confessou: “Tu me seguras pela minha mão direita. Tu me guias com o Teu conselho e depois me recebes na glória. Quem mais tenho eu no Céu? Não há outro em quem eu me compraza na Terra.
Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre” (Sal. 73:23-26). No santuário, Asafe orou, mas não argumentou. Recobrou-se de sua crise espiritual. Sua vida estava garantida pela única segurança que ele tinha no Céu e na Terra. A morte não era o fim do justo. Ele recobrou não apenas sua fé e esperança no Senhor, mas integrou-se novamente na missão de proclamar a bondade de Deus: “Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no Senhor Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os Seus feitos” (verso 28).
O “mal de Asafe” está sempre presente no ambiente do povo de Deus, buscando a próxima vítima. Se alguém foi acometido por esse terrível mal, aqui vai o remédio que curou Asafe: Nunca diga adeus ao Senhor sem antes entrar no Seu santuário e ali derramar diante dEle a sua dúvida e registrar a sua súplica. Pergunte ao Senhor: “Até quando haverá injustiça, opressão, fome e guerra? Até quando haverá doença e morte?”. Só Deus sabe a resposta exata, mas Ele não tem o hábito de responder a essa oração do modo como o fazemos. Ele nos deixa “em suspense”, mas também nos assegura que as rédeas do controle estão continuamente em Suas mãos.
Logo o Senhor deporá Suas vestes sacerdotais, fechará o Seu Templo no Céu, e descerá à Terra com todos os Seus anjos. Virá por causa dos Seus escolhidos. Se nossa mente insistir em perguntar, diante da demora da segunda vinda, “Até quando, ó Soberano Senhor, não julgas a impiedade?” descansemos no fato de que nossa segurança está na palavra dAquele que conhece os tempos e as estações, que sabe o fim desde o princípio. Ele afirma: “Vai alta a noite, e vem chegando o dia” (Rom. 13:12). Tranqüilizemo-nos com a certeza de Asafe: “Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no Senhor Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os Seus feitos”.
Autor: José Miranda Rocha, doutor em Ministério Pastoral, é professor de Teologia Aplicada no UNASP campus Engenheiro Coelho, SP Fonte: Revista Adventista, março 2005
Referências 1. Zygmunt Bauman, Ética pós-moderna (São Paulo: Editora Paulus, 1997). 2. Ultimato, maio-junho de 2003, pág. 3. 3. Ibidem, pág. 8. 4. Karina Pastore, “Quando os neurônios morrem”, Veja, 6 de agosto de 2003, pág. 73. 5. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, pág. 459. 6. Lee Strobel, Em Defesa da Fé (São Paulo: Editora Vida, 2002), págs. 1-30, 7. Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, pág. 253. 8. Ibidem, pág. 250