Ao proclamarem os discípulos as verdades do evangelho em Jerusalém,
Deus deu testemunho de sua Palavra e uma multidão creu. Muitos desses primeiros
crentes foram imediatamente separados da família e dos amigos pelo zeloso
fanatismo dos judeus, sendo, portanto necessário prover-lhes alimento e abrigo.
O relato declara: "Não havia, pois entre eles necessitado
algum."Atos 4:34. E diz como as necessidades eram supridas. Aqueles
dentre os crentes que tinham dinheiro e bens, alegremente sacrificavam-nos para
socorrer na emergência. Vendendo suas casas ou suas terras, eles levavam o
dinheiro e o depositavam aos pés dos apóstolos. "E repartia-se por cada
um, segundo a necessidade que cada um tinha." Atos 4:35.
Esta liberalidade da parte dos crentes foi o resultado do derramamento
do Espírito. "Era um o coração e a alma" (Atos 4:32) dos
conversos ao evangelho. Um comum interesse os guiava - o êxito da missão a eles
confiada; e a avareza não tinha lugar em sua vida. Seu amor aos irmãos e à
causa que haviam abraçado, era maior do que o amor ao dinheiro e às posses.
Suas obras testificavam que eles tinham a salvação dos homens em maior apreço
que as riquezas terrestres.
Assim será sempre, quando o Espírito de Deus toma posse da vida.
Aqueles cujo coração transborda do amor de Cristo, seguirão o exemplo dAquele
que por amor de nós, Se tornou pobre, para que por Sua pobreza enriquecêssemos.
Dinheiro, tempo, influência - todos os dons que receberam das mãos de Deus - só
serão por eles apreciados quando usados como meio de fazer avançar a obra
evangélica. Assim foi na igreja primitiva; e, ao ver-se na igreja de hoje que,
pelo poder do Espírito os membros retiraram suas afeições das coisas do mundo,
e se dispõem a fazer sacrifícios a fim de que seus semelhantes possam ouvir o
evangelho, as verdades proclamadas terão poderosa influência sobre os ouvintes.
Contraste flagrante com o exemplo de generosidade manifestada pelos
crentes foi a conduta de Ananias e Safira, cuja experiência, traçada pela pena
da Inspiração, deixou uma escura nódoa na história da igreja primitiva. Com
outros, esses professos discípulos haviam participado do privilégio de ouvir o
evangelho pregado pelos apóstolos. Haviam eles estado presentes com outros crentes,
quando, após haverem os apóstolos orado, "moveu-se o lugar em que
estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo". Atos 4:31.
Profunda convicção havia-se apossado de todos os presentes, e sob a direta
influência do Espírito de Deus, Ananias e Safira haviam feito o voto de dar ao
Senhor o produto da venda de certa propriedade.
Depois, Ananias e Safira ofenderam o Espírito Santo cedendo a
sentimentos de cobiça. Começaram a lamentar o haverem feito aquela promessa e
logo perderam a suave influência da bênção que lhes havia aquecido o coração
com o desejo de fazer grandes coisas em benefício da causa de Cristo. Julgaram
haverem-se precipitado e sentiam ser necessário reconsiderar sua decisão.
Falaram entre si sobre o caso e resolveram não cumprir a promessa. Viam, porém,
que os que entregavam seus bens para suprir as necessidades de seus irmãos mais
pobres, eram tidos em alta estima pelos crentes; e, com vergonha de que os
irmãos viessem a saber que sua mesquinhez de alma regateara aquilo que haviam solenemente
dedicado a Deus, resolveram deliberadamente vender sua propriedade e fingir que
davam todo o produto para o fundo comum, guardando, porém, para si mesmos,
grande parte. Deste modo garantiriam para si o pão do depósito comum, ao mesmo
tempo em que alcançariam a alta estima de seus irmãos.
Mas Deus aborrece a hipocrisia e a falsidade. Ananias e Safira
praticaram fraude em sua conduta para com Deus. Mentiram ao Espírito Santo, e
seu pecado foi punido com juízo rápido e terrível. Quando Ananias chegou com
sua oferta, Pedro disse: "Ananias, por que encheu Satanás o teu
coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da
herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder?
Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a
Deus." Atos 5:3 e 4.
"E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e
expirou. E um grande temor veio sobre todos os que isto ouviram." Atos
5:5.
"Guardando-a não ficava para ti?"
perguntou Pedro. Atos 5:4. Nenhuma escusa influência tinha levado Ananias a
sacrificar sua propriedade pelo bem geral. Ele agira por livre escolha. Mas
procurando enganar os discípulos, tinha mentido ao Onipotente.
"E, passando um espaço quase de três horas, entrou também sua
mulher, não sabendo o que havia acontecido. E disse-lhe Pedro: Dize-me,
vendestes por tanto aquela herdade? E ela disse: Sim, por tanto. Então Pedro
lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do
Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e também te
levarão a ti. E logo caiu aos seus pés, e expirou. E, entrando os mancebos,
acharam-na morta, e a sepultaram junto de seu marido. E houve um grande temor
em toda a igreja, e em todos os que ouviram estas coisas." Atos 5:7-11.
A infinita sabedoria viu que essa evidente
manifestação da ira divina era necessária para impedir que a jovem igreja se
desmoralizasse. O número dos crentes aumentava rapidamente. A igreja teria
corrido perigo se, no rápido aumento de conversos, fossem acrescentados homens
e mulheres que, embora professassem servir a Deus, adoravam a Mamom. Esse juízo
testificou que os homens não podem enganar a Deus, que Ele descobre o pecado
oculto do coração e não Se deixa escarnecer. Destinava-se a ser uma advertência
à igreja, para levá-la a evitar a pretensão e hipocrisia, e acautelar-se de
roubar a Deus.
Não apenas para a igreja primitiva, mas para todas as gerações futuras,
este exemplo de como Deus aborrece a cobiça, a fraude, a hipocrisia, foi dada
como um sinal de perigo. Foi a cobiça que Ananias e Safira tinham acariciado em
primeiro lugar. O desejo de reter para si à parte que haviam prometido ao
Senhor levou-os à fraude e à hipocrisia.
Deus tem feito depender a proclamação do evangelho do trabalho e dos
donativos de Seu povo. As ofertas voluntárias e os dízimos constituem o meio de
manutenção da obra do Senhor. Dos bens confiados aos homens, Deus reclama certa
porção - o dízimo. A todos deixa Ele liberdade para decidirem se desejam ou não
dar mais do que isto. Mas quando o coração é tocado pela influência do Espírito
Santo, e é feito um voto de dar certa importância, aquele que fez o voto não
tem mais nenhum direito sobre a porção consagrada. Promessas desta espécie
feitas aos homens são olhadas como obrigatórias; seriam menos obrigatórias as
feitas a Deus? São as promessas julgadas no tribunal da consciência menos
obrigatórias que as escritas nos contratos humanos?
Quando a luz divina brilha no coração com clareza e poder inusitados, o
habitual egoísmo relaxa as garras e há disposição para dar para a causa de
Deus. Mas ninguém deverá pensar que lhe será permitido cumprir as promessas
feitas, sem protesto da parte de Satanás. Ele não tem prazer em ver o reino do
Redentor estabelecido na Terra. Sugere que a promessa feita foi excessiva, que
isto poderá prejudicar a aquisição de propriedades ou a satisfação dos desejos
da família.
É Deus quem abençoa os homens dando-lhes bens, e faz isto para que eles
possam contribuir para o avançamento de Sua causa. Ele envia o sol e a chuva.
Faz florescer a vegetação. Dá saúde e habilidade para se adquirirem meios.
Todas as nossas bênçãos são recebidas de Sua mão generosa. Em retribuição Ele
quer que homens e mulheres demonstrem sua gratidão, devolvendo-Lhe uma parte em
dízimos e ofertas - em ofertas de ação de graças, em ofertas pelo pecado e
ofertas voluntárias. Se o dinheiro entrasse para a tesouraria de acordo com
este plano divinamente recomendado - a décima parte do que ganhamos e as
ofertas liberais - haveria abundância para o avançamento do trabalho do Senhor.
Mas o coração dos homens torna-se endurecido pelo egoísmo, e à
semelhança de Ananias e Safira, são tentados a reter parte do preço, conquanto
pretendam estar a cumprir os requisitos de Deus. Muitos gastam dinheiro prodigamente
na satisfação própria. Homens e mulheres consultam o prazer e satisfazem o
gosto, ao passo que levam para Deus, quase de má vontade, uma oferta mesquinha.
Esquecem-se de que um dia Deus pedirá estrita conta de como Seus bens foram
usados, e que não aceitará a insignificância que levam à tesouraria, mais do
que aceitou a oferta de Ananias e Safira.
Do severo castigo infligido a esses indivíduos, quer Deus que
aprendamos também quão profunda é Sua aversão e desprezo por toda a hipocrisia
e engano.
Simulando haverem dado tudo, Ananias e Safira mentiram ao Espírito
Santo, e, como resultado, perderam esta vida e a futura. O mesmo Deus que os
puniu, condena hoje toda falsidade. Lábios mentirosos são-Lhe uma abominação.
Ele declara que na cidade santa "não entrará... coisa alguma que
contamine, e cometa abominação e mentira". Apocalipse 21:27. Seja a
verdade dita sem rebuços nem tibieza. Torne-se ela uma parte da vida.
Considerar levianamente a verdade, e dissimular para servir a planos egoístas,
significa o naufrágio da fé. "Estai, pois firmes, tendo cingidos os
vossos lombos com a verdade." Efésios 6:14. Quem profere inverdades,
vende sua alma por baixo preço. Suas falsidades podem parecer servir em
emergências; pode parecer, assim, que faz negócios vantajosos que não poderia
conseguir pelo reto proceder. Mas finalmente chega ao ponto em que não pode
confiar em ninguém. Sendo ele mesmo falsificador, não tem confiança na palavra
de outros.
No caso de Ananias e Safira, o pecado da fraude
contra Deus foi rapidamente punido. O mesmo pecado foi muitas vezes repetido na
história posterior da igreja, e é cometido por muitos em nosso tempo. Mas
embora possa não manifestar-se visivelmente o desagrado de Deus, não é menos
desprezível a Sua vista agora do que o foi no tempo dos apóstolos. A
advertência foi dada; Deus tem claramente mostrado Seu desprezo por este
pecado; e todos os que se dão à hipocrisia e à cobiça, podem estar certos de
que estão destruindo a própria alma.
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