Vamos
estudar no livro dos Salmos o maior contraste que poderíamos imaginar
entre dois caracteres. Quando Davi escreveu o Salmo 1, ele fez um
grande contraste entre o justo e o ímpio. Mas no Salmo 36, ele vai
muito além, comparando o caráter do ímpio com o caráter de Deus,
criando uma grande antítese.
Parece
que ele estava descontente com algumas pessoas que ele conhecia do
palácio e na sua própria família, como Amnom, Absalão, Aitofel, Joabe,
Simei e outros, em suas artimanhas malévolas, e começou a descrever o
caráter do ímpio. Entretanto, após um pouco de meditação, não mais
querendo fixar os seus olhos em tanta degeneração, ele voltou-se para
meditar no caráter de Deus. E escreveu por inspiração do Espírito
Santo. Suas palavras são penetrantes e reveladoras.
I – O CARÁTER DO ÍMPIO (V. 1-5)
Vamos começar fazendo algumas perguntas, e responder conforme nos diz a palavra inspirada deste salmo.
1. Como é o coração do ímpio?
“Há no coração do ímpio a voz da transgressão.” (v. 1). O grande
problema do homem é o coração, tanto do justo como o do ímpio, mas o
ímpio não sabe disso. O coração é a fonte da vida e é um símbolo de
nossa mente, onde se encontram todas as faculdades que regulam a nossa
consciência.
Pois,
se temos tantos poderes em nossa mente, em nosso coração, qual é a voz
que ouvimos de dentro para fora? O que nos fala a consciência? Davi
personaliza a transgressão e diz que ela tem uma voz, que fala ao
coração do ímpio. Ou seja, a consciência do ímpio está tão degenerada e
cauterizada que só lhe fala para transgredir todas as leis de Deus. Há
no coração do ímpio uma voz que não é mais a voz doce e suave da
consciência falando-lhe para agradar a Deus, mas é uma voz que lhe fala
para transgredir.
Mas
qual é o grande problema? Falta alguma coisa na consciência de tal
homem? Há alguma faculdade que ele não possui? Sim, ele tem a faculdade
espiritual morta: “não há temor de Deus diante de seus olhos” (v. 1). O
grande problema do homem é o coração, e o grande problema do coração é
a falta do temor de Deus. Os olhos de sua consciência têm uma visão
materialista, egoísta e avarenta: uma visão impura. Eles não veem a
Deus e sequer têm noção da presença do Eterno e onipresente. Portanto, o
temor de desagradar ao Senhor é algo que não passa pela cabeça do
ímpio, dentro ou fora da igreja.
Então,
por que o ímpio não teme nem ao seu semelhante a quem ele pode ver?
Note o verso 2: “Porque a transgressão o lisonjeia a seus olhos e lhe
diz que a sua iniquidade não há de ser descoberta, nem detestada.” A
transgressão continua lhe falando e agora o persuade de que não tem
problema nenhum porque ninguém vai saber, ninguém vai descobrir, e nem
será desprezado e odiado, e ele pode continuar fazendo o que quer.
Portanto,
o ímpio não tem o temor de Deus e não tem o temor do homem, porque age
escondido nas trevas e nas sombras da noite. E Cristo falando dessa
atividade ímpia, disse: “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e
os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras
eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se
chega para a luz, a fim de não serem arguidas as suas obras” (Jo
3:19-20).
Por
que os ímpios não temem a Deus e tampouco aos homens, como disse o
juiz iníquo, da parábola (Lc 18:2)? Porque pensam que não serão
descobertos. Julgam que as suas obras não serão arguidas, eles pensam
que não serão julgados. Vivem como se Deus não existisse. Mas Jesus
Cristo advertiu a todos: “Nada há encoberto que não venha a ser
revelado; e oculto que não venha a ser conhecido” (Lucas 12:2).
2. Como são as palavras do ímpio?
V. 3: “As palavras de sua boca são malícia e dolo.” Malícia é maldade e
dolo é engano. É assim que se manifestam as palavras do homem ímpio:
através da aparência de boas intenções, ele comete a maldade pelo seu
engano, porque fala uma coisa objetivando outra. Quando as pessoas
menos percebem, elas foram enganadas e são vítimas da maldade de um
homem que já se foi embora. E muitas vezes, já estão fora do seu
alcance.
As
palavras têm uma grande influência em quem fala e na vida de quem
ouve. O sábio Salomão disse: “As palavras dos perversos são emboscadas
para derramar sangue, mas a boca dos retos livra os homens.” “Se o
governador dá atenção a palavras mentirosas, virão a ser perversos
todos os seus servos.” “Palavras agradáveis são como favo de mel: doces
para a alma e medicina para o corpo” (Pv 12:6; 29:12; 16:24). As
palavras podem construir ou destruir; podem ferir ou curar.
3. Como são as atitudes do ímpio?
V. 3, (2ª p): “Abjurou o discernimento.” Um dos sentidos da palavra
“abjurar” é abandonar, deixar. A maioria das versões, de modo mais
simples, usa a palavra “deixar.” Assim acontece com o ímpio em suas
atitudes: ele deixou de lado todo o discernimento.
Discernimento
tem que ver com a mente e as atitudes. Se as suas faculdades
intelectuais, morais e espirituais estão em harmonia, então, você terá
excelente discernimento capaz de distinguir entre o bem e o mal (Hb
5:14). Mas os ímpios não gostam de discernimento, porque isso os
levaria a fazer juízo entre o certo e o errado, e como eles sabem que
estão no erro, pelos padrões da sociedade, e preferem o erro, então, o
jeito é evitar todo o discernimento, para que eles mesmos não sejam
condenados.
Portanto,
a sua pregação e defesa será: “Não faça julgamento de ninguém. Cada
cabeça é uma sentença. Ninguém tem o direito de dizer se eu estou certo
ou errado. Se você é feliz assim do seu jeito, então, prossiga assim.”
Eles abandonaram todo discernimento e juízo. Eles não gostam de leis e
regulamentos. Não gostam de ser discriminados. E assim anda a passos
largos esta sociedade sem regras, sem normas, sem leis, e caminha para a
destruição. Assim prosperam as doutrinas do Existencialismo e
Evolucionismo em sua declarada impiedade.
4. E como são as obras dos ímpios?
Davi continua dizendo que eles abandonaram “a prática do bem” (V. 3,
úp). É uma simples consequência do rumo dos seus pensamentos e
atitudes. Suas obras espelham coerentemente o mal que está em seu
coração. Não nos iludamos com as manifestações de caridade que existem
na TV e outros meios de comunicação. Tudo isso é feito com dúbias
intenções. Eles dão casas, roupas e comida para os pobres, mas com a
intenção de fazer propaganda do seu nome e render muitos dividendos
nessa empreitada. Eles fazem tudo isso com segundas intenções.
Portanto, Deus diz que isso não vale nada! São justiças e caridades
baseadas no egoísmo e não são aceitas. São meros “trapos da imundícia”
(Is 64:6).
5. Qual é a essência da vida do ímpio?
Na conclusão desta parte, Davi resume a vida do ímpio em 3 estágios,
(V. 4): “No seu leito, maquina a perversidade, detém-se em caminho que
não é bom, não se despega do mal.”
Meditação. No 1º estágio,
ele “maquina”. Esta palavra-chave significa “planejar, meditar,
inventar; premeditar.” O ímpio, na sua cama, antes de se levantar,
planeja nas suas meditações matinais como irá executar o mal e a
perversidade. Ele acorda pensando em praticar o mal. Ele planeja
enganar, roubar, adulterar, matar e praticar toda sorte de males. Ele
pratica uma meditação nada saudável; é uma meditação perversa, cheia de
ideias más. O justo acorda e o seu primeiro pensamento se dirige a
Deus e a Sua Palavra. “O seu prazer está na Lei do Senhor e na Sua Lei
medita de dia e de noite”. (Sl 1:2).
Consideração. No 2º estágio
da vida ímpia, ele se detém no caminho do mal, ou seja: ele fica
detido, ele analisa todas as possibilidades, calcula todas as
circunstâncias, pondera em todos os resultados, em uma tentativa de ser
bem sucedido. Disse Salomão: “Quanto ao ímpio, as suas iniquidades o
prenderão, e, com as cordas do seu pecado, será detido” (Pv 5:22, RC).
Ele está detido, obcecado, analisando o seu plano de ação, e
considerando as vantagens de suas próximas ações.
Identificação. No 3º estágio,
disse Davi, ele “não se despega do mal”. Fica completamente decidido, e
deseja arrostar as consequências, sejam elas quais forem, porque ele
não tem nada a perder. E, como dizem as outras versões nesse texto, ele
“não aborrece o mal”. A implicação é a de que ele ama o mal e o pecado
e a iniquidade, e começa a se identificar com o pecado. A grande
diferença entre o justo e o ímpio é a de que o justo odeia, aborrece o
mal, enquanto que o ímpio ama o mal, o pecado e a perversidade. E se
alguém ama o mal, não o aborrece, não odeia o pecado, isso faz parte de
todos os seus atos. É a sua vida e o seu prazer. Então, só pode
esperar pelas trágicas consequências.
Aqui
estão as 3 etapas do pecado, e de uma vida de pecado: Meditação,
Consideração e Identificação. Qualquer pecado passa por esses 3
estágios. O pecador planeja o mal, considera o caminho em que estará
entrando, e finalmente, se identifica com o pecado, amando-o, e se
apegando a ele. É por isso que no Juízo final, Satanás e todos os seus
anjos serão destruídos. E assim todos os pecadores, juntamente. Porque o
fogo que destrói o pecado terá de destruir aqueles que se identificaram
com o pecado, e estão apegados a ele.
E
quanto a você: Você aborrece o mal? Odeia o pecado? Ou não o detesta?
Por acaso você gosta de pecar, ama o pecado? Disse o apóstolo Paulo
sobre o caráter de Jesus: “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade.”
(Hb 1:9). Podemos amar a justiça e praticá-la, como fez o nosso
Salvador. Mas antes disso, precisamos odiar o pecado e a iniquidade.
Precisamos ter inimizade contra o nosso maior inimigo e aborrecer o
pecado. Esta inimizade é um dom que Deus coloca em nossa natureza, sob o
poder do Espírito Santo. Ele prometeu: “Porei inimizade” contra
Satanás e contra o mal (Gn 3:15).
As
palavras iniciais do livro dos Salmos, apresentam-nos os 3 estágios da
vida do ímpio e afirmam a resolução inabalável e invencível dos
justos, em um caminho diametralmente oposto: “Bem-aventurado o homem
que (1º) não anda no conselho dos ímpios, (2º) não se detém no caminho
dos pecadores, (3º) nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o
seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de
noite.” (Sl 1:1-2).
6. Quem são os ímpios?
Alguém poderia dizer: É, de fato, os ímpios são maus, eles são
perversos, eles vivem na iniquidade, eles não têm lei, eles só praticam
a maldade, e merecem ser punidos. Eles merecem a morte. Davi também
pensava assim. Mas num belo dia, o profeta Natã veio à sua presença e
lhe contou a história de um homem rico que possuía muito gado e muito
rebanho de ovelhas e roubou a ovelha doméstica de um homem pobre. Davi
se levantou de seu trono e julgou corretamente: “Tal homem deve morrer!”
E Natã lhe respondeu: “Tu és o homem, que deve morrer, porque
adulteraste com a mulher do teu próximo e o mataste para ficar com
ela.”
Quem
é o ímpio deste salmo, na interpretação do apóstolo Paulo? Ele disse:
“Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma;
pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão
debaixo do pecado... Não há temor de Deus diante de seus olhos... pois
todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3:9,18,23). Paulo prova
que esse ímpio, sem o temor de Deus, em pecado, cheio de iniquidade, em
pensamentos, palavras e obras, somos todos nós, ele se incluindo
também.
Mas
se eu sou esse ímpio, se você é esse ímpio, cheio de corrupção e
maldade, cheio de pecado, merecendo o castigo e a morte, onde está a
nossa esperança? A nossa única esperança está no caráter de Deus.
II – O CARÁTER DE DEUS (V. 6-10)
Tendo
analisado o caráter pecaminoso dos ímpios, Davi agora, apresenta a
grande esperança de todos os ímpios, na única esperança de todos os
pecadores, ele faz um grande contraste do caráter dos ímpios com o
caráter de Deus. A única esperança dos ímpios, a nossa única esperança,
está no caráter de Deus. Se não fosse o caráter amorável de Deus,
todos nós estaríamos perdidos.
1. A sublimidade da misericórdia de Deus. V.
5: “A tua misericórdia, Senhor, está nos céus, e a tua fidelidade
chega até às mais excelsas nuvens” (RC). Misericórdia é a compaixão
despertada pela miséria alheia. Os anjos não precisam de misericórdia,
porque eles não caíram em pecado. Esta é uma necessidade humana. E onde
está a nossa esperança? Nossa única esperança está na misericórdia de
Deus que alcança os céus.
Somos
como aquele paralítico que estava deitado num leito, pobre, miserável,
um farrapo humano. E lá estava ele no tanque de Betesda. E ali Se
encontrava Jesus diante dele. Foi pela misericórdia de Jesus Cristo que
esse homem pôde se levantar. A sua esperança estava no poço, mas era
uma esperança vã. Somente Jesus pôde ajudá-lo. E, portanto, disse-lhe:
“Levanta-te e anda!” E ele deu um salto para nunca mais ser um
paralítico e glorificava o nome de Jesus, a cada passo. Nossa esperança
se encontra em Cristo.
A
misericórdia de Deus é sublime, excelsa, altaneira, “chega até os
céus”. O que significa isso? Davi interpreta as suas próprias palavras,
significando a grandeza deste atributo de Deus, como no Salmo 103:11:
“Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim é grande a Sua
misericórdia.” O Seu amor, a bondade e misericórdia são imensos.
Mas
não basta isso, porque também a Sua fidelidade se eleva “até as
nuvens”. A bondade e a fidelidade sempre estão juntas, a fim de nos
certificar de que as Suas promessas de misericórdia serão fielmente
cumpridas. Imagine um político rico que se aproximasse de um mendigo, e
compadecido dele lhe prometesse que lhe dará uma casa e comida todos
os dias. Mas, como é comum, o rico vai embora e se esquece do pobre. O
que aconteceu? O rico teve misericórdia, mas não teve fidelidade. A
misericórdia de Deus está sempre ligada à Sua fidelidade, e ambas
alcançam os céus, em sublimidade e imensidão.
2. A profundidade da justiça de Deus.
Assim se expressa o salmista: V. 6: “A tua justiça é como as montanhas
de Deus; os teus juízos, como um abismo profundo.” Deus é justo e a
Sua justiça é tão alta como as montanhas do Criador, e, ao mesmo tempo,
é tão profunda. Sua justiça e juízos são insondáveis. A Sua justiça se
manifesta nos Seus juízos, que são como um “abismo profundo”. O homem
caiu no mais profundo lamaçal de podridão e iniquidade. Mas Deus estava
pronto para abaixar-Se e erguer o homem da sujeira do pecado e da
imundície da sua iniquidade.
A
justiça de Deus é tão profunda que nem mesmo Satanás podia entender
como é que Deus pode ser ao mesmo tempo “justo e o justificador daquele
que tem fé em Jesus” (Rm 3:26). A aplicação da justiça era uma
reivindicação de Satanás, quando Adão pecou. Ele exigia que Adão
deveria ser morto imediatamente. Mas a misericórdia de Deus o
preservou, dando-lhe uma segunda oportunidade e assim também a todos
nós. “Senhor, Tu preservas os homens e os animais” (V.6,úp). Até os
animais são objetos da justiça divina, que é tão profunda e insondável.
Mas os homens estão em primeiro lugar. É por causa dos homens que os
animais são preservados, e não o contrário.
Os
pecados impunes, não estavam sendo castigados, em sua justiça máxima
(Rm 3:25), desde Adão. Isso o inimigo não podia entender e acusava a
Deus de injustiça. A justiça de Deus surpreendeu ao inimigo que não
podia contar com os Seus mais profundos recursos. Então, Cristo foi
enviado, e nEle a justiça de Deus foi cumprida e derramada a ira divina
sobre “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” e transforma
ímpios pecadores em homens justos. Porque “Cristo... morreu ... pelos
ímpios” que somos nós todos (Rm 5:6).
3. A preciosidade dos atributos de Deus. Então, agora, podemos dizer com o salmista: V. 7: “Como é preciosa, ó Deus, a Tua benignidade!
A misericórdia de Deus nos provê a fortaleza.
V. 7: “Por isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das Tuas
asas.” A benignidade de Deus é tão preciosa que todos dependemos dela
para viver. “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos
consumidos.” (Lm 3:22). Acolhemo-nos à sombra das asas do Altíssimo, em
Sua poderosa fortaleza. Estamos seguros porque temos a Deus como o
nosso Refúgio.
Mas,
muitas vezes não queremos a proteção divina, e nos acolhemos nas asas
de poder humano. Disse Cristo a Sua nação, que O rejeitava: “Quantas
vezes quis Eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus
pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” Quantas vezes
fazemos o mesmo, e nos afastamos da proteção de Cristo! Quantas vezes
nós O traímos como Judas, negamos como Pedro e O abandonamos como os
demais discípulos! Mas a misericórdia de Cristo é tão preciosa que não
nos abandona, e ainda nos atrai com as cordas de Seu amor, e nos recebe
com terna compaixão. Porque “para vós outros que temeis o Meu nome
nascerá o Sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas” (Ml 4:2).
A misericórdia de Deus também provê a fartura.
V. 8: “Fartam-se da abundância da Tua casa, e na torrente das Tuas
delícias lhes dás de beber.” Quão preciosa é a misericórdia de nosso
Deus! Comemos e bebemos das fontes e do manancial das delícias de Suas
bênçãos incontáveis.
A misericórdia de Deus provê a fonte.
V. 9: “Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz.”
Jesus Cristo é a Fonte da vida: “A vida estava nEle e a vida era a luz
dos homens.” (Jo 1:4). Esta é a interpretação cristológica que João faz
das palavras do salmista. E Cristo ainda completa: “Eu sou a Luz do
mundo; quem Me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz
da vida” (Jo 8:12).
4. A perpetuidade do caráter de Deus.
V. 10: “Continua a tua benignidade aos que Te conhecem, e a Tua
justiça, aos retos de coração.” Assim vaticinou o profeta Jeremias: “As
Suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã” (Lm 3:22-23). E
Davi completa no Salmo 107: “A Sua misericórdia dura para sempre”. (Sl
107:1). E sobre a justiça divina? “A Tua justiça é justiça eterna” (Sl
119:142). Graças a Deus porque a Sua misericórdia e a Sua justiça
continuam, e assim será pelos séculos intérminos da eternidade. Pela
misericórdia, temos os nossos pecados perdoados. Pela Sua justiça,
recebemos diariamente de Cristo a força para vencer a Satanás. A
justiça de Cristo para a nossa justificação nos é imputada; mas para a
nossa santificação nos é comunicada.
Mas,
para quem continua a Sua misericórdia e a Sua justiça? A misericórdia é
um atributo que se manifesta de modo geral, e com justiça, a todos os
seres humanos, santos ou ímpios pecadores. Mas de um modo particular e
especial, ela será sempre vista e sentida por pessoas especiais.
Os que conhecem a Deus.
Conhecer ao nosso Criador é a base para a vida eterna. Disse Jesus
Cristo, em uma oração dirigida a Deus: “E a vida eterna é esta: que te
conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem
enviaste.” (Jo 17:3). E Ele mesmo indicou como podemos conhecê-lO, não
apenas por um conhecimento intelectual, mas através de um conhecimento
experimental: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida
eterna, e são elas mesmas que testificam de mim”. “Buscai no Livro do
Senhor e lede” (Jo 5:39; Isaías 34:16). Precisamos examinar e buscar na
Bíblia o nosso relacionamento com Deus e com Jesus Cristo, através do
Espírito Santo, que foi Quem inspirou as Escrituras.
Os retos de coração.
Esta é a vida de quem conhece a Deus de modo experimental: os que
conhecem a Deus são retos de coração. Essas pessoas são os homens e
mulheres justos de coração. O salmo começou com o coração perverso do
ímpio e termina com o coração reto dos justos. Se o coração é o grande
problema dos ímpios, é a solução para os justos. Não que por natureza
os cristãos sejam melhores do que os ímpios, mas porque já entregaram o
seu coração a Deus que nos transformou e purificou, e agora, temos a
mente de Cristo (1Co2:16).
Graças
a Deus que os Seus atributos de caráter, a misericórdia e a justiça
continuam para sempre e eternamente. Este é o perfeito caráter divino.
Jamais foi igualado, jamais foi sequer imaginado. Os anjos cantam
alegremente: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso,
Aquele que era, que é e que há de vir.” (Ap 4:8). Este é o santo e
perfeito caráter de Deus, cuja misericórdia e justiça continuam a
fortalecer os justos até que Ele venha. E eles O louvarão por Seus
atributos continuamente, porque os atributos de Deus são eternos como
Ele mesmo.
CONCLUSÃO (V. 11-12)
Davi termina o salmo com esta oração: V. 11: “Não me calque o pé da insolência, nem me repila [expulse, afugente] a mão dos ímpios.”
Esta
é a oração de conclusão que Davi faz para se proteger. Ele ora para
que os pés dos insolentes e orgulhosos não o atinjam. Ora para que as
mãos dos ímpios não o afugentem. Ele sabia muito bem o que isso
significava. O seu próprio filho Absalão se encheu de orgulho e o
expulsou de seu próprio palácio, ameaçando matá-lo para usurpar-lhe o
trono. Mas aquele filho transviado não se lembrou de que o seu pai era
um filho muito amado de Deus, e que nenhum exército jamais o vencera.
Sempre
devemos orar para que o mal dos ímpios não chegue até nós. Sempre
devemos estar em comunhão com Deus a fim de que Ele nos avise contra o
mal que os pecadores intentam contra nós. O Seu próprio Filho Jesus
Cristo precisou dos anjos que avisassem a José, seu pai terrestre, para
que tomasse cuidados especiais porque Herodes queria matá-lO.
Nosso
maior inimigo, Satanás, é um adversário vencido. Jamais deveríamos
esquecer que se ele e todos os demônios são poderosos, Cristo é o
Todo-poderoso, Ele é o Senhor dos Exércitos e dará uma vitória
esmagadora ao povo de Deus.
No final,
quando todas as coisas estiverem resolvidas, quando tiver passado o
Milênio (Ap 20), poderemos dizer, com o salmista, em suas últimas
palavras deste salmo: V. 12: “Tombaram os obreiros da iniquidade; estão
derrubados e já não podem se levantar.” Mas os justos estarão em pé
diante de Deus e do universo. Vale a pena nós nos prepararmos. Você está
se preparando?
Então,
a Terra será purificada com fogo e transformada no Paraíso dos salvos.
Então, “não se levantará por duas vezes a angústia” (Na 1:9). Jamais
se levantará novamente o pecado com todas as suas atrozes
consequências. Todo o Céu proclamará a harmonia eterna, e por toda a
eternidade será exaltado o caráter do Criador, em Sua justiça e
misericórdia, atributos tão sublimes que chegam até as nuvens e tão
elevados que alcançam os Céus.
Pr. Roberto Biagini
Mestrado em Teologia
prbiagini@gmail.com
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