domingo, 2 de outubro de 2011

Que Fazer com o Sentimento de Culpa?

De todos os conflitos emocionais que atribulam o coração, um dos mais generalizados e mais difíceis de superar é o sentimento de culpa. Este nasce da consciência e convicção que tem o homem de sua própria pecaminosidade.
O sentimento de culpa é uma convicção natural que surge como consequência de nossas próprias faltas. É uma consequência do pecado; desse mesmo pecado que nos separa de Deus, nos entristece, e é capaz de conduzir-nos ao desespero e à ruína, se não for aplicado o grande remédio. Por outro lado, há uma forma – e uma só – de terminar com o sentimento de culpa: é a que veremos a seguir neste estudo.
O rei Davi depois de haver caído numa grave falta moral, expressou a angústia e abatimento que o dominavam, nestas significativas palavras: “Envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a Tua mão pesava dia e noite sobre mim; e o meu vigor se tornou em sequidão de estio” (Salmo 32:3-4). E logo acrescentou, numa sentida oração que dirigiu a Deus: “Não me repulses da Tua presença, nem me retires o Teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da Tua salvação” (Salmo 51:11-12).
Por que perdera a alegria? Por que estava angustiado? Era o pecado que o desesperava. Era o sentimento de culpa, consequente da violação da lei de Deus, que o submergia nessa profunda tristeza. E rogava ao Senhor que não o privasse de Sua presença e que, graças ao maravilhoso remédio provido por Seu amor, lhe devolvesse a alegria dasalvação que dele fugira.
A condição de Davi é típica da experiência de milhares de homens e mulheres que em nossos dias vivem perplexos, oprimidos por um tremendo drama interior, angustiados por um problema para o qual não encontram solução satisfatória.
Que fazer, pois, com o sentimento de culpa?
A única esperança de reconquistar a paz e a felicidade é o retorno da alma a Deus, fonte única e suprema de toda felicidade. Porém, como o pecado abriu um abismo entre nós e nosso Criador, Cristo, com Sua vida de perfeita justiça e Sua morte expiatória, estendeu a ponte que nos permite o acesso a nosso Pai celestial.
Por meio de Jesus, e mercê de nossa fé nEle, conseguimos a reconciliação com Deus. Aceitando-O como nosso Salvador pessoal, como nosso Substituto que paga o preço de nossa redenção, e voltando-nos para Ele, entregando-Lhe nossa vida, recebemos como dom gratuito, outorgado pela graça do Senhor, a justificação.
Desejamos investigar agora na Palavra de Deus como se processa nosso encontro com Cristo; o que significa recorrer a Ele; o que nos induz a nEle depositar nossa fé.
Porque a fé é um princípio ativo que se traduz em ação. E nossa fé em Jesus, nossa aceitação do Seu sacrifício, nos leva a dar dois passos, que especificamente, tornam possível nossa justificação, eliminam o sentimento de culpa, e nos convertem em beneficiários do perdão de Deus e da paz que só Ele nos pode dar. Referimo-nos ao arrependimento e confissão.

O Arrependimento

O arrependimento é uma atitude da mente, um estado da alma, que constitui a primeira condição indispensável para que Cristo aplique em nossa vida Sua virtude curadora.
Quando São João Batista pregava a mensagem de reforma às margens do rio Jordão dizia: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus” (Mateus 3:2).
Na memorável ocasião em que São Pedro pregou de Cristo a uma vasta multidão, o dia de Pentecostes, os circunstantes, tomados de uma profunda convicção de sua pecaminosidade, exclamaram suplicantes: “Que faremos, irmãos?” O apóstolo respondeu: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados” (Atos 2:37-38).
Mais tarde, falando em Jerusalém, deu a mesma instrução fundamental: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados” (Atos 3:19).
No arrependimento verdadeiro que, juntamente com a confissão, cura a alma de sua culpabilidade e lhe devolve a paz, há três elementos básicos:
1) Reconhecimento do pecado, falta ou imperfeição do caráter.
2) Tristeza pelo pecado.
3) Repúdio, isto é, desejo de abandoná-lo.
Não é mero temor ao castigo ou terror em face das consequências do mal praticado, mas uma tristeza pelo pecado em si, mágoa por haver ofendido a nosso amante Pai celestial. O mero temor pelos possíveis resultados não proporciona alívio nem atrai o perdão e a salvação. Ao contrário, submerge a pessoa na angústia. Tal é o caso de Judas, cujo medo o levou ao desespero e ao suicídio. Tal também o caso de Esaú, que só quis livrar-se das consequências da profanação em que incorreu ao vender os benefícios espirituais da primogenitura por um prato de lentilhas. Porém seu falso arrependimento não o fez odiar o pecado e abandoná-lo, mas persistiu numa vida depravada.
O arrependimento salvador que, permite ao Senhor proporcionar à alma Sua graça redentora, é, por outro lado, resultado da obra do Espírito de Deus no coração. Uma das funções do Espírito Santo é, conforme explica São João, convencer o homem do seu pecado (João 16:8).
Cada vez que o ser humano sente uma leve insinuação que no íntimo de sua consciência o faz experimentar pesar por haver agido mal, ou pelos defeitos de seu caráter, pode estar seguro de que se trata da obra benéfica e poderosa do Espírito divino que o está guiando ao arrependimento. Portanto, ao indivíduo compete responder-Lhe, pois de outra sorte, desprezando-O com indiferença, contrista o Espírito Santo e endurece seu coração, tornando-o menos sensível a essa voz celestial que o chama (Efésios 4:30).
Em compensação, quando o coração não se endurece, mas reconhece sua necessidade de Deus, quando cede à suave influência do Espírito Santo, o pecador começa a compreender a santidade da lei divina, e sente o terror de aparecer tal como é, com sua impureza, à vista de Deus. Anela ser purificado e restituído à glória do Céu, e coloca-se em situação de permitir ao Senhor favorecê-lo com Sua graça perdoadora e purificadora.
Um coração orgulhoso, cheio de presunção, não vê suas debilidades nem percebe seus pecados, fecha as portas para a graça de Deus. Por outro lado, o arrependimento sincero, a convicção e reconhecimento da própria pecaminosidade, ensejam a benção e favor divinos.
Para ensinar esta grande verdade Jesus relatou a seguinte parábola: “Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um fariseu e o outro publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças Te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê, propício a mim, pecador ! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta, será humilhado; mas o que se humilha, será exaltado” (Lucas 18:10-14).
De fato, o reconhecimento de nossa premente necessidade, e a contrição do coração, constituem o maior argumento ante o trono do Altíssimo, para conseguir a justificação por meio de Cristo, e por conseguinte, o perdão e a paz.

A Confissão

Jesus disse uma vez aos fariseus: “Os sãos não precisam de médico” (Lucas 5:31). Na realidade, a Bíblia nos ensina que “não há justo, nem seque rum…pois todos pecaram” (Rom 3:10 e 23). Porém lamentavelmente há pessoas que pensam estar sãs, e assim impossibilitam a maravilhosa ação terapêutica de Cristo, o grande Médico do Céu. O melhor remédio nada fará pelo enfermo que não reconheça sua condição e esteja disposto a tomar o medicamento.
A confissão é o segundo passo que o homem dá para alcançar a justificação pela fé. O pecador, arrependido, humilhado e contrito, consciente de seu pecado, apresenta-se diante do Senhor, e exercendo fé no sacrifício de Cristo, confessa suas faltas e perde perdão.
A confissão é o complemento indispensável ao arrependimento, para obter a justificação pela fé. “O que encobre as suas transgressões” – dizem as Escrituras – “jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Provérbios 28:13).
Sendo assim, como se deve fazer a confissão? Infelizmente, nesta matéria, assim como em várias outras, o cristianismo popular, apartando-se do claro ensinamento da Bíblia e do único método propiciado pelas Escrituras e reconhecido por Deus, incorreu num grave equívoco.
Conforme as Escrituras, o grande Livro de Deus, base única de nossa fé, a confissão auricular é de todo ineficaz e inoperante, e ademais, a experiência dá testemunho de seus graves prejuízos e más consequências.
A Bíblia ensina que a confissão deve ser feita a deus, não a um homem. Lemos: “Disse: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e Tu perdoaste a iniquidade do meu pecado” (Salmo 32:5). Note-se aqui que a confissão é feita “ao Senhor” e não a um ministro.
Como demonstração categórica de que nenhum ministro tem a faculdade de receber confissões e pronunciar a absolvição, e que estas funções pertencem exclusivamente a Deus, vemos o claro ensino do próprio apóstolo São Pedro, que, ao condenar uma vez o delito de simonia, disse ao culpado: “Arrepende-te, pois, da tua maldade, e roga ao Senhor; talvez que te seja perdoado o intento do coração” (Atos 8:22). São Pedro não se arrogava atribuições de perdoar ou absolver a este pecador, e o instruiu para que se arrependesse e elevasse sua confissão diretamente a Deus.
Graças a Deus não necessitamos ir com as intimidades de nossa vida a um ser humano, tão falível quanto nós, mas podemos recorrer diretamente a Cristo, que é nosso Sumo Sacerdote e nosso melhor amigo. O homem perverteu o plano de Deus para obter sua libertação do sentimento de culpa. A confissão auricular e a psicanálise são deformações, substitutos pobres e inoperantes do método bíblico, autorizado pelo Céu, e único sistema eficaz.
À base de todo problema emocional há, em geral, um problema moral. À base de todo conflito há, de ordinário, a transgressão de um princípio moral. E o pecado é eliminado pelo arrependimento e confissão. A psicanálise não cura: só pode aclarar, na melhor das hipóteses, a confusão mental. A confissão auricular não cura a alma. Unicamente o arrependimento e a confissão, nos podem livrar do sentimento de culpa, se praticados conforme indica a Bíblia.

Método para Falar com Deus

O cristão tem o privilégio de falar com Deus como a um amigo e abrir-Lhe plenamente seu coração por meio da oração. A oração é a prece elevada ao Senhor de forma espontânea, e neste sentido diferencia-se fundamentalmente da reza, que é a repetição de uma fórmula escrita por outrem. É o diálogo livre da alma com seu Deus.
Pela oração expressamos louvores e gratidão a nosso pai Celestial, que nos cumula de graça, todos os dias. Em oração levamos a Deus nossas angústias, fardos e aflições, e Lhe apresentamos todos os problemas, pedindo-Lhe Sua graça, direção e ajuda, pois Ele tem uma solução para cada um deles. Pela oração colocamos, todos os dias, nossos planos aos pés de Cristo, para pedir-Lhe que nos guie pelas Suas providências.
Por meio desta conversação íntima com deus confessamo-Lhe de forma específica e detida todos nossos pecados, nossos erros, faltas, imperfeições, e Lhe pedimos perdão conforme a sua promessa. Pois a confissão não deve ser feita de modo ligeiro ou de forma descuidada, mas ser sincera, profunda, específica e mencionar pecados particulares.
É também por meio da oração que pedimos a Deus Seu poder e graça para vencer o pecado e sobrepormo-nos ao mal, para viver uma vida triunfante e feliz sobre a qual a tentação deixe de ter império.

A Benção do Perdão

São João escreveu: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:9). De sorte que, se nossa contrição é sincera, nosso arrependimento profundo e nossa confissão franca e completa, teremos fé em Cristo como nosso Salvador e abrigaremos a absoluta segurança de que Deus cumprirá Sua promessa; e antes de levantarmos os joelhos, agradeceremos a deus pela benção do perdão.
Saíremos de nossa audiência com deus, realizada na intimidade de nossa câmara secreta, totalmente aliviados, reconfortados e felizes, porque o peso da culpa terá desaparecido para sempre.
“Quanto dista o Oriente do Ocidente” – nos diz a Palavra inspirada – “assim afasta de nós as nossas transgressões” (Salmo 103:12). “Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades, e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar” (Miquéias 7:19). Graças a Deus por estas categóricas promessas. É realmente admirável o resultado do arrependimento e confissão: como põe em ação o amor e a misericórdia de Deus, e enchem a alma de paz.
Mahatma Gandhi, grande líder da índia, não era cristão, porém cria na paternidade de Deus. Certo dia, quando criança, furtou dinheiro de seu pai e comprou carne. Ao deitar-se naquela noite não tinha paz no coração. Depois de horas de agonia, saltou da cama e , não se animando a falar diretamente com o progenitor, escreveu a confissão.
Foi então à habitação onde este jazia enfermo, e lhe entregou a nota. À medida que este lia a confissão do filho, corriam-lhe profusamente as lágrimas pelas faces. O rosto triste, porém perdoador e cheio de amor daquele pai, nos dá uma imagem exata de nosso Pai celestial, que está desejoso de perdoar nossos pecados, porque nos ama entranhavelmente.
Com razão diz o salmista: “Bendize, ó minha alma ao Senhor, e não te esqueças de nem um só de Seus benefícios. Ele é quem perdoa todas as tuas iniquidades; quem sara todas as tuas enfermidades; quem da cova redime a tua vida, e te coroa de graça e misericórdia” (Salmo 103:2-4).
Quão desesperadora é a agonia do que não confessa seus pecados, e quão maravilhosos a paz e gôzo do homem que foi perdoado. Na experiência do rei Davi achamos um contraste notável e exemplificador. Vejamos seu estado antes de haver confessado seu pecado: “Enquanto calei” – disse ele “os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus gemidos todo o dia. … E o meu vigor se tornou em sequidão de estio” Achava-se enfermo, com os ossos envelhecidos, gemendo pelo tormento e angústia.
Porém logo se produz uma mudança admirável. Resolve confessar suas culpas. “Confessei-Te o meu pecado” – expressa ao relatar sua história – “e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e Tu perdoaste a iniquidade do meu pecado”.
Quando isto ocorreu, quando, contrito ante Deus, abriu-Lhe o coração e confessou sua maldade, foi alcançado pelas ondas do amor divino, cumpriu-se a promessa do Céu, e se sentiu amplamente perdoado e reabilitado, restituído à harmonia com o Pai celestial.
Depois desta experiência tão reconfortante, expressou Davi a felicidade e paz que o inundavam com estas palavras: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é encoberto.Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade” (Salmo 103:2-4, 32:3-5, 1 e 2).
Naturalmente para que possa ser exercido o perdão misericordioso de Deus em nosso favor, requer-se que, quando tivermos ofendido ao nosso próximo, além da confissão à Deus, confessemos também a nosso semelhante a falta, peçamos perdão e façamos, no possível, a reparação necessária. O apóstolo São Tiago nos instrui neste sentido: “Confessai, pois, os vossos pecados unas aos outros” (Tiago 5:16).
Além disso, é condição básica que nós mesmos estejamos dispostos a perdoar aos que tenham faltado conosco. Na oração magistral do pai Nosso, Cristo nos ensinou a orar desta maneira: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores”. “Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas” – continua dizendo Jesus – “Também vosso pai celeste vos perdoará; se , porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mateus 6:12, 14 e 15).
Ninguém se desanime pensando que por natureza é rancoroso e portanto não pode perdoara seus semelhantes. Quando Cristo toma posse do coração, transforma sua natureza, e implanta no homem uma nova modalidade de vida, e o que de outra maneira é impossível, se torna perfeitamente natural. O fato é que não podemos receber o perdão de Deus e a paz se abrigarmos ódio e rancor. Muitas das angústias humanas tem sua raíz num espírito degenerado, que não se enterneceu pelo amor de Deus, que conserva sua velha natureza, e , portanto não perdoa nem esquece. Na experiência de tal pessoa não podem existir o gôzo e a felicidade que Cristo lhe quer dar.
Em resumo, pois, uma vez cumpridos estes dois requisitos, o arrependimento e a confissão, e mercê da fé que a pessoa exerce em Cristo, fica perdoada, reconciliada com Deus, justificada, e com direito à vida eterna pelos méritos da vida perfeita e morte expiatória de Jesus. E o coração se enche de paz e contentamento. Realiza-se plenamente, então, a experiência que é mencionada na Epístola aos Romanos: “Justificados, pois, mediante a fé, tenhamos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rom 5:1).

Um Caminho Sempre Livre

Ocorre sem dúvida às vezes que a pessoa que está atribulada pela convicção de sua culpabilidade, sente-se indigna de ira Deus e de buscar a Cristo para apresentar seu arrependimento na presença do pai e fazer a confissão de suas faltas. A fé nas seguras promessas de Deus deveria vencer este obstáculo, de vez que o Senhor está ansioso por receber-nos tais como somos, perdoando-nos, reabilitando-nos com Sua graça, e desejando recolher-nos nos braços de Seu amor e misericórdia. Por meio de nosso Salvador, o caminho a Deus está sempre livre.
Cristo conhece nossa condição e nos compreende, porque passou por todas as tentações. Portanto está em situação de nos ajudar. “Porque não temos Sumo Sacerdote que não possa compadecer-Se das nossas fraquezas, antes foi Ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4:15-16).
Em um dos livros cuja leitura tem feito maior bem neste mundo, depois da Bíblia, Caminho a Cristo, achamos estas palavras, escritas com toda devoção por sua autora, Ellen G.White, pessoa de vida piedosa e de profunda experiência cristã: “Quando virdes vossa pecaminosidade, não espereis até que vos tenhais melhorado. Quantos há que julgam não ser suficientemente bons para ir a Cristo! Tendes esperança de tornar-vos melhor mediante vossos próprios esforços? “Pode o etíope mudar sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso também vós podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal”(Jer 13:23). Só em Deus é que há socorro para nós. Não devemos esperar persuasões mais fortes, melhores oportunidades ou um temperamento mais santo. De nós mesmos nada podemos fazer. Temos de ir a Cristo exatamente como nos achamos” (Caminho a Cristo pág.28).
“Jesus estima que a Ele nos cheguemos tais como somos, pecaminosos, desamparados, dependentes. Podemos ir a Ele com todas as nossas fraquezas, leviandade e pecaminosidade, e rojar-nos arrependidos a Seus pés. É Seu prazer estreitar-nos em Seus braços de amor, atar nossas feridas, purificar-nos de toda a impureza” (Caminho a Cristo, pág 50).
O maravilhoso amor perdoador de Deus nunca desiludirá ao penitente contrito. Pelo contrário, há grande gôzo no Céu por um pecador que se arrepende (Lucas 15:7). Isto é o que se depreende da maravilhosa parábola do filho pródigo, relatada pelo Mestre, cuja primeira parte transcrevemos a seguir:
“Certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte que me cabe dos meus bens. E ele lhes repartiu os haveres. Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante, e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente…Então caindo em si, disse: quantos trabalhadores de meu pai tem pão com fartura, e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o Céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado seu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: trazei depressa a melhor roupa; vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos,porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se” (Lucas 15:11-24).
Quando aquele filho mau compreendeu a condição lastimável na qual se encontrava, arrependeu-se e decidiu levantar-se e ira seu pai para confessar-lhe seus erros e faltas. Porém é maravilhoso o amor daquele pai que corre ao seu encontro, e nem sequer permite que termine seu discurso, mas com abundantes lágrimas de alegria, o estreita carinhosamente ao peito, ordena que lhe troquem os andrajos por um vestido novo, e ordena a preparação de um banquete para festejar o regresso do filho amado. O pai carinhoso é o amante Pai celestial.
Cristo quer aliviar-nos da pesada carga de nossas culpas; anela devolver-nos a paz, gôzo e felicidade. Quer reconciliar-nos plenamente com o Pai. Porém, espera nosso regresso. Como o homem da parábola, todos os dias espreita o horizonte para vislumbrar nossa silhueta. Prometeu perdoar-nos com Sua misericórdia infinita, e encher-nos da doce paz do Céu. Hoje mesmo podemos experimentara benção, a paz do perdão e libertação de todo sentimento de culpa, se nos prostarmos em oração secreta aos pés de Jesus. É maravilhoso aprendera dialogar com Ele, abrir-Lhe nosso coração, contar-lhe nossas lutas, confiar-Lhe nossos problemas, confessar-Lhe nossas faltas e perdir-Lhe perdão, e solicitaro poder do Céu para viver a vida cristã vitoriosa.
A Jesus se conhece, na verdade, de joelhos. Um ministro religioso que estava em visita a Copenhage, Dinamarca, enquanto transitava pelas ruas, chegou à catedral onde está a célebre estátua de Cristo, esculpida por Thordwaldsen. Deteve-se ali para examinar a excelsa beleza daquela peça extraordinária. Sua excelência artística sobrepujava toda descrição.
Porém notou que não podia ver bem o rosto de Cristo, pois Ele se achava inclinado para a terra. Acercou-se mais, e nem assim ainda podia observá-lo. Por fim notou um pequeno genuflexório aos pés daquele Cristo de pedra. Ajoelhou-se com reverência e viu o rosto, e tão só ali pode vê-lo e admirá-lo perfeitamente.
Só de joelhos, no maravilhoso diálogo da oração, se pode conhecera Jesus, nosso melhor amigo. Somente ali se chega a compreender Sua misericórdia e Seu amor perdoador. Só quando o coração está contrito e humilhado aos pés de Jesus, a alma se enche da doce paz do Céu. De Seu amável rosto irradia amor e bondade. Aprenda cada um de nós a manter esta íntima comunhão com Ele, e saia refrigerado com o gôzo e felicidade que este diálogo nos proporciona.
Extraído do Livro “Paz na Angústia”, de Fernando Chaij, CPB-1967.

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