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por: Patrike Wauker
Todos nós nos achamos gênios ao sermos introspectivos. Investigar a si mesmo nos dá um senso de importância às vezes errôneo. Não tentamos aplicar nossas ideias ao mundo e acabamos vivendo em ar fantasioso. Talvez por isso eu tenha achado genial a ideia de escrever um conto chamado O caso do púlpito perdido.
Há muitas maneiras de não conhecer a Deus, e a primeira forma é tentar senti-lo. Essa seria a minha premissa. Seria a história de uma igreja que ao tentar ser mais pós-moderna e relevante, empreende um culto jovem regado à uma dose extra de sentimentalismo e vazio existencial.
Todo culto pós-moderno, é importante ressaltar, precisar retirar o púlpito da igreja. Afinal, igreja não pode ter cara de igreja, já que os pós-modernos não querem nada com a igreja, – assim como Cristo não precisa ter a cara de Cristo, Cristo se revela aos cristãos para que os cristãos o escondam dos pós-modernos. Para que a igreja se pareça mais como um cinema, ou teatro – algo mais cult – retira-se, então, o púlpito.
O culto acontece como deve acontecer: canta-se, pula-se, chora-se, lamenta-se, fotografa-se, faz-se pose, edita-se no photoshop, e todos saem da mesma forma que entraram: alegres, cheios, preenchidos, – pelo êxtase.
Um belo dia, um diácono ao arrumar a igreja percebe que o púlpito sumiu, e assim, começa-se a caçada ao púlpito perdido. Onde estaria ele? O lugar mais provável não vê nem sinal dele: o fundo da igreja. E de quem seria a culpa pela perda? A igreja conseguiria continuar sem o púlpito? Não seria melhor retirá-lo logo de todos os cultos? Afinal, se a sociedade é pós-moderna em todo o tempo, a igreja o deve ser sem cessar. Não seria esse sumiço orquestrado pelos jovens para que os cultos fossem sempre realizados dessa forma?
Admito, não é tão interessante quanto pensei. Mas ela me ajudou a entender uma verdade sobre nossos cultos. Sempre que vejo uma imagem de publicidade ligada a culto de qualquer igreja cristã, observo que a imagem é sempre a mesma: mãos levantadas, um palco à frente, e um escuro que é contrastado com as luzes do palco. Afinal, por que o culto cristão sempre tem que ser retratado como um local onde se encontrará êxtase?
Um dos meus maiores pecados literários é ainda não ter lido Cristãos em Busca do Êxtase, do Vanderlei Dorneles. Eu realmente acho esse título bom, dos melhores. Não sei se já li um título tão descritivo quanto esse. O cristianismo de hoje é um cristianismo de êxtase. O problema é que o cristianismo não é uma religião de êxtase. Nunca foi.
O cristianismo é uma religião racional. Não racionalista, me entenda. Racional por acreditar que Deus fala ao homem através da razão. Obviamente, há espaço para a fé, pois ela não é contrária à razão. Contudo, a fé cristã consiste em confiar em Deus além das circunstâncias, ou seja, além do êxtase. A fé não é o motor do êxtase, ela é seu carrasco. Os cristãos nunca precisaram do êxtase, pois sempre tiveram Cristo. O Desejado de Todas as Nações torna o êxtase indesejável.
Uma igreja que tem a dar ao mundo apenas o êxtase precisa mesmo aprender a ser relevante. Meu conto inexistente centrava-se no púlpito perdido porque o cristianismo passou por essa transformação: deixou de ter como marca representativa o púlpito, para ser representada por várias mãos estendidas. Se antes um cartão de publicidade da igreja se centraria na tentativa de mostrar que o culto era um local de estudo da palavra, hoje tenta-se mostrar que é um local de sentir Deus.
A fé não sente Deus. A fé transcende o sentir. E é por isso que ela se apega à Palavra, pois a Palavra transcende o Homem. O êxtase é o substituto satânico para aqueles que nunca conheceram a Cristo. É disto que a igreja tem que se lembrar: enquanto ela tiver êxtase, ela nunca terá Cristo.
Fonte: Reação Adventista
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