Como conciliar a afirmação de que “nada havia na arca [da aliança] senão as duas tábuas de pedra” (I Reis 8:9; II Crôn. 5:10) com a declaração de que nela havia também “uma urna de ouro contendo o maná” e “a vara de Arão que floresceu” (Heb. 9:4)?
Diferentes propostas têm sido sugeridas para harmonizar essas declarações aparentemente contraditórias. Alguns autores interpretam o conteúdo de Hebreus 9:4 à luz das afirmações do Antigo Testamento de que o vaso com maná foi colocado “diante do Testemunho” (Êxo. 16:33 e 34) e que a vara de Arão foi posta “perante o Testemunho” (Núm. 17:10 e 11); e que, portanto, “nada havia na arca senão as duas tábuas de pedra” (I Reis 8:9). Se esse “Testemunho” fosse a própria arca do concerto, então, o vaso com maná e a vara de Arão deveriam estar, não dentro da arca, mas apenas diante dela. Mas, por outro lado, se o “Testemunho” se refere às “tábuas de pedra” que foram depositadas dentro da “arca” (ver Êxo. 25:16; 30:6; 31:18; 32:15 e 16; 40:20 e 21), então, o vaso com maná e a vara de Arão poderiam estar ao mesmo tempo dentro da arca e diante do Testemunho. Essa última possibilidade parece ter sido confirmada por Hebreus 9:4, onde é dito simplesmente que na arca da aliança estava “uma urna de ouro contendo o maná, a vara de Arão, que floresceu, e as tábuas da aliança”.
Outros autores sugerem que a aparente contradição pode ser resolvida se distinguirmos entre os momentos históricos do tabernáculo mosaico e do templo de Jerusalém. Arthur W. Pink assevera que “não existe qualquer conflito entre as duas passagens [Heb. 9:4; I Reis 8:9], pois elas não tratam do mesmo período de tempo. Heb. 9:4 fala do que se encontrava na arca durante os dias em que ela esteve alojada no tabernáculo; enquanto I Reis 8:9 fala do que constituía o seu conteúdo depois de ter sido colocada no templo” (An Exposition of Hebrews, pág. 469). Mas, essa posição suscita a indagação: Se o vaso com maná e a vara de Arão foram preservados apenas na época do tabernáculo, quando foram eles removidos da arca?
Alguém poderia ser tentado a imaginar que esses objetos foram tirados da arca em algum momento durante os “sete meses” que ela ficou entre os filisteus (I Sam. 4:11; 5:1-12; 6:1). Mas Ellen White elimina essa possibilidade ao dizer que “mesmo os filisteus gentios não haviam ousado remover a sua cobertura” (Patriarcas e Profetas, pág. 589). Outra possibilidade seria quando os israelitas de Bete-Semes abriram a arca, por curiosidade, a fim de ver seu interior (I Sam. 6:19). Mas o texto bíblico esclarece que o juízo divino puniu aqueles homens “porque olharam para dentro da arca do Senhor”, sem fazer qualquer referência a uma suposta remoção de objetos. Uma terceira possibilidade teria sido durante a transição entre o antigo tabernáculo mosaico e o novo templo de Jerusalém, época em que muitos utensílios do tempo de Moisés acabaram sendo substituídos (I Reis 7:15 a 8:11; II Crôn. 3:1 a 5:14). Mas mesmo essa idéia não passa de mera hipótese.
Se em algum momento da história de Israel o vaso com maná e a vara de Arão foram removidos da arca do concerto, quem os teria removido? Teria sido algum ser humano (talvez sacerdote) ou o próprio Deus? É interessante observarmos que Ellen Harmon (depois White) viu, em sua visão do Clamor da Meia-Noite (dezembro de 1944), esses objetos dentro da arca do concerto no Lugar Santíssimo do santuário celestial. Ela relata: “Na arca, abaixo de onde se estendiam as asas dos anjos, havia um vaso dourado de maná de um matiz amarelado; e vi uma vara, que Jesus disse ser de Arão. Eu a vi brotar, florescer e dar fruto” (Day-Star, 24 de janeiro de 1846; ver também Primeiros Escritos, pág. 32; O Grande Conflito, pág. 411). Uma vez que as tábuas de pedra contidas na arca do concerto do tabernáculo terrestre continuam escondidas em uma caverna da Palestina (Profetas e Reis, pág. 453; ver também II Macabeus 2:1-8), teria Deus levado para o Céu apenas o vaso com maná e a vara de Arão?
Uma vez que a revelação divina contida nas Escrituras e nos escritos de Ellen White não esclarece quando esses objetos foram removidos da arca do concerto e nem mesmo quem os removeu, quaisquer idéias a respeito não passam de meras teorias que só serão esclarecidas por Cristo no Céu (ver Obreiros Evangélicos, pág. 312). Mas uma coisa é certa: seja qual for a teoria correta, é possível harmonizar as declarações de Heb. 9:4; I Reis 8:9 e II Crôn. 5:10, de modo a preservar a integridade do texto bíblico.
Texto de autoria do Dr. Alberto Timm, publicado na Revista do Ancião (janeiro – março de 2006). Via Sétimo Dia
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