segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O Espírito Santo e o Trono

Como explicar o fato de que o trono apocalíptico é chamado apenas de “trono de Deus e do Cordeiro” (Apoc. 22:1 e 3), sem qualquer alusão ao Espírito Santo?


Um dos argumentos mais comuns contra a doutrina da Trindade é a alegação de que o livro do Apocalipse não apresenta qualquer alusão a um “trono” do Espírito Santo. Para entendermos essa questão, é importante considerarmos primeiro o significado do “trono” de Deus nas Escrituras. Quase todos os textos bíblicos falam desse “trono” no singular. Por exemplo, o profeta Isaías teve o privilégio de ver “o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono” (Isa. 6:1; ver também Sal. 9:7; Apoc. 4:2; 22:1 e 3; etc.). Mas, alguns textos mencionam a existência de “tronos” nas cortes celestiais, especialmente quando outros seres celestiais participam de uma sessão de julgamento. Por exemplo, o profeta Daniel diz que continuou olhando “até que foram postos uns tronos” no Céu (Dan. 7:9). Também o apóstolo João afirma ter visto em visão “tronos” sobre os quais se assentavam “aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar” (Apoc. 20:4).


As visões e descrições de Deus assentado em Seu trono revelam, primariamente, Sua soberania e majestade sobre o Universo. Por exemplo, no Salmo 45:6, é dito: “O Teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de eqüidade é o cetro do Teu reino.” Mas, em muitos casos, Deus Se assenta em Seu trono para julgar as nações. Um exemplo disso, é encontrado no Salmo 9:7 e 8: “Mas o Senhor permanece no Seu trono eternamente, trono que erigiu para julgar. Ele mesmo julga o mundo com justiça; administra os povos com retidão.” Outra cena judicial, já mencionada, aparece em Daniel 7:9 e 10, onde é dito que “foram postos uns tronos, e o Ancião de dias Se assentou”, e que “assentou-se o tribunal, e se abriram os livros”. Independentemente da ocasião e das circunstâncias envolvidas, a expressão “trono”, quando usada em relação a Deus, geralmente possui conotação mais funcional do que essencial.


É interessante observarmos que Cristo exerce ao mesmo tempo os ofícios sacerdotal e real em Seu trono. Já, em Zacarias 6:13, encontramos a seguinte profecia messiânica: “Ele mesmo edificará o templo do Senhor e será revestido de glória; assentar-Se-á no Seu trono, e dominará, e será sacerdote no Seu trono; e reinará perfeita união entre ambos os ofícios.” Como rei, Cristo exerce também a função de juiz. Em João 5:22, é dito: “E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento”. Portanto, é plenamente evidente que Cristo deva compartilhar com o Pai o trono do Universo.


O Espírito Santo, por Sua vez, exerce funções diferentes nos planos divinos. Entre elas, estão as de representar a Deus no Universo (Sal. 139:7-12), convencer os seres humanos “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8), glorificar a Cristo (João 16:14), derramar “o amor de Deus” no coração dos crentes (Rom. 5:5), edificar internamente a igreja (I Cor. 12) e capacitá-la para o testemunho (Atos 1:8). Mesmo depois da final erradicação do pecado, o Espírito Santo continuará exercendo a função de Mantenedor do Universo (cf. Gên. 1:2). Não é de surpreender, por conseguinte, que Ele não seja mencionado como soberano ou juiz sobre o trono do Universo.


Alguns indivíduos não se constrangem em usar a expressão “trono de Deus e do Cordeiro” (Apoc. 22:1 e 3) para alegar que, como o Espírito Santo não aparece nesse trono, Ele não pode ser considerado uma Pessoa divina. Mas esse tipo de argumento envolve pelo menos dois problemas fundamentais: Primeiro, ele desconhece a conotação funcional da expressão “trono”, que descreve mais o status e o ofício de Deus do que Sua natureza essencial. Em segundo lugar, esse argumento está baseado em uma espécie de raciocínio generalizante, sugerindo que alguém só existe se for mencionado em todas as alusões aos demais componentes de seu grupo de pares. Neste caso, se o nome do Espírito Santo não aparece sempre que o Pai e o Filho são mencionados juntos, então, o Espírito Santo não pode ser considerado parte da Divindade.


Na Bíblia encontramos vários textos que mencionam ao mesmo tempo o Pai, o Filho e o Espírito Santo (ver Isa. 48:16; Mat. 28:19; Luc. 3:21 e 22; I Cor. 12:4-6; II Cor. 13:13; Efés. 4:4-6; Tito 3:4-7; etc.). Embora o Espírito Santo não seja mencionado explicitamente em Apocalipse 22:1 e 3 com o Pai e o Filho no trono do Universo, esse fato jamais deveria ser usado para invalidar os demais textos bíblicos que mencionam o Espírito Santo como exercendo funções distintas do Pai e do Filho.


Texto de autoria do Dr. Alberto Timm publicado na Revista do Ancião (abril – junho de 2006).

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