As últimas páginas da história deste mundo serão marcadas por uma polarização global entre os que guardam os mandamentos de Deus e os que seguem tradições humanas. Ao longo da história humana, sempre existiram observadores do sábado entre o professo povo de Deus.¹ Mas seu número oscilava de acordo com o predominante grau de aceitação ou rejeição da Palavra de Deus. No Antigo Testamento, encontramos, por exemplo, o cativeiro egípcio e o período pré-exílico, caracterizados por grande apostasia e negligência na observância do sábado (Êx 5:17; 16:28; Am 8:4-6; Jr 17:19-27; Ez 20:1-44). Em contraste, essa observância foi restaurada, respectivamente, na experiência do maná no deserto de Sim (Êx 16:1-5, 22-30) e na reforma pós-exílica empreendida por Neemias (Ne 13:15-22). O período pós-apostólico foi marcado por um profundo e duradouro abandono do sábado bíblico, e a imposição do domingo antibíblico em seu lugar (cf Dn 7:25; At 20:29, 30).² O processo atingiu seu clímax nos 1.260 anos de supremacia papal (Dn 7:25; 12:7; Ap 11:2, 3; 12:6, 14; 13:5), que se estenderam de 538 d.C. a 1798 d.C. Mas, ao término das 2.300 tardes e manhãs (em 1844), a verdade bíblica integrada pelo santuário, incluindo o sábado, começaria a ser restaurada mais definitivamente (Dn 8:14). O sábado passou a ser reconhecido como um mandamento moral enriquecido por uma nova dimensão escatológica. O presente artigo considera a relevância do sábado para o tempo do fim, com ênfase em sua compreensão como Mandamento moral, Sinal eterno e Selo escatológico.
Mandamento moral Existem pelo menos três grandes evidências bíblicas que confirmam a natureza moral do sábado. Uma delas é sua origem edênica, antes da entrada do pecado no mundo. Gênesis 2:2, 3 declara: “E, havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a Sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera”. O próprio descanso de Deus nesse dia representa a instituição do sábado para Suas criaturas, pois, de acordo com Hans K. LaRondelle, “o exemplo de Deus é tão autoritativo quando o Seu mandamento” (Our Creator Redeemer: An Introduction to Biblical Covenant Theology). Mas os atos divinos de também santificar e abençoar esse dia corroboram tal instituição; pois ao Deus abençoar e santificar algo, Ele sempre o faz em benefício de Suas criaturas. Esse tríplice ato de Deus confere autenticidade à origem edênica do sábado (Gn 2:2, 3), anterior à queda de Adão e Eva (Gn 3), quando tudo ainda “era muito bom” (Gn 1:31). A natureza moral do sábado também é atestada pelo fato de o quarto mandamento ter sido escrito pelo próprio dedo de Deus sobre as tábuas de pedra contendo os Dez Mandamentos (Êx 31:18). Inserido no Decálogo pelo próprio Deus, o quarto mandamento compartilha da mesma natureza moral que caracteriza os outros nove preceitos. Se a lei, de acordo com o apóstolo Paulo, “é santa; e o mandamento é santo, e justo, e bom” (Rm 7:12), então o quarto mandamento também deve ser considerado santo, justo e bom. Portanto, qualquer alteração no conteúdo desse mandamento é ilegal e representa um atentado direto à autoridade divina (Dn 7:25). Uma terceira evidência bíblica da natureza moral do sábado é a promessa de que ele continuará sendo observado pelos remidos nos “novos céus” e na “nova Terra” (Is 66:22, 23; cf. Ap 21:1). O livro do profeta Isaías enfatiza não apenas a universalidade do sábado, como destinado “para todos os povos” (Is 56:1-8), mas também a sua perpetuidade, como prosseguindo até o fim da história humana e adentrando os próprios portais da eternidade (Is 66:22, 23). Portanto, o sábado é de natureza moral e de abrangência universal, cuja validade não se restringe a qualquer tempo, lugar ou povo específico. Ele é tão válido hoje, no tempo do fim, como sempre foi ao longo da história humana.
Sinal eterno A compreensão do sábado como sinal eterno está intimamente relacionada ao tema das alianças entre Deus e Seu povo escolhido. Uma breve análise desse tema revela que cada aliança tinha um sinal específico. Por exemplo, o arco-íris foi posto como sinal da “aliança eterna” de Deus com Noé e “todos os seres viventes” sobre a Terra, de que esta jamais será destruída outra vez por água (Gn 9:9-17). Deus estabeleceu a circuncisão como sinal de Sua “aliança perpétua” com Abraão e seus descendentes, ou seja, o povo de Israel (Gn 17:9-14; Lv 12:3). Cristo instituiu o batismo como sinal de ingresso na comunidade dos crentes (Jo 4:1, 2; Mt 28:18-20; Mc 16:15, 16), em substituição à circuncisão (Gl 5:6). Mesmo que algumas dessas alianças sejam qualificadas como eternas ou perpétuas, tanto elas quanto os sinais relacionados a elas foram instituídos em algum momento da história humana após o pecado. Como “sinal para sempre” da “aliança perpétua” de Deus com todos os seres humanos (Êx 31:12-17; Ez 20:12, 20; Mc 2:27, 28), o sábado provém da eternidade (Gn 2:2, 3) e avança rumo à eternidade (Is 66:22, 23), permeando todas as demais alianças bíblicas, sem se limitar a nenhuma delas. Coexistindo com os sinais anteriormente mencionados, sem substituí-los nem ofuscá-los, o sábado é de natureza imutável, não podendo sua santidade ser transferida para nenhum outro dia. Sem dúvida, a aliança eterna é proclamada pelo “evangelho eterno” que ordena: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas (Ap 14:6, 7; cf. Êx 20:11) As duas principais enunciações do quarto mandamento (Êx 20:8-11; Dt 5:12-15) confirmam o sábado como sinal de lealdade a Deus como Criador e Redentor. Enquanto o motivo para a observância do sábado em Êxodo 20:11 é a criação – “porque em seis dias, fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” – em Deuteronômio 5:15 o motivo é a redenção – “porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado”. Portanto, o sábado é um memorial divino da criação e da redenção, e sinal eterno de lealdade a Deus.
Selo escatológico O sábado é um mandamento moral e um sinal eterno que, transpondo os séculos, continua sendo um canal de bênçãos aos seres humanos. Mas, em meio à generalizada apostasia do tempo do fim, surgiria um movimento profético proclamando as três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12 em âmbito mundial, “a cada nação, e tribo, e língua, e povo” (v. 6). Essa proclamação acabaria polarizando os seres humanos entre “os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (v. 12), de um lado, e os que adoram “a besta e a sua imagem” e recebem “a sua marca na fronte ou sobre a mão” (v, 9-11), do outro. Apocalipse 13 afirma que a besta de dez chifres (v. 1-10) possui uma “marca” que será imposta aos seres humanos pela besta de dois chifres (v. 11-18). Apocalipse 14 deixa evidente que as pessoas que guardam os mandamentos de Deus (v. 12) não recebem essa marca, e que aqueles que a recebem (v. 9-11) não guardam os mandamentos de Deus. Identificando a primeira besta com o catolicismo e a segunda com o protestantismo apóstata, os adventistas entendem que essa marca se refere a uma instituição (1) contrária aos “mandamentos de Deus” e (2) aceita tanto pelos católicos quanto pelos protestantes. Nenhuma outra instituição antibíblica poderia se enquadrar melhor nessa categoria que o domingo. As últimas páginas da história deste mundo serão marcadas por uma polarização global entre os que guardam os mandamentos de Deus e os que seguem as tradições humanas. Nesta polarização final, a observância do domingo acabará se transformando na “marca” da besta para aqueles que rejeitarem conscientemente o sábado bíblico. Por outro lado, a verdadeira observância do sábado será o “selo do Deus vivo” aos que se mantiverem leais a Deus e Sua palavra (Ap 7:2; 9:4); pois o quarto mandamento do Decálogo continua instando que “o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus” (Êx 20:10). Tendo sido já “selados” interiormente “com o Espírito Santo” para “o dia da redenção” (Ef 1:13; 4:30), os filhos de Deus que viverem no fim dos tempos observarão o sábado do sétimo dia como “selo” de lealdade a Deus. Com base em Hebreus 4, o sábado pode ser considerado “um sinal exterior de uma experiência interior” (M. L. Andreasen, The Book of Hebrews) de descanso em Deus (v. 10), que resulta da salvação pela graça (v. 16) por meio da fé (v. 3). Isso significa que o sábado só pode se tornar o selo de lealdade a Deus para aqueles cuja vida está sendo santificada pelo poder do Espírito Santo (Hb 12:14). Ellen G. White comenta nos seguintes termos a relação entre a observância do sábado e a experiência da salvação: “Mas a fim de santificar o sábado, os homens precisam ser eles próprios santos. Devem, pela fé, tornar-se participantes da justiça de Cristo. Quando foi dado a Israel o mandamento: ‘Lembra-te do dia do sábado, para o santificar’ (Êx 20:8), o Senhor lhes disse também: ‘E ser-Me-eis homens santos’ (Êx 22:31). Só assim o sábado poderia distinguir Israel como os adoradores de Deus” (O Desejado de Todas as Nações, p. 283).
A pedra de toque No conflito entre a verdade e o erro haverá, como já foi mencionado, uma polarização entre os que guardam os mandamentos de Deus (Ap 14:12) e os que seguem as tradições humanas (Ap 14:9-11), o que acabará colocando o sábado em evidência. Ellen G. White esclarece que “o sábado será a pedra de toque da lealdade; pois é o ponto da verdade especialmente controvertido. Quando sobrevier aos homens a prova final, será traçada a linha divisória entre os que servem a Deus e os que não O servem” (O Grande Conflito, p. 605). O povo de Deus, cheio do Espírito Santo, proclamará “o sábado mais amplamente”, o que suscitará forte oposição das igrejas que observam o domingo (Primeiros Escritos, p. 33). Sem dúvida, o tempo está se aproximando rapidamente em que a ira satânica se intensificará ainda mais contra “os que guardam os mandamentos de Deus e têm ao testemunho de Jesus” (Ap 12:9, 17). Precisamos de mais profunda compreensão bíblica da natureza e do significado do sábado, a fim de podermos responder de forma convincente a todo aquele que pedir a “razão da esperança” que há em nós (1Pe 3:15). Precisamos participar ativamente do grande movimento que terminará a pregação das três mensagens angélicas ao mundo (Ap 14:6-12), quando “servos de Deus, com o rosto iluminado e a resplandecer de santa consagração, se apressarão de um lugar para outro para proclamar a mensagem do Céu” (O Grande Conflito, p. 612).
Referências:
1 Ver J. N. Andrews, History of the Sabbath and First Day of the Week, 3ª ed. rev. (Battle Creek, MI: Review & Herald, 1887); J. N. Andrews e L. R. Conradi, History of the Sabbath and First Day of the Week, 4ª ed. rev. e ampl. (Washington, DC: Review and Herald, 1912); Henneth Strand, ed., The Sabbath in Scripture and History (Washington, DC: Review and Herald, 1982).
2 Ver Samuele Bacchiocchi, From Sabbath to Sunday: A Historical Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity (Rome: Pontifical University Press, 1977).
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