domingo, 22 de março de 2015

Natureza Humana de Cristo

Natureza Humana de Cristo
By Joe Crews

INTRODUÇÃO

A falsificação mais perigosa é aquela que mais se assemelha à verdade. É por isso que as falsificações religiosas são tão mortais, embora frequentemente toleradas ao invés de serem identificadas e expostas. Os Cristãos, em geral, têm medo de serem mal compreendidos se se posicionarem contra algo que se parece tanto com a coisa mais pura na religião. Já que geralmente existe apenas uma fina linha separando o melhor do pior, o falso do verdadeiro, eles temem ser acusados de atacar o genuíno, caso se oponham à falsificação.

Será que Satanás fabricou algum tipo de falsificação da mais sagrada das doutrinas do Cristianismo? De fato ele a fabricou! E as delicadas diferenças têm levado até mesmo teólogos e eruditos muito reticentes a se oporem a ela abertamente.

Muitos sinceros Cristãos argumentam que as visões paralelas são tão próximas que nenhuma dúvida deveria existir sobre isso. Outros acreditam que a diferença é basicamente semântica e envolve apenas graus de significado no uso das palavras.

Seria possível que nosso poderoso adversário psicológico pudesse antecipar essas imprevisíveis reações humanas e habilidosamente criar sutis desvios da verdade que dificilmente seriam reconhecidos e resistidos? De fato, eu creio que ele seria um tolo se não explorasse seus seis mil anos de experiência nas ciências mentais! É por isso que o caminho do erro sempre jaz tão perto do caminho da verdade inegável. Satanás apostou que o professo Cristão relutaria em tomar posição contra algo tão próximo da verdade, especialmente se tal verdade envolvesse a obra da cruz, ou a imaculada vida do Filho de Deus. Quem gostaria de se posicionar contra essas santas realidades? Parece mais seguro simplesmente tolerar a posição deturpada do que se arriscar a ser mal compreendido ao atacar a falsificação quase perfeita.

Estou convencido de que Satanás engenhosamente produziu e popularizou um erro disfarçado, gerando assim uma rede de erros relacionados. E todos esses erros circulam em torno dos assuntos mais sagrados e queridos ao coração de um Cristão comprometido -justificação pela fé, a encarnação de Jesus, e a vitória sobre o pecado.

Não pode haver dúvida de que as séries de visões errôneas estão relacionadas umas às outras por uma convincente cadeia de lógicas e razões humanas. Se um ponto é verdadeiro, então todos os outros pontos devem, necessariamente, também ser verdadeiros. Mas se um ponto estiver em erro, os outros pontos perdem sua credibilidade.


O PECADO ORIGINAL

É muito provável que a cadeia de erros tenha sido iniciada pela inserção da doutrina do pecado original na teologia da igreja primitiva. Começando com a posição biblicamente válida da natureza carnal inerente ao homem, a qual o predispõe a pecar, a idéia gradualmente evoluiu para que a culpa de Adão também fosse imputada a seus descendentes. Agostinho foi responsável, mais do que qualquer outro, por propagar esta visão da culpa transmitida. Através de Lutero e dos reformadores, ela encontrou seu caminho dentro de muitas das igrejas Protestantes.

Embora a doutrina criasse uma tremenda controvérsia na igreja primitiva, muitos Cristãos modernos parecem aceitar a visão da maioria de hoje sem muita reflexão ou questionamentos profundos. É fácil ver que existe apenas uma única diferença marginal entre as duas visões, tanto naquela época quanto agora. A natureza enfraquecida e pecaminosa de Adão foi passada para seus filhos através das leis da hereditariedade, tornando impossível a eles não pecar enquanto permanecessem em um estado não convertido. Desde que os pecados deles eram o resultado do pecado de Adão, foi fácil deslizarem para dentro do erro de aceitar que eles compartilham a culpa do mesmo.

Mas há uma diferença muito importante entre a inclinação para o pecado e a culpa do pecado, e é esse pequeno grau de diferença que tem disparado uma série de outros erros doutrinários. Disse o profeta: “O filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho” (Ezequiel 18:20).


O BATISMO INFANTIL

Como uma conseqüência natural da crença do pecado original, a igreja Católica desenvolveu uma forte doutrina do batismo infantil. Apenas pelo seu sacramento de aspersão poderia a maldição da culpa de Adão ser removida do bebê. Uma vez que a salvação da criança dependia de um batismo apropriado, foi atribuída uma prioridade absoluta a esse ritual. Se uma escolha tivesse que ser feita entre a vida da mãe e a vida do bebê não nascido, a mãe seria sacrificada. Os médicos e enfermeiras Católicos eram instruídos na arte de batizar um feto ainda no útero se houvesse alguma dúvida da sobrevivência do mesmo.

A doutrina do pecado original também deu origem ao dogma da imaculada concepção de Maria. Se todo bebê nascia com a culpa em sua alma, então alguma coisa precisava ser feita para preservar Jesus dessa culpa, caso contrário, Ele não poderia ser um sacrifício perfeito pelo pecado. A solução Católica atribuiu a Maria uma concepção miraculosa também, que a preservou do efeito do pecado original. Portanto, Jesus teria nascido de uma mãe humana sem participar da suposta culpa de Adão.

Como uma conseqüência estendida da visão de Jesus ser, de forma geral, diferente do homem, a igreja Católica também introduziu o ilegítimo sistema do sacerdócio humano. Se o filho de Deus não viveu na natureza caída do homem, então a escada não foi descida do céu à terra. O abismo continua sem uma ponte entre um Deus santo e a humanidade caída. Dessa forma, alguns outros meios deveriam ser providenciados para completar a conexão.

Primeiro, ela foi atribuída aos sacerdotes na terra, os quais era sabido possuírem carne pecaminosa. Depois, um papel mediador foi reivindicado para aqueles que haviam habitado em carne pecaminosa mas foram canonizados, pela igreja, como santos no céu. Finalmente, aos anjos e à mãe de Jesus foi concedido o status de intercessores entre o homem e Deus.

Já podemos começar a ver a reação em cadeia das conseqüências de um pequeno desvio da verdadeira doutrina.


NATUREZA CAÍDA OU NÃO CAÍDA?

Agora vamos observar o efeito do pecado original nas igrejas Protestantes. Como elas puderam evitar o dilema de suas crenças relacionadas com a natureza de Cristo? Embora elas rejeitassem a tradição Católica da imaculada concepção, elas idealizaram uma doutrina que era igualmente nãoescriturística e que removia Cristo totalmente da família caída de Adão. Esta visão declarava que Jesus encarnou de uma maneira especial que o preservou da participação na natureza dos descendentes de Adão. Em vez disso, Ele nasceu com a natureza não caída de Adão e viveu Sua vida santa no estado incorrupto de humanidade inocente.

Novamente somos surpreendidos com a maravilhosa duplicidade da falsificação. Ele realmente veio na natureza humana, eles dizem, mas deveria ser na natureza não caída de Adão, de forma a protegê-Lo da poluição do pecado original. A verdade é que este pequeno desvio estendeu o fundamento para uma série de outras conclusões falsas que atacam algumas das mais acariciadas verdades do Protestantismo.

Em primeiro lugar, tal doutrina é diametralmente oposta ao claro ensinamento da Bíblia. Pelo menos, seis vezes somos assegurados que Jesus teve uma natureza humana exatamente como a nossa. Em Hebreus 2:11 lemos: “Tanto o que santifica, como os que são santificados, vêm todos de um só. Por esta causa Jesus não se envergonha de lhes chamar irmãos.” Irmãos são de uma mesma carne e natureza familiar. Cristo é o único que santifica, e nós estamos sendo santificados; e todos somos de uma única carne, de modo que Ele pode nos chamar de Seus irmãos. Isso estabelece o ponto além de qualquer dúvida.

“Pois na verdade Ele não tomou sobre si a natureza de anjos, mas Ele tomou sobre si a semente de Abraão” (Hebreus 2:16 KJV). Como poderia Ele participar da semente de Abraão se Ele tomasse sobre Si a natureza de Adão não caído? A ênfase aqui é que ele não tomou sobre Si alguma natureza exótica, sem pecado, tal como a que os anjos ou o santo Adão pudessem ter tido, mas a mesma natureza que os filhos de Abraão possuíam. Eles tinham corpos e mentes enfraquecidos pelo pecado. Assim também Ele. Isto não envolve culpa. Estar sujeito ao pecado não é ser culpado dele. Ele foi tentado da mesma forma que nós somos, todavia Ele nunca, nem mesmo uma única vez, nutriu ou cedeu ao pecado. Ele nunca desenvolveu qualquer propensão em direção ao pecado por dar-lhe caminho. Ele permaneceu imaculado pelo pecado e foi sempre totalmente puro e santo.

“Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus” (Hebreus 2:17).


POR QUE A NATUREZA HUMANA?

Por que Ele nasceu na mesma carne e natureza que temos? Para que Ele pudesse ter entendimento de nossas fraquezas e inclinações para o pecado, e ser um Sumo Sacerdote misericordioso por nós. As palavras “em todas as coisas” realmente significam “em todas as coisas”? É claro que sim!

Paulo declarou que Jesus “nasceu da descendência de Davi segundo a carne” (Romanos 1:3). Seria contrário à razão interpretar estas palavras como significando que Cristo herdou de Maria uma natureza santa, não caída. Qualquer que fosse a semente de Davi segundo a carne, nosso Senhor participou da mesma. Todos os descendentes de Davi, exceto um, cedeu a suas inclinações hereditárias e cometeram pecados pessoais. Jesus, como todos os outros, herdou a natureza de Davi segundo a carne, mas Ele não cedeu à fraqueza inerente àquela natureza. Embora tentado em todos os pontos como nós somos, Ele não respondeu com um único grau de indulgência a qualquer dessas tentações. Sua vida foi uma constante fortaleza de invencível poder espiritual contra o tentador.

Ao contar completamente apenas com a força sempre presente de Seu Pai, Ele demonstrou a vitória que é possível, para toda semente de Davi segundo a carne, experimentar.

Novamente lemos: “Portanto, visto que os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas” (Hebreus 2:14). Note como o escritor inspirado enfatiza a semelhança do corpo de Cristo com o do homem. ELE MESMO TAMBÉM PARTICIPOU DAS MESMAS COISAS (no inglês, HE ALSO HIMSELF LIKEWISE, significando ELE TAMBÉM, ELE MESMO, DA MESMA FORMA). Essas palavras são usadas consecutivamente, mesmo sendo repetitivas e redundantes. POR QUÊ? De forma a impressionar-nos de que Jesus realmente participou da MESMA natureza que o homem caído possui. Exatamente como os filhos participam da mesma carne e sangue, ELE MESMO, TAMBÉM DA MESMA FORMA, tomou a MESMA! Como alguém pode ser confundido por esta linguagem não ambígua?


JESUS POSSUIU FRAQUEZAS HEREDITÁRIAS?

Essas palavras inspiradas, definitivamente, nos dizem que Cristo tomou parte da mesma natureza que os filhos que “são participantes da carne e sangue”. Isto não nos diz, sem dúvida, o tipo de natureza que Cristo possuiu? Adão teve algum filho nascido antes que ele pecasse? Nenhum! O fato é que todos os filhos que já nasceram neste mundo herdaram a mesma natureza humana caída de Adão, porque eles nasceram depois que Adão pecou. O livro de Hebreus declara que Jesus “também participou das mesmas coisas”. As mesmas quais? A mesma carne e sangue que os filhos herdam de seus pais. Que tipo de carne as crianças herdam de seus pais? Apenas carne pecaminosa. Algum outro tipo de carne, exceto carne pecaminosa, alguma vez foi conhecida entre os descendentes de Adão? Nenhuma, seja qual for. Se Jesus participou da mesma carne e sangue que os folhos, tinha que ser carne e sangue pecaminosos. Não há nenhuma outra conclusão a ser tirada. Todavia, Ele mesmo era sem pecado!

Uma escritora, reconhecendo esta clara posição bíblica, descreveu isso sucintamente nestas palavras:

“Teria sido uma quase infinita humilhação para o Filho de Deus revestir-Se da natureza humana mesmo quando Adão permanecia em seu estado de inocência, no Éden. Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado. Como qualquer filho de Adão, aceitou os resultados da operação da grande lei da hereditariedade. O que estes resultados foram, manifesta-se na história de seus ancestrais terrestres. Veio com essa hereditariedade para partilhar de nossas dores e tentações, e dar-nos o exemplo de uma vida impecável.” (O Desejado de Todas as Nações, p. 49).

Essa declaração descreveu a operação das leis da hereditariedade e está em perfeita harmonia com a declaração de Paulo, de que Jesus participou da mesma carne e sangue que os filhos recebem de seus pais. Isso está referindo-se à hereditariedade também. Se Cristo tivesse nascido com a natureza não caída de Adão, a própria sugestão da influência hereditária seria ridícula ao extremo. Não poderia haver lugar para qualquer tipo de tendências hereditárias em uma natureza “adâmica” que nunca conheceu tanto o nascimento quanto a ancestralidade. Se Ele não possuísse nenhuma fraqueza herdada, por que o autor de Hebreus diria que ele participou da mesma carne e sangue que os filhos recebem dos pais? Certamente é porque o Criador não incorporou nenhuma fraqueza inerente na criação original. Adão não possuía nenhuma batalha para lutar contra tendências hereditárias. Ele possuía o poder em si mesmo para escolher sempre não pecar. Jesus, como homem, reivindicou ter esse mesmo tipo de poder? Não! Ele disse:“nada faço de mim mesmo, mas falo como o Pai me ensinou” (João 8:28). Repetidamente, Cristo falou de ser dependente de Seu Pai para o que Ele dizia e o que Ele fazia. Ele escolheu viver Sua vida aqui como um homem da mesma maneira que nós temos que vivê-la. Para salvar a Si mesmo do pecado e dos perigos da carne, Ele dependeu constantemente e unicamente do poder de Seu Pai. Foi dessa forma que Ele superou o Diabo, fechou cada avenida da tentação, e viveu uma vida de perfeita obediência.

Por nunca ceder ao apelo inerente da carne, Ele deu um exemplo do tipo de vitória que pode vir a cada filho de Adão através da dependência do Pai.

Satanás tentou Jesus no deserto a usar Seu poder divino para satisfazer Sua fome agonizante. Satanás sabia que Jesus tinha o poder divino para operar aquele milagre. Sua esperança era que ele pudesse provocá-Lo a depender de Sua divindade para alívio próprio. Por que isso teria sido um triunfo para Satanás? Ele poderia ter usado isso para sustentar suas acusações de que Deus requeria uma obediência que nenhum homem, na carne, poderia prestar. Se Jesus falhasse em superar o tentador na mesma natureza que temos e pelos mesmos meios disponíveis para nós, o Diabo teria provado que a obediência é, de fato, um requisito impossível. Satanás entendeu muito bem que Jesus não poderia usar Seu poder divino para salvar a Si mesmo e salvar o homem ao mesmo tempo. Foi isto o que tornou o teste uma experiência tão severa e agonizante para Cristo.

Se Jesus realmente herdou a natureza comprometida de Adão, então por que Ele não pecou como o resto dos descendentes de Adão? Porque Ele era cheio do Espírito Santo de Deus desde o ventre, e possuía uma vontade completamente entregue ao Pai, e uma natureza humana santificada. Podemos nós participar do mesmo poder para guardar-nos de pecar? Sim! Jesus ao viver Sua vida de vitória sobre o pecado, não utilizou Sua divindade, mas confinou-se ao mesmo poder disponível a nós através da conversão e santificação.


CRISTO VENCEU EM NOSSA PRÓPRIA NATUREZA

Não tivesse Ele obtido a vitória sobre Satanás na mesma natureza que temos, que encorajamento poderia ser tirado de Sua vitória? Não é necessário me mostrar que era possível para Adão não ceder ao pecado. Eu já sabia disso. O que eu preciso saber é se eu posso superar o pecado, sendo minha natureza a que é.

Satanás acusou Deus de requerer algo que não podia ser feito. A razão pela qual o homem caído não podia prestar obediência é claramente descrita em Romanos 8:3-4: “Pois o que era impossível à lei, visto que estava enferma pela carne, Deus, enviando Seu filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne, para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”.

Esses versos são simplificados quando fazemos algumas perguntas: O que a lei não poderia fazer por nós porque éramos muito fracos na carne para guardá-la? Ela não podia salvar-nos.

Já que nós não podíamos guardá-la devido à fraqueza da carne, o que fez Deus? Ele enviou Jesus para obedecer à lei perfeitamente na carne. Ele condenou o pecado na carne pela total vitória sobre ele.

O que Sua vitória na carne tornou possível para nós? “Para que a justiça (os justos requisitos) da lei se cumprisse em nós”. Ela habilitou-nos a obedecer.

Como Sua vitória na carne tornou possível a nossa obediência? Pelo milagre da conversão, que muda nossa caminhada, da carne para o Espírito. Então Cristo em nós, através do Seu Espírito, comunica vitória sobre o pecado para nossas vidas.

Estas verdades óbvias apontam um dos grandes problemas em se acreditar na natureza humana pré-lapsariana de Cristo (isto é, a natureza de Adão antes da queda). Se Sua vitória sobre Satanás, na carne, foi com o propósito de habilitar-me a cumprir os requisitos da lei, como poderia Sua vitória ajudar-me de alguma forma, se ela foi obtida em alguma outra carne se não a minha? Aqui é onde essa falsa doutrina ataca o belo princípio da justificação pela fé.

Justiça pela fé é a imputação e a comunicação dos resultados da vida sem pecado e morte expiatória de Cristo. Inclui tanto justificação quanto santificação. Cristo atribui, ou credita, a nós, os méritos de Sua experiência sem pecado para libertar-nos da penalidade do pecado. Isso é justificação. Para libertar-nos do poder do pecado Ele não apenas, e meramente, nos conta como justos, mas Ele realmente comunica Sua força para superar o pecado. Em ambos os casos, Ele pode apenas conceder-nos o que Ele conseguiu através de Sua própria experiência encarnada como o Salvador do mundo.

Alguém pode afirmar que desde que a justificação apenas envolve uma atribuição do registro sem pecado de Cristo em nossa conta, isto poderia ter sido feito em qualquer tipo de corpo. Mas seria isto verdade? O propósito da encarnação foi redimir o homem caído e não o homem que não pecou. Para fazer isso Ele tinha que “condenar o pecado na carne” (Romanos 8:3). Nossos pecados, que procedem da carne, deveriam ser condenados por Ele, e a única maneira pela qual isso poderia ser feito era conquistar aquela carne pecaminosa e submetê-la à morte da cruz.

Jesus veio tirar o pecado do mundo, como declarou João. Como Ele poderia tirar o pecado que não estivesse mesmo na carne que Ele assumiu? Para ser mais preciso, como ele poderia “condenar o pecado na carne” em uma carne sem pecado? Paulo disse: “Estou crucificado com Cristo” (Gálatas 2:20). Por que ele posteriormente declara que nós “fomos batizados na Sua morte” (Romanos 6:3)? Todo pecador deve passar, pela fé, pela experiência da crucificação e ressurreição com Cristo. De modo a passar da morte para a vida, cada um de nós deve identificar-se com Aquele que nos representou como o segundo Adão. Nossos pecados estavam nEle. Quando Ele morreu, nós morremos; e a penalidade pelos nossos pecados foi satisfeita e exaurida.

Você pode ver que Ele teve que carregar nossa natureza caída até àquela cruz, de modo a tornar possível que nossa natureza pecaminosa fosse colocada para morrer? Qualquer coisa a menos teria falhado em satisfazer a justiça de Deus. Cristo teve que render a humanidade condenada ao salário completo do pecado naquela cruz, de modo a tornar a expiação possível por nós. De outra forma, não poderíamos nos identificar com Ele ou sermos crucificados com Ele. Obviamente, a redenção requer que Jesus viva e morra com a natureza do homem caído, de forma a fornecer a ligação vital da justificação. Agora vamos para os requisitos da santificação


PARTICIPANDO NA VITÓRIA DE CRISTO

A santificação não é um mero crédito ou contabilidade. É a comunicação de algo a nós. Assim como Ele atribui justificação para nos libertar da culpa do pecado, Ele agora comunica santificação para nos libertar do poder do pecado. O que é a santificação que Ele nos comunica? É nossa real participação na vitória de Cristo sobre o pecado. Pela fé, nos apropriamos da força da vitória que Ele experimentou na carne. Em outras palavras, Ele é capaz e desejoso de viver em nós a mesma vida de superação que Ele viveu como um homem nesta terra. Ele reproduzirá em nós Sua própria experiência sem pecado. Isso é santificação.

Se Jesus veio ao mundo com a natureza não caída de Adão para manifestar uma vida sem pecado, como poderia aquela natureza não caída ser reproduzida em mim? Homens caídos não são santificados por participar da experiência não caída de Adão! Eles são santificados ao vencer o pecado em sua natureza caída, através do mesmo poder que Jesus utilizou para vencer o pecado. Não há nenhuma forma de nós participarmos da experiência não caída de Adão. Se este foi o meio pelo qual Jesus superou Satanás, não há nenhum modo para Ele comunicá-lo a mim. Mas se Jesus obteve a vitória sobre Satanás na natureza caída dos descendentes de Adão, então eu posso participar dela com Ele. Este tipo de vitória pode ser superposta sobre minha própria vida, porque ela foi obtida na mesma natureza que eu possuo.

Uma experiência sem pecado, vivida em alguma natureza alienígena não caída, não poderia ser creditada a mim, nem jamais poderia ser possuída por mim. A natureza caída nunca pode, nesta vida, ser restaurada ao estado do homem não caído. Mas nós podemos receber a vitória sobre o pecado, a qual Jesus obteve na carne como um de nós.


OS DOIS EXTREMOS

Nesse contexto, é interessante estudarmos a breve história vivida por um grupo de Cristãos em Indiana (EUA), que reivindicavam ter carne santa. Por volta do ano 1900, um corpo particularmente grande de membros conservadores tornou-se obcecado com a idéia de que Jesus viveu Sua vida sem pecado na natureza do Adão não caído.

Assumindo, corretamente, que Sua experiência vitoriosa na carne poderia ser comunicada a cada Cristão através da fé, eles começaram a ensinar que a mesmíssima vida incorrupta sem pecado de Adão poderia ser vivida pelos homens caídos. Esta visão fanática levou-os a acreditar que eles pudessem reproduzir a absoluta santidade e perfeição do Adão não caído. Esse é apenas um bem documentado exemplo das ramificações deste falso ensinamento.

A outra extremidade para a qual os homens são levados, ao aceitar o erro da natureza pré-queda de Cristo, é exatamente o oposto à teoria da “carne santa”. Eles simplesmente afirmam que, visto que Jesus venceu na natureza sem pecado de Adão, nós não podemos experimentar Sua vitória enquanto permanecemos em corpos de carne pecaminosa.

Cristo poderia apenas comunicar o que Ele tem para dar, e posto que Ele não obteve vitória sobre o pecado em nossa natureza caída, Ele não poderia compartilhá-la conosco. Portanto, é impossível vencer como Cristo venceu.

Assim, podemos ver como a verdade bela e simples da santificação é minimizada e removida da experiência da justificação pela fé. Já vimos como o erro do “pecado original” gerou duas outras perversões, a saber, que Jesus possuía a natureza não caída de Adão, e que a santificação não pode ser comunicada ao homem por Jesus. De fato, muitos proponentes do pecado original nem mesmo acreditam que é possível superar o pecado nesta vida. Eles negam as repetidas declarações das Escrituras de que o homem caído pode realmente participar da natureza divina de Cristo. De alguma forma, eles não conseguem perceber e aceitar o mistério celestial, tão freqüentemente afirmado na Bíblia, de que Jesus tomou a natureza caída do homem sobre Si e, todavia, nunca foi culpado de pecado. Para eles, a culpa herdada de Adão é tão penetrante na natureza humana, que ela apenas pode ser vencida quando a transladação tomar lugar na vinda de Cristo.


VIVENDO SEM PECADO

É difícil para nós crermos que Jesus, em Sua humanidade, pudesse manter uma mente absolutamente pura, impecável, durante Seus 33 anos e meio neste mundo? É impossível para qualquer um, em carne humana, mesmo sob o poder de Deus, alcançar um tal ponto de vitória sobre o pecado? A resposta da Bíblia é clara: “Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus... Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo” ( II Coríntios 10:3-5).

Essa promessa é feita com relação aos pecadores na carne, os quais voltam-se para o poder libertador do Evangelho. Quanto mais nosso abençoado Senhor seria capaz de clamar a força capacitadora de Seu Pai para guardá-lo de pecar! A Palavra de Deus assegura-nos que podemos participar da natureza divina de Jesus e ter a “mente de Cristo”. Sua experiência sem pecado na carne é uma garantia de que qualquer um de nós pode ter a mesma vitória se dependermos do Pai como Ele fez.

Isto significa que ao vencer o pecado Ele não possuía nenhuma vantagem sobre nós. Ele lutou contra o inimigo na mesma natureza e com as mesmas armas espirituais que estão disponíveis para nós. Se Ele possuiu qualquer vantagem sobre outros homens, foi simplesmente por Sua natureza humana inerente nunca ter sido debilitada, posteriormente, pela indulgência pessoal ao pecado.

Podemos igualar-nos ao padrão perfeito da vida sem pecado de Jesus? Não! Todos nós temos degradado a natureza humana também, ao rendermonos à carne. Não apenas trouxemos a maldição da morte sobre nós mesmos ao quebrar a lei de Deus, mas tornamo-nos a nós mesmos mais vulneráveis a Satanás ao cooperarmos com ele. Jesus nunca respondeu a um único estímulo, e Satanás não podia achar nada nEle. Ele viveu toda a Sua vida com a mente rendida e a vontade do ser inteiramente santificada. Ele não cometeu nenhum pecado pelo qual ser expiado.

Mas, embora não podendo nos igualar ao padrão, devemos procurar ardentemente refletir aquela vida santa de Jesus, tão completamente quanto possível. Pela graça de Deus, podemos colocar de lado cada pecado conhecido e sermos perfeitos em nossa esfera, com consciência nenhuma de ter acariciado um mal proceder sequer.

Isto significa que estaremos nos gabando de viver sem pecado? Pelo contrário, quanto mais nos aproximarmos de Cristo, mais sentiremos nossa indignidade. Aqueles que alcançam o padrão de Cristo serão os últimos a reconhecer isso, quanto mais gabar-se disso. É importante que Deus tenha um povo obediente no final dos tempos, para que Ele possa apontar como uma prova de Seu caráter? A Bíblia revela que todo conflito cósmico entre Deus e o mal pode ser traçado ao desejo original de Satanás em tomar o lugar de Deus e governar o universo. Foi o seu programa de falsa acusação que provocou a rebelião no céu e alienou um terço dos anjos. Satanás apresentou de forma inapropriada o caráter de Deus e acusou o Criador de fazer exigências não razoáveis e impossíveis.

Como se poderia provar que o diabo estava errado? Deus tinha que fornecer uma demonstração que silenciaria o adversário para sempre. Foi uma longa e dolorosa demonstração que levou o Filho de Deus a descer em um corpo humano de homem caído e, dentro do limite dessa natureza, superar tudo o que Satanás pudesse atirar contra Ele. Tivesse Ele utilizado qualquer poder divino para vencer o pecado, que não estivesse disponível a outros na carne, Satanás teria usado isto pra sustentar suas reclamações de que ninguém poderia guardar a lei de Deus.

Na cruz, Jesus demonstrou ao universo inteiro que Satanás estava errado. Ele provou que era possível, na carne, ser obediente através da dependência do Pai. O passo final da prova terá lugar quando o caráter de Cristo tiver sido reproduzido naquele pequeno remanescente perseguido, que permanecer fiel através da tempestade de fogo do Armagedon e além. Muito tempo depois que os joelhos de Satanás tiverem se dobrado em reconhecimento à justiça de Deus, e eras após ele e seus seguidores tiverem provado as conseqüências eternas de seus pecados, os 144.000 continuarão ainda dando testemunho da honra e integridade do governo de Deus. Ao seu novo cântico de vitória e libertação ser escutados por anjos, mundos não caídos, inumerável multidão de santos, todos unir-se-ão em um oratório de louvor, dizendo: “Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém.” (Apocalipse 7:12).

É fácil entender porque aquele pequeno grupo que canta o cântico de Moisés e do Cordeiro será tão assinaladamente honrado ao permanecerem mais perto do trono de Deus. É através da experiência deles que o caráter de Deus será vindicado afinal.

Em resumo, podemos ver como o antigo erro da culpa atribuída de Adão levou à uma cadeia de enganos relacionados. As verdades mais significativas da salvação foram habilmente falsificadas. A humanidade de Jesus foi negada, a justiça comunicada por Cristo foi desafiada, e a possibilidade de vitória sobre o pecado foi ridicularizada. É apenas ao reconhecermos o engano básico que podemos evitar as perversões que a seguem. Que Deus nos dê a sabedoria para permanecermos firmes sobre a Palavra apenas, e rejeitar toda doutrina que não estiver enraizada nEle.


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