sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A Glória do Órion

Uma noite, o astrônomo Garret P. Serviss estava contemplando com um amigo o incomparável espetáculo do Orion que avançava para o meridiano, quando seu companheiro se dirigiu repentinamente a ele e observou:
— Não haverá algum mistério oculto nessa parte dos céus ? Pelo menos assim me parece, porque nunca me posso libertar da idéia de que o poder criador que fez o universo, prodigalizou seus mais ricos dons na região do Orion e seus arredores.
O sr. Serviss manifestou-se de acordo com a observação. Eis suas palavras:
— O mesmo pensamento ocorreu sem dúvida alguma a centenas de outras pessoas, ao contemplarem essa região tão adornada de estrelas. Os céus não são iguais em todas as partes, como não o é a face da terra. Um dos maiores encantos que atraem o astrônomo, em seu entretenimento noturno, é a assombrosa diversidade que vê em diversas direções.
“Na terra não encontramos diamantes e rubis em todos os países. Eles se limitam a certas localidades, como os campos diamantíferos do sul da África, ou os seixos da Birmânia. Há, igualmente, setores definidos do espaço em que não só se acumulam as estrelas mais brilhantes, mas também as que possuem peculiaridades próprias, que lhes assinalam uma hierarquia à parte.
“A região do Orion é talvez o mais admirável desses lugares aparentemente favorecidos. A análise espetroscópica, bem como a aparência geral da luz das estrelas situadas naquela porção do céu, permitem-nos pensar que foram postos à-parte, com sua denominação especial de ‘as estrelas do Orion’ . . .
“É a parte do universo visível à qual se faria mais voluntariamente uma visita, se a personalidade humana pudesse abandonar esta terra, assim como somos atraídos para a parte de um jardim em que a magnificência das flores revela ser o solo mais fértil e seus produtos mais abundantes e louçãos .. . É um espetáculo bem digno de ser admirado, e que não requer emprego de instrumento ótico algum. “
Depois do Cão Maior, Orion é uma das constelações mais bem conhecidas. Algumas de suas estrelas figuram entre as mais brilhantes do firmamento. A todos beneficiaria encontrar este extraordinário grupo de diamantes celestiais e familiarizar-se com ele. Incluídos estão a estrela rosada Aldebaram, e Rigel, a brilhante estrela branca do pé esquerdo do Orion. A seguir encontramos a imperial Sírio, a estrela mais brilhante do céu. Entre a gigante Beteljausa, de côr alaranjada, situada próximo do ombro do Orion, e Rigel , em seu tornozelo, encontramos três estrelas que formam seu cinto, e logo, dependurada desse cinto, a espada do Grande Caçador, consistindo em três estrelas pequenas. O grupo da espada é o que nos interessa especialmente, porque a estrela central desse grupo é a que, para nossa admiração e assombro, ocupa o assim chamado “espaço aberto”.

O Espaço Aberto do Órion

Cerca do ano 1848, a sra. E. G. White, que não era astrônoma, e que segundo suas próprias palavras não se lembrava de haver jamais consultado um livro de astronomia, empregou, acerca da nebulosa do Orion, uma expressão para cuja explicação foram precisos muitos estudos astronômicos.
Ela falou dos acontecimentos que hão de ocorrer enquanto for derramada a sétima taça da ira de Deus, segundo está registado em Apoc. 16: 17-21. Citaremos suas palavras textuais:
“Então o sol, a lua e as estrelas se moverão em seus lugares. Não passarão, mas serão abalados pela voz de Deus. Nuvens negras e densas subiam e chocavam-se entre si. A atmosfera abriu-se e recuou; pudemos então olhar através do espaço aberto em Orion, donde vinha a voz de Deus. ” — Vida e Ensinos, pág. 113.
Que é o “espaço aberto no Orion” ? Muitas horas de pesquisa foram dedicadas ao esforço de resolver este problema, e vários observadores contribuíram para a sua discussão. Edgard Lucian Larkin, diretor do Observatório de Monte Lowe, Passadena, Califórnia, expressou sua opinião, há alguns anos, num artigo do qual citamos o seguinte:
“Convido o leitor a vir comigo sondar as profundidades mais espantosas e assombrosas do espaço interestelar, a explorar comigo uma cova gigantesca, uma profundidade ou escaninho na nebulosa que há na constelação do Orion.
“Recentes impressões fotográficas feitas em placas de vidro expostas no Observatório de Monte Wilson, revelam a propriedade ótica da perspectiva. O que sempre pareceu ser uma superfície plana de matéria nebulosa, isto é, o formoso brilho que há na nebulosa da espada do Orion, revela, nas regiões centrais desses negativos, ser alguma coisa como a boca de uma caverna, uma profundidade aberta que retrocede para distâncias afastadas mais além. Esses negativos, tomados por meio de um grande espelho côncavo de metro e meio de diâmetro [então o maior do mundo], mostram em realidade profundidades sob a resplandecente superfície da nebulosa, e produzem este efeito: a vista olha pela abertura e ao longo dos lados aparentes, para trás. . .
“Chegam os meses de inverno; Orion ergue-se cedo à noite, ostentando magnificos e reais mantos noturnos, vestimentas de pérolas, resplandecências de diamantes. A nebulosa pode ser vista dèbilmente a olho nu, e melhor com óculos de alcance. Fitemo-la nas horas silenciosas, concentrando todas as nossas faculdades mentais, e imaginemo-nos que a região central da nebulosa é em realidade a abertura gigantesca de uma caverna que leva a profundidades inconcebíveis. “
O professor Larkin prossegue dizendo-nos alguma coisa do tamanho desse gigantesco abismo:
“A nebulosa do Orion é, em seu diâmetro angular, mais largo do que a lua, cujo diâmetro é de trinta e dois minutos de arco. Eliminemos todos os excedentes e tomemos matematicamente um diâmetro de trinta e dois minutos apenas, e imediatamente a distância e as dimensões da nebulosa se aprofundam no pensamento humano até ao infinito.
“A abertura desse local é de pelo menos quinze minutos de arco de diâmetro; e o observador pode atingir resultados matemáticos.

A Imensidade da Caverna

“Si, mediante um telescópio poderoso, fitarmos qualquer ponto resplandecente desta nebulosa, e medirmos sua posição por meio de um micrômetro, hoje, e repetirmos a operação seis meses mais tarde, farse-á um descobrimento assombroso: isto é, que as posições são exatamente as mesmas. No decorrer dos seis meses, porém, a terra percorreu a distância de trezentos milhões de quilômetros. Vejamos o que isto significa: transportemos o mesmo telescópio para a nebulosa, e olhemos de lá para a órbita de nosso planeta. O diâmetro da grande órbita celeste, uma linha de trezentos milhões de quilômetros, parecer-nos-ia então tão curta que não se poderia medir com o microscópio, instrumento capaz de medir o diâmetro de um cabelo finíssimo.
“Mas a abertura dessa cova é de quinze minutos de largura, no mínimo. Como se achará sua largura em quilômetros? Seria impossível, medindo qualquer parte resplandecente da nebulosa; de maneira que se devem medir estrelas próximas, supondo em seguida que a nebulosa adjacente esteja a essa distância da terra. Algumas dessas estrelas próximas são binárias, que assim se chamam os casos em que há duas estrelas (em realidade são sóis gigantescos), que giram em redor de um centro comum de gravidade. Por procedimentos de alta e abstrata matemática, pode-se determinar exatamente a distância a que estão da terra.
“O resultado de certo número de medições das estrelas binárias do Orion indica que sua paralaxe é de 1/200 de segundo de arco. Achar a paralaxe significa ir a uma estrela, olhar de lá para cá, e medir a distância angular que há entre nossa Terra e nosso Sol. A distância linear é de uns cento e cinquenta milhões de quilômetros, e a angular, tomada das estrelas do Orion, de 1/200 de segundo. Então, com duzentas linhas, que tivessem cada uma cento e cinquenta milhões de quilômetros de comprimento, posta uma atrás da outra, formar-se-ia um segundo de arco, ou seja, uns trinta mil milhões de quilômetros. Havendo sessenta segundos por minuto, teríamos 1. 850. 000. 000. 000 de quilômetros, que, multiplicados por quinze (a abertura do Orion tem quinze minutos de arco) perfariam 27. 750. 000. 000. 000 de quilômetros, que é a largura dessa abertura colossal que conduz à caverna.
“Então, noventa mil pequenos círculos que tenham as dimensões da órbita terrestre, cada um com um sol em seu centro, entrariam nesse abismo “e caberiam lado-a-lado! E todas essas dimensões são menores que a realidade.
“A distância que há desde a entrada até ao fundo do abismo não pode ser medida, mas deve ser, pelo menos, três vezes maior que a largura, isto é, uns oitenta e quatro bilhões de quilômetros. Mas esta é a distância que há entre a terra e a gigantesca Sírio. Esta e Alfa do Centauro, que a segue, achariam ampla acomodação dentro desta profundidade cósmica. Massas retorcidas, desgarradas e envoltas de resplandecente matéria gasosa, adornadas de miríades de pontos resplandecentes — sóis incipientes, sem dúvida — formam as paredes gigantescas, e o conjunto é uma cena de magnificência indescritível.
“Esses negativos revelam a abertura e o interior de uma caverna tão formidável que todo o nosso sistema solar, inclusive a órbita de Netuno, nela se perderia. Em todos os telescópios ordinários, a nebulosa parece uma superfície plana. Contemplei-a desde os dias de minha juventude, com muitos telescópios de várias potências, mas nunca sonhei que a região central fosse a boca de uma cova colossal. …
“Vi massas de gás, resplandecentes, desgarradas e retorcidas, colunas irregulares, pilares e estalactites de fulmíneo esplendor, e estalagmites que se elevam do pavimento gigantesco! A aparência é a de uma luz que resplandece por detrás de hercúleos muros de marfim ou nácar, salpicados de milhões de pontos diamantinos, que são estrelas resplandescentes. “
Não é de estranhar que o profeta Isaías haja advertido: “Levantai ao alto os vossos olhos, e vede quem criou estas coisas, quem produz por conta o seu exército, quem a todas chama pelos seus nomes; por causa da grandeza das suas forças, e pela fortaleza do seu poder, nenhuma faltará. ” (Isaías 40: 26).
Artigo de autoria de J. Walter Rich, publicado na Revista Adventista de Dezembro/1939.

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