sexta-feira, 27 de maio de 2016

Os 1290 E 1335 Dias de Daniel 12

 

Resumo: Vários intérpretes das Escrituras estão contestando a tradicional interpretação adventista-historicista dia-ano dos “1.290″ e “1.335 dias” de Daniel 12. Eles argumentam que esses períodos proféticos devem ser interpretados como dias literais, em vez de dias que representam o mesmo número de anos. O presente artigo provê cinco importantes argumentos porque a teoria dos “dias literais” é inaceitável para uma interpretação adventista-historicista do livro de Daniel.

Palavras-chave: interpretação historicista, interpretação futurista, dia-ano, Ellen White, 1.290 dias, 1.335 dias, Daniel 12.

1. Introdução
A interpretação dos “1.290 dias” e dos “1.335 dias” de Daniel 12:11-12, respectivamente como 1.290 anos e 1.335 anos, pode ser encontrada já entre os expositores judeus do século 8 d.C. Essa interpretação, baseada no princípio dia-ano (ver Números 14:34; Ezequiel 4:6-7), continuou sendo advogada pelos seguidores de Joaquim de Fiore (1130-1202), bem como por vários outros expositores, durante a Pré-Reforma, a Reforma e a tradição protestante subsequente.[1]

Guilherme Miller (1782-1849), por sua vez, cria (1) que tanto os 1.290 anos como os 1.335 anos haviam iniciado em 508, quando Clóvis obteve a vitória sobre os visigodos arianos, passo esse decisivo na união dos poderes político e eclesiástico para a punição dos “hereges” pelo catolicismo medieval; (2) que os 1.290 anos haviam se cumprido em 1798, com o aprisionamento do Papa Pio VI pelos exércitos franceses; e (3) que os 1.335 anos se estenderiam por mais 45 anos, até o término dos 2.300 anos de Daniel 8:14, em 1843/1844.[2] 
Essa interpretação foi mantida pelos primeiros adventistas observadores do sábado,[3] transformando-se na posição histórica da Igreja Adventista do Sétimo Dia até hoje.[4]

Porém, em anos recentes, alguns pregadores independentes começaram a propagar uma “nova luz” sobre os 1.290 e 1.335 dias de Daniel 12. Rompendo com a tradicional compreensão adventista, tais indivíduos alegam que ambos os períodos são compostos por dias “literais” (e não dias que representam “anos”), a se cumprirem ainda no futuro. Alguns deles sugerem que ambos os períodos iniciarão com o futuro decreto dominical; que os 1.290 dias “literais” são o período reservado para o povo de Deus sair das cidades; e que ao término dos 1.335 dias “literais” a voz de Deus será ouvida anunciando “o dia e a hora” da volta de Cristo.[5]

Por mais interessante que essa teoria possa parecer, existem pelo menos cinco razões básicas que nos impedem de aceitá-la.

2. Essa teoria se baseia numa leitura parcial e tendenciosa do Espírito de Profecia
 
Um dos argumentos usados para justificar o cumprimento futuro dos 1.290 e 1.335 dias é a falsa alegação de que Ellen White considerava como errônea a noção de que os 1.335 dias já haviam se cumprido no passado. Alusões são feitas à carta de Ellen G. White “à igreja na casa do Irmão Hestings”, datada de 7 de novembro de 1850, na qual são mencionados alguns problemas relacionados com o irmão O. Hewit, de Dead River. No texto original em inglês dessa carta, aparece a seguinte declaração: “We told him of some of his errors in the past, that the 1,335 days were ended and numerous errors of his”.[6]

Esta sentença deveria ser traduzida simplesmente como: “Nós lhe mencionamos alguns dos seus erros do passado, que os 1.335 dias haviam se cumprido e muitos dos seus erros.” No entanto, alguns defensores da “nova luz” profética preferem substituir a conjunção “que” (inglês “that”) pela expressão “tais como” (inglês “such as”), alterando desta forma o sentido do texto. Assim, eles conseguem fazer com que a sentença diga que entre os erros advogados por Hewit estava também a ideia de “que os 1.335 dias haviam se cumprido”.

Se a intenção de Ellen White era realmente corrigir o irmão Hewit por crer que os 1.335 dias já haviam se cumprido, permaneceriam as indagações: Por que Ellen White se limitou a corrigir, em 1850, de forma parcial e tendenciosa, apenas a posição pessoal desse irmão, sem qualquer repreensão aos demais líderes do movimento adventista que também criam que esse período profético já havia se cumprido em 1844? Por que ela não reprovou o seu próprio esposo (Tiago White) por afirmar na Review, ainda em 1857, que “os 1.335 dias terminaram com os 2.300, com o Clamor da Meia-Noite em 1844″?[7] Por que ela não o repreendeu por continuar publicando na Review vários artigos de outros autores, advogando a mesma ideia?[8] E mais, como poderia Ellen White haver declarado, em 1891, que “nunca mais haverá para o povo de Deus uma mensagem baseada em tempo”,[9] se o cumprimento dos 1.290 e 1.335 dias ainda estivesse no futuro?

Evidências de que Ellen White cria que esses períodos já haviam se cumprido em seus dias podem ser encontradas também em suas declarações que falam de que Daniel já estava sendo vindicado em sua sorte (ver Daniel 12:13) desde o início do tempo do fim.[10] Cremos, portanto, que o Dr. P. Gerard Damsteegt, professor do Seminário Teológico da Universidade Andrews, estava correto ao declarar que “já em 1850 E. G. White havia escrito que os 1.335 dias haviam se cumprido, sem especificar o tempo do seu término”.[11]

3. Essa teoria quebra o paralelismo profético-literário do livro de Daniel
 
Para justificar o suposto cumprimento futuro dos 1.290 e 1.335 dias, os advogados dessa “nova luz” profética alegam, sem qualquer constrangimento, que o conteúdo de Daniel 12:5-13, onde são mencionados esses períodos, não é parte integrante da cadeia profética de Daniel 11. Porém, uma análise mais detida da estrutura literária do livro de Daniel não confirma essa teoria.

O Dr. William H. Shea esclarece que no livro de Daniel cada período profético (1.260, 1.290, 1.335 e 2.300 dias) aparece como um apêndice calibrador ao corpo básico da respectiva profecia que lhe corresponde. Por exemplo, a visão do capítulo 7 é descrita nos versos 1-14, mas o tempo a ela relacionado só aparece no verso 25. No capítulo 8, o corpo da visão é relatado nos versos 1-12, mas o tempo só ocorre no verso 14. De modo semelhante, os tempos proféticos relacionados com a visão do capítulo 11 só são mencionados no capítulo 12.[12]

Esse paralelismo comprova que os 1.290 dias e os 1.335 dias, de Daniel 12:11 e 12, compartilham da mesma natureza profético-apocalíptica que os “tempo, tempos e metade de um tempo”, de Daniel 7:25, e as 2.300 tardes e manhãs, de Daniel 8:14. Assim, se aplicamos o princípio dia-ano aos períodos profético de Daniel 7 e 8, também devemos aplicá-lo aos períodos de Daniel 12, pois todos esses períodos estão interligados entre si, de alguma forma, e a descrição de cada visão indica apenas um único cumprimento para o período profético que lhe corresponde.

Além disso, a alusão em Daniel 12:11 ao “sacrifício diário” e à “abominação desoladora” conecta os 1.290 e 1.335 dias não apenas com o conteúdo da visão de Daniel 11 (ver Daniel 11:31) mas também com as 2.300 tardes e manhãs de Daniel 8:14 (ver Daniel 8:13; 9:27). O mesmo poder apóstata que haveria de estabelecer a “abominação desoladora” em lugar do “sacrifício diário” é descrito em Daniel 7 e 8 como o “chifre pequeno”, e em Daniel 11 como o “rei do Norte”.

Portanto, a tentativa de interpretar alguns períodos proféticos de Daniel (70 semanas, 2.300 tardes e manhãs) como dias que simbolizam anos, e outros (1.260 dias, 1.335 dias) como meros dias literais, é totalmente incoerente com o paralelismo profético-literário do livro de Daniel.

4. Essa teoria se apoia em uma interpretação não bíblica do termo hebraico tamid (“diário”, “contínuo”)
 
A teoria de que tanto os 1.290 dias, quanto os 1.335 dias iniciam com o futuro decreto dominical é baseada na suposição de que, em Daniel 12:11, as expressões “sacrifício diário” e “abominação desoladora” significam respectivamente o sábado e o domingo. Mas também essa suposição carece de fundamentação escriturística.

A expressão “sacrifício diário” é a tradução do termo hebraico tamid, que significa “diário” ou “contínuo”, ao qual foi acrescentada a palavra “sacrifício”, que não se encontra no texto original de Daniel 8:13 e 12:11. Esse termo (tamid) é usado nas Escrituras em relação não apenas com o sacrifício diário do santuário terrestre (ver Êxodo 29:38 e 42) mas também com vários outros aspectos da ministração contínua daquele santuário (ver Êxodo 25:30; 27:20; 28:29 e 38; 30:8; 1Crônicas 16:6). No livro de Daniel o termo se refere, obviamente, ao contínuo ministério sacerdotal de Cristo no santuário/templo celestial (ver Daniel 8:9-14). Já a expressão “transgressão assoladora” ou “abominação desoladora” subentende o amplo sistema de contrafação a esse ministério, construído sobre as teorias antibíblicas da imortalidade natural da alma, da mediação dos santos, do confissionário, do sacrifício da missa, etc.
Não podemos concordar com a teoria de que em Daniel 12 o “diário” representa simplesmente o sábado, e a “abominação desoladora”, o domingo. Para crermos desta forma, teríamos que esvaziar essas expressões do amplo significado que lhes é atribuído tanto pelo próprio contexto bíblico no qual aparecem, como também pelo consenso geral das Escrituras.

5. Essa teoria reflete a interpretação jesuíta-futurista da Contra-Reforma Católica
 
Os defensores da interpretação literal-futurista dos 1.290 e 1.335 dias alegam que sua posição é genuinamente adventista e plenamente sancionada pelos escritos de Ellen G. White. Mas se analisarmos mais detidamente o assunto à luz da história, perceberemos que essa teoria rejeita o historicismo e o princípio dia-ano, da tradição Protestante, para se alinhar abertamente com o futurismo literalista da Contra-Reforma Católica.

Os reformadores protestantes do século 16 identificavam o “chifre pequeno” com o papado, do qual se originaria a “abominação desoladora” de que fala Daniel.[13] Foi para inocentar o papado dessas acusações que o cardeal italiano Roberto Bellarmino (1542-1621), o mais capaz e renomado de todos os polemistas jesuítas, sugeriu que o “chifre pequeno” era um mero rei e que os 1.260, 1.290 e 1.335 dias eram apenas dias literais, a se cumprirem somente no período que antecederia o fim do mundo.[14] Desta forma, o papado contemporâneo não poderia mais ser identificado como o “chifre pequeno” ou “rei do Norte” e, consequentemente, não mais poderia ser responsabilizado pela “transgressão assoladora” ou “abominação desoladora”.
Muitos dos defensores contemporâneos da interpretação futurista dos 1.290 e 1.335 dias desconhecem o comprometimento dessa teoria com o futurismo da Contra-Reforma Católica. Mas, mesmo assim, tais indivíduos deveriam pelo menos reconhecer que “essas propostas futuristas repousam, essencialmente, sobre uma má compreensão dos padrões de pensamento da poesia hebraica”, e que “elas representam uma leitura do idioma hebraico através de óculos ocidentais”.[15]

6. Essa teoria menospreza as advertências do Espírito de Profecia, contra a tentativa de se estender o cumprimento de qualquer profecia de tempo para além de 1844
 
Se essa teoria fosse correta, bastaria ser promulgado o decreto dominical, e já saberíamos por antecipação quando a porta da graça se fecharia e quando ocorreria a segunda vinda de Cristo. Essa é, por conseguinte, mais uma forma sutil e capciosa de se estabelecer datas para os eventos finais. Por mais originais e criativas que possam parecer, essas tentativas não passam de propostas especulativas, que desconhecem e/ou menosprezam, em nome do Espírito de Profecia, as próprias advertências do Espírito de Profecia sobre o assunto.

Já em 1850, Ellen White advertiu: “O Senhor me mostrou que o TEMPO não tem sido um teste desde 1844, e que o tempo nunca mais será um teste”.[16] Posteriormente ela acrescentou que “nunca mais haverá para o povo de Deus uma mensagem baseada em tempo.” “O Senhor mostrou-me que a mensagem deve ir, e que não deve depender de tempo; pois o tempo não será nunca mais uma prova.” “Deus não nos revelou o tempo em que esta mensagem será concluída, ou quando terá fim o tempo de graça.”[17] Será somente depois do fechamento da porta da graça, e pouco antes da segunda vinda de Cristo, que Deus há de declarar aos salvos “o dia e a hora da vinda de Jesus”.[18]

Comentando a expressão “que não haveria mais tempo” (Apocalipse 10:6, KJV), em 1900 Ellen White asseverou: “Esse tempo, que o anjo declara com um solene juramento, não é o fim da história deste mundo, nem o tempo de graça, mas o tempo profético, que precederia o advento de nosso Senhor. Ou seja, o povo não terá outra mensagem a respeito de um tempo definido. Após este período de tempo, que se estende de 1842 a 1844, não pode haver qualquer cálculo definido de tempo profético.”[19]

Sendo este o caso, por que então alguns professos adventistas ainda continuam insistindo em reaplicar os 1.290 dias e os 1.335 dias de Daniel 12 para o futuro? Cabe somente a Deus julgar o grau de sinceridade de tais pessoas; mas uma coisa é certa: “A fé em uma mentira não terá influência santificadora sobre a vida ou o caráter. Nenhum erro é verdade, nem pode tornar-se verdade pela repetição, ou por fé nele. … Posso ser perfeitamente sincera em seguir um caminho errado, mas isto não torna o caminho certo, nem me levará ao lugar a que eu desejava chegar”.[20]

7. Conclusão
É evidente, portanto, que a teoria de um cumprimento futuro dos 1.290 e 1.335 dias (1) se baseia numa leitura parcial e tendenciosa do Espírito de Profecia; (2) quebra o paralelismo profético-literário do livro de Daniel; (3) se apoia em uma interpretação não bíblica do termo hebraico tamid (“diário”, “contínuo”); (4) reflete a interpretação jesuíta-futurista da Contra-Reforma Católica; e (5) menospreza as advertências do Espírito de Profecia contra a tentativa de se estender o cumprimento de qualquer profecia de tempo para além de 1844.

Numa época em que os vendavais de falsas doutrinas estarão soprando com forte intensidade (ver Efésios 4:14), “para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mateus 24:24), só estaremos seguros se alicerçados sobre a clara e inamovível Palavra de Deus. Toda “nova luz”, para ser verdadeira, deve estar em perfeita harmonia com o consenso geral das Escrituras e dos escritos inspirados de Ellen White.[21] Os atalaias do povo de Deus jamais deveriam permitir que as conjecturas e as especulações humanas os impeçam de dar à trombeta o sonido certo (ver Ezequiel 33:1-9; 1Coríntios 14:8).

Referências:
[1] LeRoy E. Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers (Washington, DC: Review and Herald, 1954), vol. 4, pp. 205-206.
[2] William Miller, Evidences from Scripture and History of the Second Coming of Christ about the Year A.D. 1843, and of His Personal Reign of 1000 Years (Brandon, [VT]: Vermont Telegraph Office, 1833), p. 31; idem, Evidence from Scripture and History of the Second Coming of Christ, about the Year 1843; Exhibited in a Course of Lectures (Boston: Joshua V. Himes, 1842), pp. 95-104, 296-297; idem, “Synopsis of Miller’s Views”, Signs of the Times, 25 de janeiro de 1843, pp. 148-149.
[3] Ver P. Gerard Damsteegt, Foundations of the Seventh-day Adventist Message and Mission (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1977), pp. 168-170.
[4] Ver, por exemplo, [Uriah Smith], “Synopsis of the Present Truth. No. 12″, Review and Herald, 28 de janeiro de 1858, pp. 92-92; Stephen N. Haskell, The Story of Daniel the Prophet (Berrien Springs, MI: Advocate Publishing Company, 1903), pp. 263-265; J. N. Loughborough, “The Thirteen Hundred and Thirty-Five Days”, Review and Herald, 4 de abril de 1907, pp. 9-10; Uriah Smith, The Prophecies of Daniel and the Revelation, ed. rev. (Washington, DC: Review and Herald, 1944), pp. 330-331: George M. Price, The Greatest of the Prophetes: A New Commentary on the Book of Daniel (Mountain View, CA: Pacific Press, 1955), pp. 337-342; Araceli S. Melo, Testemunhos Históricos das Profecias de Daniel (Rio de Janeiro: [Laemmert], 1968), pp. 727-729; Francis D. Nichol, ed., The Seventh-day Adventist Bible Commentary, ed. rev. (Washington, DC: Review and Herald, 1977), vol. 4, pp. 880-881; Vilmar E. González, “Os 1.290 e 1.335 dias em Daniel 12″, Revista Adventista, setembro 1982, pp. 43-45; Jacques B. Doukhan, Daniel: The Vision of the End, ed. rev. (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1989), p. 153; William H. Shea, “Time Prophecies of Daniel 12 and Revelation 12-13″, em Frank B. Holbrook, ed., Symposium on Revelation – Book I, Daniel and Revelation Committee Series, vol. 6 (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute of the General Conference of Seventh-day Adventists, 1992), pp. 327-360; William H. Shea, Daniel 7-12: Prophecies of the End Time, The Abundant Life Bible Amplifier (Boise, ID: Pacific Press, 1996), pp. 217-223.
[5] Uma importante análise crítica de várias teorias mais recentes sobre o cumprimento dos 1.260, 1.290 e 1.335 dias pode ser encontrada em Victor Michaelson, Delayed Time-Setting Heresies Exposed (Payson, AZ: Leaves-Of-Autumn, 1989).
[6] E. G. White, “To the Church in Bro. Hastings house”, 7 de novembro de 1850 (carta H-28, 1850). Republicada em idem, Manuscript Releases, vol. 5, p. 203; ibidem, vol. 6, p. 251; ibidem, vol. 16, p. 208.
[7] James White, “The Judgment”, Review and Herald, 29 de janeiro de 1857, p. 100.
[8] Ver, por exemplo, J. N. Loughborough, “The Hour of His Judgment Come”, Review and Herald, 14 de fevereiro de 1854, p. 30; U[riah] S[mith], “Short Interviews with Correspondents”, Review and Herald, 24 de fevereiro de 1863, p. 100; [idem], “The Sanctuary”, Review and Herald, 8 de setembro de 1863, p. 116.
[9] E. G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 188.
[10] [Idem], “Temperance”, Ms. 50, 1893 (publicado em idem, Sermons and Talks, vol. 1, pp. 225-226); idem, para o “Dr. J. H. Kellogg”, Carta K-59, de 22 de novembro de 1896 (publicada em idem, Testemunhos Para Ministros, p. 115); idem, “Diary”, Ms. 176, de 4 de novembro de 1899 (publicado em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 4, p. 1174); idem, “Help to Be Given to Our Schools”, Ms. 10, 1900 (publicado em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 7, p. 949); idem, “To Our Church Members in Australasia”, Carta B-6, de 17 de janeiro de 1907 (publicada em [Australasian] Union Conference Record, 11 de março de 1907, pp. 1-2).
[11] Damsteegt, p. 169.
[12] Shea, Daniel 7-12, pp. 217-218.
[13] Ver Froom, vol. 2, pp. 241-463, passim.
[14] Ver ibid., pp. 495-502.
[15] [Frank B. Holbrook], “Editorial Synopsis” ao artigo de W. H. Shea, “Time Prophecies of Daniel 12 and Revelation 12-13″, em Holbrook, ed., Symposium on Revelation – Book I, p. 327.
[16] E. G. White, “Dear Brethren and Sisters”, Present Truth, novembro de 1850, p. 87. Ver também idem, Primeiros Escritos, p. 75.
[17] Idem, Mensagens Escolhidas, vol. 1, pp. 188, 191.
[18] Idem, O Grande Conflito, p. 640. Ver também idem, Primeiros Escritos, pp. 15, 296-297.
[19] Comentários de Ellen G. White em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 7, p. 971.
[20] Idem, Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 56.
[21] Ver idem, Counsels to Writers and Editors, pp. 33-51.
* O presente artigo foi publicado originalmente em Ministério (Brasil), maio-junho de 1999, pp. 16- 18. O mesmo artigo foi publicado em espanhol em Logos (Universidad Adventista del Plata, Argentina) ano 3, n.º 2, setembro de 1999, pp. 20-23; El Ministério Adventista (Argentina), novembro-dezembro de 2003, pp. 28-31; e está disponível também em inglês no site oficial do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia (http://biblicalresearch.gc.adventist.org/documents/daniel12.htm).

Alberto Timm, “Revista do Ancião”, janeiro–fevereiro de 2004.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Conversão de Saulo. Ouviram, mas não viram – ou – não ouviram, mas viram? Atos 9:7 e 22:9

 
Existe, à primeira vista, uma aparente tensão entre as descrições de Atos 9:7 e 22:9 sobre a experiência dos companheiros de Saulo por ocasião da conversão dele. Porém, considerando mais detidamente esses textos, percebe-se que em Atos 9:7 é dito que os companheiros ouviram “a voz”, mas não viram “ninguém”, enquanto que Atos 22:9 acrescenta que eles “viram a luz, sem contudo perceberem o sentido da voz que falava” com Saulo.

Tanto a voz quanto a luz mencionadas nessas passagens eram do próprio Jesus (ver Atos 9:5; 22:8; 26:15). Os companheiros de Saulo ouviram a “voz” de Jesus falando com ele, mas não entenderam o “sentido” das palavras proferidas. Viram apenas uma “luz” sobrenatural, sem terem o privilégio de contemplar a forma específica dAquele que Se revelara a Saulo. Cremos, assim, que os textos se complementam em suas declarações.

Alberto Timm, “Sinais dos Tempos”, novembro–dezembro de 2001, p. 30.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Voto Batismal: em nome da Trindade ou em nome de Jesus? (Mateus 28:18-20)



Na grande comissão evangélica de Mateus 28:18-20, Cristo ordenou que o Evangelho fosse pregado a “todas as nações”, e que os conversos dessas nações fossem batizados “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (verso 19). No entanto, eventos registrados no livro de Atos falam de conversos que foram batizados “em nome de Jesus Cristo” (Atos 2:38; 8:16; 10:48; 19:5). Diante disso surge a indagação: esses batismos “em nome de Jesus” invalidam a ordem de ministrar-se o batismo em nome da Trindade?
Várias teorias têm sido propostas para explicar essa aparente tensão entre a ordem de Cristo e a prática da igreja apostólica. A mais convincente delas parece ser a de que as referências ao batismo “em nome de Jesus Cristo” não estejam sugerindo uma nova fórmula batismal, mas apenas enfatizando a condição básica para esse rito ser ministrado. Em outras palavras, um judeu étnico ou prosélito, que já cria no verdadeiro Deus, só poderia ser batizado na comunidade cristã se ele cresse também em Jesus de Nazaré como o prometido Messias.

O mesmo Cristo que declarou, em Mateus 28:19, que o rito do batismo deve ser ministrado “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”, também afirmou, em Marcos 16:16, que a submissão a esse rito deve ser precedida pela fé que se centraliza no próprio Cristo (João 3:16; Hebreus 12:2). Por ocasião do Pentecostes, aqueles que, em resposta ao discurso de Pedro, aceitaram a Jesus de Nazaré como o Messias, foram batizados “em nome de Jesus Cristo” (Atos 2:38) como demonstração pública dessa aceitação.
Mas é importante notar que mesmo os textos que falam do batismo “em nome de Jesus Cristo” estão impregnados pelo conceito da Trindade. Analisando-se o conteúdo desses textos, percebe-se, em primeiro lugar, que aqueles que foram então batizados “em nome de Jesus Cristo” eram pessoas que já criam previamente em Deus o Pai. Além disso, em todas essas ocasiões o batismo “em nome de Jesus Cristo” foi acompanhado pelo recebimento prévio, simultâneo ou posterior do “dom do Espírito Santo” (Atos 2:38; 8:14-17; 10:44-48; 19:1-6).

Procurando invalidar a fórmula batismal em nome da Trindade, alguns indivíduos alegam que o texto de Mateus 28:19 não aparece no original grego do Novo Testamento. Essa alegação é totalmente infundada, pois não existem quaisquer evidências textuais que a comprovem. Embora hajam discussões significativas a respeito do conteúdo original de Marcos 16:9-20 (ver Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament, ed. corr. [Londres: United Bible Societies, 1975], págs. 122-128), o mesmo não ocorre com Mateus 28:18-20.

Cremos, portanto, que a ministração do batismo “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito” é parte dos ensinos de Cristo que devem ser observados por Sua igreja “até à consumação do século” (Mateus 28:20).

Alberto Timm, “Sinais dos Tempos”, agosto de 1999, p. 29.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Rebatismo. Se existe “um só batismo” (Efésios 4:5), por que rebatizar pessoas já batizadas por imersão?



Algumas pessoas alegam, com base em Efésios 4:5 (“há um só Senhor, uma só fé, um só batismo”), que o batismo por imersão só pode ser ministrado uma única vez a cada indivíduo. Essa teoria acaba distorcendo não apenas o sentido básico do texto bíblico, mas, também, o significado do rito batismal e o ensino de outros textos inspirados que abordam a questão do rebatismo. Efésios 4:1-6 fala a respeito da unidade que deveria existir entre todos aqueles que ingressaram na comunidade dos crentes através do mesmo rito batismal. Andrew T. Lincoln esclarece que “o ‘um só batismo’ é o batismo nas águas, o rito público de confissão da única fé no único Senhor. O batismo é único, não por ter uma única forma ou por ser ministrado uma única vez, mas por ser a iniciação em Cristo, no único corpo”. Como todos os crentes se tornaram membros do corpo de Cristo através do batismo, esse rito é um “fator unificador” da igreja (Word Biblical Commentary, vol. 42, pág. 240).

Biblicamente, o batismo não é um sacramento que concede méritos à salvação, e sim um símbolo visível de uma nova aliança salvífica entre Deus e o pecador regenerado pela graça divina. Através desse ato público, a pessoa se compromete a deixar de servir o pecado, passando a viver “em novidade de vida” (Romanos 6:1-7). A nova vida em Cristo implica na aceitação de Cristo como Salvador e Senhor, bem como na vivência prática de Sua vontade revelada nas Escrituras.

O ideal é que o batismo seja ministrado uma única vez aos novos conversos, no início da vida cristã. Mas o Manual da Igreja (rev. 2000), págs. 42 e 43, menciona duas circunstâncias nas quais é aconselhável que a pessoa seja rebatizada.

Uma delas diz respeito aos conversos provenientes de outras comunidades cristãs nas quais já foram batizados por imersão. Mesmo nunca tendo rompido seu relacionamento com Cristo, essas pessoas podem selar publicamente, por um novo batismo, sua aceitação de uma nova plataforma doutrinária, mais ampla e mais comprometida com o conteúdo geral das Escrituras (ver Mateus 4:4; 28:19 e 20; João 16:13).
Que a aceitação de novos componentes doutrinários fundamentais pode justificar o rebatismo de um cristão é evidente nas experiências tanto de um grupo de crentes em Éfeso como de Ellen G. White. Somos informados em Atos 19:1-7 que, em Éfeso, o apóstolo Paulo encontrou “uns doze” discípulos já batizados por João Batista no “batismo de arrependimento” que nem ao menos haviam ouvido falar “que existe o Espírito Santo”. Após compreenderem essa verdade, eles foram rebatizados “em o nome do Senhor Jesus”. No caso de Ellen G. White, ela já havia sido batizada por imersão em Portland, Maine, em 1842, sendo ainda metodista. Mas, após compreender a verdade do sábado em 1846, pediu que o seu próprio esposo, Pastor Tiago White, a rebatizasse (Arthur L. White, Ellen G. White, vol. 1 – “The Early Years”, págs. 121 e 122). Tiago White, em seu livro Life Incidents, pág. 273, declara que ela foi tomada em visão após essa experiência. “Ao ser batizada por mim, em um período inicial de sua experiência, quando eu a levantei das águas, ela foi imediatamente tomada em visão”.

Outra circunstância mencionada no Manual da Igreja, na qual é aconselhável que a pessoa seja rebatizada diz respeito a pessoas que já foram adventistas e apostataram da fé. Quando o crente rompe sua aliança com Cristo e volta a uma vida de pecado, ele se torna passível de ter seu nome eliminado do rol de membros da igreja. O seu reingresso na comunidade dos crentes deve ser assinalado por um novo testemunho público de uma mudança de vida, selado pelo rebatismo.

As principais declarações de Ellen G. White sobre a prática do rebatismo aparecem em seu livro Evangelismo, págs. 372-375. Analisando-se essas declarações, pode-se concluir, em primeiro lugar, que adventistas apostatados que se convertem e desejam voltar à comunhão da igreja devem submeter-se ao rebatismo; e, em segundo lugar, que crentes já batizados por imersão em outras denominações seriam aceitos na comunhão da igreja idealmente pelo rebatismo, mas sem jamais coagi-los a se submeterem a esse rito, caso não sintam genuína necessidade dele. Portanto, Efésios 4:1-6 ratifica a unidade da fé ao mencionar que todos os crentes se tornaram parte do corpo de Cristo através do mesmo rito público (o batismo) de confissão da única fé no único Senhor. Mas essa realidade não desaprova o rebatismo daqueles que assumem uma nova aliança com Cristo e com Sua Palavra.

Alberto Timm, “Revista do Ancião”, outubro–dezembro de 2004.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Como é possível saber se um sonho é de Deus ou não?


Determinar a natureza específica de cada sonho de uma pessoa é um assunto muito complexo e subjetivo. Além dos “sonhos mentirosos” e não autênticos (Jeremias 23:32; 29:8-9), existem dois grandes grupos de sonhos reais. O primeiro e mais comum deles é o formado pelos sonhos naturais, que fazem parte do processo normal de descanso durante o sono, e cujo conteúdo pode apresentar-se de forma organizada ou desorganizada. Uma vez que “dos muitos trabalhos vêm os sonhos” (Eclesiastes 5:3), é provável que pessoas envolvidas em assuntos religiosos acabem sonhando com eles, sem que tais sonhos sejam de origem sobrenatural.

Já o segundo grupo básico de sonhos é formado pelos sonhos sobrenaturais, que podem ser de origem divina ou satânica. Os sonhos de origem divina tem normalmente um propósito salvífico bem definido, e podem ser concedidos tanto aos profetas verdadeiros (Números 12:6), como aos membros comuns do povo de Deus (Joel 2:28), e mesmo às pessoas que não pertencem ao povo de Deus (Gênesis 41; Daniel 2). Por sua vez, os sonhos de origem satânica são quase sempre fascinantes, e podem conter verdades, para confundir a pessoa. Suas predições podem até se cumprir, mas eles tendem a afastar, eventualmente e de alguma forma, a pessoa de Deus e de Sua vontade (ver Jeremias 29:8; Mateus 24:24; 1Pedro 5:8).

Torna-se evidente, portanto, que tanto os sonhos naturais como os sobrenaturais (quer divinos ou satânicos) podem ter um conteúdo religioso. Além disso, o simples fato de Deus conceder um sonho sobrenatural a alguém não transforma essa pessoa automaticamente num profeta, como pode-se inferir das experiências de Faraó (Gênesis 41) e de Nabucodonosor (Daniel 2). Embora todo profeta receba sonhos de origem divina (Números 12:6), nem todos os que recebem tais sonhos podem ser considerados profetas. O chamado para os ministérios proféticos é algo diferente e bem mais abrangente.

A atitude de atribuir a Deus a origem de todos os sonhos de cunho religioso, e de buscar sempre um significado especial para o seu conteúdo, é altamente perigosa. Aqueles que assim agem são tentados a se considerar mais privilegiados por Deus do que os demais, tornando-se presas fáceis das artimanhas do maligno. Somos advertidos pelo próprio Deus de que todos os sonhos (até mesmo os dos profetas) devem permanecer subordinados à autoridade normativa das Escrituras. “O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a Minha palavra, fale a Minha palavra como verdade. Que tem a palha com o trigo? – diz o Senhor” (Jeremias 23:28). ”À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8:20; ver também Mateus 7:21-23; Gálatas 1:8-9; 1João 2:4; 4:1).

Sonhos jamais são usados por Deus como um fim em si mesmos, mas apenas como um meio de nos aproximar mais dEle e de Sua Palavra (ver João 20:29). Ademais, não podemos permitir que nossa fé dependa de tais meios, possíveis de serem usados também por Satanás. Portanto, se você tiver um sonho que julga ser de procedência divina, mas não tem plena certeza disso, o mais prudente é tentar extrair dele uma lição positiva para a vida, até que a sua origem e o seu propósito fiquem mais bem esclarecidos.

Alberto Timm, “Sinais dos Tempos” – julho de 1999

domingo, 22 de maio de 2016

Só o Pastor “Pode” Batizar? (Mateus 28:18-20)



O relacionamento entre o clero e os leigos foi desequilibrado por duas distorções opostas que emergiram no meio do cristianismo. A primeira foi a superênfase do catolicismo medieval sobre as funções sacerdotais, que acabou enaltecendo o clero em detrimento dos leigos. A segunda foi a tentativa anabatista, no século 16, de eliminar toda e qualquer distinção entre clérigos e leigos, obliterando assim as funções eclesiásticas. O equilíbrio entre esses dois extremos foi mantido por Lutero, que restaurou o conceito bíblico do “sacerdócio universal” de todos os crentes, sem abolir as funções sacerdotais exercidas por alguns crentes escolhidos especificamente para tais funções.
Rompendo com os dogmas católicos da confissão auricular e da mediação dos santos, Lutero ensinava que todos os crentes tinham pleno direito (1) de orar diretamente ao Pai, por meio de Jesus Cristo (João 14:6; 1Timóteo 2:5), e (2) de testemunhar a outros as boas-novas da salvação (Atos 1:8). Mas esse “sacerdócio universal” não eliminava a necessidade de um bem-organizado ofício ministerial; pois, de acordo com Lutero, “o povo não pode fazê-lo como um todo, mas tem que delegá-lo a uma pessoa ou deixá-lo aos cuidados de alguém. Do contrário, que aconteceria se cada qual quisesse falar e administrar [o sacramento], e ninguém quisesse ceder ao outro?” (Martinho Lutero: Obras Selecionadas, vol. 3, p. 413).

A importância do ofício dentro da comunidade dos crentes é enfatizada tanto no Antigo Testamento, por meio da instituição do sacerdócio levítico (Êxodo 28), como no Novo Testamento, através do ensino apostólico. Paulo é claro em afirmar que o próprio Cristo “concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4:11 e 12). Isso significa que nem todos são chamados a exercer as mesmas funções dentro da igreja.
Além disso, o Novo Testamento atesta que o rito do batismo não era oficiado por todos os crentes da igreja primitiva. Por exemplo, o batismo de arrependimento que preparava o caminho do Messias era ministrado especificamente por João Batista (Mateus 3; João 1:19-34). Aqueles que aceitavam o evangelho, durante o ministério de Cristo, eram batizados pelos “Seus discípulos” (João 4:1 e 2). Já o livro de Atos revela que, após a ascensão de Cristo, esse rito era oficiado pelos apóstolos e por outros líderes da igreja (ver Atos 2:38-41; 8:12, 35-39; 9:18; 10:44-48; 16:14 e 15, 30-34; 18:8).

Embora o imperativo de ir e fazer “discípulos de todas as nações, batizando-os…” (Mateus 28:19) fosse dado originalmente aos “onze discípulos” (versos 16 e 18), cremos que ele se aplica a todos os cristãos, de todas as épocas e lugares. Todos os crentes têm, portanto, a solene responsabilidade de testemunhar do evangelho aos descrentes, incentivando-os a uma experiência genuína com Cristo que culmine com o batismo. Isso não significa que todo crente deva oficiar pessoalmente o batismo de seus conversos; pois essa cerimônia deve ser ministrada apenas por aqueles que foram escolhidos dentro da comunidade dos crentes, como ministros do evangelho, para esse ofício.

Alberto Timm, “Sinais dos Tempos”, junho de 1998, p. 29.

sábado, 21 de maio de 2016

O que aconteceu com as pessoas que ressuscitaram quando Jesus morreu?

 

Mateus 27:51-53 nos diz que, por ocasião da morte de Jesus, “o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas; abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram”. Alguns mortos, como o filho da sunamita (2Reis 4:18-37), a filha de Jairo (Mateus 9:23-26), o filho da viúva de Naim (Lucas 7:11-17) e Lázaro (João 11:146), já haviam sido ressuscitados antes da morte e ressurreição de Jesus. Estes, porém, não foram glorificados e nem receberam o dom da imortalidade ao serem ressuscitados.

Cristo mesmo havia declarado ser Ele “a ressurreição e a vida” (João 11:25; 10:17 e 18) e ter poder para conceder a “vida eterna” a todos quantos nEle cressem (João 3:14-16; 5:24-29; 17:2). O poder de Cristo sobre a morte evidenciou-se não apenas em Sua própria ressurreição, como “as primícias dos que dormem” (1Coríntios 15:20 e 23), mas também na ressurreição de um grupo de “santos” que ressuscitou com Ele (Mateus 27:51-53). Os líderes judeus haviam subornado os guardas para negarem a ressurreição de Jesus (Mateus 28:11-15), mas esses santos ressuscitados “entraram” em Jerusalém “e apareceram a muitos” (Mateus 27:53) como testemunhas autênticas da ressurreição de Cristo e do Seu poder sobre a morte (ver Apocalipse 1:18).

O texto bíblico não entra em detalhes a respeito do futuro daqueles que ressuscitaram com Jesus. Mas, se considerados como os “primeiros frutos” (ver Êxodo 23:16; 34:22 e 26; Levítico 23:9-14) da grande messe de salvos que ressuscitarão incorruptíveis por ocasião da segunda vinda de Cristo (1Coríntios 15:51-55), então eles só podem ter sido ressuscitados também incorruptíveis para receber o galardão da vida eterna. Em seu comentário sobre Mateus 27:53, Jamieson, Fausset e Brown declaram que “esta foi uma ressurreição uma vez por todas, para a vida eterna; e, desta forma, não existe lugar para dúvidas de que eles foram para a glória com o seu Senhor, como esplêndidos troféus da Sua vitória sobre a morte” (Commentary on the Whole Bible, Grand Rapids, MI: Zondervan, 1961, p. 948).

Alberto Timm, “Sinais dos Tempos”, maio – junho de 2000.

Veja o que Ellen White disse  no livro “O Desejado de Todas as Nações“, capítulo 81 – “O Senhor ressuscitou”.

 Durante Seu ministério, Jesus ressuscitara mortos. Fizera reviver o filho da viúva de Naim, a filha do principal, e Lázaro. Estes não foram revestidos de imortalidade. Ressurgidos, estavam ainda sujeitos à morte. Aqueles, porém, que ressurgiram por ocasião da ressurreição de Cristo, saíram para a vida eterna. Ascenderam com Ele, como troféus de Sua vitória sobre a morte e o sepulcro. Estes, disse Cristo, não mais são cativos de Satanás. Eu os redimi. Trouxe-os da sepultura como as primícias de Meu poder, para estarem comigo onde Eu estiver, para nunca mais verem a morte nem experimentarem a dor.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Esqueletos no armário



“Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento” (Mateus 9:3).

Se analisarmos a vida de alguns personagens bíblicos, encontraremos alguns esqueletos em seus armários. No Antigo Testamento nos deparamos com Abraão, um homem exemplar conhecido como “pai da fé”, que, para salvar o pescoço, mentiu duas vezes sobre Sara, dizendo que ela era sua irmã. Jacó, o pai da nação israelita, aproveitando-se da fraqueza de seu irmão Esaú, roubou-lhe a bênção da primogenitura, e depois disso enganou o pai. E o rei Davi, um homem segundo o coração de Deus, cometeu adultério com a esposa de um fiel general seu e depois mandou mata-lo para tentar encobrir o pecado.

O Novo Testamento conta que Pedro passou três anos e meio com Jesus e foi considerado um dos Seus três amigos mais chegados.  Mas, durante o julgamento de Jesus, Pedro negou que O conhecesse, embora tivesse sido avisado com antecedência que faria isso.

Note que esses quatro heróis cometeram seus pecados mais graves APÓS terem dedicado a vida a Deus. Transportando isso para o nosso contexto, podemos dizer que eles escorregaram após “terem sido batizados e se tornado membros regulares da igreja”.

Paulo, antes de se tornar o “apóstolo dos gentios”, foi, segundo suas próprias palavras, “blasfemo, e perseguidor, e insolente” (1Tm 1:13). Mas, mesmo depois de convertido, ele confessou: “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7:19).

A que conclusão podemos chegar com base nesses antecedentes nada recomendáveis dos heróis bíblicos? Que Jesus não veio “chamar justos, e sim pecadores [ao arrependimento]” (Mt 9:13). Paulo apontou para si mesmo como exemplo dessa verdade ao dizer: “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1Tm 1:15).

A Bíblia é um livro confiável, pois não esconde o fato de que os seus heróis eram seres humanos falíveis e tinham deficiências de caráter como nós. Entre eles havia covardes, mentirosos, homicidas, adúlteros. Mas Deus os amava a despeito disso. Ele via neles não só defeitos, mas também virtudes, e um grande potencial para se tornarem cidadãos do Seu reino. E isso deve ser um estímulo para nós, porque, por piores que sejam nossos defeitos, Ele nos ama e quer nos salvar.

Por mais repulsivos que sejam os esqueletos em nosso armário, se permitirmos que Ele nos transforme, seremos mais que vencedores.

Tempo de Refletir

Havia ou Não Lei Desde Adão até Moisés? – Romanos 5:13 e 14




“Pois até à Lei, havia pecado no mundo; o pecado, porém, não é levado em conta quando não existe lei. Todavia, a morte imperou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram de modo semelhante à transgressão de Adão, que é figura daquele que devia vir” (A Bíblia de Jerusalém).

Muitas interpretações têm sido apresentadas para estes versos, mas o caminho mais fácil para uma solução, de acordo com o que Paulo tencionava dizer, é estudá-los no contexto dos versos 12 a 21. Ele nos relata que Adão através de seu pecado trouxe a morte para todos os homens, mesmo àqueles que não pecaram a sua semelhança.

Adão, o primeiro homem, é um tipo de Cristo, que Paulo chama de “segundo homem” ou “o último Adão” (1Coríntios 15:45 e 47). É digno de menção que o único vulto do Velho Testamento a ser chamado expressamente de tipo de Cristo é Adão. (Há personagens do Velho Testamento que implicitamente são tratados como “tipos” de Cristo, sendo talvez o mais notável Melquisedeque).

A frase de Thomas Goodwin, presidente do Magdalene College, de Oxford, é muito significativa: “Diante de Deus há dois homens, Adão e Jesus Cristo, e todos os outros estão pendurados em seus cinturões“.

O relato bíblico nos informa que quando um homem falha Deus escolhe outro para o substituir (Davi substituiu Saul).

A desobediência de Adão trouxe a morte para todos, a obediência de Cristo trouxe vida a todos que O aceitaram.

Sobre esta verdade, assim se expressou F.F. Bruce:

“Assim, se a queda de Adão colocou toda a sua posteridade sob o domínio da morte, a obediência de Cristo introduziu triunfalmente uma nova raça nos domínios da graça e da vida” (Comentário de Romanos, pág. 104).

Não esquecer que Cristo é um tipo de Adão por contraste.

Em Adão encontramos um ato de transgressão (Versos 12, 15, 17, 19).

Em Cristo, um ato de Justiça (Verso 18).

Em Adão, todos condenados à morte.

Em Cristo todos têm a possibilidade da justificação para a vida.

O Problema do Texto

Vários comentaristas têm achado este texto muito difícil, e até apresentado explicações que não podem ser aceitas, por colidirem com outras doutrinas da Bíblia.

“Todavia, a morte imperou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram de modo semelhante à transgressão de Adão…”

Em poucas e simples palavras, o verso nos mostra que a morte reinou devido à transgressão de Adão, por que então morrer? O argumento de Paulo é que, pelo pecado de Adão, todos pecaram mesmo antes da lei ter sido dada por escrito no Sinai (verso 13).

O comentarista Nygreen diz o seguinte sobre esta passagem:

“Adão tinha recebido definido mandamento de Deus, instruindo-o com respeito ao seu comportamento. Portanto quando ele pecou, sua ação tinha o caráter de direta transgressão. Antes de falar em transgressão precisa haver um mandamento ou uma lei. Tal era o caso de Adão, mas não o caso daqueles que vieram depois, até que a lei foi dada através de Moisés”.

Havia ou não lei desde Adão até Moisés?

A leitura de apenas dois versos (14 e 15) de Romanos 2 esclarece esta pergunta:

“Quando, pois, os gentios que não têm lei procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.

Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se”.

Duas expressões precisam ser realçadas destes versos:

Eles possuíam a lei da consciência.

A lei gravada no coração era a mesma escrita em tábuas de pedra.

De vários comentários lidos, o mais expressivo a meu ver é o do The Interpreter’s Bible, vol. 9, pág. 464, que se segue:

“A dificuldade que acabamos de mencionar é o de explicar a morte como penalidade do pecado em vista do fato de que a morte reinou de Adão até Moisés. Pode-se argumentar que, uma vez que foi Moisés quem deu a lei, não poderia haver transgressão nem portanto punição pela transgressão antes de seu tempo; porém, a morte havia de fato reinado. A resposta de Paulo não é tão persuasiva quanto se ele houvesse aqui feito uso da concepção de ‘lei natural’ à qual aludira anteriormente (2:14-15). Sua verdadeira resposta é dizer que embora o pecado não seja levado em conta onde não há lei, ele estava, não obstante, no mundo.

Mas poder-se-ia perguntar: ‘Se não era levado em conta, por que então deveria o homem morrer por causa dele? Cogita-se por que Paulo não responde apelando para a lei ‘gravada no coração’. Em outras palavras, a lei foi dada muito antes de Moisés, e Deus estava assim em posição de ‘levar em conta’ e punir o pecado desde o princípio. A descrição dos que foram desde Adão até Moisés como aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão pode ajudar a explicar o silêncio de Paulo aqui. Sanday e Headlam entendem a frase ‘não … à semelhança da transgressão de Adão ‘como significando ‘não em violação de um mandamento expresso'”.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Jesus Tinha Irmãos de Sangue? Maria Permaneceu Virgem?




Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

Os títulos que ensinam este assunto têm dado motivo para intermináveis controvérsias entre católicos e protestantes.

Os irmãos são mencionados nas seguintes passagens: Mateus 12:46; 13:55; 28:10; e Marcos 6:3.

Outras duas passagens relacionadas com os irmãos de Jesus e a virgindade de Maria são: Mateus 1:25 e Lucas 2:7.

Em Marcos 6:3 lemos: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? e não vivem aqui entre nós Suas irmãs?”.

Este versículo já deu origem a muitas conjecturas e continua sendo motivo de acaloradas divergências. Muitos protestantes, baseados neste verso, concluem que Maria foi mãe, não apenas de Jesus, mas em virtude de sua união com José, de quatro homens mais e de algumas mulheres, nascidos todos depois de Jesus, que foi o primogênito. É uma realidade inegável que não se encontra nos Evangelhos e em nenhum outro livro da Bíblia nenhuma referência a outros filhos de Maria além de Jesus.

Lucas 2:7. Descrevendo o nascimento de Jesus, usa, com referência a Maria, a conhecida frase “ela deu à luz o seu filho primogênito”.

Os defensores de outros filhos de Maria apresentam Mateus 1:25 como prova para assim crerem, especialmente as palavras “conheceu” e “até”. Conhecer é um eufemismo semita para indicar as relações conjugais. Os comentaristas, de modo geral, citando a expressão “até que”, afirmam que Mateus quis especificar o que acontecera (nenhum contato) antes do nascimento de Jesus e não o que se verificou depois. Segundo nossa sintaxe, as palavras “até que” pressupõem o fim de uma situação e o início de uma outra contrária. Outros argumentam que no hebraico e no grego a expressão pode ser usada, mesmo que não haja uma mudança de situação.

O Dicionário da Bíblia, de João Davis, pág. 288, declara: “O que parece mais razoável e mais natural é que eles eram filhos de Maria depois de nascido Jesus. Que esta teve mais filhos é claramente deduzido de Mateus 1:25 e Lucas 2:7, que explica a constante associação dos irmãos do Senhor com Maria”.

Os católicos, começando por Jerônimo, sempre solícitos em defenderem o dogma da perpétua virgindade de Maria, afirmam que os chamados irmãos, nas passagens citadas, são na realidade primos de Jesus, filhos de uma irmã de Maria, mulher de Alfeu ou Clopas, segundo João 19:25. A opinião mais defendida desde a antiguidade apoia que esses irmãos eram apenas “primos – irmãos”. Os que apóiam essa ideia alegam que em todas as línguas, mas especialmente naquela falada por Jesus, o termo “irmão” tem uma elasticidade notável; emprega-se para irmão, por parte de pai ou de mãe, primo, e também para um parente mais afastado. Apresentam citações bíblicas para provar que os judeus tinham por costume chamar de irmãos a certos parentes.

A Igreja Católica, desde os primeiros séculos, sempre venerou Maria como virgem em sentido absoluto, antes, durante e depois do nascimento de Jesus. Para nós esse dogma é uma simples tradição, admitida mesmo por alguns comentaristas católicos, como podemos verificar em “Cem Problemas Bíblicos“, pág. 278, Edições Paulinas. É real que tal tradição não teria surgido se os apóstolos tivessem conhecido e mencionado autênticos “filhos” de Maria além de Jesus.

Há uma terceira interpretação, semelhante às mencionadas e que foi defendida também pelos antigos pais da igreja (Orígenes, Eusébio de Cesareia, Epifânio, Ambrósio e outros), segundo a qual José era viúvo quando se casou com Maria, e os aludidos irmãos e irmãs eram filhos de seu matrimônio anterior, com uma tal Melca, ou Esca, chamada por outros de Salomé.

Sabemos que os Evangelhos nada dizem com respeito a José, sobre seu estado de viuvez antes de seu casamento com Maria.

Apesar do silêncio dos evangelistas, esta versão é a que deve ser aceita por nós, como nos comprova o Comentário Bíblico Adventista e o Espírito de Profecia.

“Seus irmãos. Os escritores dos evangelhos tornam claro que esses eram filhos de José em razão de matrimônio anterior. O fato de que Jesus confiou Sua mãe aos cuidados de João (ver João 19:26-27) indica que os ‘irmãos’ (e irmãs) de Jesus não eram propriamente filhos de Maria. Que eles eram mais velhos que Jesus é demonstrado pela atitude deles e seu relacionamento para com o Senhor. Eles tentavam repreendê-Lo e falavam-Lhe com severidade (João 7:3-4) procurando interferir em Sua conduta por outras maneiras. Tais atitudes somente seriam cabíveis a irmãos mais velhos, segundo os costumes da época. Para quem está familiarizado coma vida nas terras bíblicas, esse argumento, por si só, parece conclusivo… “Embora esses ‘irmãos’ não cressem em Jesus naquele tempo (João 7:3-5), eles posteriormente O aceitaram e foram contados entre Seus seguidores (ver Atos 1:4)” (Comentário Bíblico Adventista, referente Mateus 12:46).

“Seus irmãos, como eram chamados os filhos de José, tomavam o lado dos rabinos” […]

“Tudo isso desgostava os irmãos. Sendo mais velhos que Jesus, achavam que Ele devia estar sob sua direção” (O Desejado de Todas as Nações, capítulo “Dias de Luta”).

O Pastor Juan Ferri defendeu tese idêntica, declarando:

1º) Que os chamados “irmãos” mencionados em Mateus 13:55 e Marcos 6:3 não são primos do Senhor.

2º) Que são pessoas diferentes e não os filhos de Maria, esposa de Alfeu, embora tivessem nomes iguais.

3º) Que a única conclusão lógica seria que fossem filhos de um primeiro matrimônio de José, o que é confirmado por antiga tradição.

A seguir apresenta as provas bíblicas que, segundo seu parecer, constituem a base dessa última conclusão. Não as transcreveremos por duas razões:

1º) Não as reputamos essenciais;

2º) Por serem muito extensas. (O Pregador Adventista, março-abril de 1949, págs.3-8).

A Castidade de José

A Igreja Católica, apoiada em ideias defendidas por Jerônimo e Agostinho, afirma que José se conservara casto não somente depois do seu casamento com Maria, mas também antes dele.

Juan Ferri, no artigo já citado, sustenta a castidade de José após o nascimento de Jesus, declarando:

“Vejo nisso nada mais do que a atitude consequente de um homem que, desde o momento em que o anjo Gabriel lhe revelara o propósito divino, compreendeu seu dever, aceitando a sagrada incumbência e se limitando a ser o que Deus queria que fosse: o pai legal e mantenedor de Jesus e o esposo legal e mantenedor de Maria […]

A sua união legal com a virgem era requerida somente como uma medida indispensável para que o bom nome daquela santa mulher permanecesse protegido de calúnia e infâmia”.

É bom frisar que ele declara ser esta uma opinião pessoal e não a posição da Igreja.

Conclusões Gerais

Tanto católicos como protestantes têm tomado posições extremadas, para as quais não se acham nenhuma base bíblica.

Não encontramos nada em o Novo Testamento a respeito da eterna virgindade de Maria; se esse fato fosse essencial para o plano da salvação ele seria apresentado.

Em contrapartida os protestantes também não podem, pela Bíblia, apresentar provas convincentes de que os irmãos e irmãs de Jesus fossem filhos de José e Maria. Russell Norman Champlin, em seu Novo Testamento Interpretado, vol. 1, pág. 396, apresenta argumentos, na sua opinião irrefutáveis de que José e Maria tiveram vários filhos. Para mim ao menos, os argumentos não são convincentes.

Em face destas duas posições exageradas, nossa posição devia estar no meio termo: Maria somente deu à luz a um filho, o nosso Salvador; e por ser virgem “antes do parto”, não há nenhuma base para crer que continuasse a sê-lo no parto e depois dele.

terça-feira, 17 de maio de 2016

É Possível ou Impossível o Arrependimento? – Hebreus 6:4-6




“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-O à ignomínia”.

Estes versos, através dos séculos, têm deixado seus leitores angustiados e perplexos, porque, à primeira vista, parecem ensinar que não há esperança de arrependimento ou de aceitação divina para aqueles que aceitaram a Cristo e depois O rejeitaram.

Para melhor compreensão do problema, Hebreus 6:4-6 deve ser estudado juntamente com as declarações que tratam do mesmo assunto em Hebreus 10:26-31 e 12:15-17, 25-29.

Há várias interpretações sugeridas para solucionar os aparentes paradoxos desta passagem com as demais doutrinas escriturísticas, destacando-se entre estas as arminianas e as calvinistas, apresentadas por Russell Champlin, em O Novo Testamento Interpretado, vol. 5, págs. 537 e 538.

Em uma coisa os comentaristas estão de acordo: há neste trecho referências ao pecado da apostasia.

Declara o Comentário Bíblico Adventista:

“Entre as várias opiniões que têm sido sugeridas, duas são dignas de consideração:

1º) Que a apostasia aqui referida é o ato de cometer o pecado imperdoável (Mateus 12:31-32), uma vez que esta é a única forma de apostasia que é sem esperança.

2º) Que a passagem corretamente compreendida não ensina a absoluta desesperança da apostasia aqui descrita, mas uma desesperança condicional (Hebreus 6:6). A maioria dos comentaristas aceita a primeira alternativa, embora a segunda tenha méritos e possa ser baseada no grego”.

Como bem salientou Cotton: “Nada pode existir nesta passagem que nos leve a duvidar da total misericórdia de Deus, pois, do contrário, esta passagem destruiria o Evangelho”.

Deduzimos da leitura de Hebreus 6:4-6, e das outras passagens correlatas, que Paulo fala de pessoas que propositadamente rejeitaram a Cristo e os princípios do Evangelho.

As afirmações aqui consignadas pelo apóstolo trouxeram sérios problemas para a igreja cristã, especialmente durante as perseguições, quando alguns fraquejaram e posteriormente arrependidos de terem sido tíbios na fé quiseram voltar, muitas comunidades cristãs não queriam aceitá-los escudados em Hebreus 6:6.

A seguinte verdade não pode ser esquecida: Cristo está sempre de braços abertos para receber o mais indigno pecador, que reconhece o erro e apela pelo perdão como nos relata Mateus 18:22 e se comprova na triste experiência de Pedro. Em contrapartida, outra verdade escriturística deve ser lembrada: não há esperança para quem consciente e deliberadamente rejeita os ensinamentos de Cristo e o Seu sacrifício vicário em nosso favor.

Algumas ponderações esclarecedoras:

“Caíram” (6:6) significa não pecados grosseiros, mas, antes, nada menos que apostasia deliberada, uma completa rejeição e execração à fé de Cristo. No que lhes diz respeito (isto é, para si mesmos) tais pessoas expulsam Cristo de suas próprias vidas, ou rejeitam Sua reivindicação de ser o Filho de Deus, por ação similar à daqueles que procuraram livrar-se dEle ao crucificá-Lo. Desse modo expõem Cristo publicamente à vergonha” (O Novo Comentário da Bíblia, editado em português por Russell P. Shedd).

“Há aqui referências aos apostatados do cristianismo, àqueles que rejeitaram todo o sistema cristão e seu Autor, o Senhor Jesus.

O apóstolo se refere também àqueles que se uniram com os judeus blasfemos, chamando a Cristo de impostor, sustentando que Sua morte na cruz foi consequência de ser um malfeitor. Este procedimento tornou impossível sua salvação, porque de maneira obstinada e maliciosa rejeitaram ao Senhor que os resgatara. Ninguém que creia em Cristo como o grande sacrifício pelo pecado e conhece o cristianismo como uma revelação divina está aqui incluído, embora ele possa ter desventuradamente apostatado de algum aspecto da salvação de Deus.

Estão crucificando novamente a Jesus Cristo, isto é, eles mostram abertamente que julgam a Cristo como digno da morte que Ele sofreu, tornando-se um exemplo público por ter sido crucificado.

Isto mostra que é a apostasia final, pela total rejeição do Evangelho e blasfêmia ao Salvador dos homens, que o apóstolo tem em vista neste relato” (Notas de Adam Clarke sobre Hebreus 6:4 a 6).

“Algumas pessoas ficam perturbadas com estes textos, pensando que é possível que eles se refiram ao apostatado comum, que em seu coração jamais rejeitou ao Senhor, e que está constantemente pensando que algum dia voltará a servi-Lo novamente. E muitas vezes, quando ele começa a pensar seriamente em fazer isto o mais depressa possível, então o inimigo das almas o confronta com estes textos, da mesma forma que confrontou o próprio Cristo com textos da Escritura, procurando dar-lhes una aplicação errônea.

“O texto fala de indivíduos que verdadeiramente foram iluminados.Verdadeiramente provaram o dom celestial, e sabem por experiência o que ele significa. Tornaram-se participantes do Espírito Santo. Provaram a Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro. Sua experiência alcançou as profundezas de um conhecimento definido, de forma que conheceram os explícitos fundamentos do divino dom. E então estes indivíduos se afastam de tudo isto, e, segundo o texto citado dodécimo capítulo de Hebreus, consideram o sangue da aliança, pelo qual foramsantificados, como coisa profana, comum. Desprezaram o Espírito da graça.

“O texto fala de uma deserção real que leva um homem a renunciar a coisas que ele realmente sabe serem a verdade, e a tratar com desrespeito e desprezo o Espírito Santo, cujas influências em toda a sua bendita realidade ele sentiu no próprio coração e vida.

“E tendo desertado desta maneira pode ser prontamente visto que ele se desligou de todas as influências que o atrairiam ao céu, e propositada e determinadamente se colocou numa posição sem esperança e fora do alcance de Deus. O texto mostra que ele fez isto voluntariamente – exercitou sua vontade para fazê-lo.

“Mas o pobre apostatado, em vez de exercitar qualquer poder da vontade simplesmente deixou que sua vontade fosse vencida e destronada pelos persistentes ataques de Satanás; e para todos estes, o Senhor envia muitos apelos graciosos em Sua Palavra, como (Jereremias 35:12-14, 22). De todos os benditos atributos de Deus, há um que Ele destacou como preeminente: O Senhor… tem prazer na misericórdia. Miquéias7:18” (Questions and Answers, F. M. Wilcox, vol. 2, págs. 210-212).

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Gogue e Magogue – Ezequiel 38 e 39


Muito se tem escrito na vã tentativa de explicar convincentemente as palavras Gogue e Magogue.

As afirmações do eminente comentarista Adam Clarke são valiosas:

“É reconhecida ser esta a mais difícil profecia no Velho Testamento. Este estudo é difícil para nós porque não conhecemos nem o rei e nem o povo mencionados por ele: mas estou satisfeito porque eram bem conhecidos no tempo em que o profeta escreveu”.

O Dicionário Enciclopédico da Bíblia, da Editora Vozes, pág. 646 sintetiza:

“Gogue é uma figura apocalíptica em Ezequiel 38, chefe de exércitos hostis, que, no final dos tempos, hão de lutar contra Israel numa batalha terrível… Ele é chamado (Ezequiel 38:2) rei de Ros (desconhecido), Mosoque e Tubal (dois povos da Ásia Menor). Todo o seu território é indicado pela denominação “terra de Magogue“, que talvez signifique a terra do macedônio Alexandre Magno. Em Apocalipse 20:8 esse Magogue tornou-se uma figura independente ao lado de Gogue. O próprio Ezequiel deve ter visto neste Gogue outro Agague (Números 24:7), o inimigo hereditário de Israel”.

A. Josef Greig, professor assistente de religião na Andrews University, Berrien Springs, Michigan, assim comentou:

“Gogue e Magogue. Palavras de código hebraicas ajudam a resolver um problema, e derrubam algumas acalentadas especulações.

No capítulo 38 de Ezequiel é emitida uma mensagem de reprovação contra o misterioso Gogue, da terra de Magogue. No começo de Ezequiel há um número de oráculo descrevendo a queda dos tradicionais inimigos de Israel: Amon, Moabe, Edom, Filístia, Tiro e Egito. A destruição desses inimigos foi necessária porque Israel não poderia existir como uma comunidade pacífica e segura se fosse constantemente ameaçada por esses inimigos. No entanto, ficamos perplexos pelo fato de Babilônia não ter sido mencionada na lista dos inimigos de Israel.

Com os tradicionais inimigos de Israel destruídos, o que houve com aqueles povos e tribos que habitavam os externos limites do mundo? Ezequiel reconhece que aqueles dois constituem uma ameaça ao novo Israel, e pressente estarem mobilizando suas forças para atacá-lo (S. Vinward, A Guide to the Prophets, pág. 165). O líder desta horda pagã é Gogue, da terra de Magogue, o príncipe de Meseque e Tubal. Com ele estão a Pérsia, Etiópia, Put, Gomer e Togarma. Juntos eles atacam a região pacífica onde o povo mora nas cidades sem muros. Porém, Deus intervém e destrói esta horda pagã.

Mas quem é este Gogue, e onde fica a terra de Magogue? Gogue tem sido identificada com muitas figuras históricas do passado: nenhuma delas foi satisfatoriamente provada (SDA Bible Dictionary, pág. 408). A terra de Magogue tem sido identificada por alguns como sendo a Rússia, pelo fato de que Gogue vem do Norte (a localização geográfica da Rússia) e visto algumas versões entenderem ser Gogue o “príncipe de Rôs”, permitindo alguns interpretadores fazerem uma conexão entre Rôs e Rússia. O próximo passo neste método errôneo de etimologia é ligar Meseque com Moscou, comparando de novo um assírio equivalente a Meseque com Moscou. Ainda outro traço de falha evidência é acrescentado a este argumento, citando o historiador grego Heródoto, que chama Meseque de Moscou. Alguns foram mais longe, identificando Tubal com Tobolsk (The Septuagint transliterates the Word rosh “ head” as a proper name “Rosh”).

A solução da identificação da terra de Magogue na profecia de Ezequiel pode estar na compreensão do uso pelos hebreus de escritas secretas. A aplicação de nosso conhecimento em escritas secretas nos ajudou a compreender certas palavras da Bíblia e dos rolos do Mar Morto (H. J. Schofield, Secrets of the Dead Sea Scrolls, pág. 21).

Uma forma de escrita empregada no Velho Testamento é conhecida como Atbash. Esta palavra é formada da primeira e da última letra do alfabeto hebraico, combinada com a segunda e a penúltima do mesmo alfabeto. Apalavra Atbash é usada em Jeremias quatro vezes, sendo a mais conhecida delas a palavra Sheshach, que substitui a palavra Babilônia. As consoantes que designam Babilônia em hebraico são BBL, a segunda e a duodécima letras do alfabeto hebraico. Se contarmos as letras do alfabeto hebraico a começar do fim, a segunda letra será Sh, a qual é então substituída por B. Dois “Bb” são iguais a Sh Sh. A duodécima letra do alfabeto contando de trás para frente é K, que é substituída pela letra L. Assim, temos Sh ShK, que, acrescido das vogais apropriadas, forma – Sheshach.

Entre os rolos do Mar Morto está o Documento de Damasco, o qual em três passagens faz menção de uma obra autorizada chamada o Livro de Hagu. A palavra Hagu não tem significado por si. Mas, se acrescentarmos a ela a palavra Atbash, Hagu torna-se Tsaraph, significando “refinar, ou provar”. Assim, o título “o Livro de Hagu‘, que nada significa, torna-se ‘O Livro de Prova, ou ‘Livro de Teste’.

“Magogue, como Sheshach, é uma palavra-código para Babilônia (J. N. Schofield, Law, Prophets, and Writings, pág. 209). Todavia, o modo como foi derivada é diferente do modo como Babilônia foi derivada de Sheshach em Jeremias. Empregando o conceito de escrita enigmática, em lugar de contar do final do alfabeto para o início, usamos a próxima letra após B e L para caracteres na palavra-código. A letra que segue ao B no alfabeto hebraico é G, a letra depois de L é M; juntando essas letras teremos GGM. Em ordem inversa, isto dá MGG. Acrescentando as vogais apropriadas, teremos Magogue. Se Magogue é uma palavra-código para Babilônia, então esta nação está faltando na lista dos inimigos de Israel, mas aparece sob o nome de Magogue (Ver “Gematria”, Encyclopaedia Judaica, vol. 7, págs. 369-370).

Podemos também sugerir que o nome Gogue é derivado de Magogue, usando as últimas duas letras da palavra e juntando-as a MGG. Gogue (GG) representaria possivelmente o chefe (rei) da terra de Magogue simplesmente porque se presta a uma ordem de letras com MGG. Assim, a solução de nosso problema Gogue-Magogue pode estar na direção de melhor compreensão do antigo uso hebraico de nomes enigmáticos ou códigos.

O que significa isto para o evangelista que pregou sobre a Rússia na profecia bíblica? Francamente, não há base para pregar sobre a Rússia como assunto específico das profecias de Ezequiel 38 e 39. As questões feitas por Alger Johns (The Ministry, setembro, 1962, pág. 31) devem ser lidas novamente com grande proveito, especialmente as que falam da necessidade de pregar somente sobre fatos sustentáveis e baseados em exegese segura.

As hordas pagãs mencionadas em Ezequiel, contudo, podem ser usadas para descrever simbolicamente os poderes do mal, que sempre estiveram e sempre estarão em conflito com o reino de Deus até o triunfo final de todas as coisas. O comunismo ateísta bem poderia colocar-se entre esta descrição dos inimigos de Deus, mas ela é referente a um símbolo muito mais abarcante que o próprio comunismo. Gogue e Magogue são usados simbolicamente em Apocalipse 20, para as nações da ímpia assembleia de Satanás, reunida após o milênio para atacar a Nova Jerusalém. Lá a hoste dos ímpios é destruída por Deus, que envia fogo do céu para consumi-los. Apesar de a vitória dos bons sobre os maus não ter sido absolutamente assegurada na história de nossos tempos, um dia ela o será. Até que chegue esse dia, temos de estar vigilantes quanto a qualquer poder que se levante contra Deus, como Seu inimigo, e enfrentá-lo resolutamente com a Palavra de Deus nas Santas Escrituras”.

Pedi ao Pastor S. J. Schwantes que lesse este artigo e me desse a sua opinião. Com sua inconteste autoridade, disse o seguinte:

“O argumento deste artigo deixa muito a desejar. Mesmo que se admitisse que Magogue é uma palavra-código para Babilônia, quando é que esta Babilônia atacou a terra de Israel e foi destruída pelo poder de Deus? Não pode ter sido antes de 539 a.C. E, depois desta data, Babilônia não mais exerceu liderança política ou militar neste mundo. O império babilônico foi substituído pelo império dos Medos e Persas. Não há evidência de que Ezequiel tenha usado o sistema atbash em caso algum”.

O Comentário Bíblico Adventista, referindo-se a Ezequiel 38:2, diz:

“Gogue. Este é o nome escolhido por Ezequiel para designar o líder das hostes pagãs que atacaria o Estado Judeu restaurado após o retorno dos exilados (veja Ezequiel 38:14-16). Os esforços para identificá-lo com qualquer personagem histórico mostraram-se até agora infrutíferos. A raiz de onde se deriva o nome é desconhecida. A Palavra ocorre 13 vezes nas Escrituras, mas nenhuma das referências lança qualquer luz sobre seu significado. Gogue aparece em 1Crônicas 5:4 como o nome de um dos filhos de Joel, da tribo de Rúben. Em Apocalipse 20:8 é usado em conexão com Magogue para simbolizar as nações dos ímpios, a quem Satanás reúne após o milênio para atacar Cristo e apoderar-se da Nova Jerusalém. As 11 ocorrências em Ezequiel (38:2, 3, 14, 16, 18; 39:1, 11, 15) descrevem o líder de uma vasta coalizão de nações pagãs. Gogue é também a variante que aparece no Pentateuco Samaritano e na LXX em lugar de Agague, em Números 24:7. Uma forma composta, Hamom-Gogue – “a multidão de Gogue” (ou as forças de Gogue), é usada em Ezequiel 39:11 e 15, nome este que é aplicado ao vale no qual seriam sepultadas as multidões de Gogue. Todas estas referências bíblicas não derramam qualquer luz sobre a identidade de Gogue, e a única indicação quanto a sua origem está em 38:15, onde é feita a declaração: “Virás, pois, ao teu lugar, das bandas do norte”.

Outra sugestão relaciona Gogue com o país bárbaro de Gagaia, que é mencionado nos tabletes de Tell-el-Amarna. Contudo, Gagaia é um país e não uma pessoa, como representa ser o Gogue de Ezequiel. Em realidade não é necessário encontrar um Gogue nos registros históricos. Gogue é muito provavelmente um nome imaginário, pelo qual Ezequiel descreve o líder das hordas pagãs, que fazem uma final investida sobre Israel, após sua restauração, e numa ocasião quando estão desfrutando da prosperidade prometida por Deus sob condição de sua obediência.

A terra de Magogue. Ou “da terra de Magogue“. O “Magogue” de Ezequiel era a terra natal de Gogue, e como “Gogue” seu sentido é obscuro. O título foi provavelmente formado pelo próprio Ezequiel, prefixando “ma” ao nome “Gog”. “Magogue” ocorre cinco vezes nas Escrituras. É usado duas vezes em Ezequiel (38:2 e 39:6) como a terra de Gogue; uma vez em Apocalipse 20:8, para as nações dos ímpios; e em Gênenesis 10:2 e 1Crônicas 1:5 para os filhos de Jafé. Alguns, havendo identificado Gogue como Giges, rei da Lídia, sugerem que Magogue precisa necessariamente ser a Lídia. Não há, contudo, prova histórica disto. Uma tribo bárbara chamada Magogue é mencionada numa carta de um rei babilônico (ver o comentário a Gênesis 10:2).

Estes dois nomes, Gogue e Magogue, têm ocasionado muita especulação. A antiga tradição judaico identificava Magogue com os ‘citas’ (Josefo, Antiguidades, i.6.1.). O mesmo é sugerido por Gesenius em seu léxico hebraico.

Contudo, esta identificação de Magogue com os ‘citas’ ainda repousa sobre conjecturas. Como Gogue, o nome é provavelmente imaginário, provavelmente para se evitar de propósito uma identidade demasiado aproximada, como é muitas vezes ocaso em profecia preditiva, para que tal identidade na predição não impeça seu cumprimento.

Outras interpretações fantasiosas de tempos em tempos têm identificado Magogue com várias nações ou com indivíduos. Poder-se-ia reunir uma vasta biblioteca de legendas sobre Gogue e Magogue. Em muitas delas a história diz respeito a um muro para manter de fora Gogue e Magogue. Este muro tem sido situado em muitos países, da Grécia à China, dependendo da nacionalidade da legenda. A ruptura do muro abriu caminho para que as forças destrutivas de Gogue e Magogue fizessem sua obra. Em algumas das legendas esses eventos estavam relacionados com o aparecimento do anticristo, ocasião em que Gogue e Magogue (os povos selvagens do norte do Cáucaso), anteriormente encerrados atrás dos portões por Alexandre, o Grande, seriam soltos (ver L.E. Froom, Prophetic Faith of Our Fathers, vol. 1, págs. 555, 583, 584, 586 e 662).

Príncipe. Do hebraico nesi’ ro’sh. Nesi’ significa “príncipe”, e ro’sh pode ser “chefe”. Contudo a LXX o traduz como um nome próprio, e o mesmo faz a Almeida Revista Atualizada com a sua tradução “Rôs”. Qualquer que seja a tradução adotada, o ensino geral da profecia permanece o mesmo. Se se considerar ro’sh como representando uma nação de pessoas, ainda temos o problema de identificar o povo ou seu território.

Contudo, é questionável que seja adequado traduzir ro’sh como um nome próprio, “Rôs”. A palavra é muito comum no hebraico, ocorrendo mais de 600 vezes no Velho Testamento. Seu significado básico é “cabeça”, e na King James Version não é em parte alguma traduzido como nome próprio, exceto em Gênesis 46:21, onde é o nome dado a um dos filhos de Benjamim. Naturalmente existe a possibilidade de que uma palavra que ocorre mais de 600 vezes com a ideia básica de “cabeça” possa em realidade tornar-se um nome próprio em um ou dois casos. Talvez a mais forte evidência reclamada em apoio da tradução “Rôs” seja o testemunho da LXX. A LXX foi traduzida no 3º e 2º séculos antes de Cristo, e por alguma razão seus tradutores adotaram a versão “Rôs”. Se em seus dias eles conheciam ou não uma terra chamada “Rôs”, não podemos afirmar.

Há uma consideração sintática que tende a favorecer um nome próprio aqui. Se a palavra ro’sh for aqui usada como adjetivo, normalmente se esperaria que tivesse um artigo, visto que ela modificaria nesi’, que no hebraico é definido por estar no estado construto com um substantivo próprio, neste caso, “Meseque”. Exemplos de tais construções, onde o adjetivo que modifica o nome no estado construto é definido pela afixação do artigo, são: Jeremias 13:9, “a muita soberba de Jerusalém”; Esdras 7:9, “a boa mão do seu Deus”. O adjetivo encontra-se em Ezequiel 38:2, sem o artigo, proporcionando um pretexto para traduzi-lo como nome próprio, uma vez que nomes próprios não levam artigo. Mas a evidência não é de modo algum conclusiva. Às vezes tal adjetivo é ele próprio colocado no estado construto, e está, portanto, sem o artigo no hebraico (ver, por exemplo, 2Samuel 23:1; 2Crônicas 36:10). Uma notável exceção à regra precedente é também encontrada em 1Crônicas 27:5, onde a expressão hakkohen ro’sh, “sacerdote chefe”, ocorre. Ali, “sacerdote” tem o artigo, e o adjetivo “chefe” está sem o artigo. Isto, contudo, é considerado pelos editores do texto hebraico como um erro, sendo que o artigo naturalmente pertence ao adjetivo.

Um estudo das fontes seculares na procura de um país pelo nome de “Rôs” adianta muito pouco. Vários nomes com um som similar a “Rôs” aparecem em inscrições assírias, mas não há certeza de que qualquer deles seja idêntico com “Rôs”.

Desde o século 10º, vários exegetas têm feito tentativas de identificar “Rôs” como “Rússia”. Segundo Gesenius, os escritores bizantinos do século 10º identificavam “Rôs” sob o nome de hoi Rhõs, um povo que habitava as partes setentrionais de Taurus e que, assevera ele, eram “indubitavelmente os russos” (ver seu léxico hebraico). Ele também menciona um escritor árabe do mesmo período, Ibn Fosslan, que fala desse povo como habitando sobre o rio Rha (Volga).

A evidência histórica, contudo, mostra que o termo “Rússia” não veio de “Rôs”. Entre os eslavos que viviam no que agora é a Rússia estavam grupos de vikings chamados varangianos, que migraram do leste da Suécia. Embora haja diferentes pontos de vista quanto ao papel dos varangianos, a opinião prevalecente entre os estudiosos é que estes guerreiros-mercadores e líderes militares de origem não-eslava, chamados pelo nome “Russ” ou “Russos”, deram seu nome ao território. A tradição russa diz que Rurik, um varangiano, tomou o título de Príncipe de Novgorod (a principal cidade do norte da Rússia nessa ocasião), em cerca de 862 d.C., e que seus descendentes diretos governaram a Rússia até a morte de Feodor (Teodoro), o último governante da dinastiade Rurik, em 1598. Após vários anos de agitação, durante os quais vários pretendentes governaram pela força, um novo czar foi eleito, Michael Romanoff, cuja dinastia continuou até a revolução de 1917 (ver J. B. Bury, A History of the Eastern Roman Empire, 1912, p. 412; Bernard Pares, A History of Russia, 1944; Encyclopedia Britannica, edição 1974, artigo “Rússia”). Assim pode ser visto que qualquer similaridade de som entre “Rôs” e “Rússia” é obviamente pura coincidência. Parece não haver qualquer evidência de que o nome foi aplicado a esse país até cerca do 10º século d.C.

Meseque. O nome aparece nove vezes nas Escrituras. Em Gênesis 10:2 e 1Crônicas 1:5, Meseque é alistado como um dos filhos de Jafé. Em 1Crônicas 1:17 um provável erro de escribas alista Meseque como um dos filhos de Sem, mas sem dúvida a referência é a Más, em harmonia com Gênesis 10:23. As outras seis ocorrências referem-se a Meseque como nação. Três delas estão em Ezequiel 38 e 39; duas estão em 27:13 e 32:26, e a referência restante está em Salmos 120:5. Segundo a LXX, dever-se-ia ler também “Meseque” em Isaías 66:19 em vez de “que atiram com o arco”. Em todas as cinco ocorrências em Ezequiel (bem como em Gênesis 10:2 e 1Crônicas 1:5) está associado com Tubal, indicando que se refere aos descendentes de Jafé. Ezequiel fala deles como mercadores negociando com Tiro “objetos de bronze” bem como escravos (27:13). Nos Salmos são descritos como inclinados para a “guerra” (Salmos 120:7).

Historicamente, crê-se que Meseque represente os Moschoi dos escritores gregos clássicos (ver Heródoto iii.94; vii.78), os Mushku das inscrições assírias (ver Comentário Bíblico Adventista sobre Gênesis 10:2).

Alguns escritores, que veem a Rússia no som ro‘sh, também veem Moscou no som “Meseque“, ou Mushku, e creem que a cidade pode ter sido fundada por descendentes dos Mushku. Contudo, de acordo com a Encyclopedia Britannica, ed. 1974, Moscou não foi estabelecida antes do século 12, por George Dolgoruki. Não se pode encontrar nenhum traço de conexão entre os dois nomes”.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

domingo, 15 de maio de 2016

Mateus disse “Jeremias”, e devia ser “Zacarias”



Mateus disse “Jeremias” onde deveria ser “Zacarias” – Mateus 27:9 e Zacarias 11:13
As explicações são muitas, sendo talvez as duas mais consistentes as seguintes:
1º) Numa das organizações dos livros proféticos, o de Jeremias aparecia encabeçando a lista. Este primeiro estendia o seu nome aos outros livros. Este processo aconteceu com o livro de Salmos também.
2º) Se todos reconhecem que esta citação foi feita por Zacarias 11:13, é também uma realidade que ela se combina com a ideia da compra de um campo relatada em Jeremias 32:6-15. Jeremias não faz alusão as trinta moedas de prata; em contrapartida, Zacarias não menciona a compra do campo. Mateus poderia ter escrito assim: Então se cumpriu o que foi dito pelos profetas Jeremias e Zacarias. Sendo Jeremias um profeta mais destacado, o seu nome permaneceu.
Os copistas procurando harmonizar esta divergência têm apresentado as seguintes variantes:
1. O que foi dito pelo profeta Jeremias.
2. O que foi dito pelo profeta Zacarias.
3. O que foi dito pelo profeta.
4. O que foi dito pelos profetas Jeremias e Zacarias.
As sugestões de que Mateus citou de memória, por isso errou, e que a citação foi retirada de um livro apócrifo, de Jeremias, não devem ser esposadas por nós.

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes – item 11

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