O relacionamento entre o clero e os leigos foi desequilibrado por
duas distorções opostas que emergiram no meio do cristianismo. A
primeira foi a superênfase do catolicismo medieval sobre as funções sacerdotais, que acabou enaltecendo o clero em detrimento dos leigos. A segunda foi a tentativa anabatista,
no século 16, de eliminar toda e qualquer distinção entre clérigos e
leigos, obliterando assim as funções eclesiásticas. O equilíbrio entre
esses dois extremos foi mantido por Lutero, que restaurou o
conceito bíblico do “sacerdócio universal” de todos os crentes, sem
abolir as funções sacerdotais exercidas por alguns crentes escolhidos
especificamente para tais funções.
Rompendo com os dogmas católicos da confissão auricular e da mediação dos santos, Lutero
ensinava que todos os crentes tinham pleno direito (1) de orar
diretamente ao Pai, por meio de Jesus Cristo (João 14:6; 1Timóteo 2:5), e
(2) de testemunhar a outros as boas-novas da salvação (Atos 1:8). Mas
esse “sacerdócio universal” não eliminava a necessidade de um
bem-organizado ofício ministerial; pois, de acordo com Lutero, “o
povo não pode fazê-lo como um todo, mas tem que delegá-lo a uma pessoa
ou deixá-lo aos cuidados de alguém. Do contrário, que aconteceria se
cada qual quisesse falar e administrar [o sacramento], e ninguém
quisesse ceder ao outro?” (Martinho Lutero: Obras Selecionadas, vol. 3, p. 413).
A importância do ofício dentro da comunidade dos crentes é enfatizada
tanto no Antigo Testamento, por meio da instituição do sacerdócio
levítico (Êxodo 28), como no Novo Testamento, através do ensino
apostólico. Paulo é claro em afirmar que o próprio Cristo “concedeu
uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e
outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos
para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4:11 e 12). Isso significa que nem todos são chamados a exercer as mesmas funções dentro da igreja.
Além disso, o Novo Testamento atesta que o rito do batismo não era
oficiado por todos os crentes da igreja primitiva. Por exemplo, o
batismo de arrependimento que preparava o caminho do Messias era
ministrado especificamente por João Batista (Mateus 3; João 1:19-34).
Aqueles que aceitavam o evangelho, durante o ministério de Cristo, eram
batizados pelos “Seus discípulos” (João 4:1 e 2). Já o livro de Atos
revela que, após a ascensão de Cristo, esse rito era oficiado pelos
apóstolos e por outros líderes da igreja (ver Atos 2:38-41; 8:12, 35-39;
9:18; 10:44-48; 16:14 e 15, 30-34; 18:8).
Embora o imperativo de ir e fazer “discípulos de todas as nações,
batizando-os…” (Mateus 28:19) fosse dado originalmente aos “onze
discípulos” (versos 16 e 18), cremos que ele se aplica a todos os
cristãos, de todas as épocas e lugares. Todos os crentes têm, portanto, a
solene responsabilidade de testemunhar do evangelho aos descrentes,
incentivando-os a uma experiência genuína com Cristo que culmine com o
batismo. Isso não significa que todo crente deva oficiar pessoalmente o
batismo de seus conversos; pois essa cerimônia deve ser ministrada
apenas por aqueles que foram escolhidos dentro da comunidade dos
crentes, como ministros do evangelho, para esse ofício.
Alberto Timm, “Sinais dos Tempos”, junho de 1998, p. 29.
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