No livro Manuscript Releases, vol. 14, págs. 23 e 24, aparece a seguinte declaração de Ellen G. White: “Limitado pela humanidade, Cristo não podia estar pessoalmente em toda parte; portanto, era para benefício deles que Ele os deixasse, fosse para o Seu Pai, e enviasse o Espírito Santo para ser o Seu sucessor na Terra. O Espírito Santo é Ele próprio despojado da personalidade humana e independente dela. Ele representaria a Si mesmo como presente em todos os lugares pelo Seu Espírito Santo, como o Onipresente. ‘Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em Meu nome, esse (embora invisível para vós) vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito’ [João 14:26]. ‘Mas Eu vos digo a verdade: convém-vos que Eu vá, porque, se Eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, Eu for, Eu vo-lo enviarei’ [João 16:7].”
Para entendermos essa declaração é indispensável que interpretemos corretamente a segunda e a terceira sentenças, que, no original em inglês, aparecem da seguinte forma: “The Holy Spirit is Himself divested of the personality of humanity and independent thereof. He would represent Himself as present in all places by His Holy Spirit, as the Omnipresent.” Isoladas do seu contexto, essas sentenças acabam se tornando ambíguas.
Conseqüentemente, o pronome reflexivo “Himself”, que aparece na expressão “the Holy Spirit is Himself”, poderia ser interpretado como se referindo ao Espírito Santo ou a Cristo. Se optarmos pela primeira alternativa, então teremos que entender a sentença da seguinte forma: O próprio Espírito Santo é despojado da personalidade humana e independente dela. Mas, nesse caso, os pronomes “He”, “Himself” e “His” da sentença seguinte teriam que ser interpretados como também se referindo ao Espírito Santo, o que nos obrigaria a entender a sentença como segue: O Espírito Santo representaria a Si mesmo como presente em todos os lugares pelo Seu Espírito Santo, como o Onipresente.
Mas tal interpretação é destituída de sentido e, portanto, inaceitável. A despeito de qualquer ambigüidade, o contexto confirma que em ambas as sentenças os pronomes “He”, “His” e “Himself” se referem a Cristo e não ao Espírito Santo. Assim sendo, as sentenças podem ser entendidas da seguinte forma: O Espírito Santo é Cristo despojado da personalidade humana e independente dela. Cristo representaria a Si mesmo como presente em todos os lugares pelo Seu Espírito Santo, como o Onipresente.” Essa interpretação é confirmada por uma declaração paralela encontrada em O Desejado de Todas as Nações, pág. 669, na qual é dito que “o Espírito Santo é o representante de Cristo, mas despojado da personalidade humana, e dela independente”.
Alguns pretendem que, ao afirmar que o Espírito Santo é Cristo, Ellen White estaria afirmando que o Espírito Santo é uma mera energia despersonalizada que emana de Cristo. Mas tal interpretação não é corroborada pelo contexto em que aparecem as referidas expressões. Ao asseverar que o Espírito Santo é Cristo “despojado da personalidade humana e independente dela”, Ellen White sugere uma clara distinção entre a natureza divina do Espírito Santo e a natureza divino-humana de Cristo. Além disso, as declarações de que o Espírito Santo seria enviado pelo Pai em nome de Cristo (João 14:26) e pelo próprio Cristo (João 16:7), citadas no mesmo parágrafo, confirmam que o Espírito Santo é distinto, tanto do Pai como do Filho. Para ser enviado por ambos, o Espírito Santo precisa ter uma personalidade distinta de ambos, pois ninguém se auto envia.
Ao sugerir que o Espírito Santo é Cristo, Ellen White empregou uma força de expressão semelhante à que Cristo usou ao dizer “Eu e o Pai somos um” (João 10:30).
Essas expressões enfatizam a unidade essencial entre o Espírito Santo e Cristo, e entre Cristo e o Pai, respectivamente, sem com isso negar a distinção de personalidade de cada um deles. Para serem consistentes, os que interpretam literalmente essas declarações deveriam interpretar da mesma forma também a expressão “Eu sou a videira verdadeira” (João 15:1) e várias outras semelhantes. Portanto, ao dizer que o Espírito Santo é Cristo, Ellen White sugere que a presença do Espírito Santo no mundo, como representante de Cristo, não representaria qualquer perda para os discípulos. Por mais que alguns busquem endosso para suas teorias antitrinitarianas na declaração de Manuscript Releases, tais tentativas jamais conseguirão ofuscar os claros ensinos bíblicos e de Ellen White a respeito da Divindade como formada por três Pessoas distintas – Pai, Filho e Espírito Santo.
Revista do Ancião (julho – setembro de 2005)
Dr. Alberto Timm
Reitor do Salt e coordenador do Espírito de Profecia na Divisão Sul-Americana, é quem responde.