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sexta-feira, 15 de julho de 2016

Quem incitou Davi a fazer o censo: Deus ou Satanás?

 

Por que 2Samuel 24:1 diz que Deus incitou Davi a realizar o censo militar, enquanto 1Crônicas 21:1 diz que Satã fez isso?

Em 2Samuel 24:1, lemos: “Mais uma vez irou-se o Senhor contra Israel e incitou Davi contra o povo, levando-o a fazer um censo de Israel e de Judá.” De acordo com 2Crônicas 21:1, Satanás levantou-se contra Israel e levou Davi a fazer um recenseamento do povo”. Examinarei o uso do termo satã no Antigo Testamento, algumas ligações terminológicas com outras passagens e, no final, sugerirei uma maneira de harmonizar essas duas passagens.


1. Uso do termo “satã”: A palavra hebraica para satã significa “adversário, oponente” e é usada para designar seres humanos que agem como adversários ou oponentes de outros (1Reis 11:14, 23). Ela também designa o anjo do Senhor que agiu como adversário de Balaão (Números 22:22). Obviamente, essa não é uma figura demoníaca. O substantivo também é encontrado em 1:5 e 2:1, e em Zacarias 3:1 para o adversário do povo de Deus. Estudiosos muitas vezes argumentam que quando o substantivo satã é acompanhado por um artigo definido (“o satã”) se refere à função (“um adversário/oponente”) e não é um substantivo próprio (“Satã”). Como no primeiro caso o termo não tem um artigo, só em 1Crônicas 21:1 é considerado substantivo próprio (“Satã”). Porém, outros estudiosos argumentam que é precisamente quando o substantivo é acompanhado por um artigo que funciona como nome próprio. Pode-se perguntar, então: “Será que esse debate é tão importante?”

2. Ligação linguísticas: Há ai uma clara ligação linguística entre 2:1, Zacarias 3:1 e 1Crônicas 21:1. Em Crônicas Satã “se levanta”(‘amad) contra Israel e incita (sut) Davi a pecar. O uso do verbo “levantar” (‘amad), junto com o substantivo satã, é encontrado em Zacarias 3:1, estabelecendo uma ligação entre as duas passagens. Em ambos os casos satã se opõe ao servo de Deus. O verbo “incitar” (sut) aparece junto com o substantivo satã em 2:3, estabelecendo, também, uma ligação entre essas duas passagens. Em , ele incita Deus contra Jó, e em Crônicas ele incita Davi contra Deus. O cronista sabe como usar o termo satã (“Satã”). Muito provavelmente reflete o significado do termo nos outros dois livros. Em outras palavras, ele não está contrastando seu uso com o de outras passagens; a presença ou ausência do artigo é irrelevante. O Antigo Testamento descreve um ser que se opõe a Deus e aos Seus planos para Seu povo (Gênesis 3:1-5; Levítico 16:8-10, 20-22; Isaías 14:12-14; Apocalipse 12:9).

3. As narrativas em Crônicas e Samuel: O papel de satã é muito claro nas passagens que estamos discutindo. Primeiro, ele é o adversário do povo de Deus, oponente à divina disposição de perdoá-los (Zacarias 3:1). Ele até se opõe contra a maneira que Deus governa Seu reino ( 1:6; 2:1). Segundo, ele incita o povo a desobedecer a Deus. Terceiro, ele deseja coisas más para o povo de Deus. Sem dúvida, ele é o arquiinimigo divino. Segundo o Livro de Crônicas, Satã se levantou contra Israel como inimigo e incitou Davi a realizar o censo sabendo que resultaria no sofrimento do povo. Por que realizar o censo é um pecado nacional? Vários tipos de censos eram realizados em Israel, sem nenhum penalidade (Êxodo 30:11-16). Talvez, como muitos já sugeriram, a diferença aqui é que esse era um censo militar realizado sem a aprovação divina e que expressava confiança no poder militar humano. Foi uma violação à aliança de Israel com o Senhor.

Se esse é o caso, as diferenças entre 1Crônicas e 2Samuel são indiferentes. A ira do Senhor mencionada como a causa da realização do censo, é esclarecida ao Deus permitir que Satã incite Davi a realizar o censo. Em sua ira, Deus não intervém para proteger Davi.
No entanto, Deus ainda é o Senhor Soberano que autoriza as ações de Satanás e que coloca fim à praga. Ele usa essa experiência para levar Davi a encontrar um local para construir o templo. Ele não entrega a Satanás o controle completo sobre Seu povo ( 1:12; 2:6).


Angel Manuel Rodríguez, Revista “Adventist World” – Fevereiro 2015

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Será que Adão e Eva sabiam que o inimigo de Deus viria tentá-los?

 



Nenhuma passagem bíblica indica ser esse o caso, mas há alguns pormenores que devemos examinar. Analisemos a narrativa para ver se o texto bíblico oferece alguma evidência sobre esse assunto. Consideremos, também, o ensino geral da Bíblia sobre o inimigo de Deus.

1. Seres celestiais antes de Adão e Eva: A Bíblia indica que Deus criou seres celestiais antes de criar Adão e Eva. Segundo o Livro de , “todos os anjos se regozijavam” quando Deus estava criando a Terra ( 38:4-7), e Gênesis sugere que Deus já havia criado querubins antes de Adão e Eva (Gênesis 3:24). Foi um desses querubins que se rebelou contra Deus e foi lançado fora do Céu (Isaías 14:12-14; Ezequiel 28:13-18). O inimigo no jardim seria esse querubim.

2. A responsabilidade de Adão e Eva: A narrativa de Gênesis indica que, após a criação, Deus deu a Adão e Eva instruções específicas concernentes às suas funções e responsabilidades. Era de se esperar que tais instruções incluíssem informações sobre o inimigo de Deus. Quando Deus falou com Adão e Eva pela primeira vez, Ele os abençoou e ordenou que “enchessem a Terra” (Gênesis 1:28). Eles deveriam governar sobre o restante da criação e desfrutar de uma dieta específica, diferente da dos animais (Gênesis 1:29, 30). Ele também ordenou a Adão e Eva que não comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal, ou então morreriam (Gênesis 2:16; 3:3).
Não há quase nada nessas instruções sobre o inimigo de Deus. Mas sua responsabilidade diante de Deus como cuidadores da Terra é clara. Há também uma referência sobre a possibilidade de morrer e isso por si só, sugere um elemento perigoso se fizessem a escolha errada. Mas, até aí, não há nenhuma dica específica sobre um inimigo contra quem deviam estar atentos.
No entanto, ainda há mais. Deus disse a eles que “cultivassem [‘abad] e cuidassem [shamar] (do jardim)” (Gênesis 2:15). O verbo ‘abad’ (“trabalhar; servir”) podia significar em alguns contextos “cultivar, trabalhar” no solo (Gênesis 4:2, 12). O verbo “shamar” significa “cuidar de, proteger, guardar”. O uso deste verbo sugere que Adão e Eva deviam ficar alertas, guardando e protegendo o jardim; isso sugere perigo e a presença potencial de um inimigo. Deus deve ter falado a eles sobre a natureza do inimigo. Essa interpretação do verbo é apoiada pelo seu segundo uso em Gênesis 3:24. Após a queda, a proteção do jardim e da árvore da vida, em particular, foi colocada nas mãos de um querubim. Como os humanos falharam, Deus transferiu para outros o que era responsabilidade deles.


3. Havia um tentador no Jardim: O perigo implícito em Gênesis 2:15 é explicitamente identificado em Gênesis 3. Um inimigo de Deus se opõe abertamente à Sua palavra e O acusa de limitar intencionalmente o desenvolvimento de Adão e Eva (Gênesis 3:4). Ele diz que, ao rejeitarem a palavra de Deus, seriam “iguais a Deus” (verso 5). O que esse inimigo introduz na conversa é o que o querubim caído queria para si: “Subirei mais alto do que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo” (Isaías 14:14). Agora sabemos a verdadeira identidade desse inimigo: o Novo Testamento o identifica como “diabo, ou Satanás” (Apocalipse 12:9). Esses detalhes são suficientes para indicar que Adão e Eva tinham sido informados sobre sua existência e foram avisados para ficar alertas.

4. Engano no Jardim: Há ainda outra informação que pode ser útil para responder a essa pergunta. Eva tentou se defender argumentando que foi enganada pela serpente (Gênesis 3:13). Sem dúvida, ela foi enganada (2Coríntios 11:3; 1Timóteo 2:14), mas o engano não foi aceito como uma desculpa válida para sua desobediência. Por que não? Em minha opinião, a razão é porque eles foram informados sobre a vinda de um inimigo de Deus para tentá-los. Eva estava esperando que o inimigo agisse de certa maneira e ele a surpreendeu e a enganou. Se ela não tivesse dialogado com a serpente, poderia ter sido salva.

Angel Manuel Rodríguez, Revista “Adventist World” – Abril 2015

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Por que os reis de Israel tinham tantas mulheres?



Penso que sua pergunta, na verdade, é como Deus lida com essa prática, e o que motivava os reis a ter tantas esposas. Além dos desejos corruptos das paixões humanas havia outras razões sociais e políticas para tal prática. Vou resumir a vontade de Deus sobre esta questão, examinar o propósito pelo qual os homens se casavam com tantas mulheres israelitas, e, finalmente, explorar a razão pela qual as esposas do rei não eram israelitas.

1. A Vontade de Deus: Parece ter sido a intenção de Deus que, em algum momento na história do Seu povo, fosse nomeado um rei sobre a nação. Com esse propósito, Deus providenciou uma legislação definindo o compromisso e o papel do rei (Deuteronômio 17:14-20). Até certo ponto, o rei devia ser um modelo para a nação, no estudo da lei, em confiar no poder de Deus e no propósito de Deus para o casamento. A lei estabelecia claramente: “Ele não deverá tomar para si muitas mulheres” (verso 17). Em outras palavras, ele não deveria ter um harém real. Deus esperava do rei o que também esperava de cada homem israelita: ter uma só esposa. Nesse aspecto, a realeza israelita falhou com o Senhor.

2. As muitas esposas de Davi: Foi principalmente por Davi que a prática real de ter muitas esposas foi introduzida em Israel. Ele tinha no mínimo nove esposas e não menos de dez concubinas. A função dessas concubinas não é clara. Elas estavam a serviço do rei para lhe dar filhos (2Samuel 20:3), e também podiam ser responsáveis pela manutenção do palácio (2Samuel 15:16). No antigo Oriente Próximo, as proezas sexuais do rei eram parte da sua imagem como monarca, e as muitas esposas transmitiam essa ideia para as pessoas. Davi estava simplesmente seguindo uma prática cultural da época. Ele também tomou várias mulheres israelitas como esposas. Elas deviam ser filhas de israelitas influentes e poderosos cujo apoio poderia ser útil para a consolidação do reinado de Davi. Esses eram casamentos com motivação política. Embora a maioria de suas esposas fosse israelita, parece que ele teve uma esposa estrangeira: “Maaca, filha de Talmai, rei de Gesur”(2Samuel 3:3), uma princesa. Esse foi um casamento político e serviu para fortalecer a influência de Davi como rei entre as nações cananitas.

3. Esposas estrangeiras e a idolatria: O que Davi iniciou foi praticamente institucionalizado por Salomão: “Casou com setecentas princesas e trezentas concubinas” (1Reis 11:3). Muitas de suas concubinas, se não todas elas, podem ter sido israelitas, mas as esposas provavelmente fossem mulheres estrangeiras, filhas de reis com os quais Salomão fez aliança de relacionamento. Esse era um acordo comum em casamentos reais no antigo Oriente Próximo. Tais casamentos consolidaram o reinado de Salomão e contribuíram com as relações pacíficas entre ele e as nações ao redor (Sidom, Moabe, Ammom). Qualquer casamento político poderia ter danificado seriamente a integridade do rei, e, no caso de mulheres estrangeiras, teria levado o rei à idolatria (Deuteronômio 17:17; 1Reis 11:2). Quando esse tipo de casamento era arranjado, o acordo marital incluía a decisão de que a princesa continuaria a adorar seu deus no palácio de seu marido, nesse caso, Salomão. Possivelmente, algumas delas tenham se tornado israelitas. Cada uma dessas esposas vinha acompanhada por suas servas e, às vezes, por um líder religioso para assisti-la no culto ao seu deus. O marido devia oferecer um local de adoração para ela e sua comitiva. Seguindo essa prática pagã, “Salomão construiu um altar para Camos, […] e para Moloque […] Também fez altares para os deuses de todas as suas outras mulheres estrangeiras, que queimavam incenso e ofereciam sacrifícios a eles” (1Reis 11:7, 8). Essas práticas políticas e religiosas são típicas do antigo Oriente Próximo. Elas contribuíram diretamente para a queda do povo de Deus no Antigo Testamento.

É sempre bom ouvir a Palavra de Deus, pois as Escrituras nos alertam e nos previnem contra práticas culturais que tendem a nos desviar do Senhor.
Angel Manuel Rodríguez, Revista “Adventist World” – Janeiro 2015

sábado, 18 de junho de 2016

O Uso do Véu Pelas Mulheres – 1Coríntios 11:5



“Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça sem véu, desonra a sua própria cabeça, porque é como se a tivesse rapada”.

Para melhor compreensão deste verso, todo o contexto de 1Coríntios 11:2-16 deve ser lido atentamente.

Corinto era uma cidade famosa pela cultura e licenciosidade.

Situava-se no estreito que ligava o Peloponeso ao continente, sendo a rota principal na ligação do Oriente com o Ocidente.

Tornou-se famosa por sua maldade e corrupção moral. “Viver à coríntia” ou “corintizar” significava, nos dias de Paulo, viver em luxúria e licenciosidade.

Paulo ali esteve 18 meses pregando e estabelecendo uma igreja. Ao sair, deixou uma florescente igreja, mas que em breve começou a enfrentar sérios problemas. Visando solucionar dificuldades existentes na igreja, escreveu ele, em 57, esta carta. Dentre os problemas chegados ao seu conhecimento, um deles era o uso do véu pelas mulheres.

Naquele tempo as mulheres deviam usar o véu e trazer os cabelos longos pelo seguinte:

a) O véu era um sinal de segurança para a mulher.

b) Uma respeitável mulher oriental jamais aparecia em público sem o véu.

c) Nas terras orientais o véu era sinal de honra e dignidade da mulher.

d) A mulher desonrava a si e ao marido se não usasse o véu (verso 11). Não usavam o véu as prostitutas, as que estavam de luto e as esposas infiéis. O véu era retirado das mulheres indignas e seu cabelo cortado rente como indício de seu opróbrio.

e) O uso do véu era um sinal de que a mulher estava subordinada ao homem.

f) As mulheres estavam tirando o véu na igreja e fora dela como símbolo da emancipação feminina. A não aceitação do marido como chefe seria uma inversão do princípio estabelecido por Deus.

Diante do exposto, Paulo, nos versos 5, 6, 9, 10, 12, 13, 15, deu instruções para que as mulheres usassem o véu ao orarem ou profetizarem.

Russell Norman Champlin escreveu entre outras coisas o seguinte sobre 1Coríntios 11:5:

“Esta passagem ilustra o perene problema da relação que há entre os costumes sociais e a moralidade cristã. Paulo escreveu aqui do ponto de vista de um rabino, como representante da antiga cultura judaica. Porventura tais costumes continuariam sendo obrigatórios para nós, hoje em dia, quando as coisas são tão radicalmente diferentes, em aspectos como o vestuário, e sobretudo no que tange à nossa ideia acerca da posição da mulher? Este comentador acredita que, visto que os costumes sociais mudaram, as exigências deste texto também mudaram… Acredito que se Paulo tivesse em nossos próprios dias, onde a sociedade não atribui qualquer estigma à ausência do uso do véu pelas mulheres, a questão nem ao menos teria sido abordada” (O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. 4, pág. 171).

Hoje não existe nenhuma exigência do uso do véu para as mulheres, porque mudando os costumes, mudam também as exigências.

Sobre o ter a cabeça coberta ou descoberta, comenta Clarke:

“O homem trazia a cabeça descoberta porque era representante de Cristo; a mulher trazia a dela coberta, porque ela era por Ordem de Deus colocada num estado de submissão ao homem, e porque era costume, tanto entre os gregos como entre os romanos, sendo entre os judeus uma lei expressa, que nenhuma mulher fosse vista fora de casa sem véu. Isto era, e é, costume comum em todo o Oriente, e ninguém, senão as prostitutas públicas, andam sem véu. E se uma mulher aparecesse em público sem véu, ela desonraria sua própria cabeça – seu marido. E ela se pareceria aquelas mulheres que tinham o cabelo rapado como punição de prostituição ou adultério”.

Informa-nos Tácito que, considerando a grandeza da população, os adultérios eram muito raros entre os germanos; e quando uma mulher era achada culpada, puniam-na do seguinte modo: ‘tendo-lhe cortado o cabelo, e despindo-a na presença de seus parentes, o marido despedia-a portas fora’. E sabemos que da mulher suspeita de adultério era, pela lei de Moisés, tirado o véu da cabeça (Números 5:18). As mulheres reduzidas a um estado de servidão, ou escravidão, tinham o cabelo cortado: é o que aprendemos de Aquiles Tatius. Diz Clitofon, acerca de Leucipe, que foi reduzida ao estado de escrava: ‘Ela foi vendida como escrava, cavou a terra e, sendo-lhe cortado rente o cabelo, foi a cabeça privada de seu ornamento’. Era também costume dos gregos cortarem o cabelo como sinal de luto. Admeto, ordenando um luto geral por morte de sua esposa Alceste, diz: ‘Ordeno um luto geral por esta mulher! Corte-se rente o cabelo e ponham-se vestes negras’. Parece-nos que o apóstolo tinha especialmente em vista é a propriedade e decência de conduta. Como mesmo em nossos dias, uma mulher que se vista de modo impróprio ou fantasioso, é considerada uma desonra para o marido, porque se torna suspeita de não ser muito sã na moral, assim naqueles tempos antigos a mulher que aparecesse sem véu seria olhada à mesma luz” (verso 6).

Portanto, se a mulher não se cobre; se ela não quiser usar véu nas reuniões públicas, tosquie-se também – leve consigo um sinal público de infâmia: mas se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar o cabelo que ponha o véu. Mesmo como motivo de luto, era considerado desonroso ser obrigado a tosquiar o cabelo; e para não perder esse ornamento da cabeça, as mulheres procuravam fugir ao costume, cortando apenas as extremidades do cabelo. Eurípedes, falando de Helena, que devia rapar a cabeça por motivo da morte de sua irmã Clitemnestra, diz: ‘vejam como ela corta apenas as pontinhas do cabelo, a fim de preservar sua beleza, e é exatamente a mesma mulher que dantes'” (Comentário de Adam Clarke, vol. 6, pág.225).

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Existia a dor antes do pecado?

 Estava Lá dor antes da queda?

Gênesis 3:16 diz que Deus aumentou a dor de Eva depois da Queda. Isso quer dizer que a dor já existia antes do pecado?

Desde que o mundo era originalmente muito bom (Gênesis 1:31) e verdadeiramente perfeito (Deuteronômio 32: 4) -sem qualquer morte ou sofrimento das criaturas (Gênesis 1: 29-30) a dor -poderia ter existido antes da queda?
Vamos examinar o que a Bíblia nos diz. Quando Adão e Eva pecaram contra Deus, o mundo passou de um estado perfeito para um estado imperfeito. O Senhor amaldiçoou a terra (Gênesis 3:17) e animais (Gênesis 3:14) e a humanidade condenada à morte (Gênesis 2:17, 3:18).

"O aumento da dor"

No entanto, a partir de um olhar superficial em Gênesis 3:16, pode-se pensar que a dor era parte deste mundo original perfeitamente criado. Vamos dar uma olhada neste versículo onde o Senhor está falando com Eva e julgá-la devido ao seu pecado de comer da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal:
Para a mulher Ele disse: "Multiplicarei grandemente a tua dor [hebraico: itstsabown] no parto, Na dor [hebraico: etseb] você vai trazer à luz filhos; No entanto, seu desejo será para o teu marido, e ele te dominará. "
Alguns podem supor que, se a dor era para ser multiplicada, então já havia dor, a intensidade só aumentou. 1 Mas isso é correto? Para entender esta passagem melhor, vamos olhar para as palavras hebraicas usadas para a dor e mergulhar mais fundo nas Escrituras. As palavras hebraicas usadas para a dor em Gênesis 3:16 são itstsabown e etseb.

Que tipo de dor aumentou?

Ambas as palavras têm definições semelhantes, que significa "dor" e "dores" com outras conotações como "ferido" ou "trabalho". Assim, suas diferenças são minúsculas. Mas realmente há um aspecto de duas vezes a esta dor. Não há dor física no processo do parto real (a maioria das mães pode atestar a este) e angústia mental (por exemplo, dores) associado a ter filhos em um mundo amaldiçoado pelo pecado.
Considere que Eva não só atravessou a dor de ter filhos durante o parto, mas ela também teve de suportar a perda de Abel, seu próprio filho, morto por seu próprio irmão. Considere também Maria, que viu seu filho Jesus morrer na cruz. Assim, existem dois dentes a esta, e, claro, vendo um de seus filhos morrer é um exemplo extremo. Mas seria raro, se não impossível tarefa, para encontrar uma mãe que não tenha visto seus filhos sofrem de alguma maneira, de fome à doença, cortes, arranhões e assim por diante.

O "aumento da dor" dor média Antes da Queda

Vamos avaliar esses dois tipos de dor com relação a tempos pré-queda. Ao lidar com a angústia mental, como é trazido por o sofrimento ou a morte de uma criança. Mas em um mundo pré-queda com nenhuma morte ou seu aspecto associado de sofrimento (Romanos 5:12), essa dor teria sido inexistente. Assim, um aumento (onde a morte e o sofrimento entraram na criação) não significa necessariamente que essa dor existia anteriormente, mas sua simples entrada no mundo feito para um aumento. De nada para algo é, obviamente, um aumento.
De nada para algo é, obviamente, um aumento.
Com relação à dor física como na gravidez, uma leitura semelhante pode ser aplicado. A dor aumentou, não significa necessariamente dor antes.
Considere como que a dor física é. Com sua mão, você pode tocar uma superfície que é quente e você pode detectar a superfície quente. Não há dor envolvida, apenas sensação. No entanto, se a temperatura da superfície aumenta, em algum ponto a sensação transforma a dor.
Da mesma forma, se eu fosse para colocar a minha mão entre dois objetos que simplesmente descansavam contra a minha mão, então eu teria sensação. Mas se os objetos começarem a "cozinhar" minha mão e continuar a apertar-se, então se tornaria um ponto em que já não é mera sensação mas a dor.
Dor física aumentada não significa que não era dor antes, mas apenas sensações que foram úteis. Assim, a dor não era uma parte da criação original, mas sensação, o sentido do tato.

O que aconteceu na queda que nos permitiu sentir a dor?

Mas isso levanta outra questão: o que mudou durante a queda que resultou em dor? Na verdade, existem várias possibilidades, tais como:
  1. Sensação, como um todo, intensificado na Queda para permitir a dor.
  2. Innerworkings do corpo (por exemplo, os ossos da pelve para fértil) deixarão de funcionar como originalmente concebida, causando aumento da sensação.
  3. Alterações de design potenciais na queda (por exemplo, ossos pélvicos para fértilidade) resultou no aumento da sensação.
  4. Deus não mais sustenta o mundo em um estado perfeito de modo que a sensação extrema podem agora ser sentida resultando em dor. [Lembre-se que enquanto os israelitas vagaram pelo deserto por 40 anos, suas roupas não se desgastam e os seus pés não se incharam (Deuteronômio 8: 4; Neemias 09:21) Lembre-se que Sadraque, Mesaque e Abede-Nego estavam no Fogo da fornalha onde nenhuma chama os afetou (Daniel 3:27)? Moisés morreu aos 120 anos, contudo, os seus olhos não foram afetados e seu vigor natural não foi diminuído (Deuteronômio 34: 7)? Com Deus sustentando tudo em perfeito estado, não teria havido nenhuma dor.]
De fato, a dor pode ser uma combinação destes ou de outros fatores num mundo pós-queda.

  Gênesis 3:16 faz referência de dor antes da queda?

Quando Adão e Eva pecaram contra Deus, comendo do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, houve uma mudança Gênesis 3: 7. Recorda que, depois de comer, eles sentirm vergonha e perceberam que estavam nus. Então, realmente, eles tinham uma sensação de dor a partir deste momento, que a Escritura lista como vergonha (cf. Gênesis 3: 7 em contraste com Gênesis 2:25), bem como o medo (Gênesis 3:10).
Então, quando o Senhor falou para a mulher e disse que ela teria aumentado a dor e dores na gravidez, isso não é para ser tomado em comparação com o ponto pré-queda, mas a partir da queda até o ponto em que o Senhor falou. Ela começou a sentir dor por causa do pecado, mas, em seguida, Senhor revelou que havia muito mais para vir (aumentar significativamente as dores). E, evidentemente, que, finalmente, resulta em morte (Genesis 3:19).
O Senhor salientou que, se ela pensou que essa dor que estavam sentindo naquele momento era ruim, ela não tinha sentido nada ainda! À luz disto, pode não ser aconselhável usar Gênesis 3:16, que estava discutindo a dor de uma situação de pós-queda, como reflexo de um mundo pré-queda.

Algo para olhar para a frente

Independentemente disso, o pecado levou a dor, bem como a morte e sofrimento. Mas este não é o capítulo final. O Céu será como o mundo antes da queda, e não haverá mais morte, nem sofrimento ou dor. Ele dá aos cristãos alguma coisa para olhar para frente.
Apocalipse 21: 4 E Deus enxugará toda lágrima de seus olhos; não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor. Não haverá mais dor, porque as primeiras coisas passaram.

Artigo traduzido do inglês do site answeringenesis,  créditos da tradução site Bíblia e a Ciência

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Conversão de Saulo. Ouviram, mas não viram – ou – não ouviram, mas viram? Atos 9:7 e 22:9

 
Existe, à primeira vista, uma aparente tensão entre as descrições de Atos 9:7 e 22:9 sobre a experiência dos companheiros de Saulo por ocasião da conversão dele. Porém, considerando mais detidamente esses textos, percebe-se que em Atos 9:7 é dito que os companheiros ouviram “a voz”, mas não viram “ninguém”, enquanto que Atos 22:9 acrescenta que eles “viram a luz, sem contudo perceberem o sentido da voz que falava” com Saulo.

Tanto a voz quanto a luz mencionadas nessas passagens eram do próprio Jesus (ver Atos 9:5; 22:8; 26:15). Os companheiros de Saulo ouviram a “voz” de Jesus falando com ele, mas não entenderam o “sentido” das palavras proferidas. Viram apenas uma “luz” sobrenatural, sem terem o privilégio de contemplar a forma específica dAquele que Se revelara a Saulo. Cremos, assim, que os textos se complementam em suas declarações.

Alberto Timm, “Sinais dos Tempos”, novembro–dezembro de 2001, p. 30.

sábado, 21 de maio de 2016

O que aconteceu com as pessoas que ressuscitaram quando Jesus morreu?

 

Mateus 27:51-53 nos diz que, por ocasião da morte de Jesus, “o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas; abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram”. Alguns mortos, como o filho da sunamita (2Reis 4:18-37), a filha de Jairo (Mateus 9:23-26), o filho da viúva de Naim (Lucas 7:11-17) e Lázaro (João 11:146), já haviam sido ressuscitados antes da morte e ressurreição de Jesus. Estes, porém, não foram glorificados e nem receberam o dom da imortalidade ao serem ressuscitados.

Cristo mesmo havia declarado ser Ele “a ressurreição e a vida” (João 11:25; 10:17 e 18) e ter poder para conceder a “vida eterna” a todos quantos nEle cressem (João 3:14-16; 5:24-29; 17:2). O poder de Cristo sobre a morte evidenciou-se não apenas em Sua própria ressurreição, como “as primícias dos que dormem” (1Coríntios 15:20 e 23), mas também na ressurreição de um grupo de “santos” que ressuscitou com Ele (Mateus 27:51-53). Os líderes judeus haviam subornado os guardas para negarem a ressurreição de Jesus (Mateus 28:11-15), mas esses santos ressuscitados “entraram” em Jerusalém “e apareceram a muitos” (Mateus 27:53) como testemunhas autênticas da ressurreição de Cristo e do Seu poder sobre a morte (ver Apocalipse 1:18).

O texto bíblico não entra em detalhes a respeito do futuro daqueles que ressuscitaram com Jesus. Mas, se considerados como os “primeiros frutos” (ver Êxodo 23:16; 34:22 e 26; Levítico 23:9-14) da grande messe de salvos que ressuscitarão incorruptíveis por ocasião da segunda vinda de Cristo (1Coríntios 15:51-55), então eles só podem ter sido ressuscitados também incorruptíveis para receber o galardão da vida eterna. Em seu comentário sobre Mateus 27:53, Jamieson, Fausset e Brown declaram que “esta foi uma ressurreição uma vez por todas, para a vida eterna; e, desta forma, não existe lugar para dúvidas de que eles foram para a glória com o seu Senhor, como esplêndidos troféus da Sua vitória sobre a morte” (Commentary on the Whole Bible, Grand Rapids, MI: Zondervan, 1961, p. 948).

Alberto Timm, “Sinais dos Tempos”, maio – junho de 2000.

Veja o que Ellen White disse  no livro “O Desejado de Todas as Nações“, capítulo 81 – “O Senhor ressuscitou”.

 Durante Seu ministério, Jesus ressuscitara mortos. Fizera reviver o filho da viúva de Naim, a filha do principal, e Lázaro. Estes não foram revestidos de imortalidade. Ressurgidos, estavam ainda sujeitos à morte. Aqueles, porém, que ressurgiram por ocasião da ressurreição de Cristo, saíram para a vida eterna. Ascenderam com Ele, como troféus de Sua vitória sobre a morte e o sepulcro. Estes, disse Cristo, não mais são cativos de Satanás. Eu os redimi. Trouxe-os da sepultura como as primícias de Meu poder, para estarem comigo onde Eu estiver, para nunca mais verem a morte nem experimentarem a dor.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Havia ou Não Lei Desde Adão até Moisés? – Romanos 5:13 e 14




“Pois até à Lei, havia pecado no mundo; o pecado, porém, não é levado em conta quando não existe lei. Todavia, a morte imperou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram de modo semelhante à transgressão de Adão, que é figura daquele que devia vir” (A Bíblia de Jerusalém).

Muitas interpretações têm sido apresentadas para estes versos, mas o caminho mais fácil para uma solução, de acordo com o que Paulo tencionava dizer, é estudá-los no contexto dos versos 12 a 21. Ele nos relata que Adão através de seu pecado trouxe a morte para todos os homens, mesmo àqueles que não pecaram a sua semelhança.

Adão, o primeiro homem, é um tipo de Cristo, que Paulo chama de “segundo homem” ou “o último Adão” (1Coríntios 15:45 e 47). É digno de menção que o único vulto do Velho Testamento a ser chamado expressamente de tipo de Cristo é Adão. (Há personagens do Velho Testamento que implicitamente são tratados como “tipos” de Cristo, sendo talvez o mais notável Melquisedeque).

A frase de Thomas Goodwin, presidente do Magdalene College, de Oxford, é muito significativa: “Diante de Deus há dois homens, Adão e Jesus Cristo, e todos os outros estão pendurados em seus cinturões“.

O relato bíblico nos informa que quando um homem falha Deus escolhe outro para o substituir (Davi substituiu Saul).

A desobediência de Adão trouxe a morte para todos, a obediência de Cristo trouxe vida a todos que O aceitaram.

Sobre esta verdade, assim se expressou F.F. Bruce:

“Assim, se a queda de Adão colocou toda a sua posteridade sob o domínio da morte, a obediência de Cristo introduziu triunfalmente uma nova raça nos domínios da graça e da vida” (Comentário de Romanos, pág. 104).

Não esquecer que Cristo é um tipo de Adão por contraste.

Em Adão encontramos um ato de transgressão (Versos 12, 15, 17, 19).

Em Cristo, um ato de Justiça (Verso 18).

Em Adão, todos condenados à morte.

Em Cristo todos têm a possibilidade da justificação para a vida.

O Problema do Texto

Vários comentaristas têm achado este texto muito difícil, e até apresentado explicações que não podem ser aceitas, por colidirem com outras doutrinas da Bíblia.

“Todavia, a morte imperou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram de modo semelhante à transgressão de Adão…”

Em poucas e simples palavras, o verso nos mostra que a morte reinou devido à transgressão de Adão, por que então morrer? O argumento de Paulo é que, pelo pecado de Adão, todos pecaram mesmo antes da lei ter sido dada por escrito no Sinai (verso 13).

O comentarista Nygreen diz o seguinte sobre esta passagem:

“Adão tinha recebido definido mandamento de Deus, instruindo-o com respeito ao seu comportamento. Portanto quando ele pecou, sua ação tinha o caráter de direta transgressão. Antes de falar em transgressão precisa haver um mandamento ou uma lei. Tal era o caso de Adão, mas não o caso daqueles que vieram depois, até que a lei foi dada através de Moisés”.

Havia ou não lei desde Adão até Moisés?

A leitura de apenas dois versos (14 e 15) de Romanos 2 esclarece esta pergunta:

“Quando, pois, os gentios que não têm lei procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.

Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se”.

Duas expressões precisam ser realçadas destes versos:

Eles possuíam a lei da consciência.

A lei gravada no coração era a mesma escrita em tábuas de pedra.

De vários comentários lidos, o mais expressivo a meu ver é o do The Interpreter’s Bible, vol. 9, pág. 464, que se segue:

“A dificuldade que acabamos de mencionar é o de explicar a morte como penalidade do pecado em vista do fato de que a morte reinou de Adão até Moisés. Pode-se argumentar que, uma vez que foi Moisés quem deu a lei, não poderia haver transgressão nem portanto punição pela transgressão antes de seu tempo; porém, a morte havia de fato reinado. A resposta de Paulo não é tão persuasiva quanto se ele houvesse aqui feito uso da concepção de ‘lei natural’ à qual aludira anteriormente (2:14-15). Sua verdadeira resposta é dizer que embora o pecado não seja levado em conta onde não há lei, ele estava, não obstante, no mundo.

Mas poder-se-ia perguntar: ‘Se não era levado em conta, por que então deveria o homem morrer por causa dele? Cogita-se por que Paulo não responde apelando para a lei ‘gravada no coração’. Em outras palavras, a lei foi dada muito antes de Moisés, e Deus estava assim em posição de ‘levar em conta’ e punir o pecado desde o princípio. A descrição dos que foram desde Adão até Moisés como aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão pode ajudar a explicar o silêncio de Paulo aqui. Sanday e Headlam entendem a frase ‘não … à semelhança da transgressão de Adão ‘como significando ‘não em violação de um mandamento expresso'”.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Jesus Tinha Irmãos de Sangue? Maria Permaneceu Virgem?




Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

Os títulos que ensinam este assunto têm dado motivo para intermináveis controvérsias entre católicos e protestantes.

Os irmãos são mencionados nas seguintes passagens: Mateus 12:46; 13:55; 28:10; e Marcos 6:3.

Outras duas passagens relacionadas com os irmãos de Jesus e a virgindade de Maria são: Mateus 1:25 e Lucas 2:7.

Em Marcos 6:3 lemos: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? e não vivem aqui entre nós Suas irmãs?”.

Este versículo já deu origem a muitas conjecturas e continua sendo motivo de acaloradas divergências. Muitos protestantes, baseados neste verso, concluem que Maria foi mãe, não apenas de Jesus, mas em virtude de sua união com José, de quatro homens mais e de algumas mulheres, nascidos todos depois de Jesus, que foi o primogênito. É uma realidade inegável que não se encontra nos Evangelhos e em nenhum outro livro da Bíblia nenhuma referência a outros filhos de Maria além de Jesus.

Lucas 2:7. Descrevendo o nascimento de Jesus, usa, com referência a Maria, a conhecida frase “ela deu à luz o seu filho primogênito”.

Os defensores de outros filhos de Maria apresentam Mateus 1:25 como prova para assim crerem, especialmente as palavras “conheceu” e “até”. Conhecer é um eufemismo semita para indicar as relações conjugais. Os comentaristas, de modo geral, citando a expressão “até que”, afirmam que Mateus quis especificar o que acontecera (nenhum contato) antes do nascimento de Jesus e não o que se verificou depois. Segundo nossa sintaxe, as palavras “até que” pressupõem o fim de uma situação e o início de uma outra contrária. Outros argumentam que no hebraico e no grego a expressão pode ser usada, mesmo que não haja uma mudança de situação.

O Dicionário da Bíblia, de João Davis, pág. 288, declara: “O que parece mais razoável e mais natural é que eles eram filhos de Maria depois de nascido Jesus. Que esta teve mais filhos é claramente deduzido de Mateus 1:25 e Lucas 2:7, que explica a constante associação dos irmãos do Senhor com Maria”.

Os católicos, começando por Jerônimo, sempre solícitos em defenderem o dogma da perpétua virgindade de Maria, afirmam que os chamados irmãos, nas passagens citadas, são na realidade primos de Jesus, filhos de uma irmã de Maria, mulher de Alfeu ou Clopas, segundo João 19:25. A opinião mais defendida desde a antiguidade apoia que esses irmãos eram apenas “primos – irmãos”. Os que apóiam essa ideia alegam que em todas as línguas, mas especialmente naquela falada por Jesus, o termo “irmão” tem uma elasticidade notável; emprega-se para irmão, por parte de pai ou de mãe, primo, e também para um parente mais afastado. Apresentam citações bíblicas para provar que os judeus tinham por costume chamar de irmãos a certos parentes.

A Igreja Católica, desde os primeiros séculos, sempre venerou Maria como virgem em sentido absoluto, antes, durante e depois do nascimento de Jesus. Para nós esse dogma é uma simples tradição, admitida mesmo por alguns comentaristas católicos, como podemos verificar em “Cem Problemas Bíblicos“, pág. 278, Edições Paulinas. É real que tal tradição não teria surgido se os apóstolos tivessem conhecido e mencionado autênticos “filhos” de Maria além de Jesus.

Há uma terceira interpretação, semelhante às mencionadas e que foi defendida também pelos antigos pais da igreja (Orígenes, Eusébio de Cesareia, Epifânio, Ambrósio e outros), segundo a qual José era viúvo quando se casou com Maria, e os aludidos irmãos e irmãs eram filhos de seu matrimônio anterior, com uma tal Melca, ou Esca, chamada por outros de Salomé.

Sabemos que os Evangelhos nada dizem com respeito a José, sobre seu estado de viuvez antes de seu casamento com Maria.

Apesar do silêncio dos evangelistas, esta versão é a que deve ser aceita por nós, como nos comprova o Comentário Bíblico Adventista e o Espírito de Profecia.

“Seus irmãos. Os escritores dos evangelhos tornam claro que esses eram filhos de José em razão de matrimônio anterior. O fato de que Jesus confiou Sua mãe aos cuidados de João (ver João 19:26-27) indica que os ‘irmãos’ (e irmãs) de Jesus não eram propriamente filhos de Maria. Que eles eram mais velhos que Jesus é demonstrado pela atitude deles e seu relacionamento para com o Senhor. Eles tentavam repreendê-Lo e falavam-Lhe com severidade (João 7:3-4) procurando interferir em Sua conduta por outras maneiras. Tais atitudes somente seriam cabíveis a irmãos mais velhos, segundo os costumes da época. Para quem está familiarizado coma vida nas terras bíblicas, esse argumento, por si só, parece conclusivo… “Embora esses ‘irmãos’ não cressem em Jesus naquele tempo (João 7:3-5), eles posteriormente O aceitaram e foram contados entre Seus seguidores (ver Atos 1:4)” (Comentário Bíblico Adventista, referente Mateus 12:46).

“Seus irmãos, como eram chamados os filhos de José, tomavam o lado dos rabinos” […]

“Tudo isso desgostava os irmãos. Sendo mais velhos que Jesus, achavam que Ele devia estar sob sua direção” (O Desejado de Todas as Nações, capítulo “Dias de Luta”).

O Pastor Juan Ferri defendeu tese idêntica, declarando:

1º) Que os chamados “irmãos” mencionados em Mateus 13:55 e Marcos 6:3 não são primos do Senhor.

2º) Que são pessoas diferentes e não os filhos de Maria, esposa de Alfeu, embora tivessem nomes iguais.

3º) Que a única conclusão lógica seria que fossem filhos de um primeiro matrimônio de José, o que é confirmado por antiga tradição.

A seguir apresenta as provas bíblicas que, segundo seu parecer, constituem a base dessa última conclusão. Não as transcreveremos por duas razões:

1º) Não as reputamos essenciais;

2º) Por serem muito extensas. (O Pregador Adventista, março-abril de 1949, págs.3-8).

A Castidade de José

A Igreja Católica, apoiada em ideias defendidas por Jerônimo e Agostinho, afirma que José se conservara casto não somente depois do seu casamento com Maria, mas também antes dele.

Juan Ferri, no artigo já citado, sustenta a castidade de José após o nascimento de Jesus, declarando:

“Vejo nisso nada mais do que a atitude consequente de um homem que, desde o momento em que o anjo Gabriel lhe revelara o propósito divino, compreendeu seu dever, aceitando a sagrada incumbência e se limitando a ser o que Deus queria que fosse: o pai legal e mantenedor de Jesus e o esposo legal e mantenedor de Maria […]

A sua união legal com a virgem era requerida somente como uma medida indispensável para que o bom nome daquela santa mulher permanecesse protegido de calúnia e infâmia”.

É bom frisar que ele declara ser esta uma opinião pessoal e não a posição da Igreja.

Conclusões Gerais

Tanto católicos como protestantes têm tomado posições extremadas, para as quais não se acham nenhuma base bíblica.

Não encontramos nada em o Novo Testamento a respeito da eterna virgindade de Maria; se esse fato fosse essencial para o plano da salvação ele seria apresentado.

Em contrapartida os protestantes também não podem, pela Bíblia, apresentar provas convincentes de que os irmãos e irmãs de Jesus fossem filhos de José e Maria. Russell Norman Champlin, em seu Novo Testamento Interpretado, vol. 1, pág. 396, apresenta argumentos, na sua opinião irrefutáveis de que José e Maria tiveram vários filhos. Para mim ao menos, os argumentos não são convincentes.

Em face destas duas posições exageradas, nossa posição devia estar no meio termo: Maria somente deu à luz a um filho, o nosso Salvador; e por ser virgem “antes do parto”, não há nenhuma base para crer que continuasse a sê-lo no parto e depois dele.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Gogue e Magogue – Ezequiel 38 e 39


Muito se tem escrito na vã tentativa de explicar convincentemente as palavras Gogue e Magogue.

As afirmações do eminente comentarista Adam Clarke são valiosas:

“É reconhecida ser esta a mais difícil profecia no Velho Testamento. Este estudo é difícil para nós porque não conhecemos nem o rei e nem o povo mencionados por ele: mas estou satisfeito porque eram bem conhecidos no tempo em que o profeta escreveu”.

O Dicionário Enciclopédico da Bíblia, da Editora Vozes, pág. 646 sintetiza:

“Gogue é uma figura apocalíptica em Ezequiel 38, chefe de exércitos hostis, que, no final dos tempos, hão de lutar contra Israel numa batalha terrível… Ele é chamado (Ezequiel 38:2) rei de Ros (desconhecido), Mosoque e Tubal (dois povos da Ásia Menor). Todo o seu território é indicado pela denominação “terra de Magogue“, que talvez signifique a terra do macedônio Alexandre Magno. Em Apocalipse 20:8 esse Magogue tornou-se uma figura independente ao lado de Gogue. O próprio Ezequiel deve ter visto neste Gogue outro Agague (Números 24:7), o inimigo hereditário de Israel”.

A. Josef Greig, professor assistente de religião na Andrews University, Berrien Springs, Michigan, assim comentou:

“Gogue e Magogue. Palavras de código hebraicas ajudam a resolver um problema, e derrubam algumas acalentadas especulações.

No capítulo 38 de Ezequiel é emitida uma mensagem de reprovação contra o misterioso Gogue, da terra de Magogue. No começo de Ezequiel há um número de oráculo descrevendo a queda dos tradicionais inimigos de Israel: Amon, Moabe, Edom, Filístia, Tiro e Egito. A destruição desses inimigos foi necessária porque Israel não poderia existir como uma comunidade pacífica e segura se fosse constantemente ameaçada por esses inimigos. No entanto, ficamos perplexos pelo fato de Babilônia não ter sido mencionada na lista dos inimigos de Israel.

Com os tradicionais inimigos de Israel destruídos, o que houve com aqueles povos e tribos que habitavam os externos limites do mundo? Ezequiel reconhece que aqueles dois constituem uma ameaça ao novo Israel, e pressente estarem mobilizando suas forças para atacá-lo (S. Vinward, A Guide to the Prophets, pág. 165). O líder desta horda pagã é Gogue, da terra de Magogue, o príncipe de Meseque e Tubal. Com ele estão a Pérsia, Etiópia, Put, Gomer e Togarma. Juntos eles atacam a região pacífica onde o povo mora nas cidades sem muros. Porém, Deus intervém e destrói esta horda pagã.

Mas quem é este Gogue, e onde fica a terra de Magogue? Gogue tem sido identificada com muitas figuras históricas do passado: nenhuma delas foi satisfatoriamente provada (SDA Bible Dictionary, pág. 408). A terra de Magogue tem sido identificada por alguns como sendo a Rússia, pelo fato de que Gogue vem do Norte (a localização geográfica da Rússia) e visto algumas versões entenderem ser Gogue o “príncipe de Rôs”, permitindo alguns interpretadores fazerem uma conexão entre Rôs e Rússia. O próximo passo neste método errôneo de etimologia é ligar Meseque com Moscou, comparando de novo um assírio equivalente a Meseque com Moscou. Ainda outro traço de falha evidência é acrescentado a este argumento, citando o historiador grego Heródoto, que chama Meseque de Moscou. Alguns foram mais longe, identificando Tubal com Tobolsk (The Septuagint transliterates the Word rosh “ head” as a proper name “Rosh”).

A solução da identificação da terra de Magogue na profecia de Ezequiel pode estar na compreensão do uso pelos hebreus de escritas secretas. A aplicação de nosso conhecimento em escritas secretas nos ajudou a compreender certas palavras da Bíblia e dos rolos do Mar Morto (H. J. Schofield, Secrets of the Dead Sea Scrolls, pág. 21).

Uma forma de escrita empregada no Velho Testamento é conhecida como Atbash. Esta palavra é formada da primeira e da última letra do alfabeto hebraico, combinada com a segunda e a penúltima do mesmo alfabeto. Apalavra Atbash é usada em Jeremias quatro vezes, sendo a mais conhecida delas a palavra Sheshach, que substitui a palavra Babilônia. As consoantes que designam Babilônia em hebraico são BBL, a segunda e a duodécima letras do alfabeto hebraico. Se contarmos as letras do alfabeto hebraico a começar do fim, a segunda letra será Sh, a qual é então substituída por B. Dois “Bb” são iguais a Sh Sh. A duodécima letra do alfabeto contando de trás para frente é K, que é substituída pela letra L. Assim, temos Sh ShK, que, acrescido das vogais apropriadas, forma – Sheshach.

Entre os rolos do Mar Morto está o Documento de Damasco, o qual em três passagens faz menção de uma obra autorizada chamada o Livro de Hagu. A palavra Hagu não tem significado por si. Mas, se acrescentarmos a ela a palavra Atbash, Hagu torna-se Tsaraph, significando “refinar, ou provar”. Assim, o título “o Livro de Hagu‘, que nada significa, torna-se ‘O Livro de Prova, ou ‘Livro de Teste’.

“Magogue, como Sheshach, é uma palavra-código para Babilônia (J. N. Schofield, Law, Prophets, and Writings, pág. 209). Todavia, o modo como foi derivada é diferente do modo como Babilônia foi derivada de Sheshach em Jeremias. Empregando o conceito de escrita enigmática, em lugar de contar do final do alfabeto para o início, usamos a próxima letra após B e L para caracteres na palavra-código. A letra que segue ao B no alfabeto hebraico é G, a letra depois de L é M; juntando essas letras teremos GGM. Em ordem inversa, isto dá MGG. Acrescentando as vogais apropriadas, teremos Magogue. Se Magogue é uma palavra-código para Babilônia, então esta nação está faltando na lista dos inimigos de Israel, mas aparece sob o nome de Magogue (Ver “Gematria”, Encyclopaedia Judaica, vol. 7, págs. 369-370).

Podemos também sugerir que o nome Gogue é derivado de Magogue, usando as últimas duas letras da palavra e juntando-as a MGG. Gogue (GG) representaria possivelmente o chefe (rei) da terra de Magogue simplesmente porque se presta a uma ordem de letras com MGG. Assim, a solução de nosso problema Gogue-Magogue pode estar na direção de melhor compreensão do antigo uso hebraico de nomes enigmáticos ou códigos.

O que significa isto para o evangelista que pregou sobre a Rússia na profecia bíblica? Francamente, não há base para pregar sobre a Rússia como assunto específico das profecias de Ezequiel 38 e 39. As questões feitas por Alger Johns (The Ministry, setembro, 1962, pág. 31) devem ser lidas novamente com grande proveito, especialmente as que falam da necessidade de pregar somente sobre fatos sustentáveis e baseados em exegese segura.

As hordas pagãs mencionadas em Ezequiel, contudo, podem ser usadas para descrever simbolicamente os poderes do mal, que sempre estiveram e sempre estarão em conflito com o reino de Deus até o triunfo final de todas as coisas. O comunismo ateísta bem poderia colocar-se entre esta descrição dos inimigos de Deus, mas ela é referente a um símbolo muito mais abarcante que o próprio comunismo. Gogue e Magogue são usados simbolicamente em Apocalipse 20, para as nações da ímpia assembleia de Satanás, reunida após o milênio para atacar a Nova Jerusalém. Lá a hoste dos ímpios é destruída por Deus, que envia fogo do céu para consumi-los. Apesar de a vitória dos bons sobre os maus não ter sido absolutamente assegurada na história de nossos tempos, um dia ela o será. Até que chegue esse dia, temos de estar vigilantes quanto a qualquer poder que se levante contra Deus, como Seu inimigo, e enfrentá-lo resolutamente com a Palavra de Deus nas Santas Escrituras”.

Pedi ao Pastor S. J. Schwantes que lesse este artigo e me desse a sua opinião. Com sua inconteste autoridade, disse o seguinte:

“O argumento deste artigo deixa muito a desejar. Mesmo que se admitisse que Magogue é uma palavra-código para Babilônia, quando é que esta Babilônia atacou a terra de Israel e foi destruída pelo poder de Deus? Não pode ter sido antes de 539 a.C. E, depois desta data, Babilônia não mais exerceu liderança política ou militar neste mundo. O império babilônico foi substituído pelo império dos Medos e Persas. Não há evidência de que Ezequiel tenha usado o sistema atbash em caso algum”.

O Comentário Bíblico Adventista, referindo-se a Ezequiel 38:2, diz:

“Gogue. Este é o nome escolhido por Ezequiel para designar o líder das hostes pagãs que atacaria o Estado Judeu restaurado após o retorno dos exilados (veja Ezequiel 38:14-16). Os esforços para identificá-lo com qualquer personagem histórico mostraram-se até agora infrutíferos. A raiz de onde se deriva o nome é desconhecida. A Palavra ocorre 13 vezes nas Escrituras, mas nenhuma das referências lança qualquer luz sobre seu significado. Gogue aparece em 1Crônicas 5:4 como o nome de um dos filhos de Joel, da tribo de Rúben. Em Apocalipse 20:8 é usado em conexão com Magogue para simbolizar as nações dos ímpios, a quem Satanás reúne após o milênio para atacar Cristo e apoderar-se da Nova Jerusalém. As 11 ocorrências em Ezequiel (38:2, 3, 14, 16, 18; 39:1, 11, 15) descrevem o líder de uma vasta coalizão de nações pagãs. Gogue é também a variante que aparece no Pentateuco Samaritano e na LXX em lugar de Agague, em Números 24:7. Uma forma composta, Hamom-Gogue – “a multidão de Gogue” (ou as forças de Gogue), é usada em Ezequiel 39:11 e 15, nome este que é aplicado ao vale no qual seriam sepultadas as multidões de Gogue. Todas estas referências bíblicas não derramam qualquer luz sobre a identidade de Gogue, e a única indicação quanto a sua origem está em 38:15, onde é feita a declaração: “Virás, pois, ao teu lugar, das bandas do norte”.

Outra sugestão relaciona Gogue com o país bárbaro de Gagaia, que é mencionado nos tabletes de Tell-el-Amarna. Contudo, Gagaia é um país e não uma pessoa, como representa ser o Gogue de Ezequiel. Em realidade não é necessário encontrar um Gogue nos registros históricos. Gogue é muito provavelmente um nome imaginário, pelo qual Ezequiel descreve o líder das hordas pagãs, que fazem uma final investida sobre Israel, após sua restauração, e numa ocasião quando estão desfrutando da prosperidade prometida por Deus sob condição de sua obediência.

A terra de Magogue. Ou “da terra de Magogue“. O “Magogue” de Ezequiel era a terra natal de Gogue, e como “Gogue” seu sentido é obscuro. O título foi provavelmente formado pelo próprio Ezequiel, prefixando “ma” ao nome “Gog”. “Magogue” ocorre cinco vezes nas Escrituras. É usado duas vezes em Ezequiel (38:2 e 39:6) como a terra de Gogue; uma vez em Apocalipse 20:8, para as nações dos ímpios; e em Gênenesis 10:2 e 1Crônicas 1:5 para os filhos de Jafé. Alguns, havendo identificado Gogue como Giges, rei da Lídia, sugerem que Magogue precisa necessariamente ser a Lídia. Não há, contudo, prova histórica disto. Uma tribo bárbara chamada Magogue é mencionada numa carta de um rei babilônico (ver o comentário a Gênesis 10:2).

Estes dois nomes, Gogue e Magogue, têm ocasionado muita especulação. A antiga tradição judaico identificava Magogue com os ‘citas’ (Josefo, Antiguidades, i.6.1.). O mesmo é sugerido por Gesenius em seu léxico hebraico.

Contudo, esta identificação de Magogue com os ‘citas’ ainda repousa sobre conjecturas. Como Gogue, o nome é provavelmente imaginário, provavelmente para se evitar de propósito uma identidade demasiado aproximada, como é muitas vezes ocaso em profecia preditiva, para que tal identidade na predição não impeça seu cumprimento.

Outras interpretações fantasiosas de tempos em tempos têm identificado Magogue com várias nações ou com indivíduos. Poder-se-ia reunir uma vasta biblioteca de legendas sobre Gogue e Magogue. Em muitas delas a história diz respeito a um muro para manter de fora Gogue e Magogue. Este muro tem sido situado em muitos países, da Grécia à China, dependendo da nacionalidade da legenda. A ruptura do muro abriu caminho para que as forças destrutivas de Gogue e Magogue fizessem sua obra. Em algumas das legendas esses eventos estavam relacionados com o aparecimento do anticristo, ocasião em que Gogue e Magogue (os povos selvagens do norte do Cáucaso), anteriormente encerrados atrás dos portões por Alexandre, o Grande, seriam soltos (ver L.E. Froom, Prophetic Faith of Our Fathers, vol. 1, págs. 555, 583, 584, 586 e 662).

Príncipe. Do hebraico nesi’ ro’sh. Nesi’ significa “príncipe”, e ro’sh pode ser “chefe”. Contudo a LXX o traduz como um nome próprio, e o mesmo faz a Almeida Revista Atualizada com a sua tradução “Rôs”. Qualquer que seja a tradução adotada, o ensino geral da profecia permanece o mesmo. Se se considerar ro’sh como representando uma nação de pessoas, ainda temos o problema de identificar o povo ou seu território.

Contudo, é questionável que seja adequado traduzir ro’sh como um nome próprio, “Rôs”. A palavra é muito comum no hebraico, ocorrendo mais de 600 vezes no Velho Testamento. Seu significado básico é “cabeça”, e na King James Version não é em parte alguma traduzido como nome próprio, exceto em Gênesis 46:21, onde é o nome dado a um dos filhos de Benjamim. Naturalmente existe a possibilidade de que uma palavra que ocorre mais de 600 vezes com a ideia básica de “cabeça” possa em realidade tornar-se um nome próprio em um ou dois casos. Talvez a mais forte evidência reclamada em apoio da tradução “Rôs” seja o testemunho da LXX. A LXX foi traduzida no 3º e 2º séculos antes de Cristo, e por alguma razão seus tradutores adotaram a versão “Rôs”. Se em seus dias eles conheciam ou não uma terra chamada “Rôs”, não podemos afirmar.

Há uma consideração sintática que tende a favorecer um nome próprio aqui. Se a palavra ro’sh for aqui usada como adjetivo, normalmente se esperaria que tivesse um artigo, visto que ela modificaria nesi’, que no hebraico é definido por estar no estado construto com um substantivo próprio, neste caso, “Meseque”. Exemplos de tais construções, onde o adjetivo que modifica o nome no estado construto é definido pela afixação do artigo, são: Jeremias 13:9, “a muita soberba de Jerusalém”; Esdras 7:9, “a boa mão do seu Deus”. O adjetivo encontra-se em Ezequiel 38:2, sem o artigo, proporcionando um pretexto para traduzi-lo como nome próprio, uma vez que nomes próprios não levam artigo. Mas a evidência não é de modo algum conclusiva. Às vezes tal adjetivo é ele próprio colocado no estado construto, e está, portanto, sem o artigo no hebraico (ver, por exemplo, 2Samuel 23:1; 2Crônicas 36:10). Uma notável exceção à regra precedente é também encontrada em 1Crônicas 27:5, onde a expressão hakkohen ro’sh, “sacerdote chefe”, ocorre. Ali, “sacerdote” tem o artigo, e o adjetivo “chefe” está sem o artigo. Isto, contudo, é considerado pelos editores do texto hebraico como um erro, sendo que o artigo naturalmente pertence ao adjetivo.

Um estudo das fontes seculares na procura de um país pelo nome de “Rôs” adianta muito pouco. Vários nomes com um som similar a “Rôs” aparecem em inscrições assírias, mas não há certeza de que qualquer deles seja idêntico com “Rôs”.

Desde o século 10º, vários exegetas têm feito tentativas de identificar “Rôs” como “Rússia”. Segundo Gesenius, os escritores bizantinos do século 10º identificavam “Rôs” sob o nome de hoi Rhõs, um povo que habitava as partes setentrionais de Taurus e que, assevera ele, eram “indubitavelmente os russos” (ver seu léxico hebraico). Ele também menciona um escritor árabe do mesmo período, Ibn Fosslan, que fala desse povo como habitando sobre o rio Rha (Volga).

A evidência histórica, contudo, mostra que o termo “Rússia” não veio de “Rôs”. Entre os eslavos que viviam no que agora é a Rússia estavam grupos de vikings chamados varangianos, que migraram do leste da Suécia. Embora haja diferentes pontos de vista quanto ao papel dos varangianos, a opinião prevalecente entre os estudiosos é que estes guerreiros-mercadores e líderes militares de origem não-eslava, chamados pelo nome “Russ” ou “Russos”, deram seu nome ao território. A tradição russa diz que Rurik, um varangiano, tomou o título de Príncipe de Novgorod (a principal cidade do norte da Rússia nessa ocasião), em cerca de 862 d.C., e que seus descendentes diretos governaram a Rússia até a morte de Feodor (Teodoro), o último governante da dinastiade Rurik, em 1598. Após vários anos de agitação, durante os quais vários pretendentes governaram pela força, um novo czar foi eleito, Michael Romanoff, cuja dinastia continuou até a revolução de 1917 (ver J. B. Bury, A History of the Eastern Roman Empire, 1912, p. 412; Bernard Pares, A History of Russia, 1944; Encyclopedia Britannica, edição 1974, artigo “Rússia”). Assim pode ser visto que qualquer similaridade de som entre “Rôs” e “Rússia” é obviamente pura coincidência. Parece não haver qualquer evidência de que o nome foi aplicado a esse país até cerca do 10º século d.C.

Meseque. O nome aparece nove vezes nas Escrituras. Em Gênesis 10:2 e 1Crônicas 1:5, Meseque é alistado como um dos filhos de Jafé. Em 1Crônicas 1:17 um provável erro de escribas alista Meseque como um dos filhos de Sem, mas sem dúvida a referência é a Más, em harmonia com Gênesis 10:23. As outras seis ocorrências referem-se a Meseque como nação. Três delas estão em Ezequiel 38 e 39; duas estão em 27:13 e 32:26, e a referência restante está em Salmos 120:5. Segundo a LXX, dever-se-ia ler também “Meseque” em Isaías 66:19 em vez de “que atiram com o arco”. Em todas as cinco ocorrências em Ezequiel (bem como em Gênesis 10:2 e 1Crônicas 1:5) está associado com Tubal, indicando que se refere aos descendentes de Jafé. Ezequiel fala deles como mercadores negociando com Tiro “objetos de bronze” bem como escravos (27:13). Nos Salmos são descritos como inclinados para a “guerra” (Salmos 120:7).

Historicamente, crê-se que Meseque represente os Moschoi dos escritores gregos clássicos (ver Heródoto iii.94; vii.78), os Mushku das inscrições assírias (ver Comentário Bíblico Adventista sobre Gênesis 10:2).

Alguns escritores, que veem a Rússia no som ro‘sh, também veem Moscou no som “Meseque“, ou Mushku, e creem que a cidade pode ter sido fundada por descendentes dos Mushku. Contudo, de acordo com a Encyclopedia Britannica, ed. 1974, Moscou não foi estabelecida antes do século 12, por George Dolgoruki. Não se pode encontrar nenhum traço de conexão entre os dois nomes”.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

domingo, 15 de maio de 2016

Mateus disse “Jeremias”, e devia ser “Zacarias”



Mateus disse “Jeremias” onde deveria ser “Zacarias” – Mateus 27:9 e Zacarias 11:13
As explicações são muitas, sendo talvez as duas mais consistentes as seguintes:
1º) Numa das organizações dos livros proféticos, o de Jeremias aparecia encabeçando a lista. Este primeiro estendia o seu nome aos outros livros. Este processo aconteceu com o livro de Salmos também.
2º) Se todos reconhecem que esta citação foi feita por Zacarias 11:13, é também uma realidade que ela se combina com a ideia da compra de um campo relatada em Jeremias 32:6-15. Jeremias não faz alusão as trinta moedas de prata; em contrapartida, Zacarias não menciona a compra do campo. Mateus poderia ter escrito assim: Então se cumpriu o que foi dito pelos profetas Jeremias e Zacarias. Sendo Jeremias um profeta mais destacado, o seu nome permaneceu.
Os copistas procurando harmonizar esta divergência têm apresentado as seguintes variantes:
1. O que foi dito pelo profeta Jeremias.
2. O que foi dito pelo profeta Zacarias.
3. O que foi dito pelo profeta.
4. O que foi dito pelos profetas Jeremias e Zacarias.
As sugestões de que Mateus citou de memória, por isso errou, e que a citação foi retirada de um livro apócrifo, de Jeremias, não devem ser esposadas por nós.

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes – item 11

quinta-feira, 14 de abril de 2016

A obra da Criação foi concluída no Sexto ou Sétimo Dia? – Gênesis 1:31 e 2:2




É um fato aceito por todos nós, deduzível da leitura de Gênesis 1:31 e 2:2, que Deus acabou a Sua obra criativa no sexto dia. O verso 2 do segundo capítulo parece contradizer esta crença ao declarar: “E havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra …”.
Creem alguns comentaristas que há aqui uma deficiência da linguagem, pois a leitura dos dois versos anteriores de Gênesis 2:2 nos evidencia que a obra já estava concluída no sexto dia. A pobreza dos tempos verbais em hebraico talvez seja responsável por esta aparente divergência. O sentido do original devia ser este: “estando já acabada a obra no sétimo dia”.
O mui conhecido e digno de crédito comentarista Adam Clarke assim se expressou sobre este verso:
“É voz geral da Escritura que Deus terminou toda a criação em seis dias e repousou no sétimo, dando-nos um exemplo de que trabalhemos seis dias e no sétimo descansemos de toda a antiguidade manual. É digno de nota que a Septuaginta, a Siríaca e a Samaritana dizem sexto dia, em vez de sétimo dia; e isto deve ser considerado certo”.
Ele conclui suas explicações aventando a hipótese de ter havido uma confusão no hebraico entre os números 6 e 7 por serem muito parecidos.
O Comentário Bíblico Adventista afirma, sobre Gênesis 2:2 – “Tem sido feitas várias tentativas para resolver a aparente dificuldade entre os versos 1 e 2; um declara que a obra de Deus foi terminada no sexto dia e o outro no sétimo dia. A Septuaginta e as versões samaritana e siríaca escolheram o caminho mais fácil para resolver o problema, substituindo a palavra ‘sétimo’, do texto hebraico, pela palavra ‘sexto’… ‘Acabou’. Alguns eruditos, começando com Calvino, têm traduzido como ‘havia acabado’, o que é gramaticalmente possível. Outra interpretação considera que a obra da criação foi terminada apenas depois da instituição do dia de repouso”.

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes – item 1

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Deus tem ou não prazer na morte do perverso? – Ezequiel 18:23 e Provérbios 16:4




Como conciliar “Deus não tem prazer na morte do perverso”, de Ezequiel 18:23, com a afirmativa de Salomão, em Provérbios 16:4, “O Senhor fez todas as coisas para determinados fins, e até o perverso para o dia da calamidade”?
É princípio primário de interpretação que, se um texto é difícil, ele deve ser comparado com outros que sejam mais fáceis para esclarecê-lo. Jamais esquecer que a Bíblia se explica pela própria Bíblia.
Se lermos Eclesiastes 7:29 – “Eis o que tão somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias”, saberemos que Deus não podia criar perversos.
Provérbios 16:4 será bem compreendido atentando para o livre arbítrio, a possibilidade do homem escolher entre o bem e o mal. Deus não é o originador do mal, mas se o homem escolhe praticar o mal, Deus haverá de destruí-lo.
Joseph Angus declarou sobre esta passagem: “A ideia de que os ímpios foram criados para poderem ser condenados, a qual alguns julgam estar compreendida nesta passagem, não se conforma com inumeráveis lugares da Escritura (Salmos 145:9; Ezequiel 18:23; 2Pedro 3:9). A significação, portanto, daquele texto é a de que todo o mal contribui para a glória de Deus e promove a realização dos seus insondáveis desígnios” (História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, pág. 153).
Há pessoas que citam Provérbios 16:4 e Romanos 9:15-24 como prova de que a Bíblia ensina que algumas pessoas não podem ser salvas. Esta conclusão é totalmente errada diante de uma infinidade de passagens, como por exemplo João 3:16.
Wilcox, dando resposta a esta pergunta – “Provérbios 16:4 e Romanos 9:15-24 não ensinam que algumas pessoas não podem ser salvas?” – afirmou: “Não; Deus salva o caráter; e chama toda alma a possuir um caráter que possa ser salvo. O primeiro texto simplesmente ensina que todas as coisas se encaixam no plano de Deus. Os ímpios pertencerão ao dia da ira, mas Deus não compele ninguém a ser ímpio. Veja Seu juramento em Ezequiel 33:11.
“Deus teria glorificado Seu nome através da submissão de Faraó se o monarca egípcio houvesse se submetido, da mesma forma que fez através de Nabucodonosor e Ciro. Ele o suscitou e o colocou no trono para este propósito. Faraó não quis se submeter, por isso o Espírito de Deus o entregou à dureza de coração. Deus, porém, trouxe glória para Si próprio apesar da teimosia do rei.
“Estude uma expressão em Romanos 9:15. De quem é a vontade de Deus ter misericórdia? ‘E faço misericórdia até mil gerações daqueles que Me amam e guardam os Meus mandamentos’ (Êxodo 20:6). Esperamos isso; mas sobre que outra classe é a vontade de Deus mostrar compaixão e misericórdia? (Isaías 55:7; Ezequiel 33:11). Deus não está tantalizando quando diz ‘todo aquele que crê’ em João 3:16 e ‘quem quiser’ em Apocalipse 22:7″.

Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário – Passagens Aparentemente Conflitantes – item 4

domingo, 10 de abril de 2016

Existem Almas Debaixo do Altar? – Apocalipse 6:9




“E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram”.

“O altar apresentado no quadro profético era provavelmente reminiscências do altar de bronze do santuário dos hebreus, e os mártires podem ser lembrados como sacrifícios apresentados a Deus. Como o sangue das vítimas era derramado na base do altar, e a vida da carne está no sangue, assim as almas daqueles que foram martirizados são comparadas como estando debaixo do altar” (Comentário Bíblico Adventista, Apocalipse 6:9).

“O altar corresponde nesta liturgia celeste ao altar dos holocaustos (1Reis 8:64). Os mártires, testemunhas da Palavra, são associados à imolação de seu Mestre (Filipenses 2:7). Segundo a concepção bíblica e oriental, a vida reside no sangue. Aqui as vidas dos mártires estão ‘escorrendo’ para a base do altar celeste onde se consumam os seus sacrifícios cruentos (Levíticos 4:7)” (A Bíblia de Jerusalém, Apocalipse 6:9).

As “almas debaixo do altar”, apresentadas por João nesta passagem, são uma representação simbólica aos filhos de Deus, que foram martirizados na Idade Média por causa do Evangelho. O sangue ou a vida que seus perseguidores derramaram simbolicamente clama a Deus pedindo vingança, a exemplo do sangue de Abel, em Gênesis 4:10, que clamava a Deus. Se o altar do sacrifício estava sobre a terra, e as almas são representadas como estando debaixo do altar do sacrifício, consequentemente não eram almas que estavam no céu.

O que deixa a muitos leitores perplexos nesta passagem é o conceito popular, mas antiescriturístico da palavra alma – uma essência imaterial, invisível e imortal que existe no homem. O conhecimento da palavra no original hebraico e grego jamais admite tal definição. Dentre seus múltiplos significados se destacam também os de vida e pessoa. Este é o caso de Apocalipse 6:9, onde as “almas de baixo do altar” simbolizam pessoas, isto é, os mártires, sendo altar simbólico de sacrifício ou martírio. Seria um disparate indescritível a aceitação literal de que essas almas estivessem presas, debaixo de um altar no céu. Se aceitássemos o relato como real, essas almas no céu, e os seus ímpios perseguidores no inferno, segundo a crença popular, qual a razão de clamarem ainda por vingança, já que os seus torturadores estavam pagando seu merecido castigo?

Esta passagem traz uma mensagem de conforto para os que sofreram, sofrem e sofrerão por Cristo: o cuidado incessante de Deus em favor dos que aceitaram o Seu plano de salvação. Muitos não podem compreender por que Deus permite que alguns de Seus filhos fiéis sejam maltratados pelos ímpios. Embora o procedimento divino, por vezes, esteja além de nossa limitada compreensão, de uma coisa podemos ter certeza: Deus fará justiça dando o galardão aos fiéis e deixando que os ímpios sejam destruídos.

No capítulo seis de Apocalipse, João apresenta uma profecia dos acontecimentos que se realizariam durante a era cristã.

A referência às “almas debaixo do altar” do verso 9 relaciona-se com a época da Reforma. Tanto a história secular quanto a sagrada nos informam que milhares e milhares dos chamados hereges foram barbaramente massacrados e mortos por todos os meios imagináveis. Felizmente, este estado de coisas teve o seu fim, com o protesto dos príncipes na Dieta de Spira em 1529 e o incremento da Reforma através de toda a Europa. O contexto geral das Escrituras nos impede de tomar esta passagem em seu sentido literal, pois se assim fosse teríamos de aceitar a Morte e o Inferno cavalgando um cavalo literal através da terra.

Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.

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