sábado, 27 de outubro de 2012

Por que o Espírito é chamado de "Conselheiro" no evangelho de João?


O termo grego parakletos, traduzido como "conselheiro" em algumas versões da Bíblia, não tem equivalência exata em português. Ele foi usado na literatura grega para se referir a uma pessoa chamada para auxiliar alguém, ou que se apresenta em nome de outra pessoa como conselheiro, intercessor, mediador, ajudante ou como advogado no tribunal. Quando Jesus usa esse termo para o Espírito Santo, revela algo sobre a natureza e função do Espírito.

Uma vez que o termo é usado exclusivamente nos escritos de João, examinarei essas passagens.

1. Jesus e o Conselheiro: Em João, assim como em todo Novo Testamento, Jesus e o Espírito são muito próximos. Não são, porém, a mesma pessoa. Em João, Jesus identifica o parakletos com o Espírito (16:15), o Espírito Santo ( 14:26), e o Espírito da verdade (14:17; 15:26; 16:13). Em outras palavras, Ele usou uma nova terminologia para Se referir ao Espírito Santo. Quando Jesus diz "outro Consolador" (14:16, ACRF/NVI; cf. 1Jo2:1)1*, inferindo que Ele também é um conselheiro, está fazendo uma clara distinção entre Ele (Jesus) e o Espírito. A diferença entre os dois também é acentuada pelo fato de o Espírito (parakletos) ser enviado pelo Pai, quando solicitado pelo Filho (14:16,26). Finalmente, a diferença entre os dois é indicada pelo fato de que a vinda do Espírito acontece após Jesus retornar para o Pai (16:7).
O Espírito (parakletos) permanecerá com Seu povo para sempre (14:16). Portanto, diferente de Jesus, o Espírito não retornará para o Pai enquanto o povo de Deus ainda estiver no mundo. Ele tomará o lugar de Jesus na terra.

2. Funções do Conselheiro: Três funções específicas são atribuídas ao Espírito ( parakletos). Ele é professor: Ele "lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que Eu lhes disse" (14:26, NVI).2* O Espírito edificará a igreja sobre a base dos ensinamentos de Jesus, lembrando os Seus ensinos aos discípulos e revelando seu significado profundo. Ele também revelará a eles o conteúdo escatológico da mensagem de Jesus (16:13). É somente nesse sentido que o Espírito " os guiará em toda verdade" (16:13, NVI).
Segundo, e intimamente relacionado com o anterior, o Espírito glorifica Jesus. Jesus é glorificado quando o Espírito revela o que pertence a Jesus (16:13). Ele glorifica a Si mesmo, não quando nos concede coisas novas, mas ao nos dizer que tudo o que recebemos vem de Jesus.
Terceiro, o papel do Espírito é testemunhar contra o mundo em nome de Jesus e de Seu povo. A vinda do Espírito testifica do fato de que os fieis pertencem a Deus, radicalizando, assim, a distinção entre eles e o mundo.
Junto aos fieis, o Espírito também testifica em nome de Jesus ao chamar as pessoas para virem a Jesus como O exaltado (15:25, 26). Seu testemunho contra o mundo é devido ao fato de Jesus ter sido rejeitado pelo mundo, o pecado que o caracteriza e o julgamento de Deus contra o mal (16:8-11).

3. Natureza do Espírito: Ao chamar o Espírito de " outro Conselheiro" Jesus declarou de uma vez por todas que o Espírito é uma pessoa como Ele. Embora no grego o substantivo "espírito" (pneuma) seja neutro, o substantivo "conselheiro" (parakletos) é masculino e pessoal. O Espírito não é neutro, mas um ser divino e pessoal. Sua divindade é mencionada por Jesus quando Ele diz que o Espírito "provém do Pai" (ekperuomai) indicando o lugar de origem do Espírito. Seu local de existência natural é junto ao mistério da Trindade, e Ele é enviado por Deus. Ao identificar o Espírito como parakletos, Jesus nos deu uma forma de pensar no Espírito como uma pessoa.
Podemos visualizá-Lo como Conselheiro, como uma pessoa que nos ajuda em tempo de necessidade (consolador), e que nos acompanha durante nossa peregrinação, nos sustentando, nos transformando e nos revelando o que pertence a Jesus. O Espírito fala por nós e a nós; Ele é o parakletos.

1* Texto creditado como ACRF foi extraído da versão Almeida Corrigida e Revista Fiel.
2* Texto creditado como NVI foi extraído da Nova Versão Internacional.

Texto de Ángel Manuel Rodríguez, hoje aposentado, serviu muitos anos como diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral.

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