quinta-feira, 14 de junho de 2018

A criação das plantas


A criação das plantas ocorreu no terceiro dia da criação, e foi algo bem simples. Deus ordenou e a Terra se encheu de vegetação. Essa narrativa simples tem despertado a curiosidade de muitos leitores e tem deixado detalhes interessantes sobre como isso ocorreu. O texto bíblico nos diz o seguinte: “Então disse Deus: ‘Cubra-se a terra de vegetação: plantas que deem sementes e árvores cujos frutos produzam sementes de acordo com as suas espécies.’ E assim foi. A terra fez brotar a vegetação: plantas que dão sementes de acordo com as suas espécies, e árvores cujos frutos produzem sementes de acordo com as suas espécies. E Deus viu que ficou bom” (Gênesis 1:11,12, Nova Versão Internacional).

Sabemos que o autor do livro de Gênesis não tinha intenção de classificar taxonomicamente toda a diversidade de flora e fauna criadas por Deus. A classificação se deu de forma muito simples e seguindo a limitação do autor. Podemos notar que temos três tipos de plantas criadas: A erva verde (דֶּ֔שֶׁא deshe), a erva que dê semente (עֵ֚שֶׂב eseb) e as árvores frutíferas (עֵ֣ץ פְּרִ֞י ets peri). O autor descreveu a vegetação rasteira em geral, as árvores e as árvores frutíferas resumidamente. 

Essa ordem criativa já nos desperta uma curiosidade tremenda do que aconteceu. Por uma dessas “coincidências” comuns no livro de Gênesis, temos na criação das plantas a mesma ordem em que as plantas teriam surgido segundo a teoria da evolução: Briófitas, Gimnospermas e Angiospermas. Esse detalhe faz com o texto bíblico tenha crédito até entre os mais céticos.

Na história evolutiva das plantas, sabemos que as “primeiras sementes” apareceram durante o Devoniano superior, o que tornou as plantas que as produziam independentes da umidade. Mas só no período Carbonífero é que podemos verificar melhor o surgimento dessas estruturas. Isso ocorreu, segundo a cronologia evolutiva, há 300 milhões de anos.[1]

Porém, o registro fóssil nos mostra alguns detalhes que não conferem com essa informação. Encontramos a pteridospermatophyta, uma ordem extinta de samambaias com sementes. Isso demonstra que houve uma “involução”, pois hoje sabemos que as samambaias não têm sementes. Criacionistas sustentam que as espécies primordiais de plantas foram criadas prontas e após isso houve diversificação. O relato evolutivo e criacionista se confunde nesse desenvolvimento, pois, apesar de os surgimentos serem contraditórios, a microevolução posterior se seguiu normalmente com todas as espécies se adaptando nas regiões a que foram chegando após o dilúvio.

Porém, no segundo capítulo de Gênesis, temos algo intrigante. O texto diz o seguinte: “Ainda não tinha brotado nenhum arbusto no campo, e nenhuma planta havia germinado, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e também não havia homem para cultivar o solo” (Gênesis 2:5, Nova Versão Internacional). Se as plantas foram criadas no terceiro dia, como o autor diz que nada havia brotado? 


Em Gênesis 2:5, não encontramos as três classes criadas anteriormente (deshe, eseb e ets peri), o que nos faz entender que aqui não se trata da criação das plantas. O texto fala claramente que por causa da chuva, e por falta de pessoas para cultivar o solo, essa planta não podia crescer. Que planta é essa que foi traduzida como “arbusto”, e em outras versões como “planta do campo” ou “planta da terra”? É bem simples a resposta, que já está implícita no texto. Esse trecho se refere à agricultura. As palavras sadeh (הַשָּׂדֶ֗ה)  e  siach (שִׂ֣יחַ) Indicam que é um campo cultivado, um espaço reservado para o plantio. Ou seja, no capítulo 1 Deus criou as plantas e no capítulo 2 temos o relato do ato de cultivar essas plantas.


Então, concluímos que não há contradição entre os capítulos 1 e 2 de Gênesis. A narrativa e o texto original em hebraico nos fazem entender que os trechos são coisas distintas. Que a criação das plantas de forma resumida e simples se deu no capítulo primeiro e o começo da agricultura se deu no segundo capítulo.

Nas próximas postagens abordaremos detalhes de como essas plantas puderam se espalhar por todo o globo; e também falaremos do conceito das plantas no relato bíblico. Será que havia o ciclo biológico antes da queda do homem? Havia “morte” celular antes do pecado? Qual o papel das plantas nesse contexto?

REFERÊNCIAS

[1] SIMPSON, M.G. 2010. Plant Systematics. 7ª ed. London: Elsevier Academic Press.

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