O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump,
anunciou nesta segunda-feira (5) a nomeação de Ben Carson, o neurocirurgião
aposentado que disputou as primárias republicanas, como secretário de Habitação
e Desenvolvimento Urbano, ao retomar as consultas para a formação de seu
gabinete.
Carson, um negro conservador profundamente religioso e que
teve um bom momento durante as primárias republicanas, não tem experiência em
políticas de habitação, mas citou sua infância em um bairro pobre de Detroit
como credencial para o posto. Primeiro afro-americano nomeado para integrar o
governo de Trump, que toma posse em 20 de janeiro, Carson "tem uma mente
brilhante e é apaixonado por fortalecer comunidades e famílias dentro destas
comunidades", afirmou o presidente eleito em um comunicado.
Serenidade
Carson liderou por um breve momento a primária republicana,
com uma imagem serena e de fala pausada, um contraste com a disputa vociferante
que acontecia ao seu redor. Sua candidatura, que inicialmente recebeu apoio
entre os cristãos conservadores, perdeu fôlego pela falta de propostas e
respostas claras sobre temas importantes.
O neurocirurgião aposentado, integrante da Igreja Adventista
do Sétimo Dia, se apresentara como uma alternativa ao furioso Trump, pregando
tolerância e compromisso. Trump o criticou sem trégua durante as primárias, ao
acusar o adversário de ter um caráter "patológico". Mas Carson aderiu
à campanha do magnata depois de abandonar a disputa em março, descrevendo o
ex-rival como "um homem muito inteligente e profundamente interessado pelo
país". Ben Carson levou Trump a um visita aos bairros marginalizados de
Detroit em setembro, quando o agora presidente eleito tentava melhorar sua
imagem entre os eleitores da comunidade negra. E saiu em defesa de Trump após a
divulgação de um áudio de 2005 em que o republicano celebrava o fato de apalpar
as mulheres.
Sonho americano
A história de Carson, 65 anos, é o padrão do sonho
americano: nasceu pobre, foi criado por uma mãe analfabeta que se casou aos 13
anos e que foi abandonada pelo marido. Estudante exemplar, ganhou bolsa da
Universidade de Yale e estudou na Faculdade de Medicina da Universidade de
Michigan. Aos 33 anos se tornou diretor de Neurocirurgia Pediátrica da
Universidade Johns Hopkins. Recebeu aclamação mundial em 1987 ao realizar a
primeira operação que teve sucesso para separar siameses unidos pela cabeça. Se
aposentou em 2013 e passou ser conhecido nos círculos conservadores, com o
discurso de como a fé e os valores familiares o ajudaram a superar as
dificuldades e a realizar seu sonho. Sempre fala sobre a responsabilidade
individual, o que o levou a criticar o estado de bem-estar, que segundo ele
cria uma dependência entre os mais pobres.
Em 2008, chegou a receber do então presidente George W. Bush
a Medalha da Liberdade, a maior honra civil do país. Carson também é autor de
vários livros. Entre suas obras mais conhecidas publicadas em português estão
Risco Calculado, Sonhe Alto e a autobiografia Ben Carson.
[Com informações de G1 e Agence France-Presse]
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