“No princípio criou Deus os céus e a terra. Ora, no que
respeita à terra, estava sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do
abismo; e o Espírito de Deus Se movia sobre a face das águas”. Gênesis 1:1 e 2.
(As sentenças em negrito são citadas do livro Exposition of Genesis, de H. C.
LEUPOLD. São suas traduções do texto original hebraico).
Esta declaração responde à pergunta: “Qual foi o princípio
da terra?” As coisas começaram pela palavra de Deus na Sua criação do céu e da
terra. Quanto à terra, não tinha existência antes desse tempo. O Criador é
chamado Elohim, palavra hebraica no plural, usada para indicar alguém que pela
Sua natureza e Seu trabalho desperta no homem um santo temor e reverência.
Estes versos demonstram claramente a falsidade da pretensão do panteísmo,
acentuando a personalidade de Deus. Ele existiu antes da matéria e forma da
terra e as trouxe à existência. Portanto, não podem constituir parte de Sua
pessoa.
A palavra bara traduzida aqui por “criou”, nunca é usada na
Bíblia no Kal, ou forma simples do verbo para outra atividade que não a divina.
Esta palavra nem sempre significa formar alguma coisa do nada. Para ilustrar,
em Isaias 65:18 lemos: “Eis que crio (bara) para Jerusalém alegria, e para o
seu povo gozo”. E mais uma vez em Gênesis 1:1, onde não se encontra nenhum
material que possa ser trabalhado, bara significa “criação do nada”. Esta
doutrina também é ensinada em Romanos 4:17; Hebreus 11:3; Salmo 33:6 e 9 e Amós
4:13 (3).
As declarações dos versos 7-10 de Gênesis 1 fazem com que se
presuma de maneira lógica que “céus” e “terra” do verso 1 são nosso firmamento
e nosso mundo respectivamente. Em verdade, o mesmo Deus criou o resto do
universo; mas, possivelmente exceto a alusão às estrelas (verso 16), a história
do Gênesis se relaciona especialmente com o nosso sistema solar e
especificamente com a nossa terra.
Tendo estabelecido que as duas partes do mundo, terra e
firmamento, ou céu, se originaram pela palavra do Criador, o autor do Gênesis
logo depois descreve a aparência da matéria-prima da terra, imediatamente
depois de sua criação. A frase hebraica aqui traduzida “sem forma e vazia” é
tohu wavohu. Tohu é uma palavra que significa “sem forma”. Bohu vem da raiz
“estar vazio”, significando portanto que “não tinha nada”.
Comentando esta expressão, o Dr. Leupold diz: “Tohu” é
realmente usado como um adjetivo enfático, como é também, naturalmente, bohu.
Sobre o verbo hayethah, “era”, não pode recair ênfase, numa sentença em que
seguem dois predicados significativos. Deve servir simplesmente como união.
Consequentemente, todo o intento para pôr neste verbo algum pensamento como 'a
terra já existia', ou 'assim esteve por muito tempo', é inteiramente
inadmissível em gramática” (4).
Esta mesma expressão, tohu wavohu, é usada em Jeremias 4:23
para descrever a terra durante o milênio, quando as formas vivas estão
ausentes, ou quase ausentes. Contudo deve-se observar que a condição “sem forma
e vazia”, descrita em Jeremias, refere-se unicamente à superfície da terra. À
luz deste texto parece razoável, portanto, presumir que a descrição de Gênesis
1:2 pinta a terra inteiramente formada como um corpo astronômico e estabilizada
na sua geologia, com exceção do aspecto de sua superfície, inteiramente sobre o
controle das “forças naturais”, e caracterizada pela falta de qualquer ser
vivo.
Absoluta escuridão havia na superfície da terra. Aparentemente,
nem mesmo a luz das estrelas alcançava a superfície. Que as estrelas existiam
naquele tempo é certo, porque agora sabemos que tem incidido sobre nossa terra
o brilho estelar que deixou as estrelas milhões de anos luz no passado - e
nossa terra, de acordo com a cronologia bíblica, não pode ter mais do que sete
mil anos de existência. É provável que a camada de nevoeiro que envolvia a
terra, como os versos seguintes o indicam, impedisse que o brillho das estrelas
a alcançasse.
A palavra traduzida aqui por “abismo” é a palavra tehom, que
vem da raiz hum, significando “retumbante”. Que “abismo” se refere à água como
a conhecemos, é indicado pela cláusula seguinte, onde a palavra “águas” a
substitui. Pode parecer que pelo menos uma grande porção de superfície disforme
da terra, se não sua inteira superfície (ver Salmo 104:7-9), estivesse coberta
com água, e aparentemente, por alguma razão, esta água estava em agitação
suficiente para que houvesse barulho. Ao contrário da opinião comum, o ar não
foi criado no segundo dia mas deve ter sido trazido à existência antes, com as
outras matérias inorgânicas. Se o ar não tivesse estado presente, tehom, o
“abismo” ou “águas”, teria evaporado prontamente para o vácuo acima da terra.
Assim, teria sido possível ao vento atmosférico produzir ruido.
Ruach Elohim, o Espírito de Deus, ou Epírito Santo, é
apresentado como Se movendo protetoramente sobre a superfície da massa informe
da terra. Este particípio, mera (ch) chepheth, nunca é usado na Bíblia para
sugerir “incubar”; pelo contrário, sugere adejar, mover-se. A diferença pode
ter significação. Uma galinha, por exemplo, choca os ovos mas move-se sobre os
pintos. A interpretação fabulosa de que o Espírito estava incubando o mundo em
embrião é indefensável.
A pluralidade de Elohim no primeiro verso é parcialmente
explanada no segundo verso, pela presença do Espírito Santo. Este verso em
conexão com S. João 1:1-3; Colossenses 1:16 e I Coríntios 8:6, torna claro que
“os Deuses” que criaram a nossa terra foram o Pai, o Filho e o Espírito Santo
(5). O plano foi desenvolvido pelos primeiros dois membros da Trindade; Cristo,
o Verbo, deu a ordem para o aparecimento dos materiais e formas, e o Espírito
Santo foi o agente ativo, executando o trabalho de modo sobrenatural. Assim
Elohim, “os Deuses”, foi triúno na natureza, formando a Trindade.
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