quinta-feira, 9 de julho de 2015

"Debaixo da Graça"


O que Paulo quer dizer com as palavras de Romanos 6:14, onde declara que os cristãos não estão mais "debaixo da lei", e sim "debaixo da graça"? Será que, com isso, a obediência à lei torna-se desnecessária?


ANTES da expressão "debaixo da graça", o apóstolo das gentes, Paulo, usa a expressão "debaixo da lei", O que significa estar debaixo da lei"?


Quer dizer estar sob a condenação da lei. A pessoa transgrediu a lei e esta o acusa e condena. Isto se verifica com relação a qualquer tipo de lei a que alguém esteja sujeito. As leis do trânsito, por exemplo. Verifica-se a infração: O motorista é passível de condenação. No entanto, ao pagar a multa a que está sujeito (de acordo com o previsto na lei), a culpa deixa de existir. Imediatamente o culpado passa a gozar o direito de continuar dirigindo, sem que as leis do trânsito o condenem, a não ser que venha a reincidir. Não estando "sob as leis do transito", isto é, não sendo transgressor ou Infrator, encontra-se livre para dirigir, OU seja, "debaixo da graça do trânsito".


Não pode ser condenado enquanto for obediente à sinalização.


O mesmo ocorre com o cristão. Paulo, ao escrever o verso em lide, dirigia-se aos cristãos de Roma. Tratava-se de pessoas convertidas. Isto está bem claro ao lermos os versos 2 e 3 do mesmo capítulo: "Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na Sua morte?"

Vê-se, claramente, que Paulo endereçava tais palavras a crentes convertidos, para os quais o mundo já havia morrido. Como se não bastassem esses versos citados, leiamos o 17 e o 18: "Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes chamados. E, libertados do pecado, fostes servos da justiça".


Ora a expressão "obedecestes de coração à forma de doutrina" equivale a guardastes a lei de Deus. Sendo assim, os crentes de Roma estavam libertos do pecado, isto é, livres da condenação da lei enquanto obedecessem aos seus reclamos pela graça de Cristo. Ademais, note-se que a própria passagem em lide declara que aqueles a quem Paulo se dirige não estão "debaixo da lei", porque "o pecado [e não a lei] não terá domínio" sobre eles.


Segundo a definição bíblica, pecado "é transgressão da lei" (1 S. João 3:4). Logo, os que não estão sob o domínio do pecado, por terem sido justificados e experimentado o novo nascimento, é que não estão "debaixo da lei". Observe-se o contraste traçado pelo mesmo apóstolo, escrevendo aos gálatas, entre as práticas dos que estão "debaixo da lei", chamadas de "obras da carne", e as dos que são "guiados pelo Espírito" que evidenciam a genuína santificação, "fruto do Espírito" (Gálatas 5:16 a 24).


Diante dessas considerações, o texto poderia ser exegeticamente amplificado para comunicar a seguinte interpretação: "tendo abandonado os vossos pecados, tendo cessado de quebrar "a lei, tendo crido em Cristo e sendo batizados, vós agora não sois mais governados pelo pecado ou pelas paixões, nem sois condenados pela lei, porque achastes graça à vista de Deus, que vos concedeu esse favor imerecido, e os vossos pecados foram perdoados". (cf. Subtilezas do Erro, p. 87).


Quando os cristãos romanos (a quem Paulo se dirigia, repetimos) estavam no pecado, a lei os condenava. Estavam "debaixo da lei". Eram réus de juízo. No entanto, o apóstolo lhes prega o evangelho da graça, e eles o aceitam de coração, convertendo-se. Ao se arrependerem de seus pecados, Deus lhes perdoou as faltas, pela fé que depositavam em Cristo como seu Salvador pessoal, ao mesmo tempo que a lei deixava de condená-los.


Pela graça foram perdoados. O dom do perdão foi obra da graça, que se lhes manifestou na forma de justiça imputada. Deus riscou a culpa que impendia de seus ombros. Assim, os cristãos romanos não eram mais servos do pecado, mas servos de Cristo.


Mediante a graça foram perdoados e por ela mantinham- se obedientes à lei. Esta, não encontrando neles falta alguma, não os condenava. Era tão-somente para eles um padrão de justiça, de conduta. É por isso que o mesmo Paulo diz que a lei é "santa, justa e boa". Isto é, mostra a situação do pecador e lhe aponta o remédio, Cristo Jesus.


Há ainda os que estão "fazendo força" para guardar a lei para, assim, livrar-se da condenação. Ora, essa é a mais lamentável forma de legalismo, pois somente após obter a graça que nos liberta da condenação é que podemos viver em harmonia com os princípios contidos no Decálogo no processo de santificação e vitória sobre o pecado.


A propósito, citemos o seguinte trecho do Comentário Adventista, com referência a Romanos 1:14: "A lei não pode salvar o pecador, nem pode pôr fim ao pecado e seu domínio. A lei revela o pecado (Romanos 3:20), e, em virtude da pecaminosidade do homem, a lei, por assim dizer, faz com que a transgressão aumente (cap. 5:20). A lei não pode perdoar o pecado, nem pode prover qualquer poder para vencê-lo. O pecador que procura ser salvo sob a lei, encontrará somente condenação e profunda sujeição ao pecado. Sempre que se admitir que o homem pode ser salvo mediante os próprios esforços, não haverá barreira eficaz contra o pecado". "O cristão, porém, não busca a salvação legalisticamente, como se pudesse ser salvo pelas próprias obras de obediência (Rom. 3:20, 28). Reconhece que é transgressor da lei divina, que em sua própria força é totalmente incapaz de cumprir seus reclamos . . Quando o homem está "sob a lei", a despeito de seus melhores esforços, o pecado continua a ter domínio sobre ele, porque a lei não pode livrá-lo do poder do pecado. Sob a graça, entretanto, a batalha contra o pecado não é uma empresa arriscada, mas uma vitória certa". - 
Extraído do livro Consultoria Doutrinária.

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