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Embora muito já tenha sido escrito e falado sobre este número, como igreja nunca tomamos uma posição oficial sobre o assunto.
Antes de tecer alguns comentários, seria bom frisar que nele não se encontra envolvido nenhum ponto fundamental de doutrina.
Dentre as explicações apresentadas pelos estudiosos algumas são especulativas, outras, absurdas, como aquela de que os 144.000 só seriam constituídos de cidadãos norte-americanos, chegando ainda outros a afirmar que este número seria constituído apenas de judeus literais.
Nossa posição neste estudo deve ser serena e equilibrada, para não cairmos no extremo de não querer estudá-lo por achá-lo irrelevante, nem passar ao outro despendendo demasiado tempo em sua discussão. Alguém poderá objetar que Ellen G. White disse que neste assunto “o silêncio é eloquência”. Evidentemente ela se referia a estéreis especulações que não trazem nenhum proveito ao indivíduo e à igreja. Do outro lado se encontra T. H. Jemison, que declarou, em Our Firm Foundation, vol. 2, pág. 407: “Precisamos pregar sobre o assunto dos 144.000. O tema tem de receber lugar de muito destaque em nosso pensamento e em nossas palestras”.
Comentários
As únicas referências bíblicas a este número se acham em Apocalipse 7:4 e 14:1 e 3, e vagamente deduzíveis de Ezequiel 9:4; 20:12.
As alusões ao sinal ou selo, ensejam a oportunidade de dizer algumas palavras de seu significado bíblico.
Deus sempre “sela” ou assinala os seus.
No Egito, o sangue do cordeiro foi o sinal de identificação antes que viesse o juízo. Nos dias de Ezequiel, Deus ordenou que fosse marcada com um sinal a testa dos homens, que suspiravam e gemiam por causa de todas as abominações que se cometiam (Ezequiel 9:4). O “selo” ou “sinal” pode ser uma crença no coração, uma lealdade na vida, que distinga o crente do pecador.
Paulo nos diz em Efésios 4:30 que o Espírito Santo é o instrumento de Deus para selar.
Ezequiel 20:12 e 20 apresenta o mandamento do sábado como o selo de Deus.
Os 144.000 representam o “remanescente” ou “resto da sua semente” (da igreja verdadeira), os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo (Apocalipse 12:17).
Da declaração de serem tirados 12.000 de cada uma das 12 tribos, alguns comentaristas crêem que o número total 144.000 é simbólico e não literal.
O contexto em que se encontra a passagem referente aos 144.000 é um dos meios mais valiosos para identificação desse grupo.
Se o pesquisador bíblico ler os últimos versos de Apocalipse 6, compreenderá a relação de Apocalipse 7 com os últimos acontecimentos, e reconhecerá que ali nos é apresentado o segundo advento de Cristo. João, após mencionar os ímpios dos últimos dias, prossegue nos versos iniciais do capítulo 7 falando nos justos desse tempo, os 144.000.
Por sua lealdade a Deus na obediência aos seus mandamentos, e inabalável fé em Cristo Jesus, este grupo terá de enfrentar a ira de Satanás (Apocalipse 12:17). Por sua experiência vitoriosa nesta luta, os 144.000 têm a honra especial de ser, no Monte Sião, a guarda de honra de Cristo.
O pastor Samuel Ramos, no opúsculo “Duas Sínteses”, apresentou aspectos úteis para identificação dos 144.000, a quem pedimos vênia para destacar esta parte de seu comentário.
As Três Teorias Prevalecentes sobre os 144.000
1º) Serão salvos apenas 144.000 pela pregação das Três Mensagens Angélicas, desde 1844 até a volta de Cristo, incluindo os que morreram fiéis na mensagem do terceiro anjo. Só 144.000 adventistas serão salvos.
2º) Os 144.000 serão os salvos entre os justos por ocasião da segunda vinda de Cristo. Somente eles permanecerão vivos até a volta de Jesus, os demais justos já teriam morrido antes das sete pragas para serem então ressuscitados na volta de Cristo.
3º) Eles serão um grupo especial, selecionado dentre os salvos vivos por ocasião da volta de Jesus. Os 144.000 são representantes da grande massa de salvos vivos quando do regresso do nosso Salvador.
Ele comenta cada uma destas três proposições, detendo-se especialmente na última por ser a mais condizente com nosso ponto de vista.
Nossa revista denominacional em inglês, Review and Herald, de 10/04/1958, pág. 9, trouxe a seguinte informação sobre este tema:
“O caráter de preferência ao número exato dos 144.000, é o fato importante. São os que passaram por grande tribulação (Apocalipse 6:17); estarão com o Cordeiro sobre o Monte Sião (14:1); são irrepreensíveis diante de Deus (v. 5); são de vida pura (v. 4); cantarão o cântico novo (v. 3); são primícias para Deus e para o Cordeiro (v. 4). São, enfim, israelitas espirituais no sentido de vencedores, os limpos de coração’ (Salmos 73:1). Compare com Romanos 2:28-29; 9:6-7; Gá1atas 3:29; 6:15-16”.
O Comentário Bíblico Adventista e os 144.000
Seria falho este estudo se deixássemos fora o que este comentário apresenta sobre ele. Suas conclusões sempre se pautaram pelo equilíbrio e ponderação, por isso precisam ser acatadas. A apresentação encontrada no vol. 7, págs. 783-785, é um subsídio valioso no equacionamento deste número enigmático. Seguem-se as partes mais significativas:
“Com referência ao número dos 144.000 são mantidos dois pontos de vista:
1º) Esse número é literal;
2º) Ele é simbólico.
Alguns dos que afirmam que esse número é literal, salientam que o sistema de contagem pode ser idêntico ao que foi empregado na numeração das 5.000 pessoas alimentadas miraculosamente, em que foram contados apenas os homens, e não as mulheres e crianças (ver Mateus 14:21). Os que afirmam que o número é simbólico salientam que essa visão é inteiramente simbólica, visto que os outros símbolos não devem ser interpretados literalmente, também não é necessário que este seja interpretado assim…”
Os 144.000 são apresentados como os que podem ‘suster-se’ em meio aos terríveis acontecimentos descritos no cap. 6:17. Eles possuem ‘o selo do Deus vivo’ (cap. 7:2) e são protegidos no tempo da destruição universal, como sucedeu com os que tinham o sinal, na visão de Ezequiel (Ezequiel 9: 6)…”
Há divergências de opinião sobre quem constitui os 144.000, dentre a última geração dos santos. A falta de informações mais definidas para se chegar a conclusões dogmáticas no tocante a certos pontos, fez com que muitos dêem ênfase não a quem são os 144.000 mas àquilo que eles são, isto é, ao caráter que possuem…”
O seguinte conselho é bastante apropriado: ‘Não é da vontade de Deus que se entre em controvérsia sobre questões que não proporcionam auxílio espiritual, tais como: Quem fará parte dos 144.000? Isto os eleitos de Deus saberão com toda a certeza dentro de pouco tempo’ – E. G. White” (Idem, pág. 783).
“Desde os tempos mais antigos os comentaristas têm nutrido ideias divergentes quanto à relação existente entre a multidão (de Apocalipse 7:9-17) e os 144.000. São defendidos três pontos de vista principais:
“Um deles afirma que os 144.000 e a ‘grande multidão’… representam o mesmo grupo de pessoas, mas sob condições diferentes, e que os versículos 9 a 17 revelam a verdadeira identidade dos 144.000…
“A segunda opinião salienta as diferenças entre os 144.000 e a ‘grande multidão’. O primeiro grupo pode ser contado, o segundo não. Um representa um grupo especial: as ‘primícias para Deus e para o Cordeiro’; ‘são os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá’ (Apocalipse 14:4). O outro representa os santos restantes, que triunfaram em todas as épocas.
“O terceiro ponto de vista declara que a ‘grande multidão’ representa a totalidade dos remidos, inclusive os 144.000.
“Os adventistas do sétimo dia em geral têm defendido o segundo ponto de vista” (Idem, pág. 784).
Conclusão
Quero terminar este estudo com a resposta dada por Gerhard F. Hasel, professor de Teologia na Andrews University; à pergunta: “Quem são os 144,000 a que se refere o Apocalipse?
A resposta a esta pergunta encontramos em Apocalipse 7 e 14. Os 144.000 são seres humanos que constituem o último remanescente fiel. São identificados:
1º) Por terem o nome do Cordeiro e de Seu Pai escrito na fronte (Apocalipse 14:1);
2º) Por terem sido resgatados dentre os da Terra (versos 3 e 4);
3º) Por se haverem mantidos incontaminados de relações ilícitas com outras organizações religiosas (verso 4);
4º) Porque possuem sinal de pureza (verso 4);
5º) Por levarem o sinal da veracidade (verso 5);
6º) Por 1evarem o sinal da pureza tanto moral como religiosa (v. 5);
7º) Por seguirem o Cordeiro por onde quer que vá (verso 4).
“À pergunta: ‘quem são?’ refere-se a nós. Não basta conhecermos os sinais de identificação. Muito mais importante que isto é saber se ostentamos ou não esses sinais. Vivemos em íntima comunhão com nosso Senhor, dia após dia, de tal sorte que nossa condição moral e religiosa reflita o Deus Altíssimo? Se assim não for, a mensagem dos 144.000 nos convida a obter essa consagração para que possamos experimentar então o começo da vida eterna, de maneira que possamos passar da morte para a vida (1João 3:14; João 5:24; Efésios 2:1), e possamos contar-nos entre os144.000”. Revista Adventista, janeiro de 1977, pág. 11.
Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.
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Por que 2Samuel 24:1 diz que Deus incitou Davi a realizar o censo militar, enquanto 1Crônicas 21:1 diz que Satã fez isso?
Em 2Samuel 24:1, lemos: “Mais uma vez irou-se o Senhor contra
Israel e incitou Davi contra o povo, levando-o a fazer um censo de
Israel e de Judá.” De acordo com 2Crônicas 21:1, Satanás
levantou-se contra Israel e levou Davi a fazer um recenseamento do
povo”. Examinarei o uso do termo satã no Antigo Testamento, algumas
ligações terminológicas com outras passagens e, no final, sugerirei uma
maneira de harmonizar essas duas passagens.
1. Uso do termo “satã”: A palavra hebraica
para satã significa “adversário, oponente” e é usada para designar seres
humanos que agem como adversários ou oponentes de outros (1Reis 11:14, 23). Ela também designa o anjo do Senhor que agiu como adversário de Balaão (Números 22:22). Obviamente, essa não é uma figura demoníaca. O substantivo também é encontrado em Jó 1:5 e 2:1, e em Zacarias
3:1 para o adversário do povo de Deus. Estudiosos muitas vezes
argumentam que quando o substantivo satã é acompanhado por um artigo
definido (“o satã”) se refere à função (“um adversário/oponente”) e não é
um substantivo próprio (“Satã”). Como no primeiro caso o termo não tem
um artigo, só em 1Crônicas 21:1 é considerado substantivo
próprio (“Satã”). Porém, outros estudiosos argumentam que é precisamente
quando o substantivo é acompanhado por um artigo que funciona como nome
próprio. Pode-se perguntar, então: “Será que esse debate é tão
importante?”
2. Ligação linguísticas: Há ai uma clara ligação linguística entre Jó 2:1, Zacarias 3:1 e 1Crônicas 21:1. Em Crônicas
Satã “se levanta”(‘amad) contra Israel e incita (sut) Davi a pecar. O
uso do verbo “levantar” (‘amad), junto com o substantivo satã, é
encontrado em Zacarias 3:1, estabelecendo uma ligação entre as
duas passagens. Em ambos os casos satã se opõe ao servo de Deus. O verbo
“incitar” (sut) aparece junto com o substantivo satã em Jó 2:3, estabelecendo, também, uma ligação entre essas duas passagens. Em Jó, ele incita Deus contra Jó, e em Crônicas
ele incita Davi contra Deus. O cronista sabe como usar o termo satã
(“Satã”). Muito provavelmente reflete o significado do termo nos outros
dois livros. Em outras palavras, ele não está contrastando seu uso com o
de outras passagens; a presença ou ausência do artigo é irrelevante. O
Antigo Testamento descreve um ser que se opõe a Deus e aos Seus planos
para Seu povo (Gênesis 3:1-5; Levítico 16:8-10, 20-22; Isaías 14:12-14; Apocalipse 12:9).
3. As narrativas em Crônicas e Samuel: O papel
de satã é muito claro nas passagens que estamos discutindo. Primeiro,
ele é o adversário do povo de Deus, oponente à divina disposição de
perdoá-los (Zacarias 3:1). Ele até se opõe contra a maneira que Deus governa Seu reino (Jó
1:6; 2:1). Segundo, ele incita o povo a desobedecer a Deus. Terceiro,
ele deseja coisas más para o povo de Deus. Sem dúvida, ele é o
arquiinimigo divino. Segundo o Livro de Crônicas, Satã se
levantou contra Israel como inimigo e incitou Davi a realizar o censo
sabendo que resultaria no sofrimento do povo. Por que realizar o censo é
um pecado nacional? Vários tipos de censos eram realizados em Israel,
sem nenhum penalidade (Êxodo 30:11-16). Talvez, como muitos já
sugeriram, a diferença aqui é que esse era um censo militar realizado
sem a aprovação divina e que expressava confiança no poder militar
humano. Foi uma violação à aliança de Israel com o Senhor.
Se esse é o caso, as diferenças entre 1Crônicas e 2Samuel
são indiferentes. A ira do Senhor mencionada como a causa da realização
do censo, é esclarecida ao Deus permitir que Satã incite Davi a
realizar o censo. Em sua ira, Deus não intervém para proteger Davi.
No entanto, Deus ainda é o Senhor Soberano que autoriza as ações de
Satanás e que coloca fim à praga. Ele usa essa experiência para levar
Davi a encontrar um local para construir o templo. Ele não entrega a
Satanás o controle completo sobre Seu povo (Jó 1:12; 2:6).
Angel Manuel Rodríguez, Revista “Adventist World” – Fevereiro 2015
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Penso que sua pergunta, na verdade, é como Deus lida com essa prática, e
o que motivava os reis a ter tantas esposas. Além dos desejos corruptos
das paixões humanas havia outras razões sociais e políticas para tal
prática. Vou resumir a vontade de Deus sobre esta questão, examinar o
propósito pelo qual os homens se casavam com tantas mulheres israelitas,
e, finalmente, explorar a razão pela qual as esposas do rei não eram
israelitas.
1. A Vontade de Deus: Parece ter sido a
intenção de Deus que, em algum momento na história do Seu povo, fosse
nomeado um rei sobre a nação. Com esse propósito, Deus providenciou uma
legislação definindo o compromisso e o papel do rei (Deuteronômio
17:14-20). Até certo ponto, o rei devia ser um modelo para a nação, no
estudo da lei, em confiar no poder de Deus e no propósito de Deus para o
casamento. A lei estabelecia claramente: “Ele não deverá tomar para si
muitas mulheres” (verso 17). Em outras palavras, ele não deveria ter um
harém real. Deus esperava do rei o que também esperava de cada homem
israelita: ter uma só esposa. Nesse aspecto, a realeza israelita falhou
com o Senhor.
2. As muitas esposas de Davi: Foi
principalmente por Davi que a prática real de ter muitas esposas foi
introduzida em Israel. Ele tinha no mínimo nove esposas e não menos de
dez concubinas. A função dessas concubinas não é clara. Elas estavam a
serviço do rei para lhe dar filhos (2Samuel 20:3), e também podiam ser responsáveis pela manutenção do palácio (2Samuel
15:16). No antigo Oriente Próximo, as proezas sexuais do rei eram parte
da sua imagem como monarca, e as muitas esposas transmitiam essa ideia
para as pessoas. Davi estava simplesmente seguindo uma prática cultural
da época. Ele também tomou várias mulheres israelitas como esposas. Elas
deviam ser filhas de israelitas influentes e poderosos cujo apoio
poderia ser útil para a consolidação do reinado de Davi. Esses eram
casamentos com motivação política. Embora a maioria de suas esposas
fosse israelita, parece que ele teve uma esposa estrangeira: “Maaca,
filha de Talmai, rei de Gesur”(2Samuel 3:3), uma princesa. Esse
foi um casamento político e serviu para fortalecer a influência de Davi
como rei entre as nações cananitas.
3. Esposas estrangeiras e a idolatria: O que Davi iniciou foi praticamente institucionalizado por Salomão: “Casou com setecentas princesas e trezentas concubinas” (1Reis
11:3). Muitas de suas concubinas, se não todas elas, podem ter sido
israelitas, mas as esposas provavelmente fossem mulheres estrangeiras,
filhas de reis com os quais Salomão fez aliança de relacionamento. Esse
era um acordo comum em casamentos reais no antigo Oriente Próximo. Tais
casamentos consolidaram o reinado de Salomão e contribuíram com as
relações pacíficas entre ele e as nações ao redor (Sidom, Moabe, Ammom).
Qualquer casamento político poderia ter danificado seriamente a
integridade do rei, e, no caso de mulheres estrangeiras, teria levado o
rei à idolatria (Deuteronômio 17:17; 1Reis 11:2).
Quando esse tipo de casamento era arranjado, o acordo marital incluía a
decisão de que a princesa continuaria a adorar seu deus no palácio de
seu marido, nesse caso, Salomão. Possivelmente, algumas delas tenham se
tornado israelitas. Cada uma dessas esposas vinha acompanhada por suas
servas e, às vezes, por um líder religioso para assisti-la no culto ao
seu deus. O marido devia oferecer um local de adoração para ela e sua
comitiva. Seguindo essa prática pagã, “Salomão construiu um altar para
Camos, […] e para Moloque […] Também fez altares para os deuses de todas
as suas outras mulheres estrangeiras, que queimavam incenso e ofereciam
sacrifícios a eles” (1Reis 11:7, 8). Essas práticas políticas e
religiosas são típicas do antigo Oriente Próximo. Elas contribuíram
diretamente para a queda do povo de Deus no Antigo Testamento.
É sempre bom ouvir a Palavra de Deus, pois as Escrituras nos alertam e
nos previnem contra práticas culturais que tendem a nos desviar do
Senhor.
Angel Manuel Rodríguez, Revista “Adventist World” – Janeiro 2015
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Com frequência, Tiago 2:14-26 é entendido como uma “correção” à ênfase dada por Paulo à justificação pela fé somente. Hoje, felizmente, a maioria dos estudiosos, assim como eu, não concorda com essa afirmação. Em primeiro lugar, ao procurar entender o argumento de Tiago, precisamos manter em mente o contexto geral e o objetivo de sua carta. Em segundo lugar, devemos compreender que diferentes escritores bíblicos podem, às vezes, usar a mesma terminologia para sentidos diferentes ou para um propósito específico. Pode depender também do contexto. (Leia Tiago 2:14-26 antes de continuar.)
1. Objetivo principal de Tiago: A mensagem de Tiago é muito simples em sua natureza, abordando os sofrimentos e provações da comunidade dos crentes e a opressão da estratificação social. Seu interesse foca o impacto social da fé cristã. Rejeita tratamento preferencial baseado em posses ou status social (Tiago 2:1-7) e condena a exploração social e o abuso dos pobres (Tiago 5:1-6). Para Tiago, a fé cristã não pode ser desconectada da sociedade, uma vez que ele afirma sua relevância. Sua mensagem teológica está embutida na preocupação de que a religião deve ser parte da essência da sociedade. Isso significa que tudo o que Tiago diz no capítulo 2:14-26 deve ser relacionado à sua maior ênfase.
2. Fé e obras: A passagem em consideração deve ser lida em seus próprios termos. Devemos determinar como Tiago usa a palavra “fé”. Contextualmente, isso não é difícil. Ele não a usa na forma salvífica tradicional, mas como conhecimento interior e convicção. Em outras palavras, o que depositamos em Cristo, inicialmente, não é fé, mas uma convicção religiosa que não determina a conduta. Isso se torna claro quando ele escreve: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem” (verso 19). Fé é estar persuadido de que nossas convicções estão corretas; os demônios podem ter esse tipo de compreensão. Esse tipo de fé é inútil na vida cristã se ela nos conduz a uma atitude de indiferença em relação às necessidades dos outros (versos 14-16, 20). Tiago argumenta que a fé sem as obras é morta (verso 17).
De fato, alegar que a fé existe na ausência de obras equivale a afirmar que o corpo pode existir independente do espírito. Um não pode existir sem o outro. Fé e obras formam uma unidade indivisível na vida cristã (verso 26); as obras tornam visível a nossa fé (verso 18). São evidências da realidade da fé na vida do crente.
3. Fé e justificação: Sob a influência de Paulo, a justificação geralmente é vista como a absolvição dos pecados de pecadores arrependidos diante do tribunal divino, no início da vida cristã, independente das obras.
Tiago não está negando essa crença, mas também não está se referindo a esse assunto em particular. Ele escreve para membros da igreja, pessoas que já haviam sido justificadas pela fé em Cristo. O problema é que a fé que professavam não estava afetando o modo como deveriam viver a vida cristã. Para eles, Tiago diz: “A pessoa é justificada pelo que faz e não apenas pela fé”.
O elemento mais importante nesse verso é o verbo “justificar”. Uma vez que, no contexto, a presença da fé é comprovada ou demonstrada pelas obras, o verbo justificar provavelmente significa “mostrar ou demonstrar o que é ser justificado”.
O verbo exerce uma função demonstrativa, isto é, o crente mostra/demonstra que foi justificado não apenas por alegar que tem fé, mas especificamente pelo que faz. Essa foi a experiência de Abraão e Raabe, que demonstraram justificação por suas obras (verso 21 e 25). Essas não são as obras da lei pelas quais, segundo Paulo, alguns procuram ser justificados. Tiago está falando sobre o que Paulo chama de “boas obras”. Ambos concordariam que “somos feitura dEle, criados em Cristo Jesus para boas obras” (Efésios 2:10).
A mensagem de Tiago ecoa em Apocalipse 3:15-18 e nos desafia a permitir que nossa fé, pelo poder do Espírito, se expresse numa verdadeira conduta cristã e em profundo interesse pelos pobres e oprimidos. Afinal, “qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras?” (Tiago 2:14).
Angel Manuel Rodríguez, Revista “Adventist World” – outubro de 2008
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Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de Pedro Apolinário.
“Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, Sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo”.
A Bíblia de Jerusalém assim o traduz:
“A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria Sua mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo”.
Esta mesma Bíblia traz a seguinte nota para este verso:
“Trata-se de um compromisso de casamento, isto é, de um noivado, mas o noivado judaico era um compromisso tão real que o noivo já se dizia ‘marido’ e não podia desfazê-lo senão por um repúdio”.
Em última análise, o problema com esta passagem é o seguinte: Traduções antigas apresentavam os pais de Jesus como sendo casados, porém, hoje, traduções mais afinadas com o original não o fazem. O verbo grego mnesteuo significa: pedir em casamento, noivar, estar comprometido; refere-se ao prévio contrato de casamento.
Broadus, em seu Comentário do Evangelho de Mateus, pág. 64, escreveu: “Desde o momento que se faziam noivos, cada uma das partes se achava legalmente ligada à outra, podendo ser chamados marido e mulher”.
As palavras do Comentário Bíblico Adventista sobre Mateus 1:18 são precisas e trazem luz para a solução do problema:
“O noivado constituía um relacionamento legal, um pacto tão solene que apenas poderia ser desfeito por processos legais, isto é, pelo divórcio”.
Entre os judeus, uma moça noiva era chamada de esposa, e como tal era tratada. O período que ia do noivado às bodas, propriamente ditas, era mais ou menos de um ano, quando o jovem casal deixava a casa dos pais para viver juntos (Gênesis 24:55; Juízes14:8; Deuteronômio 20:7). A quebra do sétimo mandamento, neste período, por qualquer um dos noivos, era adultério e a união só poderia ser desfeita através do divórcio.
A noiva, se ela fosse culpada, como parecia no caso de Maria, aos olhos de José devia ser apedrejada (Deuteronômio 22:23-24). Mas José podia legalmente escolher dois caminhos, de acordo com as leis do Velho Testamento:
1º) Expor a sua noiva à vergonha pública, acusando-a de adúltera (Deuteronômio 22:21) para depois ser apedrejada.
2º) Desquitando-se “secretamente”, sem mencionar na carta de desquite as razões para sua atitude.
Mateus, no verso 19, apresenta José como justo, mas, apesar disso, não queria viver com uma mulher que lhe tinha sido infiel, pensava ele; mesmo assim, por ser de coração magnânimo, não queria a sua morte. Por essa razão intentou deixá-la secretamente; ou optou pela segunda alternativa, que não foi consumada porque a intervenção divina fez com que o problema fosse solucionado (Mateus 1:20).
A palavra que aparece traduzida por infamar ou difamar do verso 19 é a forma verbal grega “deigmatisai” – que significa fazê-la um espetáculo (público). Há manuscritos gregos que trazem “paradeigmatisai” – fazê-la um exemplo.
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