Em todos os tempos, o homem tem especulado o profundo mistério da morte, porque a cessação da vida e a condição do além-túmulo lhe proporcionam um dos mais apaixonados problemas, que a filosofia, a Ciência e a teologia, respectivamente, tem procurado resolver.
Em que pesem os esforços realizados por estas disciplinas, porém, e as doutrinas sustentadas pelas diversas modalidades do cristianismo popular, não se tem conseguido trazer paz aos espíritos perturbados de milhares de pessoas, que vivem na incerteza ou experimentam grande sensação de angústia pelo temor da morte e do além-túmulo.
Não obstante, o plano divino para a família humana é que seus membros vivam felizes e tranquilos. A tônica do cristianismo verdadeiro, tal como desponta nas Sagradas Escrituras, é uma vida de gôzo e paz, muito embora os problemas comuns a todos os homens. S.Paulo descreve a condição do homem que se acha em harmonia com Deus e que abraça o evangelho, com estas palavras: “Quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos sempre no Senhor.” (Filipenses 3:1). E reitera mais adiante este simpático conceito:”Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, alegrai-vos…Não andeis anciosos de coisa alguma…E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus.” (Filipenses 4:4-7).
Tanto estes parágrafos, como dezenas de outros que os escritores bíblicos deixaram registrados, falam de uma paz abundante, de uma confiança sem limite na bondosa direção e no amor de Deus, de um gôzo autêntico, que somente conhece aquele que tenha feito de Jesus o pensamento orientador de sua vida.
Assim pois, o temor do além-túmulo se torna irrazoável para o cristão, e obedece a um desconhecimento da verdade evangélica e das múltiplas provisões divinas para o bem do homem. Na realidade, as dúvidas, a confusão e a ignorância popular sobre um assunto tão ligado à vida, como é a morte e a condição do além-túmulo, estão muito generalizadas.
Ante a Incerteza do Desconhecido
Quantas vezes, ante o rosto hirto de um amigo ou ente querido, jazente nos braços da fria noite, talvez arrebatado de forma repentina de nossa companhia, tenhamos formulado as seguintes perguntas: – Que será dele? Teminou tudo? Se não, para onde vão os mortos? Podemos comunicar-nos com eles? Voltarão a viver algum dia?
O poeta também expôs esse mesmo problema em versos que nos deixam pensativos com sua dúvida cadenciosa:
“Volta o pó ao pó?
Volta a alma ao Céu?
Tudo é vil matéria,
podridão e lodo?
Não sei, porém há algo
que explicar não posso,
que tanto me infunde,
repugnância e nojo…”
Nos remotos albores da história, Jó, um dos primeiros e mais notáveis patriarcas bíblicos, formulava a si mesmo esta pergunta no formoso poema que constitui seu livro: “O homem, porém, morre, – afirmava ele, e fica prostrado; expira o homem, e onde está?…Morrendo o homem, porventura tornará a viver?” (Jó 14:10 e 14).
O apogeu extraordinário que está conseguindo em nossos dias o espiritismo, com sua dourada promessa de resolver este grave problema e pôr em comunicação o mundo dos vivos com o dos mortos, revela a magnitude do temor ao além; ao mesmo tempo, demonstra quão sedutor e quão profundamente arraigado está na alma o anelo de desvendar o mistério da morte.
E sendo assim, em torno da condição do ser humano no além-túmulo e a possibilidade de que a porta deste mistério seja franqueada aos vivos, assim como em torno da idéia de que os mortos voltam a viver, tem-se tecido uma série de conceitos e hipóteses que se foram evoluindo com o correr do tempo, daí resultando posições matafísicas, dogmas teológicos, teorias pseudo-científicas e doutrinas espiriritualistas, não obstante as quais, a humanidade ficou tão na penumbra como se encontrava em suas origens.
Após as grandes guerras do século passado, este afã dos homens de comunicar-se com seus mortos, intensificou-se muito, dando lugar a esforços sinceros por consegui-lo, até mesmo por parte de homens de ciência e inventores, como T.A.Edison, que tentou construir um receptor suficientemente poderoso e sensível, para poder captar as mensagens dos supostos espíritos humanos desprendidos de seus corpos por ocasião da morte.
O certo é que, seja pela influência do espiritismo e demais correntes espiritualistas que ensinam a transmigração das almas e sua reencarnação, seja pela do cristianismo popular que fala da existência de um Céu, um purgatório ou inferno para onde vão as almas assim que morrem os humanos, tem-se generalizado o conceito de que a alma é imortal. Não é nosso propósito estender-nos aqui na evolução histórico-filosófica do conceito e natureza da “alma imortal”, conceito este pelo qual concluiram os diferentes sistemas espiritualistas e o cristianismo popular. Forçosos é reconhecer que não ganharíamos muito com isso.
Um problema de tal transcendência como o que nos ocupa, nem o estudo histórico e filosófico, nem a investigação científica são capazes de trazer luz. A inteligência e o raciocínio humanos, deixados com seus únicos recursos, podem dar ao assunto as mais díspares soluções, sem chegar nunca à absoluta certeza de haver alcançado a verdade de forma fidedigna e incontrovertível.
Num tema tão debatido e que de forma tão genérica foge à experiência do homem, o critério de autoridade humana é de todo insuficiente. A solução definitiva não se poderá conseguir recorrendo à opinião dos filósofos, às hipóteses dos homens de ciência, e tampouco, às declarações dos teólogos das mais altas esferas do espiritualismo.
Uma Fonte mais que Humana
Torna-se indispensável recorrer a uma fonte mais que humana: A Palavra de Deus, as Sagradas Escrituras, que contém de forma pura nada menos que a revelação da verdade divina, e que portanto, nos oferece a solução para os grandes mistérios da vida.
Sim, essa fonte inspirada, que tem demonstrado ser digna de nossa mais absoluta confiança, devido ao admirável e preciso cumprimento de suas maravilhosas profecias que prediziam o curso da história com milhares de anos de antecipação; esse livro extraordinário e fundamental do cristianismo que, por haver sido divinamente inspirado, resolve os enigmas cardinais da alma, aclara também esta grande dúvida do coração, e desanuvia esta tremenda incógnita, infundindo-nos paz, confiança, consolo e segurança.
Somente o criador da vida se acha capacitado para aclarar todos os mistérios do coração, e o fez com clareza através de Sua Palavra. Portanto, passemos a analisar o que a própria Bíblia ensina acerca do estado dos mortos e das possibilidades que temos de obter a imortalidade.
Alma e Espírito
Em primeiro lugar, temos que elucidar uma questão fundamental. Que é alma, e que é espírito, segundo as Escrituras Sagradas?
Para responder a estas perguntas necessitamos desembaraçar-nos de um conceito que se tem arraigado profundamente na consciência popular e que, herdado do paganismo, e transmitido pela filosofia grega ao cristianismo decadente, que rapidamente se vai distanciando dos ensinamentos originais revelados na Sagrada Escritura, plasmou na mente do povo a idéia de que a alma ou espírito é uma entidade consciente, pensante, indestrutível e eterna que se desprende do corpo e continua vivendo, gozando, sofrendo, após a morte.
O fato é, sem dúvida, que em nenhuma parte das Sagradas Letras achamos o mais leve pretexto para essa crença tão identificada com esta maneira de pensar. A palavra alma é traduzida dos vocábulos hebraicos no Antigo Testamento: NEPHESH e N`SHAHMAH, e de um vocábulo grego no Novo Testamento> PSUCHê. Todos estes vocábulos são traduzidos de diferentes maneiras numa multidão de passagens bíblicas, porém através dessas versões revela o sentimento mais fundamental e primário de CRIATURA, PESSOA, VIDA.
Por outro lado, é notável que nenhuma passagem da Escritura fale da alma como imortal ou eterna; antes pelo contrário, numa grande quantidade de textos da Bíblia achamos referência à morte e à mortalidade da alma. Para ilustração citaremos apenas três:
a) “A alma que pecar, essa morrerá” (Ezeq 18:4)
b) “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mateus 10:28)
c) “A sua alma morrerá na tempestade” (Jó 36:14 -Trad. de Matos Soares).
De maneira que é categórica a conclusão de que, na revelação divina, não se estabelece a existência de uma alma imortal.
Por outro lado, a palavra ESPÍRITO traduz-se no Antigo Testamento do vocábulo hebraico RUAHH, e no Novo Testamento da palavra grega PNEUMA, e o sentido primário e fundamental de ambos os termos é ALENTO, SOPRO, RESPIRAÇÃO.
Nem a palavra alma nem o vocábulo espírito, tais como são usados na Bíblia, dão margem a entender que se refiram a alguma entidade que se pode desprender do corpo na morte, continuando a viver, pensando, sofrendo, reencarnando-se etc.
O Processo de Formação do Ser Humano e sua Desintegração
Para que possamos captar o sentido preciso destes dois vocábulos chaves, para a solução do problema que nos ocupa, vejamos como são empregados numa passagem bíblica clássica, muito interessante porquanto descreve o processo de formação do ser humano: “Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego [original N´SHAHMAH: ESPÍRITO] de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gênesis 2:7).
Daqui se depreende com clareza que o espírito é o fôlego, alento ou sopro de vida que o criador fez desprender de Si mesmo para infundi-lo no corpo, o soma, a matéria cósmica modelada por Suas mãos, o que resultou numa alma vivente, um ser vivo, ou seja uma pessoa.
Ao descreveras Sagradas Escrituras o processo inverso da criação do homem, querdizer, o processo da morte, confirma a correta compreensão desta verdade, pois fala que “o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (Ecles. 12:7). E o Salmo 104 (verso 29) diz: “Se lhes cortas a respiração, morrem, e voltam ao seu pó”.
Efetivamente, assim como ao criar o homem Deus infundiu o espírito de vida ou alento vital na matéria inerte, feita de pó e de terra, e poresse espírito o corpo, composto de matéria organizada, porém hirta, se converte em pessoa viva ou alma vivente, quando o homem morre, o corpo (pó) volta para a terra, se decompõe e se transforma em terra. A morte ocorre, por seu turno, porque o espírito, ou seja o sopro de vida que procede de Deus, volta a Deus que o deu.
Este duplo processo é perfeitamente ilustrado pelo que ocorre com a luz elétrica. A luz ou lâmpada apagada é o corpo hirto. A corrente é o espírito ou alento de vida que procede de Deus. A lâmpada ligada, que desprende luz, é a alma vivente. Movemos a chave, dando passagem à corrente que chega à lâmpada, e esta se liga. Deus move a chave do Seu poder enviando a corrente vital, e o corpo se converte num ser vivo, uma alma vivente. Voltamos a fechar a chave cortando a corrente, e a luz se apaga. Deus retirado organismo Sua corrente vital, o espírito ou sôpro de vida que volta à grande central, e o homem morre, deixa de ser, e seu corpo volta para o pó.
Se isto é certo, depois da morte não há nenhuma parte do ser humano que continue vivendo, e portanto a condição do além-túmulo é de absoluta inconsciência, semelhante ao sono são e profundo.
Condição do Além-Túmulo
Quando o Senhor Jesus falou da morte de Lázaro, enquanto se achava a caminho para ressuscitá-lo, disse a Seus discípulos: “Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou para despertá-lo” (João 11:11). E em Eclesiastes (capítulo 9, versos 5 e 6) Lê-se: “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento. Amor, ódio e inveja para eles já pereceram; para sempre não tem eles parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol”.
De acordo com esta doutrina de absoluta inconsciência do homem após a morte, o Salmo 146, verso 4, declara: ” Sai-lhes o espírito e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia perecem todos os seus desígnios”.
Em nenhuma parte da revelação divina se fala de um purgatório, nem de um inferno para o qual os homens vão logo após a sua morte, nem de um Céu em que já atualmente estejam os seres santos louvando a Deus. Oportunamente analisaremos o que a Bíblia ensina referente ao Céu e ao inferno, embora já antecipamos que a doutrina de um inferno onde ardem perpetuamente por todos os séculos da eternidade homens que pecaram por setenta ou mesmo cem anos é antibíblica, contrária a toda noção elementar de justiça e converte a deus – cuja característica suprema é o amor – num Deus de crueldade infinita.
Uma verdade Consoladora
O simples ensinamento bíblico da inconsciência absoluta do homem durante o sono profundo da morte, é mais consolador e bem-aventurado que a idéia de que alguns de nossos amados estão sofrendo tormentos inenárraveis, num fogo que arde perpetuamente, com a horrenda perspectiva de que arderá, para continuar queimando-os, por todos os séculos da eternidade.
Termina então tudo com a morte? De maneira alguma. A insconsciência perfeita dos mortos continua só até o dia da ressurreição. Entre os imortais ensinamentos de N.S.Jesus, o apóstolo João registra o seguinte: “Vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição e a vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo” (João 5:28-29).
Uma das verdades mais estimulantes que encontramos nas sagradas páginas é a de que esta vida é só uma oportunidade de preparo para uma eternidade feliz, numa pátria nova onde não haverá mais dor nem tristeza. Todas as profecias bíblicas culminam com a predição de um sucesso glorioso, que assinalará o fim do reino do mal e da injustiça, e a inauguração de uma ordem perfeita, numa terra transformada por Deus, para que nela habitem os seres humanos felizes que se tenham preparado para a eternidade. Esse acontecimento será o retorno majestoso de Cristo à Terra para terminar com a maldade e instaurar um reino de justiça, paz e felicidade perfeita e permanente.
Quando o apóstolo Paulo se refere a este grandioso evento escreve: “Nós os vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos Céus” (1Tess 4:15-16). Eis aí a magnífica descrição da segunda vinda de Cristo à Terra, fato iminente na época em que vivemos.
Porém, na linha seguinte, a apóstolo fala dos fatos culminantes que ocorrerão como resultado desse magno episódio da História, que é o retorno majestosos do Senhor: “E os mortos em Cristo, ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos pois” – finaliza Paulo – “uns aos outros com estas palavras” (1 Tess 16-18).
Efetivamente, não existe uma fonte maior de consolo, de esperança e de paz para o coração angustiado pelo medo do além-túmulo, que esta formosa e dupla segurança: a de que nossos mortos descansam em paz sem sofrimento algum, e que logo, quando se ouvir a trombeta do arcanjo, os que baixaram à tumba com a fé posta em Jesus, ressuscitarão gloriosos para participar de uma vida feliz e imortal.
Extraído do Livro Paz na Angústia (CPB 1967) de Fernando Chaij.
Via Sétimo Dia