domingo, 7 de outubro de 2012

Existe algo de errado em bater palmas nos cultos da Igreja?



Era noite de sexta feira e eu me sentei debaixo de uma grande tenda da reunião campal enquanto ouvia o programa musical que precedia o pregador da noite. Depois de mais de quarenta anos assistindo às reuniões campais da Igreja Adventista do Sétimo Dia, esta era sem dúvida mais uma experiência familiar e agradável. Era bom estar em comunhão com o povo de Deus.
Mas desta vez fiquei chocado. Assim que os primeiros músicos terminaram a sua apresentação, enquanto saíam da plataforma, o auditório aplaudiu! Novamente, em seguida ao próximo número, e ao próximo. Isto foi inédito para mim, comecei a sentir-me bastante incomodado. Por um momento questionei minha própria consciência. É o santo Sábado, não é? Isto é um culto sagrado, não é? Porquê o aplauso?
Como havia assistido a outras reuniões campais e cultos adventistas durante muitos anos, tentei racionalmente e biblicamente parar e analisar meu desconforto e esforçar-me para responder uma pergunta fundamental: há alguma coisa de errado em bater palmas nos cultos da Igreja?

Um Ambiente Secular
Depois de algum tempo de convivência com o aplauso nos meios cristãos, inevitavelmente adquire-se uma atmosfera secular. Histórica, sua jurisdição foi o teatro, a arena de esportes competitivos, os grandes eventos sociais. Sua intrusão no culto sagrado ofende as sensibilidades espirituais dos que foram criados com outra compreensão. Para eles, o aplauso durante um culto sagrado altera o foco da ligação vertical com Deus para uma linha horizontal.
As luzes neste palco focam o humano enquanto apagam o divino e o mandam para os bastidores. Seculariza-se o sagrado. É um ruído que desconcentra, como um ritmo de música rock em pleno culto de adoração.
Bater palmas ainda é outro indicador de nosso conceito variável da grandeza de Deus. Reinventamos Deus à nossa própria imagem. Falamos d’Ele considerando o que cremos que Ele é ou deveria ser. Sua soberania, onipotência e santidade foram suplantadas por algo com qualidades mais humanas. Afinal nosso novo Deus não leva tão a sério os detalhes, estávamos enganados; mas agora compreendemos isso. Assim pensamos nós.
O serviço israelita do santuário foi planejado para criar respeito pela santidade de Deus. Todo o ritual, todo o utensílio era envolvido com santidade. Quando foram incinerados dois jovens sacerdotes que chegaram intoxicados à porta do tabernáculo, Deus disse a Moisés, “Serei santificado naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo.” (Levíticos 10:3).
Nós adoramos o mesmo Deus. O fato de nossas igrejas estarem equipadas com sistemas eletrônicos e instrumentos musicais não faz com que a santidade de Deus diminua, pelo contrário. Temos que aumentar, não diminuir, a diferença entre o santo e o profano, o limpo e o sujo (veja Ezequiel 22:26).
Os Adventistas do Sétimo Dia entendem que, na conclusão do grande conflito, a adoração é o assunto principal. Sempre entendemos que a batalha se travaria em relação a um dia especial; agora sabemos que também incluirá a forma. Bater palmas tem parecido ser inofensivo para alguns, mas na realidade está deixando o “nariz do camelo” da influência secular entrar na igreja. Gritar, assobiar, e ritmar com o pé ainda não chegou (pensa o autor, mas estas práticas já tomaram lugar em várias reuniões adventistas, inclusive em Lisboa no Congresso Jovem), mas podem estar muito distantes? Aqueles que ousam tocar a montanha serão tentados a tocar a arca.

O Quociente do Entretenimento
Na faculdade onde estive como estudante, uma salva de palmas era usada para selecionar os vencedores do prêmio, em programas para jovens amadores. Batíamos palmas com toda a nossa força para assim fazer subir o indicador visual em favor de nosso competidor favorito.
Congregações estão votando agora com aplausos em seus personagens favoritos e os líderes destes cultos os incitam; tudo isso é igual àqueles shows (competições) que eu presenciava na faculdade.
Observei que uma canção “contemporânea” que puxe o fôlego, cantada com balanço e movimentos do corpo, olhos meio fechados, microfone seguro perto dos lábios, pode “derrubar uma casa,” enquanto um violino de qualidade ou solo de um clarinete podem receber uma fraca salva de palmas.
Está claro que a maioria das congregações pode facilmente ignorar o trabalho duro dos músicos e tempo que investiram aprendendo a tocar ou cantar bem; na verdade eles simplesmente aplaudem o que os faz sentir bem. O aplauso é uma medição do valor do entretenimento.
A mensagem transmitida desta forma aos músicos torna-se tanto instrutiva quanto cruel: Dá-nos aquilo a que nossas naturezas carnais foram acostumadas ou seu desempenho não será apreciado.
Além de dar falso testemunho sobre o propósito da música na adoração, se a prática de aplaudir continuar se espalhando pelas nossas igrejas, isto poderá muito bem desencorajar os muitos jovens de possuírem e desenvolverem uma música séria com valor espiritual.
De qualquer forma, esta ainda não é a consideração mais importante com relação ao aplauso em nossos cultos. Mais fundamental é a pergunta: O que estamos tentando conseguir batendo palmas? Será dar elogios e adulação aos artistas? Nesse caso então, perdemos o propósito da adoração que é dar honra e elogiar a Deus.
Estamos acostumados a sermos entretidos. Nossas casas têm centros de entretenimento. Os nossos automóveis são da mesma forma equipados para dar-nos a certeza de que as nossas mentes estarão constantemente distraídas. Não é fácil de achar “um lugar quieto, longe do passo rápido onde Deus pode acalmar minha mente preocupada.” 1, parece no mínimo razoável que a igreja deveria ser aquele lugar, e não um tipo de teatro Sabático.

A Música Fá-los Fazer Isto
Como já mencionei, o surgimento aplauso dinâmico não ocorre somente com os que congregam com o espírito eu-estou-aqui-para-ser-entretido, ou seja, quero participar na escolha da melhor performance, na melhor execução do artista. As pessoas aplaudem o que reconhecem instintivamente como sendo “evangelho de entretenimento” um termo usado sem hesitação por muitos no “ministério” da música hoje.
Ainda pretendo ouvir algum grupo de membros aplaudir o hino “O Pai Nosso” ou “Castelo Forte,” embora não esteja pronto para administrar a minha reação a esta altura.
Sinto-me feliz pelos que aplaudem, pois a maior parte deles, parece ainda ter um pouco de respeito pelas coisas sagradas. Penso que poucas congregações, bateriam palmas de modo selvagem e profano para a apresentação de um harpista tocando o solene hino “Fronte Ensangüentada” assim como fariam para um trio de trombetas numa versão de “Oh! Happy Day.”
Aparentemente supõe-se que a própria música ou encoraja ou reprime a inclinação para aplaudir. Se a música terminar com um floreado e um crescendo, as emoções da congregação sobem com isto, e o aplauso é freqüentemente a resposta. Tal música implora aplauso. Mas a conclusão mais difundida para os hinos sacros tende a deixar o adorador mais meditativo sobre a mensagem. Em outras palavras, quanto mais de perto a música tocada refletir o que os ouvintes estão acostumados a ouvir no mundo do entretenimento, mais vigoroso aplauso será o resultado; mas quanto mais sacra for a música, mais “cortês” será o aplauso ou simplesmente não existirá.

Sombras de Pentecostalismo?
Bater palmas, como um exercício religioso, não é um fenômeno que cresce sozinho. Pelo menos, se for, creio que é improvável permanecer deste modo. Na seqüência lógica a fila inclui os braços levantados, corpos se mexendo, e as expressões vocais extáticas tão características do Pentecostalismo.
E nós estivemos lá antes. Cedo no Adventismo achamos vários exemplos de indivíduos que foram além de gritar e bater palmas; eles foram prostrados “pelo Espírito” e mortos pelo poder de Deus (Spiritual Gifts, 2:27, 221). Ellen G. White até mesmo parece ter aprovado estas demonstrações na ocasião. Assim, por que somos tão exigentes com eles hoje?
Mas Deus mostrou a Ellen White a procedência destas práticas e ensinou-a a aplicar barreiras contra isso. Ela escreveu, “Para alguns, os serviços religiosos não significam mais que um tempo agradável. Quando seus sentimentos são despertados, pensam que estão grandemente abençoados. . . A intoxicação do excitamento é o objeto que buscam; e, se o não obtêm, julgam tudo estar errado com eles, ou que algum outro o está.” (II Mensagens Escolhidas, pág. 21).
Não adiantará levantar-se em raiva e dizer que não deveríamos deixar o diabo roubar algo de nós que é bom e direito. É muito tarde para isso, já não funciona. O Pentecostalismo ganhou uma imagem universal de sentimentalismo desenfreado; os Adventistas do Sétimo Dia escolheram historicamente o caminho da razão tranqüila e calma alegria, de forma que o mundo possa nos ver como “um povo inteligente, pensante, cuja fé se acha baseada em fundamento firme e não em confusão” (Idem, pág. 24).
Aqueles que defendem o bater palmas reivindicam que há uma necessidade de mais liberdade e espontaneidade, mais “espírito” e menos estrutura, em nossas reuniões. Ellen White considerou que tal colocação seria como algo perigoso para nosso culto. “Em nosso falar, nosso canto, e em todos os nossos cultos espirituais, devemos revelar a calma e a dignidade e o piedoso temor que atua em todo verdadeiro filho de Deus. Há constante perigo de permitir entrar em nosso meio alguma coisa que consideremos como operação do Espírito Santo, mas que na realidade é fruto de um espírito de fanatismo….Temo isto; temo isso” (Idem, pág. 43).
Ao invés disso, ela sempre ensinou que o povo de Deus deveria “agir de maneira metódica e ordenada”. (Testemunhos para a Igreja, vol. I, pág. 191).

Se Fosse Aceitável…
Até mesmo se o aplauso fosse uma forma aceitável de mostrar apreciação em nossas igrejas, não seria então uma amostra de parcialidade? Se qualquer um deveria ser destacado para uma salva de palmas na maioria das igrejas, seriam então os que cuidam dos bebês. Ou os membros da equipe da cozinha. Ou os professores da escola da igreja.
E mesmo que o Céu aprovasse estes aplausos, a minha suposição seria que estes deveriam ir para a alma que em luta ganhou a vitória sob um pesado pecado, ou alguém que passou por uma grande tribulação, sofrimento e perda com um espírito triunfante. Em tais casos, eu posso ouvir Jesus dizer, “Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida!” (Lucas 15:6).
Penso que destacar as pessoas da linha da frente para semelhantes reconhecimentos envia uma mensagem errada às pessoas nas trincheiras.

Um Vinho Que Intoxica
E envia a mensagem errada aos próprios artistas. Nas várias dúzias de vezes que Ellen White usa a palavra “aplauso”, não achei nenhum exemplo onde seja usada de uma forma positiva. Ela fala das pessoas “que imploram” por aplausos, dos que “buscam mais afincadamente o aplauso dos que estão ao redor deles do que a aprovação de Deus,” de alguns que “recebem aplauso para virtudes que eles não possuem, “e de alguns a quem o aplauso estimula mais do que “a taça de vinho ao bêbado” (Testemunhos para a Igreja, vol. 4, pág. 375; Primeiros Escritos, pág. 107; Testemunhos para a Igreja, vol. 2, pág. 512; vol. 3, pág. 185, 186).
Se não tivéssemos nenhuma outra razão para nos abstermos dos aplausos durante o culto de adoração, também não precisaríamos de nenhuma. Temos inumeráveis advertências na Bíblia e nos escritos da Sra. White contra incentivar o orgulho e auto-adulação aos nossos membros. Até mesmo um gole ou dois desse vinho intoxicado, pode ser viciante.

Todos batem palmas?
Mas e as referências Bíblicas?(*1) Uma análise simples do contexto do Salmo 47 indica que 
não é o povo de Israel que estava sendo chamado a bater palmas, mas sim as nações que haviam sido subjugadas. Ora, será que um povo pagão, que não conhecia Deus, e que acaba de ser vencido em nome dEle, estaria disposto a adorá-Lo?Ou será que o Salmo está dizendo que eles teriam que reconhecer o poder de Deus, porque não teriam outra alternativa? Aliás, é este o contexto da única citação que Ellen White desta passagem, em Review and Herald, 1 
de Janeiro de 1914, quando fala do rei Josafá voltando da batalha. 
Uma análise exegética da expressão "bater palmas" indica que ela é sempre usada em um contexto de admiração e espanto, não necessariamente no contexto de louvor, elogio ou aplauso, como usamos em nossa sociedade hoje. Inclusive há textos onde esta expressão é utilizada no sentido de rejeição ou reprovação, desprezo e até mesmo zombaria (ver Jó 27:23; Lamentações 2:15; Ezequiel 21:14; 22:13).

Existe também o aspecto simbólico e poético da expressão, pois em Salmos 98:8 e Isaías 55:12 os elementos da natureza são convidados a unirem-se em louvor através de palmas. Evidentemente, esta é uma impossibilidade física, o que não tira a beleza poética da 
descrição; porém, dificilmente pode ser tomada como parâmetro para a atitude do adorador pensante durante o culto a Deus. 
Além disso, de acordo com a referência Strong, a palavra hebraica utilizada neste texto (tâqah) também é traduzida como: 
- Soprar, tocar (trombetas) (46 ocorrências) 
- Cravar, afixar (com estacas ou cravos) (5 ocorrências) 
- Golpear (4 ocorrências) 
- Erigir (tendas) (3 ocorrências) 
- Empurrar, enfiar (armas brancas) (2 ocorrências) 
- Lançar (1 ocorrência) 
Portanto, não há justificativa escriturística para utilizar esta expressão como justificativa ao uso de palmas no contexto da adoração a Deus na igreja. Se fosse esta a intenção do Salmo, ou se houvesse uma justificativa coerente para isto, este prática teria sido introduzida no Templo. Porém o relato bíblico nega esta possibilidade.



Um Unificador ou Divisor?
Observei que em qualquer grupo normalmente há um número de pessoas que não aplaude. Os que o fazem e os que não fazem não se agrupam em faixas de idade ou categorias de classe. Tenho visto pessoas de cabelos brancos aplaudindo tão vigorosamente como se estivessem num concerto, o educado tão entusiasticamente quanto o inculto. Mas vejo também jovens sentados com os braços e mãos imóveis.
Bater palmas é um de vários elementos que nos divide na forma de adoração. Precisamos nos unir e solucionar o assunto com oração, estudo e muita humildade de espírito.
Qualquer reforma duradoura terá que incluir as nossas crianças. Infelizmente, temos educado nossas crianças fielmente em nossas escolas e Escola Sabatina, a cantar “canções ativas” que empregam o bater de palmas com um certo ritmo. Talvez, fazendo isto, estejamos sugerindo o que as crianças devem achar do ritmo dos “grandes hinos” da igreja, e que alguns deles são muito enfadonhos e chatos.
Devem ser postas de lado preferências culturais. Se o assunto dos finais dos tempos for adoração, cometemos um erro terrível discutindo acerca de diferenças culturais. É a santidade de Deus que deve ser a medida de nossa adoração.
“Se todos os orgulhosos e vangloriosos, cujos corações estão arquejando para o aplauso de homens e para distinção sobre os seus companheiros, pudessem calcular justamente em contraste o valor da glória terrestre mais alta com o valor do Filho de Deus, rejeitado, menosprezado, cuspido pelos mesmos que Ele veio resgatar, quão insignificante pareceria toda a honra que o homem finito pode proporcionar” (Testemunhos para a Igreja, vol. 4, pág. 375).
Texto de Lee Roy Holmes
(*1)Texto acrescentado pelo Bíblia e a Ciência do site Música e Adoração
Via Música e Adoração

A Música na Antigüidade

Egípcios
A povo egípcio representa a civilização mais antiga de que se tem conhecimento. A Música e os músicos gozavam de grande prestígio dentro da comunidade. Tanto na música religiosa, quanto na de guerra e mesmo na recreativa, os egípcios davam preferência às expressões elevadas e serenas, dando-lhes destaque no culto aos deuses, nos banquetes e cerimônias. A Música era praticada em coletividade, inclusive com a participação feminina.
Tecnicamente, faziam escalas de sete notas e usavam principalmente instrumentos de corda, como a harpa e o alaúde. Usavam também flautas feitas de osso e com o passar do tempo, vieram a fabricá-las também em metal. Como instrumentos de percussão, usavam o os tambores de guerra, címbalos feitos de bronze.
Instrumentos usados pelos egípcios
Instrumentos usados pelos egípcios

Assírios, Babilônios e Caldeus
Por falta de documentação escrita, pouco se sabe sobre a arte musical destes povos. Contudo, vários dos monumentos encontrados, nos mostram a arte sempre ligada à magia. Entre os Assírios e os Babilônios, a Música desempenhava importante papel nas batalhas, animando as tropas e também alegrando os banquetes e festas, em tempos de paz.
Vários eram os instrumentos usados por esses povos, já divididos entre instrumentos de sopro, corda e percussão, entre eles: flautas, tímpanos, gongo e lira.

Árabes
Para os árabes, a Música é indispensável em todas as cerimônias religiosas. O Alcorão, livro sagrado dos árabes, tem seus versículos cantados, sendo esta uma tradição mantida até os nossos dias. Este é um dos motivos que este é um dos povos que mais cultivaram e propagaram a arte musical. Inicialmente, o canto e a execução dos instrumentos eram confiados aos escravos e às mulheres.
Seu sistema musical era composto de 17 notas e os primeiros modelos de ritmo foram os passos do camelo e o galope dos cavalos. Um dos mais velhos instrumentos árabes era a rebeca da poeta e continha apenas uma corda. Servia para acompanhar as declamações dos poetas da tribo. Usavam ainda a harpa e o alaúde. Como percussão tinham o adufe, espécie de tambor coberto com pele. O principal instrumento de sopro era a flauta.

Hebreus
Muito do que se sabe a respeito do povo hebreu, foi transmitido através da Bíblia, onde encontramos várias referências à Música. Os salmos eram os principais cantos sacros, atribuídos a David, musicista e chefe do exército. Quando assumiu o trono, propagou muito a Música entre o povo, principalmente através de grandes reuniões em praça pública, onde convocava os melhores instrumentistas.
Seus instrumentos tiveram origem nas civilizações árabe e egípcia. Um instrumento muito usado nos cultos religiosos era o shofar, um chifre em forma de espiral. Usavam também trompas, flautas, pandeiros e pratos de metal. Sua música era muito rica em instrumentos.
Instrumentos dos antigos hebreus, ainda usados nas sinagogas /
Instrumentos dos antigos hebreus, ainda usados nas sinagogas

Indianos
Muitas civilizações da antiguidade estão extintas, com exceção aos Indianos e Chineses. Os indianos conservam sua tradições através dos tempos, permitindo um grande entendimento de sua visão da arte musical. Consideram a Música como parte formadora do Universo e dos sistema religioso, cultivando-a desde os primórdios de sua história, atingindo considerável estágio musical.
Usam até hoje uma escala de sete notas com os nomes das sete ninfas que acompanham a deusa Svaragrama, designadas em caracteres sânscrito. O principal instrumento indiano, a vina, teria sido dada diretamente pelo deus Brama. É um instrumento de corda. Usam ainda o magoude, semelhante ao alaúde, oravanastrom, que seria a origem do violino, além de címbalos e tambores.

Chineses
As primeiras noções de arte musical na China remontam a cerca de 4000 a.C., quando acreditavam que a Música tinha origem na natureza. Um do primeiros teóricos musicais era o chinês Ling-Lum, estabelecendo o sistema de cinco tons conhecido como escala pentatônica. Mais tarde passou a ter sete notas.
A Música era uma instituição oficial, pois somente imperadores e príncipes podiam criar músicas. O objetivo era orientar o povo e purificar-lhe o pensamento. Seus instrumentos principais eram o king, de percussão, e okin, de cordas.

Grécia
A palavra música vem do grego: mousikê, que significa arte das musas e englobava a poesia, a dança, o canto, a declamação e a matemática. Apurou-se que sua música era essencialmente cantada, cabendo aos instrumentos a função de acompanhar. A finalidade continuava religiosa. O sistema musical apoiava-se numa escala elementar de quatro sons – o tetracorde. Da união de dois tetracordes formaram-se escalas – chamadas de modos – de oito notas, cuja riqueza sonora permitia traçar linhas melódicas e tornaram o sistema musical grego conhecido como modal. A música grega, também monódica, com os instrumentos acompanhando em uníssono, deu origem a melodias de fácil assimilação – os nomoi, que eram acompanhados de cítara e aulo.
Conjunto grego tocando harpa, cítara e lira
Conjunto grego tocando harpa, cítara e lira

Os gregos criaram, ainda, um sistema de notação musical sumário e deixaram muitas de suas letras, que, juntamente com os escritos teóricos, permitem reconstituir um conjunto de músicas que dá uma idéia geral do repertório, que deve ter sido muito rico. A notação musical era alfabética, mas insuficiente: usavam letras em diversas posições para representar os sons.
Os gregos relacionavam intimamente música, psicologia, moral e educação. No âmbito da ética musical, dentre as posturas mais interessantes, destacam-se:
a de Pratinas, rígida e conservadora, extremamente reacionária, condenava o instrumentalismo;
a de Pídaro, mais positiva, expressa uma sincera crença no poder da influência musical no decorrer do processo educativo;
a de Platão, representante máximo da filosofia musical grega, apoiava-se na afirmação da essência psicológica da música. Segundo ele, a música poderia exercer sobre o homem poder maléfico ou benéfico, por imitar a harmonia das esferas celestes, da alma e das ações. Daí, a necessidade de se colocar a música sob a administração e a vigilância do Estado, sempre a serviço da edificação espiritual humana, voltada para o bem da polis, almejada como cidade justa;
e, finalmente, a de Aristóteles, onde se destaca o papel da poesia, da música e do teatro na purgação das paixões.
No período helenístico, a música grega desviara-se para a busca e o culto da virtuosidade, o que representou uma decadência do espírito nacional que a orientara na época áurea. Eram interessantes os diversos instrumentos de sopro utilizados nos exércitos, com variadas finalidades.
Instrumentos usados por músicos da antiga Grécia 1 e 2 - monocórdios; 3 e 4 - guitarras; 5 - cítara heptacorda; 6 - lira; 7 - cítara pentacorda; 8 e 9 - flautas
Instrumentos usados por músicos da antiga Grécia:
1 e 2 – monocórdios; 3 e 4 – guitarras; 5 – cítara heptacorda; 6 – lira; 7 – cítara pentacorda; 8 e 9 – flautas

Roma
Os romanos assimilaram a música grega. É em Roma que a música se torna prosaica: passa a exaltar a glória militar embora no recesso dos lares continuasse a ser praticada a suave música grega. O aperfeiçoamento dos instrumentos de sopro e percussão tiveram importância decisiva no desenvolvimento ulterior da música européia.
Com maior potência sonora, com outro sentido e sem a nobreza inicial conferida pelos gregos, a música desceu às catacumbas, juntamente com os cristãos. Nas catacumbas, os cristãos oravam e exprimiam seus sentimentos de fé, esperança e amor através da música, passando a ser um elemento de elevação espiritual, auxiliar valioso na tarefa de revelar um mundo interior e pessoal. Nos cânticos dos primeiros cristãos estão as sementes da monódia cristã. Sua inspiração eram os salmos, de origem hebraica, que São Pedro havia trazido da Antioquia, no ano de 54. Era um exemplo de perfeição e equilíbrio, exprimindo com requintes as menores graduações dos textos, segundo um ritmo livre e de maravilhoso efeito místico.
A música monódica foi vocal e graças à Igreja Católica ela se desenvolveu. A monódia era só cantada e os instrumentos, considerados diabólicos, eram proibidos. Assim a música acompanha a cristandade e os grandes centros da Igreja – Bizâncio, Roma, Antioquia e Jerusalém – eram os grandes centros da música. Quanto à música monódica, existem dúvidas, pois parece que em Bizâncio, na Síria, e nas sinagogas do Oriente já se praticava a polifonia e até a antífona e o responsório (coros respondendo a solistas).
A música litúrgica é organizada em cada região de forma diferente e própria. Caberia ao Papa Gregório I (Gregório Magno), no século VI, unificar os cânticos religiosos, como recurso para padronizar a liturgia em toda a Europa. Reuniu todos os cantos considerados perfeitos, com indicações sobre o modo de cantá-los, sistematizou-os de acordo com as festas do ano litúrgico e codificou tudo em dois livros que prendeu, simbolicamente, em correntes num altar da Igreja de São Pedro, em Roma. Esses livros eram oAntiphonarium e o Cantatorium.
Gregório Magno reformou ainda a Schola Cantorum, onde os padres aprendiam a música religiosa – símbolo uniforme da fé cristã -, que deveria ser levada a todos os lugares do mundo, expressando a palavra de Deus. O repertório é depurado da influência oriental; a melodia é plana e linear – cantus planus (cantochão), que passou a denominar-se cantos gregorianos, em homenagem ao Papa Gregório Magno, a quem é atribuída sua organização, sendo a música oficial da Igreja e das universidades durante mil anos.

[*] – Nota: Os editores do Música Sacra e Adoração não localizaram informações acerca do autor deste artigo. Qualquer contribuição acerca desta informação será bem-vinda.
Via Música e Adoração

Música na Infância dá Ouvido Mais Apurado Para o Resto da Vida



por: Stephanie D’Ornelas

Muitos dos hobbies que temos quando crianças não dão frutos se a gente os abandona depois de alguns anos. Mas esse parece não ser o caso da música. Pesquisadores da Universidade do Noroeste, em Chicago (Illinois, EUA), apontam que adultos com uma infância regada a notas musicais apresentam audição mais apurada e aprendizado mais fácil.
A razão para isso, conforme explicam os cientistas, é meramente física. Crianças que tiveram treinamento musical tendem a adquirir grande habilidade em identificar a frequência fundamental nos sinais sonoros.

Ouvidos sensíveis
A frequência fundamental é a mais baixa das frequências possíveis em uma onda sonora: 110 Hz e nem um comprimento de onda completo. Quando somos educados com música desde cedo, o cérebro aprende a diferenciar, mesmo que inconscientemente, todos os comprimentos de onda da série harmônica.
A grosso modo, quanto menor a frequência da onda sonora, maior a necessidade de treino que o sistema auditivo precisa ter para captar. O cume desta evolução auditiva, portanto, é a frequência fundamental.
O que os pesquisadores americanos descobriram foi justamente isso: uma familiaridade infantil “afina” natural e permanentemente o ouvido da pessoa.

Quanto mais treino, melhor
Os cientistas de Chicago convocaram 45 jovens adultos e os separaram em três grupos. Aqueles que jamais tiveram qualquer instrução musical na infância, os que tiveram de um a cinco anos de prática, e os que passaram de seis a onze anos estudando música quando crianças.
A “prática na infância” não significa que os bebês já saíram do berço ensaiando um instrumento: a média de idade para o começo da vivência musical, entre os 45 participantes da pesquisa, foi de nove anos de idade.
Os voluntários foram colocados em uma espécie de estúdio, onde eram estimulados a dar resposta a determinados sons. Conforme as emissões sonoras foram ficando mais complexas e difíceis de identificar, os grupos com treinamento musical se mostraram mais rápidos e afiados para dar a resposta.
E quais são as vantagens de se ter uma audição apurada? Bem, em primeiro lugar, nunca se pode descartar a habilidade de ter um sentido superdesenvolvido: com uma audição apurada, por exemplo, uma pessoa pode ouvir sons que passaram despercebidos pela maioria, em determinada situação.
Isso sem falar que nunca é tarde para retomar a prática de um instrumento musical. Aqueles com habilidade já adquirida terão muito mais facilidade para retomar a prática em qualquer ponto da vida. [Live Science/US News/Evanston Now]

Suco de Uva e a Memória



“Assim diz o SENHOR: Como quando se acha MOSTO num CACHO de uvas, dizem: Não o desperdices, pois HÁ BÊNÇÃO NELE... ” (Is 65:8)

Uma pesquisa realizada na Universidade de Cincinnati, em Ohio, nos Estados Unidos, concluiu que pessoas que tomam suco natural de uva têm melhor memória do que as que evitam consumir o produto em seu dia a dia. Os cientistas, que submeteram 12 pessoas ao consumo de suco de uva por 12 semanas, acreditam que os antioxidantes são os principais responsáveis pela notável melhora no grupo submetido à experiência. As enzimas, minerais e vitaminas que podem melhorar a memória podem ser encontradas em grande escala na casca da fruta ou em seu composto. A pesquisa foi liderada pelo médico Robert Krikorian, que apresentou as conclusões durante a conferência International Polyphenols and Health, realizada em Yorkshire, na Inglaterra.

"Enquanto não se notou nenhuma diferença significativa no grupo que não foi submetido ao tratamento, aqueles que tomaram suco de uva natural demostraram uma relevante melhora no aprendizado", disse Krikorian.

Segundo os pesquisadores, o levantamento baseado no consumo da substância sugere um progresso a curto prazo na memória de retenção e espacial, além de um avanço na memória não-verbal.

Krikorian afirma que o suco pode beneficiar, principalmente, idosos, ajudando-os a preservar as funções congnitivas e reverter o quadro de perda de memória, comum na idade avançada.

Um estudo americano realizado em 2006 pela Universidade Vanderbilt indicou que beber sucos de frutas e vegetais pode diminuir os riscos do desenvolvimento do mal de Alzheimer.

Segundo a pesquisa, as chances de adquirir a doença são 76% menores em pacientes que tomam sucos naturais pelo menos três vezes por semana.

REFLEXÃO: “O vinho é ESCARNECEDOR, a bebida forte ALVOROÇADORA; e todo aquele que neles errar NUNCA SERÁ SÁBIO.” (Provérbios 20:1)

(Veja) e (Saúde e Família)

sábado, 6 de outubro de 2012

Salmo 17- Juízo Investigativo


Alguma vez você já pediu a Deus que Ele o julgasse? A maioria das pessoas vai responder que não, porque a maioria de nós considera terrível o julgamento de Deus sobre os nossos atos, palavras e até pensamentos. Mas Davi orou ao Senhor para que Ele o julgasse até mesmo em seus mais íntimos sentimentos. Quem de nós faria isso?

O salmo vem de um possível contexto quando Davi estava sendo perseguido pelo ímpio rei Saul no deserto de Maon. Davi foi traído pelos zifeus que indicaram a Saul o seu paradeiro, e logo Davi e os seus companheiros se viram cercados por Saul e seus homens, com perigo de vida. Então, Saul foi notificado que os filisteus estavam invadindo a sua terra, e esse rei foi atrás deles, desistindo de perseguir a Davi.

Aquele lugar foi chamado de Pedra de Escape. (1Sm 23:19, 25-28). Muitas vezes somos protegidos por certas circunstâncias e nem consideramos que foi por providência divina.

Davi estava em grande perigo e pressão pela malícia de seus inimigos, e clama neste salmo dirigindo-se a Deus e é justamente isso o que devemos fazer em situações semelhantes. Temos muitos inimigos como Davi e temos muitas pressões e enfrentamos muitos perigos em nossa vida moderna; mas, também, da mesma forma que Davi temos o Deus que age tão prontamente como agia no passado, e pode nos socorrer a qualquer momento.
O conteúdo da oração é duplo:
(1) Oração por Vindicação: “Baixe de Tua presença o Julgamento a meu respeito” (v. 2a).
(2) Oração por Investigação: “Os Teus olhos vêem com equidade”. (v. 2b).

Estas petições são subsequentemente desenvolvidas através do salmo em sequência quiástica, ou seja, o salmo possui ideias contrastantes que repentinamente invertem a direção. Portanto, o esboço do Salmo 17 fica dessa maneira:

A. Oração por Vindicação (v. 2a)
     B. Oração por Investigação (2b)
     B'. Investigação (vs. 3-5)
A'. Vindicação (vs. 6-15).

Há 3 apelos no decurso do Salmo 17:
I – Um Apelo por Justiça (1-5)
II – Um Apelo por Misericórdia (6-12)
III – Um Apelo por Livramento (13-15)

I - Um Apelo por Justiça (vs. 1-5)

Davi apela para que Deus manifeste a Sua justiça. “Ouve, Senhor, a causa justa, atende ao meu clamor, dá ouvidos à minha oração, que procede de lábios não fraudulentos.” (v. 1) O salmista ora em primeiro lugar para que Deus ouça, atenda e dê ouvidos à sua história, a qual ele apresenta, com lábios livres de mentiras. Ele clama a Deus para que atenda à “causa justa”. A palavra original é “tsedeq”, que significa justiça. Ele está dizendo: “Ouve, Senhor, na justiça.” A frase poderia ser traduzida como “Ouve, Senhor de justiça.” A mesma palavra aparece no último verso, de modo que o salmo começa e termina com “justiça”. A ideia é que Deus o ouça, na Sua justiça, a sua causa que também é justa. Seu clamor é no sentido de receber sentença justa dAquele que sabe da sua inocência. Ele clama por vindicação e defesa.

E Davi está tão certo de que a sua causa é justa que ele chega a clamar para que Deus o julgue: “Baixe de Tua presença o julgamento a meu respeito” (v. 2). Isto não é comum; as pessoas em geral temem ser julgadas por Deus porque imaginam que o Seu julgamento seja terrível porque fatal. Ninguém quer enfrentar o Juízo divino. Alguns até ensinam que não haverá julgamento para os justos, de tão “terrível” que deve ser o Julgamento de Deus. Mas eles prometem como uma consolação que nenhum cristão passará pelo Juízo divino. Nenhuma investigação haverá para os justos.

Haveria algum fundamento bíblico para tal ensino? Eu tenho um vizinho que disse que existem muitas religiões porque há muitas traduções da Bíblia que favorecem diferentes interpretações. Eu lhe respondi que as traduções são diferentes, mas conservam a verdade do original. Entretanto, há um pouco de verdade no que disse o vizinho. Na tradução Atualizada de João 3:18, lemos estas palavras de Cristo: “Quem nEle crê não é julgado.” “E então?”, disse um crente para outro, “aqui diz que o cristão não será julgado!” Entretanto, o crente adventista, lê na sua versão mais antiga e diz: “Mas a minha Bíblia diz que ‘quem crê nEle não é condenado’ e isso é outra coisa. Condenação é o resultado de um juízo realizado, é a própria sentença dada. Os cristãos serão julgados, mas não condenados. Sua sentença será absolvição.”

De fato, esse problema de traduções existe, mas nós podemos aprender a pesquisar e comparar em outras versões quando estamos em dúvida com respeito a algum ponto da verdade. Veja como os tradutores da versão Atualizada vertem João 5:24: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.”

Certamente, esses tradutores não crêem na doutrina bíblica do Juízo Investigativo, e então, trocaram a palavra “condenado” como está na versão antiga, por “juízo”, mudando o significado. A palavra grega (krino) admite ambas traduções, mas o contexto deve indicar a tradução correta, que é a antiga: “quem ouve a minha palavra... não entrará em condenação.”

E esta é a verdade, confirmada em muitos lugares. Disse Paulo: “Importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.” (1Co. 5:10). De fato, o Juízo será uma realidade tanto para crentes como para incrédulos, bons e maus, justos e injustos. 

Entretanto, ainda assim, muitos dirão que é duro ser julgado por Deus, porque o Seu Julgamento será temível e terrível e ninguém em sã consciência pediria tal coisa. Mas então, por que Davi pede que Deus o julgue? Por que Davi insiste em ser logo julgado pelo grande Juiz de todo o universo? Ele responde por quê: “os Teus olhos vêem com equidade.” (v.2) Com efeito, Davi quer ser julgado por Deus porque sabe que o Seu olhar onisciente vê a tudo com “equidade”. Isto significa justiça e imparcialidade. Se Deus é justo e sempre age com justiça, então, o Seu Julgamento não é terrível. Terrível é o julgamento dos homens, e é a esse que devemos temer, por ser injusto e parcial. 

Mas Davi continua dizendo: “Sondas-me o coração, de noite me visitas”. Esta é uma declaração de Davi a respeito de uma investigação do seu caso, de que Deus o sonda, examina o seu coração. Este é um juízo de investigação, um exemplo do que acontece no grande Juízo Investigativo, que se desenvolve nos últimos dias da história deste mundo. Deus sonda o seu coração, esquadrinha a sua alma, faz uma investigação do seu caso, a fim de poder sentenciar a sua culpa ou inocência. De fato, todo juízo tem 3 fases: (1) Investigação, (2) Sentença e (3) Execução. Davi declara que Deus investiga o seu caso, examina as suas ações, perscruta a sua alma.

Antes da vinda de Cristo, haverá um Juízo de Investigação. Todos os casos de pessoas que aceitaram a fé e fizeram profissão de seguir ao Salvador passam em revista. Na augusta presença de Deus nossa vida deve passar por exame. O grande Juiz de toda a Terra perscruta a vida de cada crente, esquadrinha cada coração. E cada um deve por sua vez fazer um profundo exame da sua vida, a fim de se preparar para esse solene tempo de Juízo Investigativo que agora ocorre no Céu, desde 1844. É tempo de profundo arrependimento de cada pecado, é tempo de santificação, é tempo de empregar sabiamente cada talento e de viver com o coração puro diante de Deus e dos homens. É tempo de sermos revestidos da justiça de Cristo, e de nada dispor para a carne no tocante às suas concupiscências (Rm 13:14).

Cristo ilustrou muito bem esta cena de investigação através de uma parábola, em que um rei festejava as bodas de seu filho e deu um grande banquete, chamando aos que aceitassem o seu convite dentre todos os tipos de pessoas. Mas havia uma condição: todos os participantes deveriam aceitar as vestes nupciais, e vesti-las durante a festa. Então, durante a cerimônia, o rei foi ver os convidados, foi fazer uma investigação de como os convidados estavam se portando e notou alguém que não tinha as vestes. Imediatamente, ele se dirigiu a esse homem que representa a classe de pessoas que desejam participar das bênçãos do evangelho, mas não aceita as vestes da justiça de Cristo em sua vida: “Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu. Então, ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes.” (Mt 22:12-13).

Mas o salmista Davi continua, dizendo: “Provas-me no fogo e iniqüidade nenhuma encontras em mim; a minha boca não transgride.” (v. 3). Alguém com certa razão diria: “Como pode Davi dizer tais palavras? Como poderia o Juiz eterno e onisciente não encontrar faltas e pecados em Davi?” Eu conheço outras palavras que procedem do humilde coração de Davi: “Não têm conta os males que me cercam; as minhas iniqüidades me alcançaram, tantas, que me impedem a vista; são mais numerosas que os cabelos de minha cabeça, e o coração me desfalece.” (Sl 40:12). Na primeira passagem, Davi diz que Deus não encontra pecado em sua vida; na segunda, ele diz que os seus pecados são incontáveis.

Como podemos harmonizar esta aparente contradição? As palavras do salmo que estudamos (17:3) estão corretas no contexto em que Davi estava vivendo naquela época, e apenas em relação às coisas de que os ímpios o acusavam. Saul e seus oficiais diziam que Davi estava se preparando para usurpar o trono do rei; que ele desejava matá-lo, que a sua ambição era ser rei de Israel, e logo que conseguisse esse objetivo, ele destruiria a todos os parentes do rei Saul. Tudo isso era falso. Davi não precisava se esforçar para ser o rei de Israel; Deus mesmo o ungiu, e o protegeu para que isso se cumprisse. Davi não falava com justiça própria; ele era inocente mesmo das coisas de que Saul o acusava.

Davi era sincero e estava consciente de sua própria inocência. Ele não era hipócrita. A sinceridade não teme nenhum escrutínio, não, nem mesmo o de Deus, de acordo com o concerto da graça. A onisciência de Deus é tanto a alegria do justo, como o terror dos hipócritas e é particularmente confortável para aqueles que são acusados falsamente.

Mas há outra aplicação para as palavras de Davi: ele falava profeticamente pelo Messias. Muitas vezes a Bíblia retrata a Davi falando pelo Messias, porque Davi era um tipo de Cristo. Os Salmos contém muitas mensagens cristocêntricas e messiânicas. Os livros proféticos têm muito a falar dEle, mas em Ezequiel, o Messias é chamado de Davi (Ez 34:23-24; 37:24-25). De fato, Cristo foi o Único que em sentido absoluto poderia dizer estas palavras do Salmo 17:3: “Sondas-me o coração, de noite me visitas, provas-me no fogo e iniqüidade nenhuma encontras em mim; a minha boca não transgride.”

Deus poderia sondar o coração de Cristo de dia e de noite, prová-lO no fogo da aflição e da tentação e nenhuma iniquidade, nenhum pecado encontraria nAquele que é a pureza por excelência. Disse Cristo certa vez aos líderes da nação judaica: “Quem dentre vós Me convence de pecado?” (Jo 8:46). De Satanás Ele pôde dizer: “Aí vem o príncipe do mundo, e ele nada tem em Mim.” (Jo 14:30). Ainda testifica o apóstolo Paulo: “Com efeito, nos convinha um Sumo Sacerdote como Este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus.” (Hb 7:26).

Mas Davi em sua experiência de profunda sinceridade e como um homem segundo o coração de Deus pôde nos ensinar como alcançar um relacionamento feliz e bem-aventurado: “pela Palavra dos Teus lábios, eu tenho me guardado dos caminhos do violento.” (v. 4). Mais tarde, ele confirma estas mesmas palavras em tom de admoestação aquilo que vivia na experiência: “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a Tua Palavra.” A seguir, ele declara mais uma vez a sua experiência: “Guardo no coração as Tuas Palavras, para não pecar contra ti.” (Sl 119: 9,11). Ou seja, aquilo que eu aconselho é aquilo que eu faço. Faça o que eu digo, porque é isto o que eu faço.

Hoje vemos muitos cristãos vivendo uma vida de derrotismo, citando o capítulo 7 da epístola de Paulo aos Romanos, e dizendo: “É isso mesmo; eu sou como Paulo: o que eu não quero, isso faço. Eu não quero pecar, mas eu acabo pecando; eu nasci assim, e assim eu continuo. Ninguém pode se libertar de sua natureza pecaminosa! Nós somos assim mesmo!” Entretanto, isso é interpretar mal o ensino de Paulo que em Romanos 7 não está descrevendo a experiência de um cristão, mas de um legalista tentando se salvar com os seus próprios esforços, tentando guardar a lei sem Cristo. Mas Cristo disse: “Sem Mim, nada podeis fazer.” (Jo 15:5). 

Se você quer saber como é um cristão, deve ler em Rm 8. Se quer saber como foi a vida de Paulo, então, leia o livro de Atos e o testemunho de Cristo sobre ele em Atos 9:15-16. Pode também ler o testemunho do Diabo sobre o mesmo Paulo em Atos 19:15: “Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?”

Disse mais Davi ao falar de sua experiência com Deus: “Os meus passos se afizeram às Tuas veredas, os meus pés não resvalaram.” (v. 5). Davi estava dizendo: “Senhor, ouve a minha causa, pois é justa; eu sou inocente de todas as coisas de que me acusam os meus inimigos!” Ele apelava para que Deus o julgasse segundo a justiça que ele praticara em pensamentos, palavras e atos com referência aqueles homens que o acusavam de coisas que nem mesmo lhe passaram pelo pensamento, pois andava em sinceridade diante de Deus e dos homens.

De igual maneira, Paulo se defendia diante dos judeus que o acusavam e o apedrejaram e o açoitaram pelo poder romano, e ainda assim pôde dizer: “Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial.” (Atos 26:19). E disse também aos cristãos coríntios no decurso de sua vida: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” (1Co 11:1).

As palavras do salmista no v. 5, declarando a sua fidelidade e integridade, podem ser lidas como uma prece: “Senhor, dirige os meus passos nos Teus caminhos, para que as minhas pegadas não vacilem.” (Versão Corrigida). É perigoso permitir que uma característica infiel viva no coração. Um pecado acariciado pouco a pouco aviltará o caráter, levando todas as suas faculdades mais nobres em sujeição ao desejo maligno. A remoção de uma única salvaguarda da consciência, a condescendência com um mau hábito sequer, o descuido das elevadas exigências do dever, derribam as defesas da alma, e abrem o caminho para entrar Satanás e transviar-nos. O único meio seguro é fazer nossas orações subirem diariamente, de um coração sincero, e piedoso, deste modo: “Senhor, dirige os meus passos nos Teus caminhos, para que as minhas pegadas não vacilem.” 

II - Um Apelo por Misericórdia (vs. 6-12)

Davi continua invocando a Deus porque tem certeza de que Deus há de ouvir as suas súplicas. Em sua angústia, ele clama: “Inclina-me os ouvidos e acode às minhas palavras.” (v. 6). A linguagem do salmista demonstra que ele não confiava em sua justiça própria, mas na vindicação e justiça de Deus, embora estivesse consciente de sua completa inocência das acusações dos perversos dentre os líderes de Israel que o perseguiam. 

Davi apela para que Deus mostre a Sua misericórdia. Ele disse no v. 7: “Mostra as maravilhas da Tua bondade, ó Salvador...” A misericórdia divina se manifesta em Sua bondade. Mas essa bondade tem múltiplas maravilhas. A primeira e grande maravilha da bondade e misericórdia de Deus é que Ele é Salvador. Não podemos senão enaltecer a maravilha de termos um Salvador quando estávamos completamente perdidos, condenados, sem nenhuma perspectiva de salvação, inteiramente entregues aos nossos inimigos, homens e demônios.

A segunda maravilha da bondade divina, mencionada no salmo, é que Deus nos considera como tendo um valor imenso: somos como a “menina dos olhos” de Deus (v. 8). Muitos têm uma auto-estima muito baixa de si mesmos por algumas razões. Mas Deus nos considera como possuindo um valor incalculável: o nosso valor é tão grande que Ele foi capaz de dar o Seu único Filho para morrer em nosso lugar, pagando o preço de nossa redenção na Cruz, um preço infinito que só a eternidade revelará ao universo. Assim, somos guardados de dia e de noite por Aquele que não dorme, mas revela o Seu cuidado paternal.

A outra maravilha da bondade de Deus é revelada na oração de Davi que ele continua apresentando: “Esconde-me à sombra das Tuas asas” (v. 8). Podemos lembrar as palavras de Cristo quando estava contemplando a Jerusalém do monte e chorando por ela: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23:37).

Muitas vezes condenamos aos judeus por seu desprezo do Senhor Jesus Cristo, que manifestava as maravilhas de Sua bondade em inúmeros exemplos, e por fim, desejava recolhê-los sob as Suas asas, em uma profunda manifestação de amor. Mas nós também somos ingratos em muitas ocasiões. Entretanto, assim se revela a Sua misericórdia, e a Sua bondade nos esconde debaixo de Seu cuidado e proteção, e ainda nos defende das acusações de Satanás. 

Mas, embora Deus seja misericordioso e manifeste constantemente a Sua bondade, os homens são maus, ímpios e rebeldes. Davi dá uma descrição do caráter dos seus perseguidores: eles eram perversos, opressores, inimigos que o assediavam de morte. Ele fala desses homens nestes termos: “Insensíveis, cerram o coração, falam com lábios insolentes; andam agora cercando os nossos passos e fixam em nós os olhos para nos deitar por terra.” (v. 9-11). Não estamos falando só de história passada, porque estas coisas se repetem em nosso tempo, e se multiplicam nestes últimos dias da história deste mundo tenebroso.

“1: Nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis,
2: pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes,
3: desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem,
4: traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus,
5: tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder.” (2Tm 3:1-5).

Muitas dessas palavras poderiam se aplicar a Jean Jacques Rouseau. Quando jovem ele viveu na cidade de Turim, na casa de uma mulher de Verecelli. Em suas confissões ele escreveu: "Desta casa levo comigo um terrível fardo de culpa que depois de 40 anos ainda está indelével em minha consciência, e quanto mais velho fico, mais pesado é o fardo de minha alma''.

Ele havia roubado um objeto de valor da dona da casa. Posteriormente, quando a perda foi descoberta, lançou a culpa sobre a servente da casa, que, como resultado, perdeu o ganha-pão e a dignidade. Ele continua: "Acusei-a como ladra, lançando assim uma jovem honesta e nobre na vergonha e na miséria. Ela me disse então: 'O senhor lançou a desgraça sobre mim, mas eu não desejo estar no seu lugar'. A lembrança freqüente disto dá-me noites de insônia, como se fosse ontem que tal fato aconteceu. É certo que algumas vezes minha consciência esteve adormecida, mas agora ela me atormenta como nunca dantes. Este fardo está mais pesado agora sobre o meu coração; sua lembrança não morre. Tenho que fazer uma confissão."

Muitas pessoas lançam acusações injustas e mentirosas contra outros, estão arruinando a vida de outros, perseguindo, acusando falsamente, inventando mentiras, exagerando circunstâncias, e sendo intolerantes. Eles não medem as trágicas consequências tanto para os culpados quanto para os inocentes. Essas pobres vítimas em sua angústia podem clamar ao Deus de Davi e suplicar pela vindicação de sua causa. E, como resultado, os seus opressores podem vir a sofrer sob a ira de Deus que não abandona os seus filhos oprimidos porque alguém tocou na “menina dos Seus olhos”. 

Porém, atrás de tudo isso se encontra um inimigo mais terrível, sobre o qual poucos se preocupam. Davi comparou os seus inimigos aos leões: “Parecem-se com o leão, ávido por sua presa, ou o leãozinho, que espreita de emboscada.” (V. 12). Disse o apóstolo Pedro: “Sede sóbrios e vigilantes. O Diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo.” (1Pe 5:8-9). Não admira que o salmista apelasse à misericórdia e bondade de Deus! Somente por Sua bondade somos guardados e protegidos, e o maligno, que tão prontamente deseja nos destruir, fugirá desconcertado e vencido.

III - Um Apelo por Livramento (vs. 13-15)

Davi apela para que Deus execute a Sua justiça, livrando a sua alma ameaçada pelos mais ferozes inimigos

“13: Levanta-te, Senhor, defronta-os, arrasa-os; livra do ímpio a minha alma com a Tua espada,
14: com a Tua mão, Senhor, dos homens mundanos, cujo quinhão é desta vida e cujo ventre Tu enches dos Teus tesouros” (vs. 13-14).

Muitos cristãos ficam perplexos diante de tais palavras de imprecação e maldição contra os ímpios. Não podem compreender: “Como pode Davi orar para que Deus arrase e destrua a esses homens? Não sabia que era o seu dever amar os seus inimigos?” Há uns 10 salmos imprecatórios, salmos que invocam a maldição de Deus contra os inimigos do salmista. Entretanto, Davi estava promovendo a glória de Deus ao buscar a sua libertação e a de seu povo Israel. O governo desses ímpios oprimia a esse povo, e perseguia ao futuro rei Davi. Portanto, ele pede a libertação de Jeová, a Sua pronta ação defrontando e destruindo a esses perseguidores, cujos pecados e impiedades já ultrapassavam os limites da paciência humana. Portanto, esta oração era da vontade de Deus e foi inspirada por Ele.

E ademais, como eram esses homens? Davi já havia definido o caráter deles como perversos, opressores, inimigos de morte (v. 9-11). Agora, ele acrescenta a base de sua impiedade, dizendo que eram “homens mundanos, cujo quinhão é desta vida, e cujo ventre” está cheio dos tesouros de Deus (v. 14). Isso nos remete às palavras do apóstolo Paulo, que disse: “Observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós. Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas.” (Fl 3:17-19). 

Aqui temos a definição do que significa ser ímpio: Ímpio é aquele que só se preocupa com as coisas deste mundo, com as comidas e bebidas do mundo, com as modas do mundo e com as glórias do mundo. Não admira que “o destino deles é a perdição.” “São inimigos da cruz de Cristo” e só se satisfazem com as coisas mundanas. Esta era a tendência de Sodoma: “Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma - soberba, fartura de pão e próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado.” (Ez 16:49). Eles só se satisfaziam com as coisas mundanas.

Entretanto, o salmista Davi se satisfazia com algo muito mais nobre, e assim também todos os cristãos: “Eu, porém, na justiça, contemplarei a Tua face; quando acordar, eu me satisfarei com a Tua semelhança.” (v. 15). O que significa a expressão “na justiça”? Davi confia em Deus e na Sua justiça. Portanto, é baseado “na justiça” de Deus que ele tem a convicção de contemplar a Sua face. Não podemos ser baseados em nossa justiça própria; nossa única esperança é a justiça de Cristo, segundo a qual nós O veremos em glória e majestade, depois de ver a Sua libertação de todos os nossos inimigos. Então, contemplaremos a Sua face, como a face do nosso Deus eterno.

Mas, quando será isso? Disse Davi: “Quando acordar, eu me satisfarei com a Tua semelhança.” (v. 15). Para Davi essa esperança estava muito mais distante do que para nós. Mas, se ele fala de acordar de seu “sono da morte” (Sl 13:3), ele fala da ressurreição que acontecerá na segunda vinda de nosso Salvador Jesus Cristo. Qual era a esperança de Davi nesse tempo? Disse ele: “Eu me satisfarei com a Tua semelhança.” Enquanto os seus inimigos se satisfaziam com as coisas mundanas, Davi se satisfazia na contemplação do Senhor eterno.

O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, e só pode se satisfazer na contemplação do seu Criador. Mas o pecado deslustrou esse brilho de glória. Então, veio o nosso Salvador para nos redimir e nos resgatar, derramando o Seu sangue na Cruz do Calvário, a fim de que novamente tivéssemos a Sua semelhança, e nos satisfizéssemos com a glória de Deus nEle e em nós refletida.

Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro.” (1Jo 3:2-3).

Pr. Roberto Biagini
Mestrado em Teologia

Adoração Em Espírito e Em Verdade



O CONVITE DE DEUS PARA ADORÁ-LO
“Deus convida o Seu povo para adorá-Lo: Jesus afirmou categoricamente que o Pai procura os Seus adoradores (João 4:23). No coração da última mensagem há um convite para adorar ‘Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas’ (Apocalipse 14:7). Isto é natural e compreensivo até certo ponto, à nossa mente pequena e finita. Deus criou o homem para viver em comunhão com Ele. Foi feito à Sua imagem. Isto significa que o homem foi dotado de capacidade intelectual e mental, que possibilita essa comunhão, associação e participação com Deus. É o único ser vivente na terra que pode manter comunhão com Deus.”¹

O vocábulo sagad, no hebraico bíblico, é o termo mais comumente traduzido como adorar e significa “curvar-se até o chão”. O vocábulo indicado reflete uma atitude de humilde submissão e reverência diante da presença de Deus. A atitude de adorar não se limita simplesmente a uma forma ou posição corporal que o adorador deve assumir. De acordo com as Escrituras, a adoração pode ser expressa mediante duas posturas pessoais: uma estática, e outra, dinâmica. A atitude estática da adoração é aquela na qual o adorador restringe seus movimentos corporais à expressão mínima, como nos momentos de oração, meditação, leitura da Palavra, momento de ouvir a mensagem, louvor, etc. A atitude dinâmica da adoração é representada pela sucessão de atividades de relacionamento do adorador com Deus e com seus semelhantes. Nessa conduta, a postura assumida pelo adorador é de obediência e serviço. Um exemplo claro de atitude dinâmica de adoração está no cântico de Maria no qual expressa sua condição de “serva” (Lucas 1:48), para cumprir a vontade de Deus.

E ME FARÃO UM SANTUÁRIO
A construção do Tabernáculo, na travessia do deserto e na posse da terra de Canaã, seguida pela grandeza arquitetônica do Templo de Jerusalém, teve o propósito divino de ser a habitação de Deus, o lugar da revelação divina para conceder ao povo a salvação esperada. No período do Novo Testamento, Cristo cumpre as funções pelas quais o Templo havia sido erguido. Ele é a mais autêntica revelação de Deus. Seu nome, Emanuel, dá clara prerrogativa ao seu significado “Deus conosco”.

Assim, Cristo na Sua missão terrena, substitui o Templo; ou melhor, Ele é o próprio Santuário (João 2:19-21). Não havendo o Templo para expressar adoração a Deus, esse ato, que renova a comunhão do humano com o divino, deve ser efetuado em “espírito e em verdade”. Não se deve considerar que os templos atuais não sejam lugares de adoração. Não são, na medida da função cerimonial e sacerdotal que caracterizava o Templo do período do Velho Testamento. Mas os templos atuais exercem outras funções e, como tais, são lugares sagrados de adoração.

AO DEUS DESCONHECIDO
Nas páginas do evangelho de João, o discípulo amado, está registrado um evento que permite verificar como um grupo social pode estabelecer um comportamento religioso improcedente, adorando o que não se conhece. É o encontro de Jesus com a mulher samaritana, na região da Galiléia, no entorno do poço de Jacó.

Os samaritanos foram denominados assim, com sentido pejorativo, porque eram um grupo social heterogêneo constituído por remanescentes das tribos que formavam o reino de Israel ou do Norte, que se uniram em matrimônio com pessoas de diversas nacionalidades. Essa miscigenação começou durante o exílio, após a destruição da cidade de Samaria em 722 a.C. pelas forças do exército assírio comandadas, inicialmente, por Salmanasar V, e concluída por Sargão II. Os sobreviventes foram levados ao cativeiro onde puderam formar famílias com pessoas do paganismo. A mistura étnica era tão grande que, nas veias das novas gerações, parecia correr mais o sangue do paganismo do que o israelita. A volta do exílio permitiu que muitos estrangeiros fizessem parte do novo grupamento, adotando a religião judaica alienada com o ritualismo idolátrico das suas origens.

Os judeus de Jerusalém não os reconheceram como descendentes de Israel. Eles os desprezaram e não permitiram que colaborassem com a construção do Templo. Então, os samaritanos decidiram construir para si um Templo, no monte Gerizim. O local escolhido tinha precedentes de sacralidade: fazia parte da região de Hamor, adquirida por Jacó. Foi o lugar em que Josué leu para o povo a Lei de Moisés. Flávio Josefo, historiador judeu, afirma que os samaritanos, além de construir o Templo, estabeleceram uma casta sacerdotal, que propiciou o inicio de um cerimonial festivo e inovador.

A controvérsia sobre a validade da adoração no Templo de Jerusalém ou no edificado no monte Gerizim é colocada em destaque pelas palavras da mulher samaritana, quando se referiu aos juízos enunciados pelos ancestrais dos samaritanos e dos judeus (João 4:20). Jesus, então, procurou elucidar a controvérsia que persistia sobre o lugar de adoração, afirmando que os samaritanos adoravam o que não conheciam. A religiosidade e o ritualismo dos samaritanos eram fruto de bem intencionadas prerrogativas humanas; mais nada que isso. ²   

“VEM A HORA E JÁ CHEGOU”
No Seu encontro com a samaritana, Jesus mostrara ser isento do preconceito judaico contra os samaritanos, mas manifestou o desejo de que a recíproca se tornasse verdadeira: “Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-Me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus” (Jo 4:21, 22). Ao mesmo tempo que aludia à corrupção da fé dos samaritanos pela idolatria, declarou que as grandes verdades da redenção haviam sido confiadas aos judeus, e que dentre eles devia aparecer o Messias. “Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque Ele é a nossa paz, o Qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na Sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em Si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade”(Efésios 2:13-16).

ADORANDO “EM ESPÍRITO”
O “Espírito” que Jesus mencionou é o Espírito Santo, e não o nosso próprio espírito. “Aí se declara a mesma verdade que Jesus expusera a Nicodemos, quando disse: ‘Aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus’. Não por procurar um monte santo ou um templo sagrado, são os homens postos em comunhão com o Céu. Religião não é limitar-se a formas e cerimônias exteriores. A religião que vem de Deus é a única que leva a Ele. Para O servirmos devidamente, é mister nascermos do divino Espírito. Isso purificará o coração e renovará a mente, dando-nos nova capacidade para conhecer e amar a Deus. Comunicar-nos-á voluntária obediência a todos os Seus reclamos. Esse é o verdadeiro culto. É o fruto da operação do Espírito Santo.

“É pelo Espírito que toda prece sincera é ditada, e tal prece é aceitável a Deus. Onde quer que a alma se dilate em busca de Deus, aí é manifesta a obra do Espírito, e Deus Se revelará a essa alma. A tais adoradores Ele busca. Espera recebê-los, e torná-los Seus filhos e filhas.”³

Salmo 1:3: “[Justo] Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido.” O salmista diz que os adoradores que o fazem “em Espírito” são como a árvore plantada junto a corrente de águas, porque essa corrente é “uma fonte de sustento sem limites.”

As raízes de “tais adoradores” são abastecidas, ininterruptamente, com a seiva espiritual; “ obra silenciosa do Espírito Santo que sobe pelo tronco e alcança os ramos, desabrochando em verdes folhagens e lindas flores de uma vida cristã exemplar, culminando na produção de frutos dignos da apreciação de Deus.”

ADORANDO “EM VERDADE”
É impossível separar da identidade de Jesus o conceito de verdade. “Eu sou... a verdade” (João 14:6), disse Ele. E mais: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Conhecer a verdade é conhecer o amor de Deus, que é revelado em Jesus para salvar os seres humanos, livrando-os da escravidão do pecado.

Como pecadores, somos impotentes para efetuar nossa própria salvação. As boas novas da mensagem cristã são sobre o que Deus fez por nós através de Cristo: “Aquele que não conheceu pecado, Ele O fez pecado por nós; para que, nEle, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Coríntios 5:21). Como Nicodemos, intrigados, podemos indagar: “Como poderá suceder isto?” (João 3:9). As Escrituras respondem: “Sendo justificados gratuitamente, por Sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus... O homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Romanos 3:24, 28). “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus’ (Romanos 5:1). “Que é exatamente a justificação? Podemos defini-la da seguinte maneira: justificação é um ato instantâneo e legal da parte de Deus pelo qual Ele: 1. Considera os nossos pecados perdoados e a justiça de Cristo como pertencente a nós e 2. Declara-nos justos à vista dEle.” (Pastor José Sílvio Ferreira, Cristo Nossa Salvação, p. 273).

A Bíblia, claramente, ensina que a justificação não pode ser adquirida – é um “dom gratuito” (não merecido – Romanos 3:24). “Imputar pecado é lançar o pecado na conta de alguém e tratá-lo de conformidade com isso. De semelhante forma, imputar justiça é lançar justiça na conta de alguém, e daí tratá-lo de conformidade com isso.” C. H. Hodge (Citado pelo pastor José Sílvio Ferreira, Cristo Nossa Salvação, p. 257). Portanto, não alcançamos paz com Deus por conquistas espirituais, seja de que nível for, nem por nascer de novo. A pessoa não é salva porque nasceu de novo, porém, nasce de novo porque foi salva.

Quando Jesus disse a Nicodemos, “importa nascer de novo” (João 3:3, 7), Ele prosseguiu indicando-lhe a base da aceitação do indivíduo para com Deus nos versos 14 e 15: “E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nEle crê tenha a vida eterna “. Esta é a base da aceitação de um indivíduo por Deus – a experiência de Cristo (vida e morte), não a experiência humana.

“Por ser Substituto e Garantia do pecador, Sua morte expiatória é aceita pelo Pai como satisfação dos reclamos da justiça divina contra o pecador. A perfeita obediência de Cristo é aceita e creditada ao penitente, de forma que ele, por amor de Cristo, é livremente perdoado por Deus e declarado justo. O nome do pecador é escrito no Livro da Vida (Lucas 10:30; Filipenses 4:3) e o perdão entra nos respectivos registros. O penitente é misericordiosamente aceito como filho de Deus (João 1:12;  1João 3:1-3).”4   

A FÉ QUE SALVA
Não devemos confundir grande arroubo emocional como evidência de que fomos aceitos por Deus. Um novo converso pode ou não ter grande emoção no momento de sua conversão. Deus nos chama a agir por princípio, e não por impulso. Ele nos convida a viver pela fé nEle – não por nossos sentimentos. Fé é simplesmente confiar em Deus, tomando-O em Sua palavra.

“...A fé tem um lugar exclusivo no plano da expiação. Porque fé não é fazer, mas receber. O amor dá; a fé recebe. A expressão ‘a fé salva’ poderia somente ser equivalente a ‘Deus salva’. Fé é conexão, é o instrumento de ligação entre Deus e o homem. Por outro lado, fé em si mesma não é nada. Fé é instrumental, não meritória. Somente Cristo pode salvar, e fé salvadora é fé Nele, como Salvador Divino e pessoal; fé na Sua divindade.”5  

“A salvação se consegue pela graça. E o que é a graça? Um presente, um dom imerecido que vem por meio da fé. A fé é a tubulação, e a graça é o líquido que passa pelos tubos. A tubulação foi dada por Deus e o líquido também, para que nós, que éramos um poço seco, fôssemos beneficiados por essa bondade.”6

EU O SOU, EU QUE FALO CONTIGO
É possível encontrar-se autenticamente com Deus e relacionar-se com Ele em Sua própria esfera. Essa possibilidade é oferecida agora, já não é necessária a vida sem sentido. Isto não pode, entretanto, ser encontrado pelo ser humano por intuição própria. Necessita de uma revelação direta de Deus.

Portanto, Cristo lhe confirma que esse tempo ao qual a samaritana se refere, quando vier o Messias, já chegou, porque o Messias, disse Jesus: “Eu O sou, Eu que falo contigo” (João 4:26). É de extrema importância perceber que a adoração diz respeito a Deus e não a nós. Precisamos ter certeza de que a adoração não esteja centralizada nas pessoas, na cultura nem nas necessidades pessoais, mas em Deus. Portanto, a ênfase da adoração deve estar em adorá-Lo “em espírito e em verdade.”  


Pastor Vagner Alves Ferreira
Jubilado – Associação Norte Paranaense/IASD

Referências
1. Horne P. Silva, Culto e Adoração, p. 8.
2. Ruben Aguilar, Comentário da Escola Sabatina,
III Trimestre, 2011.
3. Ellen G. White, DTN, p. 133.
4. Frank B. Holbrook, O Sacerdócio Expiatório de
JESUS CRISTO, p. 118.                                                                                                       
5. José Silvio Ferreira, Cristo Nossa Salvação, p. 198.
6. Ibid., p. 202. 

Será que os pais de uma criança permitiriam que isso acontecesse!

Um inferno de tormento eterno em chamas é a crença de milhões de cristãos.
Seria tudo isso verdade? O que a Bíblia nos ensina?

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