terça-feira, 20 de novembro de 2012

As Profecias de Jesus, a destruição do templo e o contexto histórico


"Pois sobre ti virão dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras e, por todos os lados, te apertarão o cerco; e te arrasarão e aos teus filhos dentro de ti; não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste a oportunidade da tua visitação" (Lc 19.43-44; cf. Mt 23.37-38; At 3.13-15).

Neste artigo  abordaremos o sermão profético do capitulo 24 de Mateus que também aparece em Marcos 13 e Lucas 17.20-37 acrescido às vezes de pequenos detalhes interessantes.

É importante lembrar que os Evangelhos sinópticos se completam, onde cada escritor procura transmitir a historia de seu peculiar ponto de vista e isto nos fornece mais registros para podermos analisar algumas profecias.

Estudaremos principalmente o contexto histórico dos anos de tribulação contemporâneos a destruição do segundo Templo dos judeus.

Nosso objetivo neste artigo é principalmente mostrar um panorama histórico daqueles dias lidando também com a possibilidade de partes do sermão profético de Mateus 24 ter se cumprido piamente nos acontecimentos que serão mencionados.

Vale lembrar que não somos adeptos do preterismo (corrente teológica que acredita que as profecias bíblicas sobre a Grande tribulação, Volta de Jesus, e outros grandes acontecimentos profetizados já se cumpriram no passado principalmente durante o período de destruição de Israel).

No entanto lidaremos com possibilidades, ficando a critério dos nossos leitores tirarem suas próprias conclusões. Neste artigo nosso principal foco são as informações valiosas do contexto histórico que para muitas pessoas às vezes são inacessíveis e poderão ser de grande ajuda quando se estuda as profecias bíblicas.


O Templo destruído e uma possível tribulação profética.

Quando estudamos a historia do povo israelita percebemos facilmente que existe um sentimento de orgulho em relação aos seus costumes religiosos e principalmente ao seu templo que é um notório símbolo de sua ligação com Deus.

No entanto este templo foi destruído por duas vezes em diferentes momentos da historia dos hebreus, onde guerras terríveis se desencadearam.

O primeiro templo é chamado Templo de Salomão, pois foi construído por ele, no século XI antes de Cristo, sobre um terreno comprado pelo rei Davi no monte Moriah (2Samuel 7,1-16; 1Reis 5,3-5; 8,17; 1Crônicas 17,1-14; 22,6-10)..

Esse templo foi destruído por Nabucodonosor, rei de Babilônia, em 586 antes de Cristo.

O segundo templo foi construído e terminado em 515 antes de Cristo. Ele foi reformado por Judas Macabeu em 164 a.C e depois ampliado e melhorado por Herodes o Grande.

Este segundo templo foi destruído pelos romanos no ano 70 depois de Cristo e sobre este acontecimento temos inúmeros registros bastante curiosos que poderiam perfeitamente ser o cumprimento de algumas das profecias mencionadas por Jesus em seu sermão profético em Mateus 24.

Neste sermão Jesus profetiza uma tribulação terrível e os anos contemporâneos a destruição do segundo Templo registram uma tribulação nunca antes vivida pelos israelitas, nem mesmo em seu período de exílio ou mesmo nos tempos de escravidão no Egito. 


Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda;
Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes;
E quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa;
E quem estiver no campo não volte atrás a buscar as suas vestes.
Mas ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias!
E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado;
Porque haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver.
E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias.
Mateus 24:15-22

Um possível panorama profético.

Nos versículos mencionados acima encontramos uma descrição que se encaixa perfeitamente com os acontecimentos decorridos na época em que o general Tito destruiu Jerusalém no ano 70 d.C.

Embora este trecho também possa estar se referindo a acontecimentos futuros conforme alguns teólogos presumem estar falando de um período de grande tribulação durante o reinado do Anticristo em um terceiro templo judaico. No entanto as semelhanças com um período passado podem ser igualmente apontadas.

No versículo 15 de Mateus 24 Jesus faz referência a “abominação da desolação” Essa passagem se refere a Daniel 9:27: “Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele”. Em 167 a.C., um governador grego pelo nome de Antíoco Epifânio preparou um altar a Zeus sobre o altar dos holocaustos no templo judeu em Jerusalém. Ele também sacrificou um porco no altar do templo de Jerusalém. Esse evento é conhecido como a “abominação da desolação”.

Logo, quando Jesus menciona este fato está se referindo a uma profanação ou destruição do templo judaico.

Sabemos que Tito o destruidor de Jerusalém em 70 d.C não cumpre a profecia descrita em Daniel, pois não fez aliança com ninguém e nem fez cessar sacrifícios e etc. Mas é possível que Jesus não esteja mencionando que isto seria o cumprimento da profecia de Daniel e sim usando a profecia como modelo e referência do que iria acontecer com Jerusalém no ano 70.
Embora acreditemos que a profecia de Daniel se refere mais provavelmente ao reinado do Anticristo, mesmo assim prosseguiremos analisando o contexto histórico e comparando com o sermão profético de Jesus.



Detalhes do Arco de Tito em Roma mostrando a conquista da cidade de Jerusalém e dos tesouros do Templo



Ainda em abril do ano 66 de nossa era, quando o governador romano confiscou dezessete talentos do tesouro do Templo, os nacionalistas judeus se rebelaram. Eles se apoderaram do Templo, interromperam os sacrifícios diários em honra ao imperador romano e capturaram a fortaleza de Massada. Neste período inúmeros acontecimentos terríveis são mencionados
.
Começa então dias de sofrimento para Israel e estes dias foram tão terríveis que é provável que nunca tenha ocorrido coisa semelhante e dada a sua magnitude é possível que nunca ocorra.

A guerra e a tribulação daqueles dias.

Traçaremos a seguir um paralelo das narrativas de Flávio Josefo que acompanhou e participou desta grande tribulação, com as citações de Jesus no Evangelho de Mateus capitulo 24:

Jesus: “Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda), então os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; quem estiver sobre o eirado não desça para tirar de casa alguma coisa; e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa” (Mateus 24:15-18).

Josefo: “É então um caso miserável, uma visão que até poria lágrimas em nossos olhos, como os homens agüentaram quanto ao seu alimento ... a fome foi demasiado dura para todas as outras paixões... a tal ponto que os filhos arrancavam os próprios bocados que seus pais estavam comendo de suas próprias bocas, e o que mais dava pena, assim também faziam as mães quanto a seus filhinhos... quando viam alguma casa fechada, isto era para eles sinal de que as pessoas que estavam dentro tinham conseguido alguma comida, e então eles arrombavam as portas e corriam para dentro... os velhos, que seguravam bem sua comida eram espancados, e se as mulheres escondiam o que tinham dentro de suas mãos, seu cabelo era arrancado por fazerem isso...” (Guerras dos Judeus, livro 5, capítulo 10, seção 3).

Jesus: “Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias!” (Mateus 24:19).

Josefo: “Ela então tentou a coisa mais natural, e agarrando seu filho, que era uma criança de peito, disse, ‘Oh, pobre criança! Para quem eu te preservarei nesta guerra, nesta fome e nesta rebelião? ...’ Logo que acabou de dizer isto, ela matou seu filho e, então, assou-o, e comeu metade dele, e guardou a outra metade escondida para si.” (Guerras, livro 6, capítulo 3, seção 4).

Jesus: “Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado, porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido, e nem haverá jamais” (Mateus 24:20-21).

Josefo: “Eu falarei, portanto aberta e francamente aqui de uma vez por todas e brevemente: que nenhuma outra cidade sofreu tais misérias nem nenhuma era produziu uma geração mais frutífera em perversidade do que era esta, desde o começo do mundo.” (Guerras, livro 5, capítulo 10, seção 5).

Jesus: “Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas por causa dos escolhidos tais dias serão abreviados” (Mateus 24:22).

Josefo: “Ora, o número daqueles que foram levados cativos durante toda esta guerra foi verificado ser noventa e sete mil, como foi o número daqueles que pereceram durante todo o cerco onze centenas de milhares, a maior parte dos quais era na verdade da mesma nação, porém não pertencentes à própria cidade, pois tinham vindo de todo o país para a festa dos pães asmos e foram subitamente fechados por um exército...” (Guerras, livro 6, capítulo 9, seção 3).

A guerra durante a tomada de Israel no ano 70 não foi mais uma guerra comum e sim um verdadeiro espetáculo bélico nunca antes presenciado. Acreditamos não estarmos exagerando em relação a este fato, pois o registro histórico narra este acontecimento de forma grotesca.


Túneis secretos por onde alguns judeus puderam fugir da cidade de Jerusalém

Durante o período desta batalha a fome foi tão intensa que se comia feno, palha podre, sola de sapatos e até crianças recém nascidas como já mencionamos anteriormente no texto de Flávio Josefo.

No mesmo mês de Av (agosto) em que o primeiro templo foi tomado pelos babilônicos e no mesmo dia á 656 anos depois os romanos conseguiram chegar ao complexo do Templo judaico. Este fato é tido como um sinal divino de que Deus permitiu tal destruição e tal guerra.
O ataque e Jerusalém começa de forma violenta através de um verdadeiro bombardeio de catapultas que durou dois meses até que os muros da cidade fossem rompidos.

*"Tito, entretanto, fazia as plataformas avançarem sempre mais, embora os que nelas trabalhavam fossem mui perturbados pelos judeus que defendiam as muralhas. Ele mandou então uma parte de sua cavalaria colocar-se de emboscada nos vales a fim de apanhar os que saíam para buscar alimentos, dentre os quais havia também soldados não satisfeitos com o que roubavam na cidade; mas a maior parte era do baixo povo, que o temor de deixar suas esposas e seus filhos expostos à raiva daqueles celerados impedia de fugir e a fome obrigava a sair. A necessidade e o temor do suplício os obrigavam a se defender quando eram descobertos e atacados; e como não podiam esperar misericórdia, depois de se terem defendido, não a pediam também, e eram assim crucificados a vista dos que estavam na cidade. Tito achava que havia naquilo muita crueldade, pois não se passava um dia sem que não se apanhassem pelo menos uns quinhentos e, às vezes, mais; ele não via porém possibilidade de fazer voltar, àqueles que haviam sido aprisionados; achava muita dificuldade em prendê-los, por causa de seu número e ele esperava que a vista de um espetáculo tão terrível poderia impressionar os judeus da cidade, pelo temor de serem tratados do mesmo modo, pois o ódio e a raiva de que os soldados romanos estavam possuídos, faziam sofrer àqueles míseros, antes de morrer, tudo o que se pode esperar da insolência de soldados. Não eram suficientes as cruzes, e havia já falta de lugar, para tantos instrumentos de suplício. Eles levavam para as muralhas, amarrados com cordas, os amigos daqueles que haviam fugido e aqueles dentre o povo que mais mos¬travam desejar a paz, e diziam que eles estavam nas mãos dos romanos, não como prisioneiros, mas como suplicantes. "

Ao romper os muros os soldados incendiaram vários edifícios inclusive o grande templo além de tirarem a vida de qualquer judeu que encontrassem. Nenhuma vida foi poupada. Velhos, crianças, mulheres grávidas, todos foram mortos com incrível ferocidade.

Roma costumava poupar as terras conquistadas e agir com clemência com as cidades inimigas. No entanto este não foi o caso durante a conquista de Jerusalém.



Um exemplo desta batalha é a “Casa Queimada” relíquia arqueológica encontrada dentro do atual Bairro Judeu [da Cidade Antiga] Onde estão os restos mortais de uma mulher que caiu com uma lança na mão na soleira da porta e teve sua casa completamente destruída pelas chamas. A descoberta data do ano setenta e trás em suas paredes as marcas do fogo que consumiu Jerusalém. 

Os registros históricos contam que o desfecho da batalha foi surpreendente. Os judeus que não haviam morrido de fome, ou que não tinham fugido decidiram que morreriam com o Templo. É relatado que eles resistiram até o ultimo homem, mas ao verem o Templo destruído procuraram a morte. Uns feriram suas próprias famílias e tiraram suas vidas, outros se atiravam ás chamas do Templo enquanto a maioria abraçava-se as espadas e lanças dos romanos. 

Embora eles não passassem de uns poucos, ainda assim é mencionado que não foi fácil subjugá-los. Se o Templo não tivesse sido incendiado certamente a batalha teria se estendido.

Josefo afirma em seus escritos que 1.100.000 pessoas morreram durante o cerco a Jerusalém onde a grande maioria era judia. Mais 97.000 foram capturados e tornaram-se escravos.

Tamanha foi à loucura dessa batalha que o próprio general Tito que comandou os exércitos no cerco recusou-se a aceitar as glorias da vitoria, pois segundo afirmou "não há mérito em vencer povo abandonado pelo seu próprio Deus."

Sinais estranhos ou sinais proféticos?

Outro fator interessante sobre os anos que antecederam a destruição do segundo Templo e o ano da própria destruição são os sinais estranhos que ocorreram durante aquele tempo.

Muitos defendem a tese de que tais sinais são os mencionados no sermão profético de Mateus 24, “os sinais da vinda do Filho do homem.” Todavia não cremos que estes sinais referem-se aos sinais do Arrebatamento. Mas sabemos que ocorreram e são registrados por inúmeros historiadores e que são no mínimo intrigantes.

Começando mais uma vez pelos registros de Flavio Josefo, ele nos mostra que vários sinais ocorreram na terra e também nos céus que prediziam um grande juízo sobre os israelitas.
Relataremos alguns destes sinais registrados por ele:

“Um cometa, que tinha a forma de uma espada apareceu sobre Jerusalém, durante um ano inteiro.” 

“Antes de começar a guerra, o povo reunira-se a oito de abril, para a festa da Páscoa, e pelas nove horas da noite, viu-se, durante uma meia hora, em redor do altar e do templo, uma luz tão forte que se teria pensado que era dia.“

Os ignorantes tiveram-na como um bom augúrio, mas os instruídos e sensatos conhecedores das coisas santas consideraram-na como um presságio do que depois sucedeu. Durante essa mesma festa uma vaca que era levada para ser sacrificada, deu à luz, um cordeiro no meio do Templo.

Pelas seis horas da tarde a porta do Templo que está do lado do oriente e que é de bronze e tão pesada que vinte homens mal podem empurrar, abriu-se sozinha, embora estivesse fechada com enormes fechaduras, barras de ferro e ferrolhos, que penetravam bem fundo no chão, feito de uma só pedra.

Os guardas do Templo avisaram imediatamente o magistrado do que acontecera e lhe foi bem difícil tornar a fechá-la.

Os ignorantes interpretaram-no ainda como um bom sinal, dizendo que Deus abria em seu favor suas mãos liberais, para cobri-los de toda sorte de bens. Mas, os mais sensatos julgaram o contrário, isto é, que o Templo destruir-se-ia por si mesmo e que a abertura de sua porta era presságio, o mais favorável, que os romanos pudessem desejar. Um pouco depois da festa, a vinte e sete de maio aconteceu uma coisa que eu temeria relatar, de medo que a tomassem por uma fábula, se pessoas que também viram, ainda não estivessem vivas e se as desgraças que se lhe seguiram não tivessem confirmado a sua veracidade.

“Durante essa mesma festa uma vaca que era levada para ser sacrificada, deu à luz, um cordeiro no meio do templo.” 

“Um pouco depois da festa, a vinte e sete de maio aconteceu uma coisa que eu temeria relatar, de medo que a tomassem por uma fábula, se pessoas que também a viram, ainda não estivessem vivas e se as desgraças que se lhe seguiram não tivessem confirmado a sua veracidade. Antes do nascer do sol viram-se no ar, em toda aquela região, carros cheios de homens armados, atravessar as nuvens e espalharam-se pelas cidades, como para cercá-las.”

“No dia da festa de Pentecoste, os sacrificadores estando à noite, no Templo interior, para o divino serviço, ouviram um ruído e logo em seguida uma voz que repetiu várias vezes: Saiamos daqui !”

“Quatro anos antes do começo da guerra, quando Jerusalém gozava ainda de profunda paz e de fartura, Jesus, filho de Anano, que era um simples camponês, tendo vindo à festa dos Tabernáculos, que se celebra todos os anos no Templo, em honra a Deus, exclamou: “Voz do lado do oriente, voz do lado do ocidente, voz do lado dos quatro ventos, voz contra Jerusalém e contra o Templo: voz contra todo o povo”.

Dia e noite ele corria por toda a cidade, repetindo a mesma coisa. Algumas pessoas de condição, não podendo compreender essas palavras de tão mau presságio, mandaram prendê-lo e vergastá-lo; mas ele não disse uma só palavra para se defender, nem para se queixar de tão severo castigo e repetia sempre as mesmas coisas.

Os magistrados, então, pensando, como era verdade, que naquilo havia algo divino, levaram-no a Albino, governador da Judéia.

Ele mandou açoitá-lo até verter sangue e nem assim conseguiram arrancar-lhe um único rogo, nem uma só lágrima, mas a cada golpe que se lhe dava, ele repetia com voz queixosa e dolorida: “desgraça sobre Jerusalém”.

Quando Albino lhe perguntou quem ele era, de onde era, o que o fazia falar daquela maneira, ele nada respondeu. Assim despediu-o como um louco e não o viram falar com ninguém, até que a guerra começou.

Ele repetia somente e sem cessar as mesmas palavras: “Desgraça, desgraça sobre Jerusalém”, sem injuriar nem ofender aos que o maltratavam, nem agradecer aos que lhe davam de comer

Todas as suas palavras reduziam-se a tão triste presságio e as proferia com uma voz mais forte nos dias de festas.

Assim continuou durante sete anos e cinco meses, sem interrupção alguma, sem que sua voz se enfraquecesse ou se tornasse rouca.

Quando Jerusalém foi cercada viu-se os efeitos de suas predições. Fazendo então a  volta às muralhas da cidade, ele se pôs ainda a clamar: “Desgraça, desgraça sobre a cidade, desgraça sobre o povo, desgraça sobre o Templo”.

Tendo acrescentado “desgraça sobre mim”, uma pedra atirada por uma máquina, derrubou-o por terra e ele expirou proferindo ainda as mesmas palavras. (Flavio Josefo  - A História dos Hebreus - Obra Completa –II Parte – livro sexto, capítulo 31, página 680 e 681)

Os cristãos escapam.

Muitos teólogos e historiadores se surpreendem com o fato de que somente os cristãos escaparam deste terrível acontecimento.

Mas tal proeza não seria possível se os cristãos da época não conhecessem as profecias do sermão profético de Jesus

Eusébio menciona que ao verem a “abominação da desolação” e ao perceberem a aproximação cada vez mais freqüente dos romanos e lembrando-se das palavras do Mestre Jesus “Os que estiverem na Judéia, fujam para os montes, os que estiverem no meio da cidade, saiam, e os que estiverem nos campos, não entrem nela. Pois dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas. Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias! Haverá grande aperto na terra, e ira sobre este povo (os judeus).”(Lucas 21:21-23). Os cristãos se refugiaram em Pela entre as montanhas há cerca de 30 quilômetros ao sul do Mar da Galiléia escapando assim do massacre.

Fica-nos a pergunta: Não seria esta uma prova de que algumas das profecias de Cristo se cumpriram ainda no passado?

Vemos através deste acontecimento que os cristãos primitivos estavam atentos as palavras de Jesus e que possivelmente já esperavam por tal destruição, interpretando as profecias para sua própria época. Teriam eles razão?

Os motivos da destruição de Jerusalém.

"Pois sobre ti virão dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras e, por todos os lados, te apertarão o cerco; e te arrasarão e aos teus filhos dentro de ti; não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste a oportunidade da tua visitação" (Lc 19.43-44; cf. Mt 23.37-38; At 3.13-15).

Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. (João 1:11)

"Eis que a vossa casa vos ficará deserta. Declaro-vos, pois, que, desde agora, já não me vereis, até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!" (Mt 23.38-39).

Mesmo existindo vários outros motivos para que o juízo de Deus viesse sobre a nação Judaica à rejeição do Messias por parte daquele povo foi à medida que faltava para que o cálice da justiça divina transbordasse.

Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo. Considerai isso.

E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.
Então soltou-lhes Barrabás, e, tendo mandado açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.(Mateus 27:24-26)

Realmente o sangue do Messias o filho de Deus a quem eles crucificaram caiu sobre toda aquela geração

O próprio general Tito que se tornou posteriormente imperador de Roma mencionou: 

“Lutamos com Deus do nosso lado; pois foi Deus que expulsou os judeus de seus baluartes; pois que poderiam ter feito máquinas ou mãos nuas contra muros e torres como essas?” (Josefo, “Guerras”, livro 6 cap.9).



Os Judeus não teriam perdido a batalha facilmente, pois estavam com grandes vantagens mesmo diante de todo o arsenal romano. Porém aquela era uma derrota inevitável, pois estavam lutando contra a própria vontade de Deus.

Deus puniu a Jerusalém no mesmo dia em que Nabucodonosor a tinha destruído no ano 1468 de sua fundação. No dia 8 de setembro de 70 d.C. Jerusalém foi reduzida a escombros. 

Um dos lideres da seita dos fariseus o rabino Yochanan ben Zakkai ainda no principio do conflito acreditando em um juízo divino e que a grande cidade de Jerusalém só seria conquistada por um grande soberano, rendeu-se a Vespasiano pai de Tito afirmando que ele era este soberano.

Naquele mesmo instante chegou um mensageiro vindo de Roma para comunicar que o imperador havia morrido e que Vespasiano tinha sido escolhido como seu sucessor.

Impressionado com a profecia do rabino Vespasiano lhe ofereceu sua misericórdia e permissão para que ele protegesse os rolos da Torah e também aos eruditos que os estudavam. Desta maneira a Lei foi preservada mesmo com a destruição de seu maior símbolo.

O desfecho inevitável.

O messias pregou no templo. Depois de Jesus nenhum outro messias se levantou e teve tamanha relevância. Muito menos foi crucificado ou cumpriu qualquer outra profecia.

Jesus veio para servir de sacrifício eterno sobre o pecado. Logo não havia mais necessidade de sacrifícios animais, ou templos, ou sacerdotes, pois Jesus é o eterno sumo sacerdote. Esta é mais uma grande prova de que Jesus Cristo era o messias e Israel o rejeitou.

É inevitável pensar que a destruição do Templo e de Jerusalém era a vontade de Deus. Este acontecimento serviu de punição para os judeus por terem rejeitado ao Messias e também por não terem crido em Sua profecia*. Alem do mais as últimas profecias de Cristo foram sobre este evento e se cumpriram fielmente.

* Grifos acrescentados pelo Site Bíblia e a Ciência, extraídos do livro História dos Hebreus de Flávio Josefo na página 1366.

Artigo extraído do site O Pesquisador Cristão


Profecias sobre Jesus Cristo que já se cumpriram

As profecias estão ordenadas cronologicamente e acompanhadas pelo seu cumprimento.


- Seria “semente de uma mulher”
Profecia: Gênesis 3:15
Cumprimento: Gálatas 4:4; Lucas 2:7; Apoc. 12:5; Mat. 1:18


- Seria descendente de Abraão
Profecia: Gênesis 18:18 (12:3)
Cumprimento: Atos 3:25; Mateus 1:1; Lucas 3:34; Gál. 3:16


- Seria descendente de Isaque (filho de Abraão)
Profecia: Gênesis 17:19
Cumprimento: Mateus 1:2; Lucas 3:34


- Seria descendente de Jacó (filho de Isaque)
Profecia: Números 24:17 e Gênesis 28:14
Cumprimento: Lucas 3:34; Mateus 1:2


- Descenderia da Tribo de Judá
Profecia: Gênesis 49:10
Cumprimento: Lucas 3:33; Mateus 1:2-3


- Descendente de Davi
Profecia: Jer. 23:5 e 6
Cumprimento: Mateus 22:41-46


- Seria herdeiro do trono de Davi
Profecia: Isaias 9:7 e 11:1-5; II Samuel 7:13
Cumprimento: Mateus 1:1 e 6


- Seu lugar de nascimento
Profecia: Miqueias 5:2
Cumprimento Mateus 2:1; Lucas 2:4-7


- A época de nascimento
Profecia: Daniel 9:25
Lucas: 2:1-2 e 2: 3-7


- Nascido de uma virgem
Profecia: Isaias 7:14
Cumprimento: Mateus 1:18; Lucas 1:26-35


- A matança dos meninos
Profecia: Jeremias 31:15
Cumprimento: Mateus 2:16-18


- A fuga para o Egito
Profecia: Oséias 11:1
Cumprimento: Mateus 2:14 e 15


- João Batista preparando o caminho
Profecia: Malaq. 3:1; Isa. 40:3; II Reis 1:8
Cumprimento: Mat. 3:3; Marc. 1:4 e 6


- Seu ministério na Galiléia
Profecia: Isaias 9:1 e 2
Cumprimento: Mateus 4:12-16


- Iria curar doenças, carregando Ele mesmo nossos sofrimentos
Profecia: Isaias 53:4
Cumprimento: Mat. 8:17


- Como profetaProfecia: Deuteronômios 18:15
Cumprimento: João 6:14; 1:45; Atos 3:19-26


- Como servo de DEUS
Profecia: Isaias 42:1-4
Cumprimento: Mateus 12:18-21


- Falaria por parábolas
Profecia: Salmos 78:2
Cumprimento: 13:35


- Seria sacerdote como Melquisedeque
Profecia: Salmos 110:4
Cumprimento: Habacuque 6:20; 5:5 e 6; 7:15-17


- O desprezo por parte do judeus
Profecia: Isaias 53:3
Cumprimento: João 1:11; 5:43; Lucas 4:29; 17:25; 23:18


- Algumas de suas características
Profecia: Isaias 11:2; Salmos 45:7; Isaias 11:3 e 4
Cumprimento: Lucas 2:52; 4:18


- Sua entrada triunfal em Jerusalém
Profecia: Zacarias 9:9; Isaias 62:11; Ez 44:1-2
Cumprimento: João 12:12-14; Mateus 21:1-11


- Seria traído por um amigo
Profecia: Salmos 41:9
Cumprimento: Marcos 14:10 e 43-45; Mateus 26:14-16


- Seria vendido por trinta moedas de prata
Profecia: Zacarias 11:12 e 13
Cumprimento: Mateus 26:15; 27:3-10


- O dinheiro seria devolvido para comprar um campo de um oleiro
Profecia: Zacarias 11:13
Cumprimento: Mateus 27:6 e 7; 27:3-5; 8-10


- O lugar de Judas deveria ser ocupado por outro
Profecia: Salmos 109:7 e 8
Cumprimento: Atos 1:16-20


- Testemunhas falsas o acusariam
Profecia: Salmos 27:12; 35:11
Cumprimento: Mateus 26:60 e 61


- Permaneceria em silêncio quando acusado
Profecia: Isaias 53:7; Salmos 38:13-14
Cumprimento: Mateus 26:62 e 63; 27:12-14


- Seria golpeado e cuspido
Profecia: Isaias 50:6
Cumprimento: Marcos 14:65; 15:17; João 19:1-3; 18:22


- Seria odiado sem motivo
Profecia: Salmos 69:4; 109:3-5
Cumprimento: João 15:23-25


- Sofreria em substituição a nós
Profecia: Isaias 53:4-6 e 12;
Cumprimento: Mateus 8:16 e 17; Rom. 4:25; I Col. 15:3


- Seria crucificado com pecadores
Profecia: Isaias 53:12
Cumprimento: Mateus 27:38; 15:27 e 28; Lucas 23:33


- Suas mãos e pés seriam traspassados
Profecia: Salmos 22:16; Zacarias 12:10
Cumprimento: João 20:27; 19:37; 20:25 e 26


- Seria escarnecido e insultado
Profecia: Salmos 22:7
Cumprimento: Mateus 27:30-44; Marcos 15:29-32


- Dariam a Ele fel e vinagre
Profecia: Salmos 69:21
Cumprimento: João 19:29; Mateus 27:34 e 48


- Ouviria palavras proféticas com zombaria
Profecia: Salmos 22:8
Cumprimento: Mateus 27:43


- Oraria por seus inimigos
Profecia: Salmos 109:4; Isaias 53:12
Cumprimento: Lucas 23:34


- Seu lado seria traspassado
Profecia: Zacarias 12:10
Cumprimento: João 19:34


- Os soldados lançariam sortes sobre suas roupas
Profecia: Salmos 22:18
Cumprimento: Marcos 15:24; João 19:24


- Seus ossos não seriam quebrados
Profecia: Salmos 34:20; Êxodo 12:46
Cumprimento: João 19:33


- Seria sepultado com os ricos
Profecia: Isaias 53:9
Cumprimento: Mateus 27:57-60


- Sua ressurreição
Profecia: Salmos 16:10, 110; Os 6:2; Isa. 53:8, 10; Zac. 6:12 e 13; Mateus 16:21; Atos 2: 24; 8:32 e 33
Cumprimento: Mateus 28:9; Lucas 24:36-48; At 10:38-40


- Sua ascensão
Profecia: Salmos 68:18
Cumprimento: Lucas 24:50 e 51; Atos 1:9

Sem Tabus - Deixando a Homossexualidade.

Há quem diga que é possível deixar de ser homossexual recorrendo a fé em Deus, mas como é possível? Basta orar?

A Grande Esperança 3 - Sem graça, não há esperança (Judas 4 e 5).

Sermão de segunda, 19/11 - Sem graça, não há Esperança (Judas 4 e 5) da semana A Grande Esperança com Pr. Alejandro Bullón da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Os animais puros e os impuros de levíticos 11


Foto: Os animais puros e os impuros de levíticos 11 (Hudson)

O capítulo 11 de Levíticos tem despertado o interesse de todo exegeta  do Antigo Testamento interessado nas leis e regulamentos judaicos. Mesmo os interessados na fauna do Oriente Médio, têm considerado esse capítulo de certa utilidade. Para o homem moderno, Levíticos 11 parece ser um capítulo que pertence ao mundo da superstição e do tabu, ou a um mundo primitivo da ignorância humana.
Ao estudarmos esse capítulo, notaremos imediatamente várias coisas:
1. O capítulo é formado de seis seções principais. Cada seção se inicia usando a palavra estes, esses, esta (vs. 2, 9, 13, 24, 29, 46). O conteúdo do capítulo está, em termos gerais, bem organizado.
2. Os animais estão agrupados de acordo com a área em que habitam. Dessa forma, são mencionados primeiro os animais ou criaturas que habitam sobre a terra (vs. 2-8), depois os que habitam na água (vs. 9-12), e, finalmente, as criaturas do ar, aquelas que voam (vs. 13-23).
3. A distinção entre animais limpos e imundos é feita de maneira simples: os animais limpos têm unhas fendidas e remoem; os peixes limpos possuem barbatanas e escamas; e os pássaros ou aves limpos são caracterizados por não serem aves de rapina. No caso dos insetos, os que possuem pernas para saltar podem servir de alimento (vs. 20:22).
4. O capítulo estabelece que a capacidade de contaminação dos animais impuros não se limita apenas ao ato de comer a sua carne. O indivíduo pode contaminar-se dependendo da forma que manuseia corpos mortos (v. 24). Mesmo um animal limpo que morre, torna-se um instrumento de impureza, podendo assim ser um agente contaminador, caso esse animal seja portador de alguma doença, ou até mesmo pelos microrganismos que se avolumam num corpo em putrefação (vs. 39). Com isso, podemos ver que um corpo morto é fonte de impureza.
5. A identificação de alguns animais mencionados em Levíticos 11 é desconhecida. Algumas versões bíblicas preferiram transliterar alguns termos hebraicos, em lugar de lhes adivinhar o significado (v. 22 - argol e hagabe, que provavelmente designem fases do desenvolvimento do gafanhoto ou grupos diversos de gafanhotos). Claro é que, para os leitores da Bíblia daquela época, a identificação não constituía um problema.
Estas breves observações indicam que Lev. 11 tem um caráter didático. A maneira simples e bem estruturada do capítulo tem como objetivo facilitar ao israelita o aprendizado do seu conteúdo. Nesse processo, foi muito útil seguir o princípio de distinção entre animais limpos e imundos, com a menção de exemplos específicos que ilustram o princípio exposto. Por isso é que a classificação dos animais em limpos e imundos não tem, o que se poderia chamar de, um caráter "científico", cuja compreensão está limitada ao especialista. Os critérios a serem usados para identificação do animal limpo ou imundo são de tipo pragmático, determinados, exclusivamente, por aquilo que qualquer pessoa podia observar na fauna, como por exemplo, o animal de unha fendida que rumina. A lei era estabelecida de acordo com o nível do israelita comum. Deus estava instruindo o Seu povo em geral, e não apenas um grupo privilegiado dentre o povo. 
A lei dos animais limpos e imundos é uma lei de saúde, que tem o objetivo de preservar a saúde do povo através de medidas preventivas de higiene. Deus informa Seu povo sobre aquilo que, por ser o melhor, devem comer para proteger o seu organismo. 
Comer não é, portanto, uma atividade apenas secular na vida do ser humano. Há um aspecto ético-religioso nas leis de saúde de Lev. 11. Se Deus definiu o que se deve ou não comer, isso deveria merecer nossa atenção.
Devemos mencionar, contudo, que os animais puros são relativamente puros. Quando morre, a impureza se apossa inteiramente deles (Lev. 11:39 e 40), e sua carne não pode ser comida nem tocada. Dessa forma, "os animais limpos são comparativamente confiáveis, como fonte de alimento, enquanto os imundos devem ser evitados devido à possibilidade de sua carne poder transmitir infecções".
Essa lei sobre alimentos não contaminados é, quanto se saiba, única no antigo Oriente Próximo. A submissão a essa lei contribuiria, significativamente, para distinguir os hebreus das demais nações que os rodeavam. Dessa maneira, proclamariam sua singularidade e a do seu Deus (Lev. 20:25 e 26).
A lei dos alimentos limpos e imundos é uma lei de saúde. Originalmente, a diferença entre animais limpos e imundos foi estabelecida por Deus para especificar os animais, dentre os quadrúpedes e aves, que Ele aceitaria como sacrifício sobre Seu altar. Aparentemente, o critério que Ele usou para separar os animais foi o do estado de saúde destes. Os animais cujo corpo fosse sadio, poderiam ser oferecidos a Deus em sacrifício.
Quando Deus autorizou Seu povo a comer carne, eles deveriam usar como alimento os animais que Yahweh aceita como sacrifício. A lei torna-se agora numa lei de saúde, que tem como finalidade preservar a saúde física e espiritual do povo. Essa lei indica que Yahweh Se interessa pela saúde física de Seu povo. O físico é algo que Deus deseja que seja preservado em ótimo estado. Essa lei de saúde fala do cuidado preventivo e do interesse divino por tal cuidado. O conceito holístico do homem no pensamento bíblico, determina que saúde completa é a união do bem-estar espiritual, bem-estar físico e mental. É para esse tipo de saúde que as leis sobre alimentos limpos apontam e a tornam-se relevantes para o homem moderno.
Vamos analisar como exemplo a carne de porco:
"A carne de porco, apesar de ser uma das mais comuns fontes de alimentação, é também uma das mais prejudiciais. Deus não proibiu os hebreus de comerem carne de porco apenas para mostrar Sua autoridade, mas por não ser ela apropriada à alimentação do homem" - Conselhos sobre o regime alimentar, pág. 392.
Ao estabelecer princípios dietéticos para os israelitas, a intenção de Deus era que essas regras fossem como uma fonte de perenal benefício para a humanidade. A transmissão de algumas enfermidades, segundo a comprovação de pesquisas médicas recentes, justifica plenamente a existência dessa lei antiga.
A parasitologia, no tempo atual, comprova que um protozoário ciliado - a tênia do porco - e um verme nematóide - a triquina - ocasionam importantes enfermidades que os porcos partilham com os seres humanos.
O protozoário ciliado, denominado cientificamente Balantidium coli, é extremamente comum nos suínos. Pesquisas recentes em diversos países revelam uma incidência da ordem de 21 a 100%. Esse organismo é muito menos comum no homem. A incidência geral de 1% em Porto Rico, é típica da que ocorre em muitos países. Quando se encontra no homem, pode ocasionar graves sintomas clínicos. Provas atuais apontam para o porco como a causa principal do contágio humano.
A incidência de contágio humano com o cestóideo do porco (Taenia Solium), em regra uma fração de 1%, varia ao redor do mundo. Em seu famoso relato This Wormu World ("Este Mundo Verminado"), escrito em 1947, Stoll calculou que 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo estavam contagiados por esse verme.

Graves efeitos da Triquina
O verme da Triquina (Trichinella Spiralis) restringe-se à Europa Central e às regiões temperadas da América a que se dirigiram os seus emigrantes.
Em comparação com o protozoário ciliado e a tênia do porco, a triquina ocasiona gravíssimos efeitos no corpo humano. Os vermes adultos se acham presentes no intestino delgado. Após o acasalamento, as fêmeas produzem larvas que penetram nos vasos sanguíneos e se alastram por todas as partes do corpo. Essas larvas migratórias podem invadir os músculos esqueletais, o cérebro, a medula dos ossos, a retina e os pulmões. Visto que cada fêmea pode produzir mais de 1500 larvas e como esses vermes imaturos invadem muitos órgãos do corpo, podem aparecer muito sintomas clínicos. Nas afecções graves, a morte pode ocorrer na segunda ou terceira semana, mas é mais frequente da quarta à sexta semana após o contágio. As possibilidades de restabelecimento variam de acordo com a localização e o número de larvas, a intensidade dos sintomas e a condição física do paciente.
Em geral, admite-se que a presença de vermes de triquina nos porcos constituía a base para a proibição de seu uso como alimento pelo povo judeu. No livro A History of Parasitology ("História da Parasitologia"), W.D. Foster (1965) há uma ênfase sobre esse ponto de vista: "As proibições mosaicas e muçulmanas com referência à carne de porco foram motivadas, com muito mais probabilidade, pela observação de surtos de triquinose, do que por qualquer outro reconhecimento da correlação com a infestação pela tênia. A correlação da enfermidade com o comer carne de porco estava facilmente ao alcance da compreensão dos povos primitivos. Em realidade, é surpreendente que essa correlação haja sido olvidada pelo mundo em geral, apesar de as condições terem sido invulgares, e olhando para trás podemos reconhecer epidemias que indubitavelmente foram motivadas pela triquinose."

A Triquinose ainda é frequente 
Surtos de triquinose ainda são frequentes nos Estados Unidos. Quatro dos sete membros de uma família em Willoughby, estado de Ohio, manifestaram sintomas de triquinose depois de mergulharem salsichas no óleo e comerem-nas por vários dias sem qualquer cozimento.
Uma família de 8 pessoas, em Nova Berlim - Wisconsin, contraiu uma enfermidade cujos sintomas se assemelhavam aos da gripe. Exames posteriores possibilitaram o diagnóstico de triquinose. Todos eles comeram sanduíches de "bife" hamburguês cru. Presume-se que esses "bifes" estavam contaminados com carne de porco infectada, pois os animais bovinos não possuem vermes de triquina. Aquela carne fora comprada num mercado em que a carne de porco e a de gado eram moídas no mesmo aparelho. 
Algum tempo atrás foram diagnosticados 76 casos de triquinose em Washington, Estado de Missouri. Esse surto foi atribuído à ingestão de carne de porco não elaborada devidamente para destruir as larvas infecciosas.
Cumpre notar que desde o tempo em que Deus deu aquela ordem para os israelitas, até a década atual, a Medicina não tem conseguido curar pacientes com triquinose. O tratamento consiste em aliviar os sintomas ocasionados pelos vermes, e não em destruí-los.
 Labutando no Instituto Merck para Pesquisas Terapêuticas, Rahway, Nova Jersey, em 1962, o Dr. Guilherme C. Campbell observou que o medicamento chamado thiabendazole era eficaz para matar larvas de triquina nos músculos de camundongos, ratos ou porcos infectados. Isto constituía um passo significativo. Experiências com thabendazole em seres humanos também revelam bons resultados. A despeito do êxito com aquele medicamento, a triquinose ainda é uma enfermidade a ser evitada, e a descoberta dessas substâncias não autoriza o uso da carne de porco na alimentação.
Sobre o comer carne com o sangue a Bíblia determinantemente proíbe, pois no sangue se encontram todas as impurezas e enfermidades do animal (Gênesis 9:4; Levíticos 7:26, 27).
Alguns encaram os preceitos bíblicos como uma tentativa da Divindade de reprimir predileções alimentares bem arraigadas, mas na realidade tais proibições apenas objetivam nos assegurar uma vida mais saudável. A ciência moderna continua apoiando as declarações daquele que é o Criador dos homens e dos animais.
Vamos fazer um estudo completo sobre esse assunto de acordo com estas passagens: 
Marcos 7:15-19 - Alimentos puros ou impuros?
Atos 10 - A experiência de Cornélio.
Romanos 14 - Esclarecimentos de Paulo.
Para uma boa compreensão desse assunto três princípios de interpretação devem ser relembrados:
1) A Bíblia deve ser seu próprio intérprete 
2) O contexto sempre ajuda a explicar o texto
3) Os fatos narrados devem estar em sua moldura histórica
Para chegarmos ao exato sentido do que Cristo disse: “nada há fora do homem, que entrando nele, o possa contaminar...”, e a declaração de Marcos: “e assim considerou ele puros todos os alimentos”, precisamos analisar outras passagens bíblicas que nos esclarecerão sobre o exato significado de tais afirmativas. As duas mais significativas são:
a) A experiência de Pedro em Atos 10;
b) os esclarecimentos Paulinos em Romanos 14.
Estaria Cristo com essa declaração anulando ensinamentos do Velho Testamento? A classificação dos animais em limpos e imundos agora deixaria de existir? Peçamos a Deus que nos esclareça a mente para entendermos com clareza os sábios ensinamentos de Sua Palavra.

1. A experiência de Pedro com Cornélio.
Lucas nos relata a experiência com certa pessoa de destacada posição social, da cidade de Cesaréia, chamada Cornélio. São salientados os predicados que ornavam seu caráter: piedoso e temente a Deus com toda a sua casa, dava muitas esmolas aos necessitados e continuamente orava a Deus. Apesar desses atributos, ele necessitava de orientação divina para melhor compreender o plano de Deus para sua vida. Foi essa a razão pela qual enquanto orava um anjo lhe indicou que deveria chamar a Pedro para dar-lhe uma nova orientação.
Conhecendo Deus que Pedro não estava preparado para este ministério, deu-lhe a visão do terraço, na hora sexta (para nós ao meio dia). Sendo a hora da refeição, ele estava com fome e esperava o almoço ser preparado. Foi nessa hora que ele teve uma visão: do céu aberto descia algo como um grande lençol, repleto de animais próprios e impróprios para a alimentação. Nesse instante ele ouve aquelas tradicionais palavras: “levante-te, Pedro; mata e come” (Atos 10:13). Mas ele replicou com decisão e firmeza: de modo nenhum, Senhor! Porque jamais comi coisa alguma comum e imunda (10:14). A voz treplica: “ao que Deus purificou não consideres comum” (10:15).
Esse relato sem levar em consideração o contexto, e sem a interpretação através do conjunto das escrituras, pode significar que não há alimentos imundos, já que Deus os purificou, porém todos sabemos que através da visão de Pedro, Deus queria ensiná-lo a não fazer distinção entre as pessoas.
Terminada a visão, ao Pedro estar reflexionando sobre seu exato significado, aproximam-se os mensageiros de Cornélio com o inusitado convite para que fosse a sua casa. Iluminado pelo Espírito Santo ele compreendeu o exato significado da visão.
Essa experiência de Pedro nos mostra claramente que ele teria recusado seguir aqueles “gentios”, se a visão não lhe tivesse sido dada. A visão nos mostra ainda que Deus se utiliza de processos os mais variados, para nos ensinar suas preciosas lições.
A finalidade primordial da visão foi ensinar-lhe que não deveria considerar a nenhum homem como imundo, pois todos são dignos de receber a salvação. Nada nesse relato tem a ver com a classificação bíblica de animais próprios e impróprios para nossa alimentação. (Ver Atos 11: 1-18). 

2. O Problema da Consciência de Romanos 14.
Romanos 14 aparece na Tradução Revista e Atualizada no Brasil com o título: "A Tolerância para com os Fracos na Fé". Muitos julgam encontrar em Romanos 14 uma poderosa escora para derribar a distinção bíblica entre animais limpos e imundos e a observância do sétimo dia.
 O renomado estudioso W. Rand em seu "Dicionário de La Santa Bíblia", pág. 560 afirma: "Segundo se depreende da própria epístola, o motivo que teve Paulo para escrevê-la foram as desinteligências que surgiam entre os conversos judeus e os conversos gentios, não somente em Roma, mas em todas as partes. O judeu, quanto aos seus privilégios, sentia-se superior ao gentio, o qual por sua vez, não reconhecia tal superioridade e se sentia desgostoso quando tal se lhe afirmava".
Conforme o terceiro princípio de interpretação anteriormente citado seria bom destacar que, com a expansão do Cristianismo pela Ásia Menor e Europa, o evangelho foi aceito por gentios e judeus. Os judeus, mesmo após a aceitação do Cristianismo, conservavam resquícios da tradição judaica e princípios da lei cerimonial.
Outro comentário diz: "De fato, os primeiros cristãos não foram solicitados a deixarem repentinamente de comparecer às festas judaicas anuais ou repudiarem de imediato todos os ritos cerimoniais ... o próprio Paulo, após sua conversão esteve em muitas festas, e conquanto ensinasse que a circuncisão nada era, circuncidou a Timóteo e concordou em fazer um voto de acordo com estipulações do Antigo Código".
Além da oportunidade das festas e cerimônias dos judeus, o que mais agravava este estado de coisas, era o fato de os judaizantes quererem impor aos gentios as observâncias. Os gentios não as aceitavam e com isso os judeus se irritavam, tornando o ambiente carregado e comprometedor para a causa do evangelho. Dentre estas pendências, destacava-se a carne sacrificada aos ídolos pelos pagãos. Após o oferecimento da carne a Júpiter, Mercúrio, Diana e a outros deuses mitológicos eles a colocavam com as outras carnes que vendiam. Os judaizantes eram totalmente contrários à compra de carne no açougue, pelo fato de não saberem se ela tinha ou não sido oferecida aos ídolos. Os cristãos gentios não eram tão escrupulosos e criam que o oferecimento da carne aos ídolos não a contaminava.
O SDABC (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia) tecendo considerações sobre Romanos 14:2, acentua:
"Débil na fé - isto é, aquele que tinha limitada compreensão dos princípios da justiça, ansioso por salvar-se e disposto a fazer tudo quanto cria que dele se exigia. Contudo na imaturidade de sua experiência cristã e provavelmente em decorrência de sua crença e educação anteriores, ele procurava assegurar salvação pela observância de certos preceitos e regulamentos, que na realidade não se exigiam dele. Para ele tais preceitos assumiam a maior importância. Julgava-os absolutamente necessários à salvação, e ficava escandalizado e confuso, ao ver outros cristãos ao redor, sem dúvida mais amadurecidos e experientes, que não partilhavam destes escrúpulos".
Com respeito às carnes sacrificadas aos ídolos, quem as julgasse impróprias, não as deveria comer, embora não devesse julgar aquele que assim o fizesse.
I Coríntios 8 trata do mesmo assunto, e a sua leitura nos é mais elucidativa sobre este problema. O ponto capital, tanto em Romanos 14 como em I Coríntios 8 é concluir que não havia mal nenhum em comer carne sacrificada aos ídolos, mas se isso escandalizasse os irmãos fracos era melhor evitar.
Paulo não visa com esses relatos, determinar que espécie de alimento deve ser ingerida pelos cristãos, como uma exegese errada poderia mostrar. O cerne da questão nada tem a ver com regime alimentar, como todos os comentaristas reconhecem, mas simplesmente um problema de consciência. Em outras palavras recomenda que aquele que é fraco na fé não deve ser desprezado pelos demais membros da igreja, mas sim tratado com o mesmo amor cristão.
O exegeta Charles R. Erdman em seu comentário de Romanos, pág. 153 se expressa desta maneira: "Aquele que é débil na fé, que não aprende o pleno sentido da salvação pela graça, que pensa que observar certas regras ou preceitos quanto ao alimento ou a ritos religiosos o fará mais aceitável diante de Deus, deve ser recebido na igreja, contudo, não se deve com ele discutir a respeito desses escrúpulos por ele afagados. Uma pessoa pode admitir que comer ou abster-se de certos alimentos sadios é matéria de indiferença moral; outra pode crer que agradará mais a Deus se apenas se alimentar de legumes".
Paulo orientava a igreja para o extermínio de partidos, a fim de que a igreja não se dividisse e para que os dois grupos pudessem viver num espírito de tolerância e harmonia.

Estudo do contexto de Marcos 7:15 e 19:
O evangelista começa o capítulo 7 nos informando, que um grupo de fariseus e escribas se aproximou de Cristo para o interrogarem, porque os seus discípulos não seguiam preceitos estabelecidos pela tradição humana.
O Talmude está repleto de regrinhas orientadoras de como o povo judeu devia comportar-se em todas as circunstâncias da vida.
Os discípulos e seu Mestre orientavam-se por princípios elevados, advindos da palavra de Deus, e não por regulamentos humanos, que naquele tempo eram conhecidos como "Lei Oral" e "Tradição dos Anciãos". Esse comportamento correto de Jesus, fez com que surgissem conflitos entre Ele e os judeus. Como exemplo temos esta divergência quanto a lavar as mãos, não por medidas higiênicas, mas como rito cerimonial.
Como bem nos esclarece o comentarista William Barclay em El Nuevo Testamento, Vol 3. Pág. 179: "Esta era a religião para os fariseus e escribas. Rituais, cerimônias, regras e regulamentações como estas era o que se considerava a essência do serviço de Deus. A religião ética está imersa sob uma massa de tabus, regras e regulamentações."
A resposta de Cristo é um terrível libelo aos ensinamentos dos homens: "Respondeu-lhes: bem profetizou Isaías, a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens". Marcos 7: 6-8.
A verdadeira contaminação: ao ventilar este ponto negativo, totalmente farisaico, Jesus chamou a multidão para junto de si e disse: "Ouvi-me, todos vós, e compreendei". Marcos 7:14.
Cristo lhes ensina o quê na realidade contamina o homem. Através de uma linguagem figurada procurou mostrar-lhes que o verdadeiro objetivo da religião, consistia em libertar o cristianismo do legalismo. Apresentou-lhes o fato de que o coração é fonte de toda a contaminação. "Nada há, fora do homem, que entrando nele, o possa contaminar, mas o que sai dele, isso é que contamina o homem". Marcos 7:15.
Não há nenhuma preocupação, nesse relato, em apresentar provas de que esse alimento é limpo ou impuro, mas em apresentar ao povo a necessidade de abandonar doutrinas, que são preceitos dos homens, e seguir a religião pura ensinada por Cristo.
O comentário expositivo do Evangelho Segundo Marcos de J. C. Ryle, pág. 69, consigna: "A pureza moral não depende de lavar ou deixar de lavar, de manusear ou deixar de manusear, de comer ou deixar de comer como queriam e ensinavam os escribas e fariseus".
Jesus queria adverti-los de que não haveria valor em fazerem tremendos esforços se não tivessem o verdadeiro Deus. O resultado de lavar as mãos seria inútil, como o próprio Cristo disse, se o coração estivesse inundado de lascívia, prostituição, furtos, homicídios, adultérios, avareza, malícia, dolo, inveja, soberba e loucura (Marcos 7:21-22).

Purificando todos os alimentos:
Ao Deus estabelecer o homem na Terra, indicou-lhe precisamente qual deveria ser sua alimentação. O registro divino nos ensina que o homem devia comer dos produtos do campo e das árvores, ou sejam: grãos, nozes e frutas.
Gênesis 1:29 declara: "E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento".
Após o dilúvio, pela escassez desses alimentos, permitiu-se ao homem a alimentação cárnea; porém, a Bíblia é bastante clara na distinção entre os animais próprios e impróprios para a alimentação, em conformidade com Levíticos 11. Neste capítulo notaremos uma classificação de alimentos aprovados por Deus, isto é, alimentos puros, e também uma série de alimentos considerados imundos. Essa classificação é divina, transmitida a Moisés para que, por seu intermédio, o povo de Israel a praticasse e posteriormente também todos os que pautassem a vida pelos princípios da Palavra de Deus o fizessem. Como cristãos ou israelitas modernos, cremos que esta classificação perdura, basta para isso aceitarmos o propósito divino ao fazer esta distinção e considerarmos a Bíblia como um todo inspirado por Deus.
O contexto geral do capítulo sete de Marcos nos mostra que Jesus não está interessado em falar se esta ou aquela comida é pura ou imunda, mas em ensinar ao povo judeu e a nós como igreja cristã que o essencial é aceitarmos a Bíblia e não o que dizem os homens em suas doutrinas erradas.

O SDABC (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia) corrobora as afirmações anteriores ao declarar sobre Marcos 7:15 o seguinte: "Foi sempre, e exclusivamente contra preceitos de homens (v. 7) que Jesus protestou, em aguda distinção do mandamento de Deus (v.8), como se apresenta nas Escrituras. Aplicar os versos 15-23 ao caso de alimentos puros e impuros é ignorar completamente o contexto. Tivesse Jesus nessa ocasião eliminado a distinção entre as carnes limpas e imundas e seria óbvio que Pedro não teria, posteriormente, respondido como respondeu à ideia de comer alimentos impuros".

“E assim considerou ele puros todos os alimentos”:
Esta declaração de Marcos tem sido problemática para copistas, teólogos, exegetas e comentaristas.
Alguns têm declarado que a afirmação do verso 19 em grego, não se encontrava no original de muitos manuscritos, sendo portanto um acréscimo posterior. O renomado exegeta Bruce M. Metzger, em sua autoridade inquestionável, no livro "A Textual Commentary on the Greek New Testament" pág. 95, tece considerações sobre o verso e declara: “o peso esmagador dos manuscritos nos convencem de que a afirmativa foi escrita por Marcos. Diante da dificuldade do verbo purificar, muitos copistas tentaram correções e melhorias. Metzger conclui: muitos eruditos modernos, seguindo a interpretação sugerida por Orígenes e Crisóstomo consideram o verbo “cataridzo”, ligado gramaticalmente com "leguei" do verso 18 tomando assim o comentário do evangelista com as implicações das palavras de Jesus concernentes às leis dietéticas judaicas.
Essa mesma ideia é esposada pelo livro Consultoria Doutrinária, Casa Publicadora Brasileira, págs. 130 a 132, do qual destacamos: "Nalgumas Bíblias a declaração final do versículo 19, parece fazer da instrução de Cristo, um sentido de que o processo da digestão e eliminação tem efeito do “purificar todos os alimentos”. O texto grego, porém, torna evidente que essas palavras não são de Cristo, mas de Marcos, e constituem seu comentário sobre o que Cristo queria dizer. Por conseguinte, é necessário interpretar a expressão sob o aspecto das palavras “Então lhes disse”, do versículo 18. A última frase do versículo 19 rezaria assim: “(Então lhes disse isto), purificando todos os alimentos” ou “considerando puros todos os alimentos” - a saber, sem levar em consideração se a pessoa que comia realizara ou não a ablução cerimonial preceituada. Era essa a questão em debate (verso 2).
Em segundo lugar, convém notar que a palavra grega “bromata”, traduzida por alimentos, significa simplesmente “o que se come” e inclui todas as espécies de alimentos; e jamais distingue carne dos animais de outras espécies de alimentos. Restringir as palavras “considerou puros todos os alimentos” aos alimentos cárneos e inferir que Cristo aboliu a distinção entre carnes limpas e imundas usadas como alimento (ver Levíticos 11), é desconhecer completamente o sentido do texto grego.
Percebe-se pois, que o versículo 19 não foi acrescentado, mas que a expressão final deste versículo não foi usada por Cristo, e sim, por Marcos, para indicar que a cerimônia de lavar as mãos várias vezes antes de comer - não por limpeza, mas por tradição cerimonial - nada tinha que ver com a salvação. Isso, no entanto, não quer dizer que se deva comer com as mãos sujas, ou que se possam usar todas e quaisquer carnes de animais, mesmo dos que foram proibidos em Levíticos 11.
Outra autoridade, não menos destacada, Marvin R. Vincent, em Word Studies in the New Testament, vol I., pág. 201, afirma sobre Marcos 7:19: "Cristo estava enfatizando a verdade de que toda contaminação vem de dentro. Isto era em face das distinções rabínicas entre alimentos puros e imundos. Cristo declara que a impureza levítica, como o comer sem lavar as mãos, é de pouca importância quando comparada com a impureza moral. Pedro, ainda sob a influência dos antigos conceitos, não consegue entender a declaração e pede uma explicação (Mateus 15:15), que Cristo dá nos versos 18-20. As palavras “purificando todos os alimentos”, não são de Cristo mas do evangelho explicando o significado das palavras de Cristo; a versão Revisada do Novo Testamento, portanto, traduz corretamente “isto ele disse (em itálico), tornando limpos todos os alimentos”.
Esta era a interpretação de Crisóstomo, que diz em sua homília sobre Mateus: “Porém, Marcos diz que Cristo disse estas coisas tornando puros todos os alimentos”. Canon Farrar refere-se a uma passagem citada de Gregório Taumaturgo: “E o Salvador, que purifica todos os alimentos diz” ...

Conclusão
Nada melhor do que concluir este trabalho com as oportunas palavras de J.C. Ryle, em seu Comentário Expositivo do Evangelho Segundo Marcos, ao tecer considerações sobre o capítulo sete de Marcos:
"Devemos pedir diariamente o ensino do Espírito Santo, se quisermos adiantar-nos no conhecimento das coisas divinas. Sem o Espírito Santo a inteligência mais robusta e o raciocínio mais vigoroso pouco nos farão adiantar. Na leitura da bíblia e na atenção que prestamos à pregação da Palavra, tudo depende do espírito com que lemos e ouvimos”.
Podemos então entender claramente, que a razão para Deus ter proibido certos alimentos tinha que ver exclusivamente com um princípio de saúde e não com um ritual religioso. Assim sendo, aquilo que era prejudicial ao homem nos dias de Moisés, também o era nos dias de Cristo, não fazendo sentido então, querer achar que Cristo estava abolindo um princípio de saúde.
O capítulo 11 de Levíticos tem despertado o interesse de todo exegeta do Antigo Testamento interessado nas leis e regulamentos judaicos. Mesmo os interessados na fauna do Oriente Médio, têm considerado esse capítulo de certa utilidade. Para o homem moderno, Levíticos 11 parece ser um capítulo que pertence ao mundo da superstição e do tabu, ou a um mundo primitivo da ignorância humana.
Ao estudarmos esse capítulo, notaremos imediatamente várias coisas:
1. O capítulo é formado de seis seções principais. Cada seção se inicia usando a palavra estes, esses, esta (vs. 2, 9, 13, 24, 29, 46). O conteúdo do capítulo está, em termos gerais, bem organizado.
2. Os animais estão agrupados de acordo com a área em que habitam. Dessa forma, são mencionados primeiro os animais ou criaturas que habitam sobre a terra (vs. 2-8), depois os que habitam na água (vs. 9-12), e, finalmente, as criaturas do ar, aquelas que voam (vs. 13-23).
3. A distinção entre animais limpos e imundos é feita de maneira simples: os animais limpos têm unhas fendidas e remoem; os peixes limpos possuem barbatanas e escamas; e os pássaros ou aves limpos são caracterizados por não serem aves de rapina. No caso dos insetos, os que possuem pernas para saltar podem servir de alimento (vs. 20:22).
4. O capítulo estabelece que a capacidade de contaminação dos animais impuros não se limita apenas ao ato de comer a sua carne. O indivíduo pode contaminar-se dependendo da forma que manuseia corpos mortos (v. 24). Mesmo um animal limpo que morre, torna-se um instrumento de impureza, podendo assim ser um agente contaminador, caso esse animal seja portador de alguma doença, ou até mesmo pelos microrganismos que se avolumam num corpo em putrefação (vs. 39). Com isso, podemos ver que um corpo morto é fonte de impureza.
5. A identificação de alguns animais mencionados em Levíticos 11 é desconhecida. Algumas versões bíblicas preferiram transliterar alguns termos hebraicos, em lugar de lhes adivinhar o significado (v. 22 - argol e hagabe, que provavelmente designem fases do desenvolvimento do gafanhoto ou grupos diversos de gafanhotos). Claro é que, para os leitores da Bíblia daquela época, a identificação não constituía um problema.
Estas breves observações indicam que Lev. 11 tem um caráter didático. A maneira simples e bem estruturada do capítulo tem como objetivo facilitar ao israelita o aprendizado do seu conteúdo. Nesse processo, foi muito útil seguir o princípio de distinção entre animais limpos e imundos, com a menção de exemplos específicos que ilustram o princípio exposto. Por isso é que a classificação dos animais em limpos e imundos não tem, o que se poderia chamar de, um caráter "científico", cuja compreensão está limitada ao especialista. Os critérios a serem usados para identificação do animal limpo ou imundo são de tipo pragmático, determinados, exclusivamente, por aquilo que qualquer pessoa podia observar na fauna, como por exemplo, o animal de unha fendida que rumina. A lei era estabelecida de acordo com o nível do israelita comum. Deus estava instruindo o Seu povo em geral, e não apenas um grupo privilegiado dentre o povo. 
A lei dos animais limpos e imundos é uma lei de saúde, que tem o objetivo de preservar a saúde do povo através de medidas preventivas de higiene. Deus informa Seu povo sobre aquilo que, por ser o melhor, devem comer para proteger o seu organismo. 
Comer não é, portanto, uma atividade apenas secular na vida do ser humano. Há um aspecto ético-religioso nas leis de saúde de Lev. 11. Se Deus definiu o que se deve ou não comer, isso deveria merecer nossa atenção.
Devemos mencionar, contudo, que os animais puros são relativamente puros. Quando morre, a impureza se apossa inteiramente deles (Lev. 11:39 e 40), e sua carne não pode ser comida nem tocada. Dessa forma, "os animais limpos são comparativamente confiáveis, como fonte de alimento, enquanto os imundos devem ser evitados devido à possibilidade de sua carne poder transmitir infecções".
Essa lei sobre alimentos não contaminados é, quanto se saiba, única no antigo Oriente Próximo. A submissão a essa lei contribuiria, significativamente, para distinguir os hebreus das demais nações que os rodeavam. Dessa maneira, proclamariam sua singularidade e a do seu Deus (Lev. 20:25 e 26).
A lei dos alimentos limpos e imundos é uma lei de saúde. Originalmente, a diferença entre animais limpos e imundos foi estabelecida por Deus para especificar os animais, dentre os quadrúpedes e aves, que Ele aceitaria como sacrifício sobre Seu altar. Aparentemente, o critério que Ele usou para separar os animais foi o do estado de saúde destes. Os animais cujo corpo fosse sadio, poderiam ser oferecidos a Deus em sacrifício.
Quando Deus autorizou Seu povo a comer carne, eles deveriam usar como alimento os animais que Yahweh aceita como sacrifício. A lei torna-se agora numa lei de saúde, que tem como finalidade preservar a saúde física e espiritual do povo. Essa lei indica que Yahweh Se interessa pela saúde física de Seu povo. O físico é algo que Deus deseja que seja preservado em ótimo estado. Essa lei de saúde fala do cuidado preventivo e do interesse divino por tal cuidado. O conceito holístico do homem no pensamento bíblico, determina que saúde completa é a união do bem-estar espiritual, bem-estar físico e mental. É para esse tipo de saúde que as leis sobre alimentos limpos apontam e a tornam-se relevantes para o homem moderno.
Vamos analisar como exemplo a carne de porco:
"A carne de porco, apesar de ser uma das mais comuns fontes de alimentação, é também uma das mais prejudiciais. Deus não proibiu os hebreus de comerem carne de porco apenas para mostrar Sua autoridade, mas por não ser ela apropriada à alimentação do homem" - Conselhos sobre o regime alimentar, pág. 392.

Ao estabelecer princípios dietéticos para os israelitas, a intenção de Deus era que essas regras fossem como uma fonte de perenal benefício para a humanidade. A transmissão de algumas enfermidades, segundo a comprovação de pesquisas médicas recentes, justifica plenamente a existência dessa lei antiga.
A parasitologia, no tempo atual, comprova que um protozoário ciliado - a tênia do porco - e um verme nematóide - a triquina - ocasionam importantes enfermidades que os porcos partilham com os seres humanos.
O protozoário ciliado, denominado cientificamente Balantidium coli, é extremamente comum nos suínos. Pesquisas recentes em diversos países revelam uma incidência da ordem de 21 a 100%. Esse organismo é muito menos comum no homem. A incidência geral de 1% em Porto Rico, é típica da que ocorre em muitos países. Quando se encontra no homem, pode ocasionar graves sintomas clínicos. Provas atuais apontam para o porco como a causa principal do contágio humano.
A incidência de contágio humano com o cestóideo do porco (Taenia Solium), em regra uma fração de 1%, varia ao redor do mundo. Em seu famoso relato This Wormu World ("Este Mundo Verminado"), escrito em 1947, Stoll calculou que 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo estavam contagiados por esse verme.

Graves efeitos da Triquina
O verme da Triquina (Trichinella Spiralis) restringe-se à Europa Central e às regiões temperadas da América a que se dirigiram os seus emigrantes.
Em comparação com o protozoário ciliado e a tênia do porco, a triquina ocasiona gravíssimos efeitos no corpo humano. Os vermes adultos se acham presentes no intestino delgado. Após o acasalamento, as fêmeas produzem larvas que penetram nos vasos sanguíneos e se alastram por todas as partes do corpo. Essas larvas migratórias podem invadir os músculos esqueletais, o cérebro, a medula dos ossos, a retina e os pulmões. Visto que cada fêmea pode produzir mais de 1500 larvas e como esses vermes imaturos invadem muitos órgãos do corpo, podem aparecer muito sintomas clínicos. Nas afecções graves, a morte pode ocorrer na segunda ou terceira semana, mas é mais frequente da quarta à sexta semana após o contágio. As possibilidades de restabelecimento variam de acordo com a localização e o número de larvas, a intensidade dos sintomas e a condição física do paciente.
Em geral, admite-se que a presença de vermes de triquina nos porcos constituía a base para a proibição de seu uso como alimento pelo povo judeu. No livro A History of Parasitology ("História da Parasitologia"), W.D. Foster (1965) há uma ênfase sobre esse ponto de vista: "As proibições mosaicas e muçulmanas com referência à carne de porco foram motivadas, com muito mais probabilidade, pela observação de surtos de triquinose, do que por qualquer outro reconhecimento da correlação com a infestação pela tênia. A correlação da enfermidade com o comer carne de porco estava facilmente ao alcance da compreensão dos povos primitivos. Em realidade, é surpreendente que essa correlação haja sido olvidada pelo mundo em geral, apesar de as condições terem sido invulgares, e olhando para trás podemos reconhecer epidemias que indubitavelmente foram motivadas pela triquinose."

A Triquinose ainda é frequente 
Surtos de triquinose ainda são frequentes nos Estados Unidos. Quatro dos sete membros de uma família em Willoughby, estado de Ohio, manifestaram sintomas de triquinose depois de mergulharem salsichas no óleo e comerem-nas por vários dias sem qualquer cozimento.
Uma família de 8 pessoas, em Nova Berlim - Wisconsin, contraiu uma enfermidade cujos sintomas se assemelhavam aos da gripe. Exames posteriores possibilitaram o diagnóstico de triquinose. Todos eles comeram sanduíches de "bife" hamburguês cru. Presume-se que esses "bifes" estavam contaminados com carne de porco infectada, pois os animais bovinos não possuem vermes de triquina. Aquela carne fora comprada num mercado em que a carne de porco e a de gado eram moídas no mesmo aparelho. 
Algum tempo atrás foram diagnosticados 76 casos de triquinose em Washington, Estado de Missouri. Esse surto foi atribuído à ingestão de carne de porco não elaborada devidamente para destruir as larvas infecciosas.
Cumpre notar que desde o tempo em que Deus deu aquela ordem para os israelitas, até a década atual, a Medicina não tem conseguido curar pacientes com triquinose. O tratamento consiste em aliviar os sintomas ocasionados pelos vermes, e não em destruí-los.
Labutando no Instituto Merck para Pesquisas Terapêuticas, Rahway, Nova Jersey, em 1962, o Dr. Guilherme C. Campbell observou que o medicamento chamado thiabendazole era eficaz para matar larvas de triquina nos músculos de camundongos, ratos ou porcos infectados. Isto constituía um passo significativo. Experiências com thabendazole em seres humanos também revelam bons resultados. A despeito do êxito com aquele medicamento, a triquinose ainda é uma enfermidade a ser evitada, e a descoberta dessas substâncias não autoriza o uso da carne de porco na alimentação.
Sobre o comer carne com o sangue a Bíblia determinantemente proíbe, pois no sangue se encontram todas as impurezas e enfermidades do animal (Gênesis 9:4; Levíticos 7:26, 27).
Alguns encaram os preceitos bíblicos como uma tentativa da Divindade de reprimir predileções alimentares bem arraigadas, mas na realidade tais proibições apenas objetivam nos assegurar uma vida mais saudável. A ciência moderna continua apoiando as declarações daquele que é o Criador dos homens e dos animais.
Vamos fazer um estudo completo sobre esse assunto de acordo com estas passagens: 
Marcos 7:15-19 - Alimentos puros ou impuros?
Atos 10 - A experiência de Cornélio.
Romanos 14 - Esclarecimentos de Paulo.
Para uma boa compreensão desse assunto três princípios de interpretação devem ser relembrados:
1) A Bíblia deve ser seu próprio intérprete
2) O contexto sempre ajuda a explicar o texto
3) Os fatos narrados devem estar em sua moldura histórica
Para chegarmos ao exato sentido do que Cristo disse: “nada há fora do homem, que entrando nele, o possa contaminar...”, e a declaração de Marcos: “e assim considerou ele puros todos os alimentos”, precisamos analisar outras passagens bíblicas que nos esclarecerão sobre o exato significado de tais afirmativas. As duas mais significativas são:
a) A experiência de Pedro em Atos 10;
b) os esclarecimentos Paulinos em Romanos 14.
Estaria Cristo com essa declaração anulando ensinamentos do Velho Testamento? A classificação dos animais em limpos e imundos agora deixaria de existir? Peçamos a Deus que nos esclareça a mente para entendermos com clareza os sábios ensinamentos de Sua Palavra.

1. A experiência de Pedro com Cornélio.
Lucas nos relata a experiência com certa pessoa de destacada posição social, da cidade de Cesaréia, chamada Cornélio. São salientados os predicados que ornavam seu caráter: piedoso e temente a Deus com toda a sua casa, dava muitas esmolas aos necessitados e continuamente orava a Deus. Apesar desses atributos, ele necessitava de orientação divina para melhor compreender o plano de Deus para sua vida. Foi essa a razão pela qual enquanto orava um anjo lhe indicou que deveria chamar a Pedro para dar-lhe uma nova orientação.
Conhecendo Deus que Pedro não estava preparado para este ministério, deu-lhe a visão do terraço, na hora sexta (para nós ao meio dia). Sendo a hora da refeição, ele estava com fome e esperava o almoço ser preparado. Foi nessa hora que ele teve uma visão: do céu aberto descia algo como um grande lençol, repleto de animais próprios e impróprios para a alimentação. Nesse instante ele ouve aquelas tradicionais palavras: “levante-te, Pedro; mata e come” (Atos 10:13). Mas ele replicou com decisão e firmeza: de modo nenhum, Senhor! Porque jamais comi coisa alguma comum e imunda (10:14). A voz treplica: “ao que Deus purificou não consideres comum” (10:15).
Esse relato sem levar em consideração o contexto, e sem a interpretação através do conjunto das escrituras, pode significar que não há alimentos imundos, já que Deus os purificou, porém todos sabemos que através da visão de Pedro, Deus queria ensiná-lo a não fazer distinção entre as pessoas.
Terminada a visão, ao Pedro estar reflexionando sobre seu exato significado, aproximam-se os mensageiros de Cornélio com o inusitado convite para que fosse a sua casa. Iluminado pelo Espírito Santo ele compreendeu o exato significado da visão.
Essa experiência de Pedro nos mostra claramente que ele teria recusado seguir aqueles “gentios”, se a visão não lhe tivesse sido dada. A visão nos mostra ainda que Deus se utiliza de processos os mais variados, para nos ensinar suas preciosas lições.
A finalidade primordial da visão foi ensinar-lhe que não deveria considerar a nenhum homem como imundo, pois todos são dignos de receber a salvação. Nada nesse relato tem a ver com a classificação bíblica de animais próprios e impróprios para nossa alimentação. (Ver Atos 11: 1-18). 

2. O Problema da Consciência de Romanos 14.
Romanos 14 aparece na Tradução Revista e Atualizada no Brasil com o título: "A Tolerância para com os Fracos na Fé". Muitos julgam encontrar em Romanos 14 uma poderosa escora para derribar a distinção bíblica entre animais limpos e imundos e a observância do sétimo dia.
O renomado estudioso W. Rand em seu "Dicionário de La Santa Bíblia", pág. 560 afirma: "Segundo se depreende da própria epístola, o motivo que teve Paulo para escrevê-la foram as desinteligências que surgiam entre os conversos judeus e os conversos gentios, não somente em Roma, mas em todas as partes. O judeu, quanto aos seus privilégios, sentia-se superior ao gentio, o qual por sua vez, não reconhecia tal superioridade e se sentia desgostoso quando tal se lhe afirmava".
Conforme o terceiro princípio de interpretação anteriormente citado seria bom destacar que, com a expansão do Cristianismo pela Ásia Menor e Europa, o evangelho foi aceito por gentios e judeus. Os judeus, mesmo após a aceitação do Cristianismo, conservavam resquícios da tradição judaica e princípios da lei cerimonial.
Outro comentário diz: "De fato, os primeiros cristãos não foram solicitados a deixarem repentinamente de comparecer às festas judaicas anuais ou repudiarem de imediato todos os ritos cerimoniais ... o próprio Paulo, após sua conversão esteve em muitas festas, e conquanto ensinasse que a circuncisão nada era, circuncidou a Timóteo e concordou em fazer um voto de acordo com estipulações do Antigo Código".
Além da oportunidade das festas e cerimônias dos judeus, o que mais agravava este estado de coisas, era o fato de os judaizantes quererem impor aos gentios as observâncias. Os gentios não as aceitavam e com isso os judeus se irritavam, tornando o ambiente carregado e comprometedor para a causa do evangelho. Dentre estas pendências, destacava-se a carne sacrificada aos ídolos pelos pagãos. Após o oferecimento da carne a Júpiter, Mercúrio, Diana e a outros deuses mitológicos eles a colocavam com as outras carnes que vendiam. Os judaizantes eram totalmente contrários à compra de carne no açougue, pelo fato de não saberem se ela tinha ou não sido oferecida aos ídolos. Os cristãos gentios não eram tão escrupulosos e criam que o oferecimento da carne aos ídolos não a contaminava.
O SDABC (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia) tecendo considerações sobre Romanos 14:2, acentua:
"Débil na fé - isto é, aquele que tinha limitada compreensão dos princípios da justiça, ansioso por salvar-se e disposto a fazer tudo quanto cria que dele se exigia. Contudo na imaturidade de sua experiência cristã e provavelmente em decorrência de sua crença e educação anteriores, ele procurava assegurar salvação pela observância de certos preceitos e regulamentos, que na realidade não se exigiam dele. Para ele tais preceitos assumiam a maior importância. Julgava-os absolutamente necessários à salvação, e ficava escandalizado e confuso, ao ver outros cristãos ao redor, sem dúvida mais amadurecidos e experientes, que não partilhavam destes escrúpulos".
Com respeito às carnes sacrificadas aos ídolos, quem as julgasse impróprias, não as deveria comer, embora não devesse julgar aquele que assim o fizesse.
I Coríntios 8 trata do mesmo assunto, e a sua leitura nos é mais elucidativa sobre este problema. O ponto capital, tanto em Romanos 14 como em I Coríntios 8 é concluir que não havia mal nenhum em comer carne sacrificada aos ídolos, mas se isso escandalizasse os irmãos fracos era melhor evitar.
Paulo não visa com esses relatos, determinar que espécie de alimento deve ser ingerida pelos cristãos, como uma exegese errada poderia mostrar. O cerne da questão nada tem a ver com regime alimentar, como todos os comentaristas reconhecem, mas simplesmente um problema de consciência. Em outras palavras recomenda que aquele que é fraco na fé não deve ser desprezado pelos demais membros da igreja, mas sim tratado com o mesmo amor cristão.
O exegeta Charles R. Erdman em seu comentário de Romanos, pág. 153 se expressa desta maneira: "Aquele que é débil na fé, que não aprende o pleno sentido da salvação pela graça, que pensa que observar certas regras ou preceitos quanto ao alimento ou a ritos religiosos o fará mais aceitável diante de Deus, deve ser recebido na igreja, contudo, não se deve com ele discutir a respeito desses escrúpulos por ele afagados. Uma pessoa pode admitir que comer ou abster-se de certos alimentos sadios é matéria de indiferença moral; outra pode crer que agradará mais a Deus se apenas se alimentar de legumes".
Paulo orientava a igreja para o extermínio de partidos, a fim de que a igreja não se dividisse e para que os dois grupos pudessem viver num espírito de tolerância e harmonia.

Estudo do contexto de Marcos 7:15 e 19:
O evangelista começa o capítulo 7 nos informando, que um grupo de fariseus e escribas se aproximou de Cristo para o interrogarem, porque os seus discípulos não seguiam preceitos estabelecidos pela tradição humana.
O Talmude está repleto de regrinhas orientadoras de como o povo judeu devia comportar-se em todas as circunstâncias da vida.
Os discípulos e seu Mestre orientavam-se por princípios elevados, advindos da palavra de Deus, e não por regulamentos humanos, que naquele tempo eram conhecidos como "Lei Oral" e "Tradição dos Anciãos". Esse comportamento correto de Jesus, fez com que surgissem conflitos entre Ele e os judeus. Como exemplo temos esta divergência quanto a lavar as mãos, não por medidas higiênicas, mas como rito cerimonial.
Como bem nos esclarece o comentarista William Barclay em El Nuevo Testamento, Vol 3. Pág. 179: "Esta era a religião para os fariseus e escribas. Rituais, cerimônias, regras e regulamentações como estas era o que se considerava a essência do serviço de Deus. A religião ética está imersa sob uma massa de tabus, regras e regulamentações."
A resposta de Cristo é um terrível libelo aos ensinamentos dos homens: "Respondeu-lhes: bem profetizou Isaías, a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens". Marcos 7: 6-8.
A verdadeira contaminação: ao ventilar este ponto negativo, totalmente farisaico, Jesus chamou a multidão para junto de si e disse: "Ouvi-me, todos vós, e compreendei". Marcos 7:14.
Cristo lhes ensina o quê na realidade contamina o homem. Através de uma linguagem figurada procurou mostrar-lhes que o verdadeiro objetivo da religião, consistia em libertar o cristianismo do legalismo. Apresentou-lhes o fato de que o coração é fonte de toda a contaminação. "Nada há, fora do homem, que entrando nele, o possa contaminar, mas o que sai dele, isso é que contamina o homem". Marcos 7:15.
Não há nenhuma preocupação, nesse relato, em apresentar provas de que esse alimento é limpo ou impuro, mas em apresentar ao povo a necessidade de abandonar doutrinas, que são preceitos dos homens, e seguir a religião pura ensinada por Cristo.
O comentário expositivo do Evangelho Segundo Marcos de J. C. Ryle, pág. 69, consigna: "A pureza moral não depende de lavar ou deixar de lavar, de manusear ou deixar de manusear, de comer ou deixar de comer como queriam e ensinavam os escribas e fariseus".
Jesus queria adverti-los de que não haveria valor em fazerem tremendos esforços se não tivessem o verdadeiro Deus. O resultado de lavar as mãos seria inútil, como o próprio Cristo disse, se o coração estivesse inundado de lascívia, prostituição, furtos, homicídios, adultérios, avareza, malícia, dolo, inveja, soberba e loucura (Marcos 7:21-22).

Purificando todos os alimentos:
Ao Deus estabelecer o homem na Terra, indicou-lhe precisamente qual deveria ser sua alimentação. O registro divino nos ensina que o homem devia comer dos produtos do campo e das árvores, ou sejam: grãos, nozes e frutas.
Gênesis 1:29 declara: "E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento".
Após o dilúvio, pela escassez desses alimentos, permitiu-se ao homem a alimentação cárnea; porém, a Bíblia é bastante clara na distinção entre os animais próprios e impróprios para a alimentação, em conformidade com Levíticos 11. Neste capítulo notaremos uma classificação de alimentos aprovados por Deus, isto é, alimentos puros, e também uma série de alimentos considerados imundos. Essa classificação é divina, transmitida a Moisés para que, por seu intermédio, o povo de Israel a praticasse e posteriormente também todos os que pautassem a vida pelos princípios da Palavra de Deus o fizessem. Como cristãos ou israelitas modernos, cremos que esta classificação perdura, basta para isso aceitarmos o propósito divino ao fazer esta distinção e considerarmos a Bíblia como um todo inspirado por Deus.
O contexto geral do capítulo sete de Marcos nos mostra que Jesus não está interessado em falar se esta ou aquela comida é pura ou imunda, mas em ensinar ao povo judeu e a nós como igreja cristã que o essencial é aceitarmos a Bíblia e não o que dizem os homens em suas doutrinas erradas.

O SDABC (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia) corrobora as afirmações anteriores ao declarar sobre Marcos 7:15 o seguinte: "Foi sempre, e exclusivamente contra preceitos de homens (v. 7) que Jesus protestou, em aguda distinção do mandamento de Deus (v.8), como se apresenta nas Escrituras. Aplicar os versos 15-23 ao caso de alimentos puros e impuros é ignorar completamente o contexto. Tivesse Jesus nessa ocasião eliminado a distinção entre as carnes limpas e imundas e seria óbvio que Pedro não teria, posteriormente, respondido como respondeu à ideia de comer alimentos impuros".

“E assim considerou ele puros todos os alimentos”:
Esta declaração de Marcos tem sido problemática para copistas, teólogos, exegetas e comentaristas.
Alguns têm declarado que a afirmação do verso 19 em grego, não se encontrava no original de muitos manuscritos, sendo portanto um acréscimo posterior. O renomado exegeta Bruce M. Metzger, em sua autoridade inquestionável, no livro "A Textual Commentary on the Greek New Testament" pág. 95, tece considerações sobre o verso e declara: “o peso esmagador dos manuscritos nos convencem de que a afirmativa foi escrita por Marcos. Diante da dificuldade do verbo purificar, muitos copistas tentaram correções e melhorias. Metzger conclui: muitos eruditos modernos, seguindo a interpretação sugerida por Orígenes e Crisóstomo consideram o verbo “cataridzo”, ligado gramaticalmente com "leguei" do verso 18 tomando assim o comentário do evangelista com as implicações das palavras de Jesus concernentes às leis dietéticas judaicas.
Essa mesma ideia é esposada pelo livro Consultoria Doutrinária, Casa Publicadora Brasileira, págs. 130 a 132, do qual destacamos: "Nalgumas Bíblias a declaração final do versículo 19, parece fazer da instrução de Cristo, um sentido de que o processo da digestão e eliminação tem efeito do “purificar todos os alimentos”. O texto grego, porém, torna evidente que essas palavras não são de Cristo, mas de Marcos, e constituem seu comentário sobre o que Cristo queria dizer. Por conseguinte, é necessário interpretar a expressão sob o aspecto das palavras “Então lhes disse”, do versículo 18. A última frase do versículo 19 rezaria assim: “(Então lhes disse isto), purificando todos os alimentos” ou “considerando puros todos os alimentos” - a saber, sem levar em consideração se a pessoa que comia realizara ou não a ablução cerimonial preceituada. Era essa a questão em debate (verso 2).
Em segundo lugar, convém notar que a palavra grega “bromata”, traduzida por alimentos, significa simplesmente “o que se come” e inclui todas as espécies de alimentos; e jamais distingue carne dos animais de outras espécies de alimentos. Restringir as palavras “considerou puros todos os alimentos” aos alimentos cárneos e inferir que Cristo aboliu a distinção entre carnes limpas e imundas usadas como alimento (ver Levíticos 11), é desconhecer completamente o sentido do texto grego.
Percebe-se pois, que o versículo 19 não foi acrescentado, mas que a expressão final deste versículo não foi usada por Cristo, e sim, por Marcos, para indicar que a cerimônia de lavar as mãos várias vezes antes de comer - não por limpeza, mas por tradição cerimonial - nada tinha que ver com a salvação. Isso, no entanto, não quer dizer que se deva comer com as mãos sujas, ou que se possam usar todas e quaisquer carnes de animais, mesmo dos que foram proibidos em Levíticos 11.
Outra autoridade, não menos destacada, Marvin R. Vincent, em Word Studies in the New Testament, vol I., pág. 201, afirma sobre Marcos 7:19: "Cristo estava enfatizando a verdade de que toda contaminação vem de dentro. Isto era em face das distinções rabínicas entre alimentos puros e imundos. Cristo declara que a impureza levítica, como o comer sem lavar as mãos, é de pouca importância quando comparada com a impureza moral. Pedro, ainda sob a influência dos antigos conceitos, não consegue entender a declaração e pede uma explicação (Mateus 15:15), que Cristo dá nos versos 18-20. As palavras “purificando todos os alimentos”, não são de Cristo mas do evangelho explicando o significado das palavras de Cristo; a versão Revisada do Novo Testamento, portanto, traduz corretamente “isto ele disse (em itálico), tornando limpos todos os alimentos”.
Esta era a interpretação de Crisóstomo, que diz em sua homília sobre Mateus: “Porém, Marcos diz que Cristo disse estas coisas tornando puros todos os alimentos”. Canon Farrar refere-se a uma passagem citada de Gregório Taumaturgo: “E o Salvador, que purifica todos os alimentos diz” ...

Conclusão
Nada melhor do que concluir este trabalho com as oportunas palavras de J.C. Ryle, em seu Comentário Expositivo do Evangelho Segundo Marcos, ao tecer considerações sobre o capítulo sete de Marcos:
"Devemos pedir diariamente o ensino do Espírito Santo, se quisermos adiantar-nos no conhecimento das coisas divinas. Sem o Espírito Santo a inteligência mais robusta e o raciocínio mais vigoroso pouco nos farão adiantar. Na leitura da bíblia e na atenção que prestamos à pregação da Palavra, tudo depende do espírito com que lemos e ouvimos”.
Podemos então entender claramente, que a razão para Deus ter proibido certos alimentos tinha que ver exclusivamente com um princípio de saúde e não com um ritual religioso. Assim sendo, aquilo que era prejudicial ao homem nos dias de Moisés, também o era nos dias de Cristo, não fazendo sentido então, querer achar que Cristo estava abolindo um princípio de saúde.

por Hudson Cavalcanti, colunista do Site Bíblia e a Ciência

Grande Esperança 2 - Defensores da Esperança (Judas 3).

Sermão de domingo, 18/11 - Defensores da Esperança (Judas 3) da semana A Grande Esperança com Pr. Alejandro Bullón da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

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Apresentação - Rodrigo Silva
Direção e Produção - Allana Ferreira
Fotografia - Carlos Angella e Maurício Lima
Edição e Arte - Tati Nunes
Trilha Chiquinho Gonzaga

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