“Mas o espírito expressamente diz que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento, e ordenam a abstinência de alimentos que deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; porque tudo o que deus criou é bom, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças; porque pela palavra de deus, e pela oração, é santificada”.
É muito comum algumas pessoas se apegarem a esta passagem da Bíblia para justificarem o fato de que, segundo elas, a "nova aliança" (ou "dispensação" para os mais "chiques") não exige mais a obediências aos princípios alimentares do Antigo Testamento (cf. Lev. 11).
Mas... é isso mesmo?
Alimentos declarados como imundos na Bíblia são purificados pela oração?
Há dois problemas com esse tipo de interpretação:
1. A contradição com outras passagens da Bíblia:
- Isa. 66:17 - “os... que comem carne de porco, coisas abomináveis e rato serão consumidos, diz o Senhor”.
- Salmo 89:34 - “...não alterarei o que saiu dos Meus lábios”.
- 2Cor. 6:17 - “...não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei” (Isa. 52:11; Deut. 14:8).
- Apoc. 18:2 - “...babilônia, ...esconderijo de toda ave imunda e detestável”.
Analisando o texto
“Mas o espírito expressamente diz que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento, e ordenam a abstinência de alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; porque tudo o que Deus criou é bom, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças; porque pela palavra de deus, e pela oração, é santificada” (grifos acrescentados).
1. Apostasia da fé, doutrina de demônios, mentira - podemos dizer que as orientações bíblicas sobre alimentação são de natureza “apóstata”, “demoníaca” ou “mentirosa”? É claro que não!
- Em Lev.11 é onde estão as leis sobre animais limpos e imundos, e o texto começa com a expressão “disse o Senhor a Moisés...”.
3. Quais os alimentos que Deus criou para os fiéis que conhecem a verdade?
- Gên. 6:9 diz que Noé era justo, íntegro e andava com Deus. Noé era um fiel e foi o primeiro (mencionado na Bíblia) a conhecer a verdade sobre os animais limpos e os imundos (7:1-2).
A Bíblia faz separação entre os alimentos dos fiéis e dos infiéis
- Deut. 14:21: “não comereis nenhum animal que morreu por si. Podereis dá-lo ao estrangeiro [infiel], que mora nas vossas cidades, ou vendê-lo ao estranho. Mas vós sois povo santo [fiel] ao Senhor vosso Deus”.
4. Tudo o que Deus criou é bom? Sim, mas nem tudo se come!
- Prov. 16:4: “O Senhor fez todas as coisas para determinados fins e até o perverso, para o dia da calamidade”.
- Os vegetais - para alimento, antes do dilúvio (Gên. 1:29).
- Certos animais - para alimento após o dilúvio (Gên. 9:3).
- Outros animais - para ornamentação, cargas, limpeza, equilíbrio ecológico, etc. (mas não para alimentação).
Em 1Tess. 5:18 somos admoestados a dar graças a Deus por tudo.
Algumas mudanças operadas pela oração:
- Êx. 15:23-25 - águas amargas ficaram doces.
- Êx. 17 - da rocha jorrou água.
- 2Reis 2:19-22; 4:38-41 - o veneno da sopa e das águas foi neutralizado.
- Marcos 16:18; Atos 28:3-6 - o veneno de serpentes e em bebidas perdeu o efeito.
Na visão simbólica de Pedro em Atos 10 (também muito usado pelos que gostam de comer todo tipo de alimentos imundos), não são os animais, mas os gentios (que eram considerados como animais pelos judeus) que são purificados (v. 28).
A que Paulo, então, se refere em 1Tim. 4:1-5?
Houve uma heresia grega que floresceu no seio do cristianismo primitivo, chamada de gnosticismo, que entre outras coisas afirmava ser a matéria (corpo) algo mau.
Sendo assim, alguns renegavam a tudo o que fosse material, como certos alimentos (para eles eram criados por uma divindade inferior), e o casamento. Simpatizantes destes pensamentos gnósticos chegaram a afirmar até que Jesus não tinha um corpo, apenas “parecia ter”, caso contrário Ele não poderia ser considerado um perfeito Messias.
Outros se entregavam às mais degradantes práticas, por crerem que não importava o que fizessem com o corpo, pois isso não afetaria seu espírito.
Portanto, o que Paulo estava atacando era este movimento filosófico que tentava impor regras de vida para as pessoas, não como tentativa de adoração ao Senhor, mas sim como meio de “maltratar” e subjugar a carne – o corpo.
Nada tinha que ver com os alimentos imundos descritos em todo o restante das Escrituras.
Por mais que os descrentes (e até alguns "crentes") desejem justificar seus maus hábitos alimentares, jamais poderão usar a Bíblia para isso, pois ela sempre defendeu o uso de uma alimentação saudável, equilibrada e livre de artigos condenados pelas leis divinas.
OBS.: Fiz neste texto uma adaptação de um material elaborado a algum tempo, porém não sei quem foi o autor original, por isso não citei as fontes.
Fonte: Gilson Medeiros
0 comentários:
Postar um comentário