O Anablepidae é conhecido como o peixe de quatro olhos, que nada ao longo da superfície com os olhos aparecendo tanto dentro como fora da água. Uma nova pesquisa desvendou como esse peixe enxerga os dois ambientes distintos ao mesmo tempo.
As descobertas ajudaram a explicar como os sistemas visuais dos animais, incluindo os humanos, evoluem em resposta a ambientes de luzes diferentes.
No caso do Anablepidae, o que parecem quatro olhos são, na verdade, dois olhos grandes. O nome de “quatro olhos” deriva do fato deles ficarem divididos na superfície da água, metade acima e metade dentro dela.
O estudo que analisou os olhos do peixe se concentrou nas proteínas sensíveis à luz chamadas opsinas – os pigmentos visuais. Cada uma delas é mais sensível a um determinado comprimento de onda de luz. Seres humanos, por exemplo, tem opsinas sensíveis à luz azul, verde e vermelha. As opsinas absorvem a luz em comprimentos de onda ligeiramente diferentes, permitindo-nos ver essas três cores e as demais.
Os cientistas descobriram que a parte superior dos olhos do Anablepidae – que fica fora da água – possui opsinas sensíveis ao verde. Já a metade inferior é sensível ao amarelo. Todo o olho tem genes sensíveis ao ultravioleta, violeta e à luz azul.
O peixe de quatro olhos teria diferentes tipos de opsina para funcionar a partir do tipo de luz disponível em cada ambiente. A água em que ele vive é normalmente barrenta (florestas de mangues no norte da América do Sul) e nesse ambiente a luz amarela é a melhor transmitida.
Esse sistema visual único permite que o peixe evite um fenômeno problemático chamado de “Janela de Snell”, que acontece quando você está submerso na água e olha para fora da superfície. Devido à refração da luz na superfície da água, o campo de visão é limitada em cerca de 96 graus. Depois desse ângulo não é possível ver mais nada além da superfície.
Para compensar o problema, algumas espécies marinhas calculam a refração para encontrar a verdadeira posição de alguns objetos que encontram. Mas os “quatro olhos” conseguem ver com um ângulo mais amplo.
Entretanto, esse sistema de visão tem um preço. Como se pode imaginar, não é difícil para os predadores localizarem os peixes de olhos esbugalhados ao longo da superfície. Mas o peixe de quatro olhos está sempre à espreita, com grandes áreas de seu cérebro dedicadas à visão.
Mas ele não é o único. Vários outros peixes, anfíbios, aves e até os humanos – possuem o que é conhecido como variabilidade intraretinal. Isso significa que variações na sensibilidade espectral existem em toda a retina, que é um delicado revestimento de membrana sensível à luz, dentro do globo ocular.[MSN]
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