A mais de Cento e cinquenta anos atrás no mês de novembro, uma espetacular chuva de meteoros caiu sobre a América do Norte. Os estudantes da profecia bíblica, viram neste evento, o cumprimento das palavras de Cristo em Marcos 13:25-26: “as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória”.
Este dramático evento astronômico prendeu a imaginação popular como nenhum outro, exceto talvez, pelas missões lunares da Apolo e o cometa Halley. As palavras do Apocalipse descreveram literalmente o que dezenas de milhares de pessoas viram: “E as estrelas do céu caíram sobre a Terra, como quando a figueira lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte” (Apoc. 6:13). Ellen White escreveu: “Esta profecia teve cumprimento surpreendente e impressionante na grande chuva meteórica de 13 de novembro de 1833. Aquela foi a mais extensa e maravilhosa exibição de estrelas cadentes que já se tem registrado” (O Grande Conflito pág 333).
William Miller já estivera pregando a profecia bíblica por vários anos quando esta ocorrência espetacular concentrou atenção adicional em sua mensagem.
Numerosas testemunhas testificaram a natureza incomum do evento. O Professor Denison Olmsted, de Yale, escreveu: “Para formar uma idéia do fenômeno, o leitor pode imaginar uma constante sucessão de bolas de fogo, semelhantes à foguetes, irradiando em todas as direções a partir de um ponto no céu. . . [Houve] meteoros de vários tamanhos e graus de esplendor: alguns simples pontos, mas outros eram maiores e mais brilhantes do que Júpiter ou Vênus”. (1)
O Dr. Humphreys, presidente do St. John’s College em Annapolis, declarou: “Durante o período imediatamente anterior ao amanhecer, o evento foi observado por muitas pessoas inteligentes na cidade, cujas declarações coincidem mais perfeitamente, quanto ao número quase infinito de meteoros. Nas palavras da maioria dos observadores, eles caíram como flocos de neve”. (2)
Embora muitas vezes os meteoros fossem observados, a sua causa foi mal compreendida até o final do século XVIII. Repercutindo séculos de superstição na interpretação dos fenômenos naturais, muitos cientistas não estavam dispostos a aceitar os relatórios populares, independentemente de quão bem documentados eles fossem. Por exemplo, quando a Academia Francesa de Ciências enviou uma comissão para Luce para examinar as circunstâncias da queda de um meteorito, apesar do testemunho unânime de numerosas testemunhas oculares, a Comissão concluiu que a pedra não caiu do céu, mas foi atingida por um raio. (3)
Thomas Jefferson disse que ele preferia acreditar que um professor Yankee mentiria do que acreditar que as pedras pudessem cair do céu (4). No entanto, ao início do século XIX os cientistas reconheceram a natureza geral dos meteoros como massas de pedra ou metálicas aquecidas a temperaturas incandescentes pelo atrito com a atmosfera.
Iniciado o Estudo Científico
O chuveiro meteórico de 1833 marcou não só o cumprimento de uma profecia bíblica, mas foi o evento que lançou o início do estudo científico de meteoros de uma forma abrangente. Muitos observadores dessa chuva de meteoros observaram que as trilhas dos meteoros pareciam irradiar de um ponto comum no céu, perto do pescoço da constelação de Leo ( o Leão). Este indício levou os primeiros pesquisadores a idéia de que o evento resultou de um conjunto disperso de detritos interplanetários cuja órbita atravessou a órbita da Terra. A radiação visível de um ponto no céu foi causada pela perspectiva terrena de observar o fenômeno numa alta altitude. Os cientistas perceberam que a órbita da Terra e os meteoros poderiam se cruzar várias vezes, e que o chuveiro meteórico poderia ser um evento períodico.
Uma similar, porém bem menos divulgada chuva de meteoros, tinha ocorrido na América do Sul em 1799. O bem-conhecido cientista e viajante Humboldt, referiu-se á “milhares de meteoros e bolas de fogo, que se deslocam regularmente de norte a sul, com nenhuma parte do céu tão grande como duas vezes o diâmetro da lua, não preenchida a cada instante pelos meteoros” (5)
Outro viajante no mar ao largo do Cabo da Florida escreveu sobre a chuva de meteoros de 1799: “O fenômeno foi grande e impressionante, o céu inteiro parecia como que iluminado por foguetes. . . que apareciam a todo instante tão numerosos quanto as estrelas” (6) . Relatos de nativos da América do Sul indicaram que uma queda semelhante ocorria a cada 33 ou 25 anos. Baseados nisso, os primeiros pesquisadores vincularam este chuveiro com outros registrados já há muito tempo em 585 DC. (7)
Este grupo de meteoros foi nomeado de Leónidas devido a constelação Leo, da qual eles pareciam irradiar em sua queda no outono de 1833. Foi uma ocasião feliz quando esse fenômeno voltou a ocorrer, como previsto em 1866. No entanto, o número de Leónidas observado em 1866 foi significativamente menor do que os observados em 1833 ou 1799.
Os observadores sofreram agudo desapontamento quando em 1899, a chuva de meteoros não ocorreu conforme o esperado. O autor do livro Meteors escreveu: “É a opinião pessoal do escritor que o fracasso do retorno das Leónidas em 1899 foi o pior golpe já sofrido pela astronomia aos olhos do público”. (8)
Apesar de um bom chuveiro de Leónidas visto em 1932 (embora menos intenso do que 1866) o interesse público pelo fenômeno foi em grande parte perdido. Era suposto por alguns que a repetida interação gravitacional entre o enxame de meteoros e outros planetas tinha removido seu caminho da órbita da Terra e que futuras grandes quedas seriam improváveis (9). Em 16 de novembro de 1966, a noite do próximo retorno programado, meteoros começaram a chegar em uma intensidade moderada de cerca de 50 por hora. Então, pouco antes do amanhecer, o espetacular aconteceu de novo: “A taxa continuou a aumentar, então vimos uma chuva de meteoros se transformar em uma saraiva de meteoros e finalmente tornar-se uma tempestade de meteoros demasiado numerosos para se contar. … O céu cintilante parecia um rádio espintariscópio, e, instintivamente, procuramos nos proteger virando o rosto dos imaginários escombros celestes” (10).
O jornal especializado Sky and Telescope observou: “Esta brilhante exibição rivalizou com o histórico chuveiro de Leónidas de 12 de novembro de 1799, no Peru, e o de 13 de novembro de 1833″ (11).
Para comparar as chuvas de 1833 e 1966, temos de depender mais de descrições qualitativas, uma vez que nenhum único observador viu ambos os eventos. Algumas estimativas quantitativas foram feitas para a queda de 1833 entre 10.000 e 35.000 meteoros por hora (12). Por um intervalo de uma hora antes do amanhecer, em 1966, numerosos observadores treinados apresentaram taxas de 90 mil à 140 mil meteoros por hora (13). O chuveiro de 1966 rivalizava com a célebre queda de 1833.
Certamente este chuveiro nunca entrou na consciência de massa da forma como o seu antecessor fez. Na verdade, o New York Times, para essas datas, não reportou nada sobre o espetáculo celeste visto no oeste dos Estados Unidos.
A queda de 1966 passou despercebida, porque geralmente era vista apenas no Arizona, Colorado, Novo México e Texas, estados de baixa densidade populacional. No Oriente, haviam nuvens. O Sul, quando claro, perdeu o pico da chuva na madrugada, e a Costa Oeste estava nublada. Além disso, o público entendia a natureza dos meteoros melhor do que as pessoas do século XIX, portanto, o evento parecia menos misterioso, além de ser ofuscado pelas notícias de eventos sobre o homem no espaço.
Como podemos entender tais fenômenos naturais em um contexto profético? Um evento natural é visto tendo significado sobrenatural quando o Espírito leva a comunidade de crentes para vê-lo como tal. Alguns podem objetar que esse ponto de vista é muito subjetivo.
Por outro lado, poderíamos supor que um evento natural têm significado profético sempre que for o mais singular evento que se encaixa no esquema profético. Além de ser circular, este ponto de vista corre o risco de invalidar o entendimento profético dos crentes, como a ocorrência de novos eventos ou a descoberta de eventos anteriormente desconhecidos.
Tal visão poderia remover dos crentes, a experiência de reconhecimento de cumprimento profético, colocando-os nas mãos de cientistas e historiadores. A profecia é para os crentes. Exigir que as questões de fé sejam empiricamente demonstráveis é arriscar a fé numa fundação sujeita a ser bombardeada por todo vento e onda de investigação.
Devemos considerar o contexto dos versos bíblicos citados a partir dos Evangelhos e do Apocalipse. Eles não foram ditos exclusivamente para nosso tempo, mas deveriam ter sido compreendidos, de dentro de um patrimônio da literatura apocalíptica, da qual estas imagens foram delineadas por Cristo e João. Os judeus do primeiro século não olhavam para os acontecimentos naturais no meio científico como nós o fazemos. Em uma inversão interessante, sua visão de mundo via os fenômenos físicos como metáforas para a realidade de Deus.
Deus um dia nos colocará para além da condição humana de incerteza e, pessoalmente, visivelmente se manifestará no mundo. Estas palavras proféticas podem ter um significado pessoal para nós, da mesma maneira elas trazem esperança para a interpretação histórica adventista que indica que a vinda de Cristo está próxima, mesmo às portas.
Os primeiros estudantes adventistas da Bíblia viram um significado especial na queda de meteoros de 1833, porque ocorreu em um tempo e lugar onde a atenção especial estava sendo dada aos sinais proféticos do retorno de Cristo. Para eles, o chuveiro meteórico confirmou-lhes a fé, porque viram que ocorreu na seqüência bíblica, após um grande terremoto (1755) e um dia escuro (1780), e perto da conclusão do período de 1260 anos proféticos.
Pode ser que mais uma vez o Espírito vai usar esse elegante evento astronômico para nos lembrar de nossa situação precária neste planeta. Deus graciosamente permitiu-nos tempo para preparar o mundo para seu retorno e nos tem dado avisos de que o evento se aproxima.
Referências
1) ‘Denison Olmsted, Silliman’s Journal, 25:354-431 and 26:132-174, quoted in Charles P. Olivier, Meteors (Baltimore: Williams & Wilkins Co., 1925), p. 24.
2) Humphreys, American Journal of Science, 25:372, quoted inEverett Dick, “The Falling of the Stars,” The Advent Review and Sabbath Herald, Nov. 2, 1933, p. 11.
3) Olivier, op. cit., p. 5.
4) Fritz Heide, Meteorites, trans. by Edward Anders and Eugene DuFresne (Chicago: University of Chicago Press, 1964), p. 66.
5) A. C. B. Lovell, Meteor Astronomy (Oxford: Clarendon Press, 1954), p. 337.
6) Olivier, op. cit., pp. 23, 24.
7) ‘Lovell, toe. cit.
8) Olivier, op. cit., p. 38,
9) ‘Lovell, op. cit., p. 338.
10) Capen, quoted in editorial staff,” Great Leonic Meteor Shower of 1966,” Sky and Telescope, January, 1967, p. 6.
11) Ibid., p. 4.
12) Olivier, op. cit., p. 25. The author also notes on page 40: “It is very easy to overestimate the number of meteors.
13) Capen, op. cit., p. 6; “Leonids Fulfill Promise,” Science News, Nov. 26, 1966, p.453.
1) ‘Denison Olmsted, Silliman’s Journal, 25:354-431 and 26:132-174, quoted in Charles P. Olivier, Meteors (Baltimore: Williams & Wilkins Co., 1925), p. 24.
2) Humphreys, American Journal of Science, 25:372, quoted inEverett Dick, “The Falling of the Stars,” The Advent Review and Sabbath Herald, Nov. 2, 1933, p. 11.
3) Olivier, op. cit., p. 5.
4) Fritz Heide, Meteorites, trans. by Edward Anders and Eugene DuFresne (Chicago: University of Chicago Press, 1964), p. 66.
5) A. C. B. Lovell, Meteor Astronomy (Oxford: Clarendon Press, 1954), p. 337.
6) Olivier, op. cit., pp. 23, 24.
7) ‘Lovell, toe. cit.
8) Olivier, op. cit., p. 38,
9) ‘Lovell, op. cit., p. 338.
10) Capen, quoted in editorial staff,” Great Leonic Meteor Shower of 1966,” Sky and Telescope, January, 1967, p. 6.
11) Ibid., p. 4.
12) Olivier, op. cit., p. 25. The author also notes on page 40: “It is very easy to overestimate the number of meteors.
13) Capen, op. cit., p. 6; “Leonids Fulfill Promise,” Science News, Nov. 26, 1966, p.453.
Artigo extraído da Adventist Review de 24 de novembro de 1983. Crédito da tradução, Blog Sétimo Dia http://setimodia.wordpress.com/
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