segunda-feira, 30 de março de 2015

Fora do corpo

Fora do Corpo
By Joe Crews

INTRODUÇÃO

Tanto eruditos quanto leigos, igualmente, muitas vezes tropeçaram em alguns dos escritos do apóstolo Paulo. Há alguns versos espalhados em cartas que ele endereçou às igrejas que, segundo eles, parecem contradizer o que ele escreveu em outras epístolas. No mínimo, eles têm interpretado como contradição. Mas, teria a tremenda mentalidade reta e espiritual de Paulo escrito estas coisas confusas? Ou a contradição repousa somente na maneira com a qual os leitores distorcem suas palavras?

Um exemplo perfeito desse problema aparece nos primeiros versos de II Coríntios 5, em que Paulo fala sobre vida e morte. Sua linguagem ali foi entendida por muitos como sendo o ensinamento de que a recompensa do justo lhe é concedida no momento da morte. Assim, uma alma imortal deixa o corpo para encontrar-se ou com a imediata recompensa, ou com a punição. Se este fosse o verdadeiro significado das palavras de Paulo estaríamos diante de sérias incongruências dentro de suas epístolas. Vamos examinar os versos em II Coríntios 5:1-8 e descobrir o que Paulo realmente ensinou sobre este assunto crucial.

“Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna nos céus. E, por isso, também gememos desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; Se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido, pela vida. Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito. Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no nosso corpo, vivemos ausentes do Senhor. (Porque andamos por fé e não por vista). Mas temos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor”.


A fim de termos uma visão clara na mente, vamos rever os versos ponto a ponto:

Verso 1
Paulo introduz apresentando um lar terreno e um lar celestial e diz: “Porque sabemos que se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus”.

Verso 2
Ele afirma nossa condição enquanto estamos no lar terreno. “E, por isso também gememos...”

Verso 2-3
Ele nos fala o que deseja nesse estado. “... desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus”.

Verso 4
Paulo repete este fato mais uma vez. “Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados, não porque queremos ser despidos, mas revestidos”.

Verso 4
Ele então afirma o resultado de ser revestido com aquilo que vem da morada celestial que ele deseja tão ardentemente. “… para que o mortal seja absorvido, pela vida”.

Verso 5
O Espírito é a garantia de que a mortalidade será, finalmente, tragada pela vida.“Ora, quem para isso mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito”.

Verso 6
Paulo mostra o campo de sua certeza [NT- viver no Senhor, e ausente do corpo]: “Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no nosso corpo, vivemos ausentes do Senhor”.

Verso 7
Um interlúdio sobre o viver do cristão vitorioso: “(Porque andamos por fé e não por vista)”.

Verso 8
Ele repete a disposição de viver fora do corpo e junto do Senhor. “Mas temos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo para habitar com o Senhor”.

Com o assunto plenamente anteposto a nós, vamos então determinar o significado dos termos usados por Paulo nesses trechos. O que ele quer dizer com: “casa terrestre”, “casa dos céus”, estarmos “vestidos” ou “nus”, “mortal ser absorvido pela vida”, e “deixar o corpo para habitar com o Senhor”?

O apóstolo responde todas essas questões para nós. No verso 6 ele define “nossa casa terrestre” como sendo o “nosso corpo”. A característica principal dessa casa é que ela pode ser desfeita; em outras palavras, é mortal. Essa casa terrena é, por esta razão, nosso corpo mortal, ou nossa atual condição mortal.

A “casa do céu” é eterna, ou imortal, e representa o estado da imortalidade que aguarda os redimidos, após a ressurreição. Aqui é onde se encontra o maior mal-entendido. Alguns têm pensado que a “casa dos céus” é estabelecida no momento da morte. Mas o apóstolo explica, com detalhes, O MOMENTO EM QUE ELE ENTRARÁ NA IMORTALIDADE.


A Hora da Mudança

Note como ele explana QUANDO o “mortal será absorvido pela vida”, em Romanos 8:22-23: “Porque sabemos que toda criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do corpo.” Este verso em Romanos é um perfeito e notável paralelo ao conteúdo dos versos em II Coríntios 5:1-8, e esclarece quando seremos vestidos da imortalidade. Note a similaridade da linguagem e pense:

Aos Coríntios Paulo escreveu:
“porque também nós… neste tabernáculo gememos... não porque queremos ser despidos, mas revestidos...”

Aos Romanos Paulo escreveu:
“… também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do corpo...”

Estes dois escritos estão falando da mesma experiência. O objetivo final em ambos os casos é mudar o corpo mortal em um corpo imortal e a “casa terrena” em uma “casa celestial”. Veja que, num verso, Paulo estava “desejando ser revestido” com a casa celestial, e no outro, “esperando a adoção, a saber, a redenção do corpo.”

A comparação prova que este “revestimento do céu” realiza-se quando da “redenção do corpo”. Paulo acrescenta um esclarecimento final em I Coríntios 15:51-53, quando ele novamente descreve o MOMENTO em que esta mudança se realizará: “ante a última trombeta”. Em outras palavras, ainda que a morte possa dissolver este corpo mortal, Paulo torna muito claro que nós não estaremos na casa dos céus até a volta de Jesus e a redenção do corpo. Isto é também estabelecido por repetição no uso das expressões que indicam o estarmos “nus” ou “vestidos”.


Despidos na Morte

O que quer dizer o termo “despido”? Note que Paulo declarou, especificamente, que ele não desejava estar nu ou despido. Podemos estar certos, então, de que o termo “despidos” não envolve estarmos com o Senhor, uma vez que Paulo não deseja isto. De fato, o apóstolo faz referência a estarmos vestidos com apenas duas casas, a terrestre ou a celestial. Despido, ele não estava nem no corpo terrestre, nem no celestial. Daí concluimos que há somente uma explicação possível: Estarmos “despidos” ou “nus”, é o estado da morte, que é o intervalo entre a dissolução da casa terrena, e a entrada na celestial.


Apenas Duas Casas

Alguns alegam que a nossa casa “eterna nos céus” é a alma imortal, com a qual entramos nos céus, imediatamente após a morte, após a casa terrestre ser dissolvida. Mas, na verdade, não é assim. Perceba a impossibilidade disto: Se a alma habitar na casa celestial imediatamente após a morte, o que acontecerá quando ela precisar revestir-se do corpo imortalizado quando, no futuro, se der a ressurreição? É somente na glorificada ressurreição dos mortos que o justo morará com Deus pela eternidade. Isto envolveria aquelas almas que, supostamente, já haviam partido para a “eterna morada nos céus” quando morreram, tendo elas então que voltar aos corpos agora redimidos na ressurreição. Então o que aconteceria com a moradia que ficou desocupada no céu? Por acaso os santos possuem casas para “alugar”? Além do mais, esta visão apresenta algo que Paulo nunca mencionou; a esta altura já temos TRÊS CASAS, mas a linguagem de Paulo reconhece apenas DUAS. Sem falar que uma delas seria abandonada, segundo a visão popular. Mas eu pergunto: Poderia ela ser estabelecida, para depois ser abandonada e cair em ruínas? Nada disso está escrito e é um absurdo. Essa idéia é impossível!

O fato é que Paulo não fala aqui sobre a alma como um todo. Ele nem sequer a menciona no contexto da passagem. Ele está simplesmente fazendo um contraste da vida presente com a longínqua vida glorificada que virá dos céus. Ele não anseia dormir para morrer (estado despido), quando não poderá estar com o Senhor, mas anseia a redenção do corpo, quando poderá revestir-se da “casa eterna que está nos céus”. Enquanto continua nesta vida, está vestido com um corpo mortal [NT-porém caminha pela fé e não pela vista]; e, após a mortalidade ser “tragada pela vida”, ele poderá, então, ter um corpo celestial, imortal. Mas, quer no tabernáculo terrestre ou no lar celestial, ele continuará a ter um corpo. Em lugar nenhum Paulo separou a alma do corpo. Seja um corpo na terra, o qual está afastado do Senhor, ou um corpo redimido no céu, o qual está presente com o Senhor.


O Penhor do Espírito

Aqui temos a mais positiva prova de que Paulo estava se referindo à ressurreição como sendo o TEMPO de nos revestirmos daquele lar eternal. Para ambos os povos, coríntios e romanos, Paulo enfatizou que o Espírito era a garantia ou penhor de que eles seriam revestidos da imortalidade. Mas o que ele quis dizer? De quê, o Espírito Santo em nossos corações, é penhor ou garantia? É Ele prova ou garantia de que temos almas imortais que viverão após o corpo morrer? Foi isto que Paulo quis dizer? Não. O apóstolo foi abundantemente claro, ao dizer que o Espírito é um penhor ou garantia da redenção de nossos corpos na ressurreição.

“...fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o PENHOR da nossa herança, até a redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória.” Efésios 1:13-14.

Não perca o ponto que Paulo estabeleceu de que o “penhor do Espírito” aponta para o tempo em que nossa herança será recebida plenamente e a redenção do corpo se realizará. Paulo usou a mesma expressão em II Coríntios 5:5, ao falar sobre revestir-nos da casa celestial:

“Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito”.

Este Espírito é uma garantia da ressurreição do corpo. Outro texto remove todas as dúvidas:

“E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.”
Romanos 8:11.

Este verso fornece uma inegável prova de que o Espírito, ao habitar no coração, é a garantia de que nossos corpos mortais serão despertados na ressurreição. [Amém!]


Absorvida Quando?

Agora notemos que Paulo usou um argumento que impossibilita definitivamente a aceitação da doutrina de que a alma vai para o céu em decorrência da morte. Em uma simples afirmação, o apóstolo dos gentios despedaçou o argumento popular da imortalidade natural da alma:

“Porque também nós, ...gememos ...para que o mortal seja absorvido pela vida”. II Coríntios 5: 4.

É claro que a mortalidade só poderá ser absorvida pela imortalidade, ou seja, a vida eterna. É isto a saída da alma do corpo na hora da morte? Vamos dar uma olhada nisso. O quê há no homem, segundo a visão comum, que é mortal? O corpo. E o quê é imortal? A alma. Assumindo por um instante que isso seja verdade, então, o que ocorreria na morte? Na morte, o corpo, que é mortal, não se tornaria imortal mas, perdendo toda a sua vida, entra em decomposição na tumba, tornando-se pó. E a alma, que já era imortal antes, continuaria sendo nada mais que imortal depois. Porventura há aqui alguma “mortalidade sendo absorvida pela vida”? É exatamente o contrário! A mortalidade, ou seja, a parte mortal, segundo essa visão, é consumida pela morte! Assim, haveria menos vida depois da morte do que antes dela, porque após a morte somente a alma ficaria viva, enquanto o corpo, anteriormente vivo, agora estaria morto. Esta visão é, na verdade, uma contradição clara e direta do que a Palavra de Deus diz. Devemos então rejeitá-la.

Paulo sabia que os coríntios não ficariam confusos com sua linguagem sobre a mortalidade ser absorvida pela imortalidade, no capítulo 5 de sua segunda carta dirigida a eles, porque já lhes houvera escrito a primeira, onde explica quando a imortalidade seria manifestada.

“Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, ENTÃO cumprir-seá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória.” I Coríntios 15:52-54.

Quando a morte, ou a mortalidade será “tragada”? Paulo disse “ENTÃO”. E quando será este “ENTÃO”? “Num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta”. Como alguém pode tropeçar com a linguagem tão clara destes versos?

Paulo ansiava pela transformação do corpo terrestre, mortal, no glorioso corpo imortal. Ele declarou que a mudança iria realizar-se no dia da ressurreição e trasladação. Sua principal esperança parecia ser a possibilidade de ser trasladado sem mesmo ser “despido” na morte. Ele ansiava ser “revestido” pela trasladação em vida, na vinda de Jesus, para que não fosse encontrado “nu” (no pó). A trasladação significa que a mortalidade foi “tragada pela vida”.

Entretanto, ele apressou-se em mostrar confiança, conforme já demonstramos, na certeza de uma ressurreição onde a morte será tragada pela vitória (I Corintios 15:54). Em qualquer caso, quer por trasladação ou por ressurreição, ele seria “revestido” de corpo imortal. Toda e qualquer mortalidade seria “consumida”, ou por ser trasladado, ou, se viesse a morrer, por ser ressuscitado.

Paulo não se prolonga no estado de nudez, porque sua esperança repousava no novo corpo a ser recebido por ocasião da vinda de Cristo. Ele não poderia estar “para sempre com o Senhor” até que a mudança se realizasse “num piscar de olhos”. O intervalo do sono da morte, no pó, não encontrava qualquer simpatia em Paulo, mesmo isso parecendo ser nada mais que uma fração de segundo de absoluto esquecimento para os que morrem. Olhando para além da nada atraente nudez da morte, rumo à terra da vida, Paulo excluiu qualquer possibilidade de um estado entre a morte e a ressurreição, no qual espíritos desencarnados possam estar na presença do Senhor.


Criados para o Quê?

O apóstolo levanta ainda outro ponto, em II Coríntios 5, que aniquila a idéia de uma alma desencarnada. No verso 5 ele afirma que Deus “para isto mesmo nos formou”. “Isto mesmo” o quê? Para qual propósito Deus fez o homem? Paulo responde que deveremos gozar de um estado de existência no qual a “mortalidade é absorvida pela vida”. Porventura tal estado seria a existência de uma alma imortal separada? Impossível! Porque se o homem não tivesse pecado, ele teria alcançado esse estado sem ver a morte. O propósito de Deus ao criar o homem teria se concretizado sem que a morte ocorresse. Assim, a idéia de uma alma imortal jamais teria surgido. Com certeza, ninguém pode crer que Deus nos “formou” para “isto mesmo”: Pecar, morrer e sair do corpo numa forma invisível de alma.


A Intensa Expectação de Paulo

Um texto semelhante que Paulo escreveu aos filipenses foi também distorcido e mal-interpretado, como em II Coríntios 5. Aqui, novamente, Paulo fala sobre sua intensa expectação:
“Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor.” Filipenses 1:20-24.


Primeiro, vamos esclarecer que a “intensa expectação” realmente envolve o fato de estar com Cristo. Será que Paulo presumiu estar com Cristo através da morte? Nem um único texto bíblico ensina uma coisa dessas. Deixemos o apóstolo responder por si mesmo acerca de sua “intensa expectação”:

“Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus”. Romanos 8:19.

Qual seria essa manifestação quando os filhos de Deus forem revelados? O verso 23 responde:

“… mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do corpo”.

A intensa expectativa e esperança de Paulo apontava para o tempo em que seu corpo seria redimido.

Em Filipenses 1:20-24, não foi escrita uma palavra sequer sobre o TEMPO em que ele estaria com o Senhor. Alguns têm tentado interpretar este texto como se Paulo estivesse dizendo que queria partir e estar com Cristo imediatamente, mas esta palavra – imediatamente – não está na Escritura. Nestes versos, Paulo não afirma especificamente QUANDO ele estará com o Senhor. Ele apenas afirma sua “intensa expectação” por estar lá. Já vimos, em outros textos bíblicos, que sua expectação centralizava-se na ressurreição do corpo, ou em sua transladação sem passar pela morte. Outras passagens esclarecem ainda mais, sem qualquer equívoco, QUANDO o grande apóstolo aguardava estar com Cristo:

Romanos 8:23 – Na redenção do corpo.
I Coríntios 5:5 – No dia do Senhor Jesus.
I Corintios 15:51-55 – Ao soar da última trombeta.
Colossenses 3:4 – Quando Cristo, que é nossa vida, se manifestar.
I Tessalonicenses 4:16 – Quando Deus descer com alarido.
II Tessalonicenses 2:1 – Na vinda do Senhor.
II Timóteo 4:7-8 – “Naquele dia” (onde Paulo sempre se referia ao segundo advento de Cristo).

Paulo, no texto de Filipenses 1:20-24, tinha duas situações em vista: viver ou morrer. Entre elas, ele ficou em um dilema. A causa de Deus na Terra levou-o até ali, mas ele estava cansado de surras, apedrejamentos e sofrimentos físicos. Ele quase deu a impressão de que a morte seria desejável por causa da luta da vida. Tão exatamente equilibradas estavam as influências que o conduziam às duas direções, que ele dificilmente sabia que curso tomar. Todavia, afirmou ser mais necessário à igreja que ele permanecesse aqui, para dar-lhes o benefiício de seus conselhos e trabalho.


Como Estar com o Senhor

Paulo positivamente contestou a idéia de um espírito imortal deixando o corpo, na morte, ao destacar o ÚNICO meio de estarmos com o Senhor. Em I Tessalonicenses 4:16-17, ele disse:

“Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e ASSIM estare mos para sempre com o Senhor.”

Perceba o significado da palavra “ASSIM”. Ela significa “desta maneira”, ou “desta forma”, ou ainda, “por este meio”. “ASSIM”, nesta maneira, por este meio, “estaremos para sempre com o Senhor”. Ao descrever, sem qualquer limitação, a maneira e meio pelos quais iremos estar com o Senhor, Paulo inviabiliza quaisquer outros significados. Se houver qualquer outro meio de estarmos com o Senhor para sempre, então a linguagem de Paulo neste verso é uma tremenda falsidade. Se iremos estar com o Senhor por meio de uma alma imortal quando morrermos, então não iremos estar com Ele por meio da visível vinda de Jesus, da ressurreição dos mortos e da mudança de natureza. Assim, as palavras de Paulo não seriam verdadeiras. Não há jeito de escaparmos desta conclusão, exceto alegando que a descida do Senhor dos céus, o alarido, a trombeta, a ressurreição, a mudança de natureza, enfim, TUDO ISSO OCORRE QUANDO UMA PESSOA MORRE – uma posição absurda demais para ser considerada. Uma vez que Paulo definiu cuidadosamente a maneira de estarmos com o Senhor, por que o homem tenta interpretar Filipenses 1:23 dando a entender algo contrário à própria explanação do autor? Como já notamos em I Tessalonicenses 4:16-17, Paulo só considerou duas maneiras de estarmos pra sempre com o Senhor – por trasladação, ou por ressurreição.


Viver ou Morrer?

Ele expressou a seguinte esperança:

“Cristo será magnificado em meu corpo, seja pela vida, ou seja pela morte.” Paulo ligou vida e morte a um corpo físico, e não a uma alma ou espírito. As alternativas que ele tinha eram viver ou morrer. Ele estava em um dilema entre elas. Se vivesse, Cristo seria magnificado, e se morresse a morte de um mártir, a causa de Cristo seria magnificada. De qualquer maneira seria “ganho”, tanto para ele quanto para Cristo.

Mas, depois de considerar as duas alternativas, dentre as quais não conseguia escolher uma (viver ou morrer), Paulo é repentinamente chocado com uma terceira opção, a qual ele logo diz ser “muito melhor” que as outras duas. Ele a descreveu como “um desejo de partir e estar com o Senhor, que é bem melhor”. Melhor que o quê? A resposta é clara: Melhor que as duas outras opções que ele acabara de mencionar (viver ou morrer). Estamos aqui novamente lidando com o esmagador desejo de Paulo de ser trasladado sem passar pelo estado de “nudez” da morte. Este era seu mais profundo desejo.

Mais uma vez somos forçados a perguntar: Para QUANDO Paulo esperava a realização desta trasladação? E quando ele previu que seria a mudança da mortalidade para a imortalidade? Ele responde:

“Quando Cristo, que é nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com Ele em glória”. Colossenses 3:4.

Quando é esse ENTÃO? Na Sua segunda vinda. Porventura estes já apareceram com Ele em glória? Não. Só acontecerá ENTÃO; quando Ele aparecer. João concorda com Paulo:

“Mas sabemos que, QUANDO ELE SE MANIFESTAR, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos.” I João 3:2.

Pense por um momento sobre as implicações desta declaração. João não podia acreditar que os justos mortos já estivessem na presença do Senhor. Se assim fosse, eles seriam capazes de vê-Lo “como Ele é” neste momento, e já estariam mudados à “semelhança” de Cristo! Mas ele refuta a idéia de que alguém já O tenha visto e declara, inequivocamente, que isto só acontecerá “quando Ele aparecer”. .


Trasladação ou Ressurreição?

Finalmente notemos que, no caso, Paulo não foi permitido deixar esta vida pela trasladação e teve que partir pela morte. Ele não esperava estar com Cristo até a ressurreição. Ele esclarece isto em II Timóteo 4:6-8:

“Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. DESDE AGORA a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda”.

Na linguagem mais clara possível, Paulo não apenas explica, mas enfatiza que sua recompensa será dada na volta de Cristo. Embora sua partida pela morte estivesse às portas, ele não esperava estar com Cristo imediatamente. Ele aguardava isso para um futuro à frente. Ele disse que “desde já a coroa da imortalidade foi guardada para mim e para os outros que amarem o Seu retorno.” Certamente nós que vivemos hoje devemos ansiar esta mesma gloriosa aparição, quando também receberemos, juntamente com Paulo, a coroa da justiça que espera, não muito longe, por nós.

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