Estão mexendo no que não devem
Embrião com “três pais”, aprovado na Grã-Bretanha, pode ser um passo rumo a mudanças mais radicais na genética
No dia 24 de fevereiro, o legislativo britânico aprovou uma lei permitindo a geração de embriões com DNAs de três pessoas diferentes. O objetivo é deixar que mães com mutações maléficas em seu DNA mitocondrial não as transmitam para o filho. Segundo a lei, durante a reprodução assistida, essa parte de seu genoma poderá ser substituída pelo de uma doadora, gerando uma criança saudável. Assim, a Grã-Bretanha se tornou o primeiro país a permitir a manipulação genética em células germinais humanas. Apesar do objetivo puramente médico, a decisão está sendo saudada por alguns pesquisadores como um estágio importante de um longo percurso que pode trazer consequências radicais para a ciência e a humanidade. São os defensores do transumanismo, que propõem a aplicação dos avanços obtidos em áreas chaves da ciência, como a genética, a nanotecnologia e a neurociência, para romper os limites impostos ao homem por seu próprio corpo biológico. “A Grã-Bretanha também foi o primeiro país a introduzir a fertilização in vitro em 1979. Essa decisão é apenas outro passo desse processo”, diz o filósofo Steve Fuller, professor da Universidade de Warwick, na Inglaterra. Ele é autor dos livros Humanidade 2.0 e O Imperativo Proativo (inéditos em português), nos quais se propõe a estabelecer as bases teóricas e filosóficas para o transumanismo.
O objetivo desse movimento é utilizar a ciência para aumentar as capacidades físicas, intelectuais e até emocionais dos seres humanos. Ele busca, no limite, estender a vida humana indefinidamente, extirpando dela todo tipo de sofrimento. Os transumanistas defendem, por exemplo, a manipulação genética de embriões para eliminar doenças e escolher características vantajosas para os filhos, a criação de implantes neurais que permitam a interação com computadores pelo pensamento, e o uso de drogas capazes de manipular o cérebro humano, melhorando sua cognição, memória, concentração e humor.
“Mesmo que esses projetos pareçam vindos da ficção científica, eles podem ser encarados como soluções em longo prazo para problemas atuais. Temos visto, por exemplo, investimentos cada vez maiores em projetos que pretendem estender o nosso tempo de vida”, diz Fuller. [...]
Uma crítica frequentemente feita a essa ideologia é que, em sua tentativa de tomar a evolução nas mãos, o homem estaria brincando de Deus. Os transumanistas, longe de discordar da crítica, acham isso desejável. “Nós queremos usar toda a natureza em prol da humanidade. Isso pode, sim, ser encarado como ‘brincar de Deus’, pois Ele é normalmente visto como o único ser separado da natureza e capaz de manipulá-la para seus propósitos. O transumanismo apela para essa tendência presente na natureza humana”, diz o filósofo. [...]
Filósofos tão diferentes como o americano Francis Fukuyama e o alemão Jurgen Habermas apontam para [as ideias do transumanismo] como uma ameaça à democracia. Numa sociedade desigual como a atual, a manipulação genética de embriões, por exemplo, seria acessível a só uma parcela da população, e a diferença social passaria a estar contida no próprio DNA.
Os críticos dizem, basicamente, que existem limites éticos que a ciência não deve cruzar. O Centro para a Genética e Sociedade (CGS), por exemplo, foi criado nos Estados Unidos em 2001 para defender pesquisas de engenharia genética responsáveis, que não objetifiquem ou comercializem o ser humano. Por isso, bate de frente com algumas das principais bandeiras dos transumanistas, como a engenharia genética de células germinativas e a clonagem. “Existem tecnologias genéticas que atingem apenas os indivíduos vivos, capazes de dar seu consentimento. Mas as alterações genéticas em embriões e zigotos criam mudanças permanentes em crianças que nem nasceram, que serão passadas adiante para as futuras gerações”, diz Marcy Darnovsky, diretora do CGS. Por esse motivo, o grupo foi contrário à decisão do governo britânico de aprovar a geração de embriões com o DNA de três pessoas.
Segundo Marcy Darnovsky, esse tipo de pesquisa favorece que se encare a vida humana a partir de uma mentalidade consumista grotesca, na qual apenas bebês perfeitos merecem nascer. “Se essas modificações forem aprovadas, é possível - e até provável - que a dinâmica social e comercial leve a esforços para produzir seres humanos ‘melhorados’. Isso está bem próximo da definição clássica de eugenia. Nós podemos nos ver em um mundo onde tipos inteiramente novos de desigualdade serão trazidos à existência”, diz Marcy.
Boa parte dos críticos do transumanismo aponta justamente para essa semelhança entre o movimento e a eugenia exercida no início do século 20. Ela foi uma prática científica e política que buscava o melhoramento genético da espécie humana. Para isso, seus defensores incentivavam a reprodução daqueles que consideravam ter os “melhores” genes, enquanto combatiam o daqueles com características indesejáveis. A prática acabou misturada com o racismo da época, e foi adotada pelo regime nazista, que, em sua busca pela raça perfeita, levou ao Holocausto. Desde então foi relegada pelos cientistas. [Diga-se de passagem, Hitler se inspirou em Darwin.] [...]
O filósofo defende que se reabilite a ideia de usar a genética e outras áreas de ponta da ciência para promover a saúde e o bem-estar da humanidade. Ele diz que, infelizmente, os códigos de ética e a legislação restritivos que existem hoje e impedem esse tipo de pesquisa são uma resposta direta às práticas eugênicas. “Infelizmente, o pêndulo balançou demais na direção oposta. Hoje é muito difícil fazer pesquisas mais arriscadas em seres humanos, mesmo quando os voluntários dão o seu consentimento e existem compensações adequadas estipuladas em caso de falha”, diz Fuller.
É nesse sentido que o filósofo saúda a decisão do governo inglês de permitir a geração de embriões com o DNA de três pais diferentes. “Ainda que não conheçamos todas as consequências genéticas e sociológicas que vão acontecer com as crianças nascidas desse modo, o governo aprovou o procedimento como seguro. Sem dúvida, essa é uma lei proativa”, diz. Se sua previsão estiver certa, e a disputa entre o Princípio Proativo e o da Precaução for realmente central para o século 21, um dos lados já saiu na frente.
(Veja.com)
Nota: Há mais de cem anos Ellen White escreveu: “Mas se havia um pecado acima de qualquer outro, que levou à destruição da raça pelo dilúvio, foi o aviltante crime de amálgama de homem e animal, que desfigurou a imagem de Deus e causou confusão por toda parte” (Spiritual Gifts, v. 3, p. 64). Deus tolera longamente os pecados da humanidade e tem usado de misericórdia com o ser humano corrompido. Mas se há algo que Ele não tolera é que esse ser humano brinque com a vida e danifique/adultere/corrompa o patrimônio genético criado por Ele. Ainda não sabemos quais serão as consequências dessas experiências genéticas e que portas poderão ser abertas por elas. Também não sabemos quanta coisa já pode/deve ter sido feita “debaixo dos panos”. Aliás, já se sabe de experiências que misturam genes humanos com genes de animais (lembra desta?). Deus colocou um fim nas barbaridades genéticas promovidas pelos antediluvianos, sendo esse um dos principais pecados que levaram à destruição da humanidade pelo dilúvio. Jesus disse que os dias que precederiam Sua vinda seriam em quase tudo semelhantes aos dias anteriores ao dilúvio. Precisamos de mais sinais? [MB]
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