sexta-feira, 20 de julho de 2012

A história de Shelley Lubben e a ilusão da pornografia



O texto a seguir foi resumido e retirado do capítulo “Sob o grande topo”, do livro A Verdade por Trás da Fantasia da Pornografia, da ex-atriz pornô americana Shelley Lubben (a tradução é de Rosaine Dalila Scruff). O grande mérito de Lubben é mostrar que, à semelhança do que ocorre com o futebol e com o UFC, por exemplo, existe todo um verniz glamoroso em torno das produções pornográficas, quando, na verdade, a realidade por trás das câmeras é tristemente bem outra. Vamos ao texto de uma mulher mergulhada no pecado, mas que aceitou Jesus e teve a vida transformada:


Sexo empacotado em filmes pornô com loiras quentes em uma cama suja, com um olhar que diz: “Quero você”, é a maior ilusão do mundo. Confie em mim, eu sei. Eu tolerei oito anos em clubes de strip e prostíbulos, moldando meu caminho para o Grande Topo, onde a mim foi prometida fortuna, fama e glamour. Eu tinha 24 anos quando entrei no mundo da pornografia.


Fui colocada em um bom show, mas nunca gostei de truques de desempenho em um circo de sexo e preferia passar o tempo com Jack Daniels [bebida alcoólica] em vez de passar com os artistas do sexo masculino que eu era paga para ser falsa com eles. Isso mesmo, nenhuma de nós, loiras quentes, gostamos de fazer pornô. Na verdade, nós odiamos isso. Odiamos nossas pernas se abrindo sexualmente para homens doentes. Odiamos ser degradadas com seus cheiros ruins e corpos suados. Algumas mulheres odeiam tanto que eu podia ouvi-las vomitando no banheiro entre as cenas. Podia encontrar outras pessoas fora, fumando cadeias intermináveis de Marlboro Light.


Mas a indústria multibilionária do pornô quer que você acredite na fantasia de que as atrizes pornôs adoram sexo. Eles querem que você compre a mentira de que nós gostamos de ser degradadas por todos os tipos de atos repulsivos. Filmes editados de forma criativa e embalagens bonitinhas são projetados para fazer uma lavagem cerebral nos consumidores, e fazê-los acreditar que a luxúria retratada nos rostos quentes e incomodados faz parte do ato. Mas a realidade é que as mulheres estão com uma dor indizível por ser espancadas, estapeadas, cuspidas, chutadas e xingadas, como “prostitutazinha suja” e “banheiro de gozo”. [...]


A ex-atriz pornô Jersey Jaxin também descreveu o tormento e o abuso que ela experimentou no set pornô. “Os caras te socando em seu rosto. Você tem sêmen em todo o seu rosto, em seus olhos. Você é machucada. Suas entranhas podem vir para fora. É interminável. Você é vista como um objeto e não como um ser humano com um espírito. As pessoas não se importam. As pessoas usam drogas porque não conseguem lidar com a maneira como estão sendo tratadas.” 


Há uma razão pela qual as drogas e o álcool são abundantes na indústria pornô. Becca Brat, que realizou mais de 200 filmes, disse-me quando ela deixou o pornô em 2006: “Eu saí com um monte de gente da indústria adulta, todas as meninas tinham contratos para ser atrizes de pornô gonzo. Todos tinham os mesmos problemas. Todos usam drogas. É um estilo de vida vazio tentando preencher um vazio.” 


O ator pornô Christian XXX também fala abertamente sobre o uso de drogas generalizado. Ele escreveu em seu blog, em janeiro de 2008: “Tenho visto todos os tipos de drogas no set, nas festas, nos carros, em todos os lugares. Se eu tivesse que adivinhar, colocaria o uso da maconha a 90% por todas as pessoas envolvidas na indústria (atores, diretores, equipes, agentes, motoristas, proprietários, trabalhadores de escritório, etc.). Eu estava filmando com uma garota que morreu durante uma cena de sexo comigo (ela havia abusado de OxyContin). Recentemente, uma menina teve overdose de GHB (droga de festa, clara e inodora, que não combina com álcool) no set. Vi uma garota ganhar o Prêmio AVN, e não apareceu para receber o prêmio, depois caiu nas garras das drogas, o que a levou a perder pelo menos 22 kg e deixar a face da terra.”


De fato, a pornografia pode literalmente matá-lo. Desde o ano 2000, houve pelo menos 34 mortes relacionadas com drogas entre atores. Drinks oferecidos como vodca e batidas de Percocet anestesiam as mulheres o bastante para suportar atos sexuais ásperos de extrema humilhação. Quando o álcool não é suficiente, a dor gira ao redor do vício; estrelas e astros pornôs são enviados aos médicos locais em conspiração com a indústria pornográfica para receber prescrição de Vicodin, Xanax, Valium e outros medicamentos contra a ansiedade para ajudá-los a lidar com o trauma.


A ex-atriz pornô Michelle Avanti se lembra de sua primeira cena e como ela foi conduzida ao abuso de drogas por prescrição: “Tentei voltar atrás e sair do pornô, mas um ator disse que eu não poderia voltar atrás, porque havia assinado um contrato. Fui ameaçada de que se não fizesse a cena, seria processada em uma enorme quantia em dinheiro. Acabei até tomando doses de vodca para fazer a cena. Como eu fazia mais e mais cenas, abusei da prescrição de pílulas que me eram dadas a qualquer momento por diversos médicos em San Fernando Valley. Deram-me Vicodin, Xanax, Norcos, Prozac e Zoloft. Tudo que eu tinha que fazer era dizer a eles o que eu precisava, e eles me dariam qualquer coisa que eu quisesse.”


Acha que estou exagerando sobre as operações da sombria indústria do pornô? Pense novamente. Graças à internet [...], confissões de estupro, abuso de drogas e violência estão se tornando cada vez mais públicas. A estrela pornô Belladonna disse a Diane Sawyer: “Sempre odiei pornô.” Ela confessou que, enquanto se preparava para uma filmagem que achava que seria uma cena de sexo regular, o diretor lhe pediu para fazer sexo anal. De acordo com a rede de televisão, ela tinha acabado de completar 18 anos. Poucos meses (e várias cenas) mais tarde, já uma veterana atriz pornô, Belladonna apareceu em outro estúdio. Ela foi informada de que apareceria em uma cena de estupro por uma gangue em uma prisão, e que seria compartilhada entre doze homens diferentes. Novamente, ela tentou sair. Mais uma vez, foi “convencida” a continuar.


Mas você pode perguntar: “Não são as mulheres que escolhem fazer filmes pornôs?”
Com base nas imagens sexuais com que fomos alimentados a colheradas pela TV, revistas e internet, com certeza nós escolhemos. No começo dos anos de 1970, quando aprendemos a sair perseguindo nossos caminhos, desde nossas estrelas favoritas como Doc, no “The Love Boat”, todo o trajeto pelo “Desperate Housewives” da ABC, sendo os mais populares programas entre as crianças em 2005. Sem mencionar “glamorosas” imagens de pornografia de pelúcia sendo enfiadas em nossas goelas abaixo. Não é surpresa que as crianças da América, que foram muito bem preparadas em imoralidade sexual há mais de 40 anos, acabem no MySpace ou Facebook postando imagens sensuais de si mesmas. Onde mais poderia uma criança que foi hiperssexualizada ter tanta atenção?


Mas os olheiros da pornografia ficam à espreita pesquisando online por anos os perfis e predando as desavisadas fêmeas sexualizadas. Fingindo ser adolescentes ou admiradores do sexo masculino, postam palavras lisonjeiras como “Você é a garota mais bonita”, ou “Você é tão quente”, e as adolescentes emocionalmente carentes rapidamente caem em sua armadilha. Alguns elogios mais tarde e uma boa oferta financeira, e nos encontramos em pé no meio de um escritório de agentes pornôs ouvindo sobre “modelagem nu” e sexo anal. “Você será a próxima estrela pornô mais quente, se você fizer anal”, o agente pornô faz promessas ao entregar o contrato, enquanto uma loira de peitos grandes no canto da sala pisca para nós. [...]


O engano é comum em todo o processo de preparação. Alguns de nós contraímos HIV como resultado desse engano grosseiro. O ator pornô Darren James se lembra de seu pesadelo de testes positivos de HIV em 2004: “Foi como um golpe no estômago”, disse James. “A vida era muito mais bonita.”


O Departamento de Saúde Pública de Los Angeles (DSPLA), em Setembro de 2009, publicou relatórios surpreendentes de 2.396 casos de clamídia, 1.389 casos de gonorreia e cinco casos de sífilis entre artistas pornôs. Entre 2004 e 2008, repetidas infecções foram relatadas por 25,5% dos indivíduos. Também foi relatado que a prevalência de clamídia e gonorreia em artistas pornô é dez vezes maior em Los Angeles entre os contados com a idade de 20 a 24 anos e cinco vezes maior na Cidade de Los Angeles, entre as maiores populações de risco.


No topo disso, 25 casos de HIV foram relatados pela Adult Industry Medical Healthcare Foundation (AIM), desde 2004. AIM é a clínica médica da indústria adulta que oferece serviços de testes e cuidados médicos exclusivos a estrelas da pornografia. Devido à falta de clínicas de testes para os talentos das telas, as infecções retais, orais e um nível elevado de doenças persistem entre atores pornôs. 


Além de ser coagidas, enganadas e repetidamente expostas a doenças incuráveis e potencialmente fatais, muitas mulheres experimentam graves prejuízos nas partes internas do corpo. A ex-atriz pornô Kami Andrews confessa que ama o dinheiro e o glamour do pornô, mas o que ela não gosta é o fato de que não está sendo capaz de defecar normalmente. [...]


O trato intestinal é apenas o início de extremos danos corporais graves causados por atos anais. A experiência de muitas mulheres é com outras doenças médicas, tais como prolapso do reto, uma condição terrível em que as paredes do reto se projetam para fora do ânus e, consequentemente, tornam-se visíveis fora do corpo. Eventualmente, o dano torna-se permanente – para o prazer da torcida de pornógrafos bestiais que têm criado uma maneira de transformar essa condição inominável em um “fetiche”.


Quando as estrelas pornôs terminam um dia e vão para casa com machucados e o corpo sangrando, algumas de nós fazem uma tentativa de ter um relacionamento saudável e normal, mas nosso namoradinho cafetão fica com ciúmes e abusa fisicamente de nós. Então, em lugar disso, nos casamos com nossos diretores pornôs ou regredimos de volta à infância e ficamos com os titios de 60 anos de idade. Eu preferia os titios porque desesperadamente queria o amor e a atenção do meu pai. Jenna Jameson, Jill Kelly, Rita Faltoyano e Tera Patrick preferiram se casar dentro da indústria pornô e agora são todas vítimas do que a estrela pornô Tera Patrick chama de “maldição da pornografia”. Ela afirma em seu livro sobre o divórcio: “Eu não queria ser outra estatística do pornô.”


Estrelas pornô não apenas não são boas esposas, mas nós miseravelmente falhamos como mães também. Gritamos, gritamos e batemos em nossos filhos sem nenhum motivo. Na maioria das vezes, estamos intoxicadas ou “altas”, e nossos pequenos de quatro anos de idade são os que recolhem nosso corpo sem vida que está largado no chão.


Quando nossos clientes com muitos dólares vêm até nós para ser entretidos por nossos truques, trancamos nossos filhos em seus quartos e dizemos-lhes para ficarem quietos. Eu costumava dar à minha filha de quatro anos um bip e a fazia esperar no parque até que eu tivesse acabado. Para aquelas de nós que somos casadas, o papai não se importa de ser a babá das crianças enquanto estamos em nosso trabalho, que é ser penetradas por vários artistas do sexo masculino. Claro que não, nossos maridos narcisistas só se preocupam com o dinheiro do pornô.


A verdade é que não há fantasias na pornografia. É tudo uma ilusão. Um olhar de perto e mais atento nas cenas da dura realidade da vida de uma estrela pornô vai lhe mostrar um ato que a indústria pornô não quer que você veja. A verdade é que nós, atrizes pornôs, queremos acabar com a vergonha de nossa vida e o trauma da bilheteria, mas não podemos fazer isso sozinhas. Precisamos de vocês homens para lutar por nossa liberdade e nos devolver nossa honra. Precisamos de vocês para nos manter em seus braços fortes, enquanto soluçamos em lágrimas sobre nossas feridas profundas e imploramos a cura. Queremos que você jogue fora nossos filmes e nos ajude a juntar os fragmentos quebrados de nossa vida. Precisamos de você para orar por nós, para que Deus ouça e repare nossa vida arruinada.


Não acredito na grande fantasia do Topo. Pornografia é nada mais do que sexo falso, contusões e mentiras em vídeo. Confie em mim, eu sei.

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