Cada um de nós possui um estilo de vida que nos leva a relacionar-se com os demais de modo bem definido. O cristão, por seu modo de se conduzir, é reconhecido como verdadeiro discípulo de Jesus, precisamente pelos seis relacionamentos:
1. Com Deus, como Pai;
2. Com Jesus, como mestre;
3. Com o Espírito Santo, como guia;
4. Com os demais, como irmãos;
5. Com as coisas, com liberdade;
6. Consigo mesmo, como pessoa.
1) Com Deus, como Pai.
Podemos partir do Evangelho de Lucas na Parábola do Pai Misericordioso, conf. Luc. 15:11-32
Vemos nessa Parábola, que devemos confiar no amor incondicional do Pai que se manifesta de modo especial no perdão.
2) Com Jesus, como Mestre.
Esta relação possui seis características:
2.1) Nós somos chamados pelo Mestre.
Vejamos o Evangelho de João: “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos conceda”. (João 15:16).
É o chamado do Mestre e não a nossa decisão que nos capacita para cumprir com o chamado. É bom lembrar, pois quem se torna discípulo por conta própria não dispõe da força do chamado, que o torna capaz para vencer as dificuldades e perseverar até ao fim. Vejamos este trecho do Evangelho: ”Depois, subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram a ele”. (Marcos 3:13)
No Evangelho de São Lucas: “38Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma mulher, chamada Marta, o recebeu em sua casa. 39 Tinha ela uma irmã por nome Maria, que se assentou aos pés do Senhor para ouvi-lo falar. 40Marta, toda preocupada na lida da casa, veio a Jesus e disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude. 41Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; 42no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que lhe não será tirada” (Luc. 10:38-42).
Sentar-se diante do Mestre é a atividade mais importante do discípulo. O discípulo passa muito tempo a desfrutar simplesmente a presença do Mestre. Neste sentido é um contemplativo que, com os olhos bem abertos, observa todos os traços da personalidade do Seu Mestre para logo depois reproduzi-los.
Sentar-se aos pés do Mestre não é outra coisa senão “permanecer n´Ele”, unido como o sarmento à videira, bebendo a sua seiva, participando de sua vida etc…
2.3) Escutar o Mestre.
Quando se senta aos pés do Mestre não é para estar passivamente, mas para realizar uma das atividades mais difíceis deste mundo: escutar.
Infelizmente falamos tanto e não deixamos que ele intervenha na nossa conversa. E não queremos que participe, para que não tome parte na nossa vida.
Lá, no Antigo Testamento, vemos esta passagem, que ilumina a escuta do Mestre: “Dai, pois, ao vosso servo um coração sábio, capaz de julgar o vosso povo e discernir entre o bem e o mal; pois sem isso, quem poderia julgar o vosso povo, um povo tão numeroso?” (1ª Reis 3:9).
Depois que Salomão construiu o Templo, Deus lhe prometeu dar o que ele quisesse: O Rei pediu o que mais precisava: “Dá-me um coração que ouve”.
Se não sabe ouvir a voz de Deus, como poderá mostrar aos outros a vontade divina? Quem não sabe escutar, não pode ser discípulo de Jesus.
2.4) Crer no Mestre.
São Paulo, mostra como devemos crer: “É este o motivo por que estou sofrendo assim. Mas não me queixo, não. Sei em quem pus a minha confiança, e estou certo de que é assaz poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia”. (2ª Tim. 1:12)
Exemplos concretos, de discípulos que confiaram no Mestre:
• Ananias (Atos 9:10-19);
• Missão dos Apóstolos (Mat. 10,5-10).
A base da relação de um discípulo com o seu Mestre é a confiança.
Se a matemática garante que cinco pães e dois peixes não bastam para alimentar uma imensa multidão, mas o mestre ordena que se sente para comer, confia-se absolutamente n´Ele.
A nossa atitude não é a de compreender tudo, mas de obedecer à Palavra pronunciada por nosso Mestre.
2.5) Seguir o Mestre.
O seguidor do Mestre imita o seu estilo de vida, pois ser discípulo não se alcança por um título, credencial ou função eclesiástica. Nem mesmo a certidão de batismo nos garante que sejamos discípulos de Jesus.
Ladrões, homossexuais, idólatras, curandeiros, avarentos, intrigantes e mentirosos, coincidem numa coisa: são crentes, quando respondem a um censo.
Porém, se o censo em vez de perguntar pela religião perguntasse se são discípulos de Jesus, nenhum deles responderia de forma afirmativa.
No computador do céu não há uma lista de crentess ou de batizados. Há um volume que se chama “o livro da vida”, onde estão gravados em ouro os nomes dos discípulos.
Podemos confirmar isto no Evangelho de Mateus: “35porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; 36nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim. 37Perguntar-lhe-ão os justos: – Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? 38Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? 39Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? 40Responderá o Rei: – Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes”. (Mat. 25:35-40).
2.6) Obedecer ao Mestre.
Fica claro para nós ao lermos no Evangelho de Mateus: “Mas não convém escandalizá-los. Vai ao mar, lança o anzol, e ao primeiro peixe que pegares abrirás a boca e encontrarás um estatere. Toma-o e dá-o por mim e por ti”. (Mat. 17:27). O Discípulo fez como foi mandado.
Ainda, no Evangelho de Mateus, outro exemplo de obediência à ordem recebida: “1Aproximavam-se de Jerusalém. Quando chegaram a Betfagé, perto do monte das Oliveiras, Jesus enviou dois de seus discípulos, 2dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte. Encontrareis logo uma jumenta amarrada e com ela seu jumentinho. Desamarrai-os e trazei-mos. 3Se alguém vos disser qualquer coisa, respondei-lhe que o Senhor necessita deles e que ele sem demora os devolverá. 6Os discípulos foram e executaram a ordem de Jesus”. (Mat. 21:1-3.6). Simplesmente, os discípulos obedeceram a ordem recebida.
A Palavra do Mestre é a verdade, ainda que tudo pareça contraditório: deve-se deixar lavar os pés, porque o Mestre o diz; é preciso subir a Jerusalém, ainda que seja perigoso; devemos perdoar setenta vezes sete, ainda que pareça exagero. Só é discípulo quando se faz o que o Mestre ordena.
3) Com o Espírito Santo, como guia.
O Espírito, por ser fonte de vida, nos unifica em Cristo. Impulsiona-nos com a mesma força que impulsionou Jesus e nos comunica os mesmos sentimentos, critérios e valores. Vamos verificar o que nos diz São Paulo: “Mas todos nós temos o rosto descoberto, refletimos como num espelho a glória do Senhor e nos vemos transformados nesta mesma imagem, sempre mais resplandecentes, pela ação do Espírito do Senhor”. (2ª Cor. 3:18)
O Espírito Santo interioriza a Lei nos nossos corações. Produz em nós não só a capacidade de cumprir a vontade de Deus, mas também de desejá-la, identificando a nossa vontade com a Sua, conforme podemos ver na Carta de Paulo aos Filipenses: “Porque é Deus quem, segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar”. (Fil. 2:13).
O Espírito Santo revela Jesus ao nosso coração. É o revelador que imprime a fotografia, lhe dá cor, dimensões e faz aparecer as figuras.
O Espírito Santo converte o discípulo em apóstolo. Equipa os discípulos, no seu apostolado, com ampla variedade de carismas na ordem da edificação do Corpo de Cristo.
4) Com os outros, como irmãos.
Um discípulo considera “irmão” todo o homem, sem lhe importar a classe social, o credo, o título, a posição social ou a função eclesiástica. Sente-se responsável e solidário com os seus irmãos, principalmente com os mais necessitados.
Quem está nesta caminhada, nunca se sente superior aos demais. Ao mesmo tempo, não sofre nenhum complexo de inferioridade, nem se dobra ante os sinais do poder ou valores deste mundo.
Jesus deu claras instruções a respeito da forma dos seus discípulos se relacionarem.
O perdão: Perdoar o irmão e pedir-lhe perdão pelas ofensas que lhe fizemos é o “pão-nosso de cada dia” do discípulo de Jesus. Perdoar é sinônimo de libertar;
A correção fraterna: Os discípulos são responsáveis uns pelos outros. Todos precisamos uns dos outros para nos ajudar a caminhar, corrigindo aspectos que, às vezes, nem percebemos que existem, podemos confirmar nas palavras do Evangelho de Lucas: “41Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão e não reparas na trave que está no teu olho? 42Ou como podes dizer a teu irmão: Deixa-me, irmão, tirar de teu olho o argueiro, quando tu não vês a trave no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e depois enxergarás para tirar o argueiro do olho de teu irmão”. (Luc. 6:41-42).
O amor: Como se reconhece o verdadeiro discípulo de Jesus? – A resposta podemos ver nos escritos joaninos: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13:35) e “Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê”. (1ª João 4:20).
O amor não é um sentimento, mas uma decisão: estar ao serviço do irmão, sacrificar a própria comodidade, a reputação todo e qualquer tipo de vantagens pessoais, importante, é servir ao irmão necessitado.
5) Com as coisas, com liberdade.
A Riqueza: Jesus previne com clareza os seus discípulos sobre o grande perigo que as riquezas encerram, podemos conferir no Evangelho de Mateus: “19Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. 20Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam. 21Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração. 25Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? 26Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? 27Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? 28E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam. 29Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles”. (Mat. 6:19-21.25-29).
Jesus insiste no abismo que separa os ricos dos pobres, fazendo sentir que um discípulo não pode ficar indiferente diante da injusta pobreza do próximo. Ver Luc. 16:19-31.
A pobreza, certamente, não se limita ao aspecto material, mas vem acompanhada de uma atitude mais integral. Trata-se de uma dependência total e incondicional de Deus em todos os campos, no material, no intelectual, no espiritual etc…
Administração cristã de bens: Nada nos pertence. Somos simples administradores dos talentos que nos foram confiados.
O desprendimento: Jesus diz aos apóstolos para irem pela estrada sem duas túnicas, nem alforje, nem dinheiro. O discípulo liberta-se de todas as cadeias do egoísmo, é capaz de doação.
6) Consigo mesmo, como pessoa.
Esta relação é de suma importância para o discípulo, pois o primeiro campo a ser trabalhado é a sua própria pessoa. É aí, que começa o discipulado quando você se vê como pessoa criada por Deus e amada por Ele. Se o discípulo não se consegue ver nesta condição, possivelmente, será um fracasso a sua caminhada.
Fonte: Jardim Petropolis II
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