A questão do pecado contra o Espírito Santo é mencionada por Cristo no contexto da cura de um endemoninhado cego e mudo (Mt 12:22-32; Mc 3:20-30). Essa cura levou “toda a multidão” que seguia a Jesus a indagar se não seria Ele, “porventura, o Filho de Davi”. Mas os fariseus, invejosos da popularidade de Jesus, contestaram: “Este não expele demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios” (Mt 12:23 e 24). É evidente que os fariseus atribuíam a Satanás a obra que o Espírito de Deus realizava através de Cristo.
Para entender melhor o assunto, é preciso lembrar que uma das obras mais importantes do Espírito Santo é levar os seres humanos ao arrependimento dos seus pecados e à aceitação de Cristo como Salvador e Senhor. Mas essa obra acaba sendo neutralizada na vida daqueles que resistem persistentemente aos apelos do Espírito Santo. Assim, entristecem o Espírito Santo (Ef 4:30) e apagam a Sua influência sobre a consciência individual (I Ts 5:19). Com o coração endurecido pelo orgulho (Hb 3:7-15), perdem a sensibilidade espiritual e as percepções morais, e acabam formando uma escala de valores distorcida, na qual a obra do Espírito Santo é muitas vezes atribuída a Satanás e a de Satanás, ao Espírito Santo.
Nas Escrituras encontramos vários casos de pessoas que pecaram contra o Espírito Santo. Por exemplo, Faraó, diante do qual Moisés e Arão realizaram grandes sinais e maravilhas, endureceu o seu coração a ponto de o Espírito de Deus não mais ter acesso a ele (Êx 5 a 12). Judas Iscariotes não permitiu, a despeito das advertências de Cristo (Mt 26:21-25), que o Espírito Santo o dissuadisse de trair o Mestre. Já Ananias e Safira mentiram ao Espírito Santo e foram punidos por isso (At 5:1-11). Sem dúvida, essas pessoas se perderam porque não permitiram que o Espírito Santo as levasse ao arrependimento.
Por outro lado, a Bíblia menciona também alguns indivíduos que se afastaram de Deus e acabaram se arrependendo. Sansão, a respeito do qual é dito que “ele não sabia ainda que já o Senhor Se tinha retirado dele” (Jz 16:20), clamou depois e a sua oração foi atendida (Jz 16:28-30). Seu nome aparece entre os heróis da fé (Hb 11:32). Manassés foi talvez o pior rei hebreu, mas, após ser levado em cativeiro pelo exército assírio, ele se humilhou perante Deus e empreendeu uma significativa reforma religiosa em Judá (II Rs 21:1-18; II Cr 33:1-20). Esses exemplos revelam que mesmo casos aparentemente sem esperança podem ser revertidos, se a pessoa se humilhar perante Deus e clamar por socorro.
O problema dos fariseus é que o orgulho e a auto-suficiência os haviam endurecido a ponto de não mais perceberem os milagres de Cristo como sinais operados “pelo Espírito de Deus” para evidenciar a chegada do “reino de Deus” (Mt 12:28). Como o arrependimento é a condição para o perdão dos pecados (At 2:38), eles jamais seriam perdoados enquanto continuassem atribuindo a Satanás a própria obra do Espírito Santo efetuada para levá-los ao arrependimento.
Diante disso, podemos concluir que o pecado contra o Espírito Santo é jamais reconhecer os próprios erros. Enquanto a pessoa reconhece que está errada e que deve mudar, ela pode ter certeza de que não foi longe demais. Aqueles que indagam se por acaso não cometeram o pecado imperdoável demonstram por essa atitude que sua consciência não perdeu completamente a sensibilidade. Quando a pessoa não mais reconhece seus próprios erros, ela se encontra no caminho perigoso. Mesmo assim, não podemos perder a esperança. Experiências como as de Sansão e Manassés revelam que mesmo pessoas totalmente degeneradas podem voltar a Deus, se derem ao Espírito Santo a oportunidade de realizar a Sua obra regeneradora.
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