quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Estaria o movimento dos “Guerreiros de Oração” em conformidade com a mensagem adventista?


O termo “guerreiros de oração” é uma expressão que se popularizou no mundo evangélico, e que entusiasma até mesmo alguns adventistas. Uma pesquisa no www.google.com é suficiente para se ter uma ideia de diferentes denominações que possuem ministérios de oração com esse nome. Já o artigo de Daniel Plenc, intitulado “Radiografia de um reavivamento”, publicado na revista Ministério (Brasil), janeirofevereiro de 2007, p. 27-29, fornece importantes subsídios sobre a origem e o desenvolvimento desse crescente movimento carismático.


O principal ideólogo evangélico dos guerreiros de oração é C. Peter Wagner, professor de Desenvolvimento Eclesiástico no Seminário Teológico Fuller (EUA). Autor de mais de 30 livros, Wagner lançou originalmente em inglês, no início da década de 1990, os quatro livros de sua série “Guerreiros da Oração”, intitulados Oração de Guerra, Escudo de Oração, Derrubando as Fortalezas em Sua Cidade e Igrejas que Oram, publicados em português pela Bom pastor Editora Ltda., de São Paulo, SP.


A ideia básica é que o mundo está sendo controlado por uma grande organização demoníaca, em que cada demônio exerce uma jurisdição territorial específica. Para que uma cidade, aldeia ou região seja evangelizada com êxito, é necessário primeiro que ela seja libertada (ou exorcizada) dos respectivos demônios que a controlam. Portanto, para os seguidores desse movimento, a prática do exorcismo, tão comum hoje entre pentecostais e carismáticos, acaba assumindo também uma dimensão geográfica. Em outras palavras, não apenas indivíduos, mas também regiões geográficas estão sendo hoje supostamente exorcizados.


Não resta dúvida de que o grande conflito cósmico é uma realidade (Ap 12:7-18); que nosso mundo é um grande campo de batalha entre as forças do bem e os poderes do mal; e que, como soldados de Cristo, devemos lutar contra as forças do mal (Ef 6:10-20; Tg 4:7, 8; 1Pe 5:8, 9). Além disso, Jesus, durante Seu ministério terrestre, lutou diretamente com o demônio (Mt 4:1-11); expulsou o demônio de algumas pessoas (Mt 8:28-34; 9:32-34; 12:22-32; 17:14-21; etc.); e legou a Seus discípulos o poder de expulsar demônios (Mt 10:8). Mas a ênfase dos guerreiros de oração contradiz alguns conceitos bíblicos fundamentais.


O movimento pentecostal-carismático, em si, já tende a demonizar todos os males que assolam a raça humana, negando em grande parte a lei da causa-efeito (ver Gl 6:7). Transferindo a causa de seus maus atos a um suposto demônio, o ser humano deixa de ser moralmente responsável por sua própria conduta. Mas a teoria de jurisdições territoriais demoníacas acaba transferindo o foco do grande conflito da dimensão espiritual (domínio mental) para a dimensão geográfica (domínio territorial). Quando Cristo enviou Seus doze discípulos, Ele lhes deu autoridade para expelir demônios de pessoas endemoninhadas, sem qualquer alusão a um suposto exorcismo territorial (cf. Mt 10:5-15).


As orações dos “guerreiros de oração” tendem a ordenar a Deus o que Ele deve fazer, exigindo arrogantemente Sua intervenção. O tom impositivo das orações é tido como demonstração de autêntico poder espiritual. Por contraste, as orações de Cristo ao Pai, registradas nos Evangelhos, são humildes súplicas (ver Mt 6:9-13; 11:25, 26; 26:39, 42; 27:46; Lc 23:34, 46; Jo 11:41, 42; 12:27, 28; 17:1-26; etc.). Mesmo sendo “um” com o Pai (Jo 10:30), Cristo ainda orava humildemente: “não se faça a Minha vontade, e sim a Tua” (Lc 22:42).


Alguns adventistas que também se denominam “guerreiros de oração” parecem ser simples grupos de oração intercessória, sem a conotação exorcista acima mencionada. Usam o nome desconhecendo sua origem e significado, ou então imaginando que ele é apropriado, podendo ser dissociado de sua conotação original. Seja como for, para evitar qualquer associação indevida, seria prudente que os intercessores adventistas escolhessem outro nome, destituído de qualquer conotação negativa.


Texto de autoria do Dr. Alberto Timm Revista do Ancião (outubro – dezembro de 2009). Via Setimo Dia

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