O “sapo cowboy” da foto no topo do artigo (Hypsiboas sp.), que ganhou esse nome por causa das franjas nas pernas e da espora na “pata”. O anfíbio foi descoberto durante uma saída noturna, em uma área pantanosa do rio Kutari
Uma pesquisa revelou 46 novas espécies no Suriname. Elas foram descobertas em um expedição dentro do país com uma das mais densas florestas tropicais do mundo.
“Nossa equipe é privilegiada de estudar uma das últimas áreas selvagens vastas e intocáveis no mundo”, comenta Trond Larsen. “Como cientista, é emocionante estudar essas florestas remotas onde diversas descobertas estão nos esperando, especialmente quando se acredita que devemos proteger esses territórios para manter a biodiversidade e os ecossistemas do planeta, necessários para as gerações que virão”.
A expedição, que durou três semanas, passou por três locais remotos ao longo dos rios Kutari e Sipaliwini, perto da vila de Kwamalasumutu, entre agosto e setembro de 2010. O objetivo era catalogar a vida selvagem e ajudar a desenvolver o ecoturismo sustentável entre os indígenas locais. Fizeram parte dela 53 cientistas, indígenas e estudantes.
“Água esteve na expedição inteira”, comenta Larsen. “Após subir o rio de bote por muitas horas, nós montamos um acampamento na floresta. Nossa cozinha, construída com pedaços de madeira, foi levada embora poucos dias depois, por culpa das fortes chuvas”.
“Nossa decida diária das tendas para o local de refeições virou um jogo de escorregar e cair. Em um dos dias, quando escorreguei, consegui me segurar em um galho, para descobrir depois que ele estava coberto de espinhos. Após alguns dais, nossas roupas estavam espalhadas pelo local, na esperança de um pouco de sol que pudesse secá-las. Uma noite, quando entrei em minha barraca, vi meu saco de dormir com uma formiga-cabo-verde (formiga bala) dentro, que tem esse nome pela dor absurda que sua picada causa, durante 24 horas”, conta.
Apesar desses desafios, os pesquisadores documentaram quase 1.300 espécies, entre uma diversidade incrível de plantas, peixes, répteis, anfíbios, pássaros, pequenos mamíferos, formigas, libélulas e besouros.
Entre as espécies, estão:
Um bagre “com armadura” (Pseudacanthicus sp.), com as placas ósseas externas cobertas com espinhos para se defender das piranhas gigantes que habitam as mesmas águas. Um dos guias locais da expedição estava quase comendo essa espécie até que os cientistas notaram as características únicas e o preservaram. Poucos são conhecidos no Suriname, e esse é o primeiro encontrado no rio Sipaliwini. “Nós trabalhamos muito perto do povo Trio, que depende principalmente de caça e pesca”, afirma Larsen. “Eles pescaram e comeram muitos peixes durante nossa expedição, incluindo uma grande variedade de bagres. Uma vez que você tira os espinhos, imagino que deve ter um gosto comum”;
O “sapo Pac-Man” (Ceratophrys cornuta), um predador que usa a técnica “sentar e esperar”, com uma boca enorme que o permite engolir uma presa quase do seu tamanho, incluindo pássaros, ratos e outros sapos. Um dos pesquisadores estava usando coleiras para rastrear pássaros, e acabou encontrando o animal e a coleira na barriga do sapo;
O “grande besouro de chifre” (Coprophanaeus lancifer) tem o tamanho de uma tangerina e pesa mais de seis gramas. Tem cor metálica azul e roxa. Os machos e as fêmeas têm chifres, que usam em conflitos.
Para ver fotos de outros animais descobertos clique aqui.
Os cientistas também descobriram extensas cavernas rochosas, perto da vila de Kwamalasamutu, em uma região conhecida como Werehpai, o local de vida humana mais antigo do sul do Suriname, com estimativas recentes que sugerem a habitação há 5 mil anos. A Conservação Internacional está trabalhando com as comunidades locais para preservar e promover Werehpai e o ecoturismo, já que aqui está a maior concentração de cavernas rochosas da Bacia Amazônica.
“A natureza intocada e a cultura de Kwamalasamutu a tornam um destino único para turistas mais aventureiros, que gostam de caminhadas ao longo da floresta tropical, em busca de fauna e flora”, comenta Annette Tjon Sie Fat, diretora do programa da Conservação Internacional no Suriname.
Os pesquisadores vão voltar ao Suriname em março, para continuar a exploração.
“É necessário documentar e entender sua biodiversidade, para que possamos protegê-la, mas um dos pontos mais importantes da expedição foi a chance de trabalhar com a comunidade local, a Trio”, afirma Larsen. “Nossas descobertas vão ajudar os Trio a promover o ecoturismo sustentável, oferecendo novas oportunidades econômicas ao mesmo tempo que mantém a conservação dos ecossistemas. Nossos cientistas trabalharam com vários estudantes do país, durante a expedição, oferecendo um treinamento de valor para a próxima geração de biólogos e conservacionistas”.
por [LiveScience]
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