terça-feira, 19 de abril de 2011

Cristo Nossa Páscoa

Cumprindo a Páscoa antitípica, a morte do Cordeiro de Deus concede ao cristão a libertação do pecado e o conduz à Canaã celestial.
Novamente é Páscoa! Durante os dias deste mês, crianças e adultos provocarão uma corrida frenética aos supermercados e lojas para adoçar a boca. Ovos de chocolate - pequenos ou grandes, escuros ou brancos, doces ou meio amargos, recheados, flocados, etc.- de todos os formatos, para todos os gostos e imaginações.
A ficção mítica se repete: coelhos que botam ovos de chocolate. E pasme: embrulhados em papéis coloridos. Fantástico, não é?
Entre as culturas ocidentais, a Páscoa de hoje é uma das datas comemorativas mais importantes. Pesquisas históricas mencionam que ela foi introduzida em homenagem a um deus teuto-saxônico (germânico-britânico) séculos atrás, por ocasião da primavera (março/ abril) e do plantio no hemisfério norte. Devido à sua reprodução e grande fertilidade, o coelho foi tomado como símbolo desse evento. No cristianismo, a Páscoa foi estabelecida ou adotada no calendário das festas religiosas romanas, em referência à morte e ressurreição de Jesus.
Por que transformar a Páscoa em crendice? Como cristãos, temos um fato histórico real, escrito com sangue, na cruz. Essa história precisa ser contada ao mundo que perece. Caso contrário, a Páscoa não terá sentido nem motivo para comemoração.
Instituição da Páscoa
Nos capítulos 12 e 13 de Êxodo, encontramos a origem e finalidade dessa festa tipológica. O povo de Israel havia passado quatro séculos no cativeiro egípcio e chegara o momento tão esperado da libertação.
Êxodo 12:3-14 descreve detalhadamente as ordens divinas: " Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, [...] um cordeiro para cada família.[...] O cordeiro será sem defeito, macho de um ano;[...] e o guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o imolará no crepúsculo da tarde. Tomarão do sangue e o porão em ambas as ombreiras e na verga da porta[...] naquela noite, comerão a carne assada no fogo; com pães asmos e ervas amargas a comerão.[...] Desta maneira a comereis: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; comê-la-eis à pressa; é a Páscoa do Senhor."
Os versos 12 a 14 mencionam o propósito: "Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos[...]; quando Eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora,[...] Este dia vos será por memorial."
Páscoa: a palavra em português não traduz exatamente a essência do significado. Deus disse a Moisés que ordenasse aos israelitas a celebração anual da Páscoa (hebr.Pesach " passagem do ou sobre"; gr. Pascha; latim Pascua; inglês Passover [pass over] "passar sobre") como lembrança permanente do livramento dos primogênitos israelitas.
Eles jamais deviam se esquecer daquela noite em que o anjo destruidor passou sobre os lares, viu o sangue do cordeiro pascal nos portais das casas dos que tinham observado as ordens divinas.
O cordeiro devia ser preparado em seu todo, não lhe sendo quebrado nenhum osso; assim, nenhum osso seria quebrado do Cordeiro de Deus, que por nós devia morrer (Êx 12:46; Jo 19:36). Isso seria uma representação da inteireza do sacrifício de Cristo.
O cordeiro devia ser comido com ervas amargas, como lembrança do cativeiro egípcio. Quando nos alimentamos de Cristo, devemos fazê-lo com contrição e humildade, por causa de nossos pecados. O uso dos pães asmos ( heb. matzá) era também significativo. Era expressamente estipulado na lei da Páscoa que nenhum fermento fosse encontrado nas casas dos hebreus durante a festa.
A dimensão tipológica apontava também para o futuro. O cordeiro fora morto em lugar do primogênito; por isso devia ser macho (Êx 12:5). As religiões pagãs também tinham suas festas e muitas delas incluíam o sacrifício de animais. Tais sacrifícios, porém, visavam a apaziguar a fúria dos deuses, mudar a atitude deles em favor dos homens. Era uma espécie de troca: davam para receber.
Tal idéia é completamente oposta ao caráter de Deus, e não é esse o significado dos sacrifícios que Deus ordenou no Antigo Testamento. Todos eles, especialmente o da Páscoa, não tinham como alvo aplacar a ira de Deus, mas " Seu objetivo era dirigir os homens ao Salvador, levando-os assim a estar em harmonia com Deus" ( Ellen White, O Desejado de Todas as Nações,p.286). S.N.Haskell menciona que "de todos os sacrifícios registrados, nenhum chegou tão próximo à oferta antitípica quanto aquele requerido de Abrão quando Deus o chamou para oferecer seu único filho" ( The Cross and Its Shadow,p.34).
Desde a entrada do pecado, Deus ensinou de maneira ilustrada o plano da salvação. Começando com os altares: " Na porta do Paraíso, guardada pelos querubins, revelava-se a glória de Deus, e para ali iam os primeiros adoradores. Ali erguiam seus altares e apresentavam suas ofertas" ( Ellen G. White, Patriarcas e Profetas,p.84,85). Seguindo depois os patriarcas - povo de Israel - santuário - templo - profetas...
Deus ordenara que Moisés construísse um tabernáculo ou santuário todo especial, e lhe dera instruções com referência à sucessão de cerimônias anuais que eram de natureza simbólica, sendo uma "sombra das coisas que haviam de vir" ( Cl 2:17), prefigurando a vida, morte, ressurreição e ministério de Cristo.
Finalmente, Jesus - o tipo encontrara o antitípico -, a salvação em pessoa. Quando João viu Jesus, exclamou: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo"(Jo 1:29)." E era a preparação da Páscoa, e quase à hora sexta; e [Pilatos] disse aos judeus:Eis aqui o vosso rei" (Jo 19:14, ARC). "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder" ( Ap 5:12).
Ao escrever aos corintos (1Co 5:7), Paulo explicou-lhes que "Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado"(ARA). Ou, "Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós" (ARC).
Quanod Cristo proferiu Suas últimas palavras, o sacerdote no templo estava para tirar a vida do cordeiro pascal. Houve repentino terror e confusão. O grande "véu do santuário se rasgou em duas partes, de alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas"(Mt 27:51). O cordeiro pascal desvencilhou-se das mãos do sacerdote. Aquele que veio para fazer a vontade de Deus ocasionou a cessação dos sacrifícios, holocaustos e oblações pelo pecado (Hb 10:10-12). (Ver Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações,p.757).
Quando o cordeiro pascal era sacrificado, o adorador israelita devia lembrar que, por causa dessa morte e desse sangue, ele estava sendo poupado da sua própria morte, estava sendo libertado da escravidão e tinha diante de si, aberto, o caminho para a terra de Canaã. Tudo isso era símbolo do sacrifício de Cristo, que nos salvou da morte eterna, nos libertou da escravidão do pecado e abriu, para nós, o caminho da Canaã celestial.
Mas o povo da nova Aliança (Jr 31:31; Ez 37:26), do Novo Testamento (Hb 9:14-17), precisava de outra celebração que lembrasse a morte do Redentor e pusesse diante de Seu povo a esperança de uma terra futura. " Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha"(1Co 11:26).
Para o mundo cristão, a Ceia do Senhor - solenidade instituída pelo Senhor Jesus às vésperas de Sua morte - substituta da Páscoa. Ao participarmos dela, confirmamos nossa fé na volta de Jesus a este mundo. Ele, então, nos levará para o Céu, onde, com todos os Seus discípulos, de todos os tempos e de todas as partes, celebrará a ceia das bodas do Cordeiro ( Ap 19:9), na qual beberá novamente do fruto da vide.
Significado da Páscoa
A advertência feita a nossos primeiros pais: "No dia em que dela comeres, certamente morrerás"( Gn 2:17), transformou-se em sentença. A imortalidade foi-lhes prometida sob a condição de obediência, mas, pela transgressão, perderam o privilégio de se tornar eternos. Estavam agora condenados à morte.
"O Filho de Deus, o glorioso Comandante do Céu, ficou tocado de piedade pela raça decaída.[...]Entretanto, o amor divino havia concebido um plano pelo qual o homem poderia ser remido. A lei de Deus, quebrantada, exigia a vida do pecador.[...] Visto que a lei divina é tão sagrada como o próprio Deus, unicamente um Ser igual a Deus poderias fazer expiação pela transgressão" ( Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p.63).
Esse plano já estava previsto e preparado antes da fundação do mundo, caso o pecado nele entrasse. Os seguintes textos comprovam isso:"[...] o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós" (1 Pe 1:19-20). "Eu sei que o meu Redentor vive e por fim Se levantará sobre a Terra"( Jó 19:25)."O mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos Seus santos" ( Cl 1:26). "Segundo o poder de Deus que nos salvou [...] conforme a Sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos" ( 2Tm 1:9).
"Deus ia ser manifesto em Cristo, 'reconciliando consigo o mundo'(2Co 5:19).[...] Mas Cristo, depois de ter remido o homem da condenação da lei, poderia comunicar força divina para se unir com o esforço humano. Assim, pelo arrependimento para com Deus e fé em Cristo, os caídos filhos de Adão poderiam mais uma vez tornar-se 'filhos de Deus' (1Jo 3:2)" (ibid., p.64).
Isso é enfatizado em 1Pedro 1:18 e 19:"Não foi mediante coisas corruptíveis, como prata e ouro, que fostes resgatados, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula."
A primeira indicação de redenção foi dada na sentença pronunciada sobre Satanás, no Jardim:"Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu Lhe ferirás o calcanhar"(Gn 3:15). Essa inimizade é sobrenaturalmente posta, e não naturalmente convidada.
Quando Satanás ouviu que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente, compreendeu que, embora tivesse tido sucesso em rebaixar a natureza humana e assemelhá-la à sua própria, Deus- mediante um misterioso processo - restauraria no homem seu perdido poder e o capacitaria a resistir a seu conquistador e a derrotá-lo.
Redenção: comprar por alto preço; resgatar algo perdido ( Rm 3:24,25; Hb 9:5); "propiciação".
Paulo declara que o Pai ofereceu Seu filho como sacrifício expiatório, como propiciação " de Sua santa ira pela culpa humana porque aceitou Cristo como representante divino substituto do homem para receber Sua sentença sobre o pecado".
Reconciliação: "Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo" ( 2Co 5:19). Que fantástica declaração! O Céu se mobilizou para resgatar e reconciliar com Deus o planeta perdido!
A palavra "reconciliação" pressupõe alienação entre partes que anteriormente estavam unidas. E a restauração de um relacionamento interrompido. Isso é dom de Deus, pois Ele tomou a iniciativa (2Co 5:18). O feito torna-se mais surpreendente quando nos lembramos de que foi o homem quem causou essa separação.
Assim, Deus é ao mesmo tempo o provedor e o recepiente da reconciliação, a qual se tornou possível unicamente por meio do sangue propiciatório e expiatório do sacrifício voluntário de Cristo (Cl 1:20-22).
"Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele [...] reconhecido em figura humana, a Si mesmo Se humilhou, tornando-Se obediente até à morte e morte de cruz" (Fp 2:5-8).
O apóstolo João descreve essa redenção e reconciliação de maneira explícita:"Se todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo; e Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro" (1Jo 2:1,2).
"Pecado algum pode ser cometido pelo homem, para o qual não se tenha dado satisfação no Calvário" (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v.1. p. 343). Como escreveu Hans LaRondelle: "A morte de Jesus não foi o fracasso trágico de um profeta, mas o resultado necessário da divina providência" ( O que é Salvação, p.24)
A Páscoa e a certeza da Salvação
Quando Simeão, avançado em idade, viu o menino Jesus sendo dedicado a Deus, orou:"Agora, Senhor, podes despedir em paz Teus servo; porque os meus olhos já viram a Tua salvação" (Lc 2:29-30).
Cristo é o evangelho personificado. O evangelho (boas-novas) da nossa salvação é a revelação de Jesus Cristo como Salvador. É o "pode de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1:16).
Entretanto, o fato de que Cristo deveria vir a este mundo duas vezes, alternadamente, a fim de realizar completamente nossa salvação, gerou um conflito quanto à certeza da mesma - algo que alguns teólogos classificam como "uma tensão inerente entre a dimensão presente da salvação [o 'já '] e a futura [ o 'ainda não' ]" (Hans K. Larondelle, O que é Salvação, p.11).
Durante a década de 80, a Revista Adventista publicou vários artigos em relação ao assunto. Na década de 90, livros também forma lançados pela CPB sobre o tema da certeza da salvação.
"Alguns receiam declarar que têm certeza da salvação, porque isso parece cheirar farisaísmo. Só realmente, se a pessoa pensar que a salvação depende de boas obras e em crê que ela é melhor do que o próximo. Não será quando, conscientemente, se crê que a certeza da salvação vem pela aceitação do sacrifício que Cristo fez por nós"(Revista Adventista, janeiro de 1987, p.13).
O grande reformador Lutero passou por essa experiência. Antes de desenvolver sua teologia da cruz, a salvação era para ele exigências da justiça de Deus. Tentava com todas as forças "expiar"o sentimento de culpa com jejuns e auto-punições. Mas, ao entender que justiça é oferecida e não exigida - e esse presente de Deus é Jesus -, Lutero se gloriou na cruz. Ali estava a certeza da sua salvação em oposição a méritos e realizações humanas (Rm 1:16,17; Ef 2:8-10).
"O âmago do evangelho não é 'fazer' mas 'feito'! Não é 'faça' mas 'creia'. Não precisamos ser bons para ser salvos. Devemos ser salvos para ser bons. Não somos salvo pela fé e obras, mas pela fé que opera" (Hans K. Larondelle, O que é Salvação, p.66).
Hoje, mais do que nunca, é necessário compreendermos a salvação como um processo e não como um ponto - "uma vez salvo, salvo para sempre" (doutrina calvinista), e pronto. A salvação bíblico-teológica compreende passado, presente e futuro: Eu fui salvo da culpa do pecado (justificação - Rm 8:1); estou sendo salvo do pode do pecado (santificação - Rm 6:22) e, serei salvo da presença do pecado ( glorificação - 1Co 15:51-54; Ap 21:4).
Entretanto, entre o "já" salvo ( da culpa) e o "ainda não" (glorificado) há uma vida de santificação, a fim de que guiados pelo Espírito, não percamos a salvação celestial (1Co 10:12; Hb 10:26-27 e Ap 2:10). Salvação não é uma situação estática, mas um continuado processo dinâmico.
Conclusão
Nesta Páscoa, longe da instituição religiosa, a qual decorreu de inebriantes discussões quanto à data - resultado de cálculos exaustivos de luas novas, equinócios vernais, concílios, etc. - ou dos festejos e apelos secularistas, fixemos nossa mente no Salvador e em Seu sacrifício por nós. Foi um ato de amor imensurável por este mundo alienado (Jo 3:16).
Assim como a "destruição do faráo e todo o seu exército no Mar Vermelho, e o cântico do livramento cantado pelos israelitas, forma típicos do livramento final do povo de Deus deste mundo"; podemos esperar seguros de que "os justos serão erguidos para encontrar o Senhor nos ares, mas os ímpios ficarão mortos sobre a Terra" ( S.N.Haskell, The Cross and Its Shadow, p.99). Então Jesus nos conduzirá à terra prometida!
Lembremos: o Senhor não ordena que Seu povo fixe a lei nas ombreiras de suas portas. Nenhum de nós jamais obterá a salvação escalando as sinuosas encostas do Monte Sinai. Proteção, segurança e salvação são encontradas em outro nome - o Monte Calvário, onde Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós.
Texto de Márcio Nastrini, extraído da Revista Adventista abril de 2011 na pág. 8 a 11 pelo Site Bíblia e a Ciência.

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