Cientistas do Canadá identificaram uma nova família de moléculas capaz de matar células cancerígenas protegendo, simultaneamente, as células saudáveis. A descoberta poderá ajudar a tratar diferentes tipos de cancro, em particular os cancros da mama, útero, ovários e pulmão.
Os investigadores da Universidade de Waterloo, no Canadá, estudaram os mecanismos que levam aos danos no ADN e que são, muitas vezes, os responsáveis pelo desenvolvimento de problemas oncológicos (sendo causados, entre outros fatores, pelo tabaco, os químicos ou a exposição à radiação).
A equipa, coordenada por Qing-Bin Lu, utilizou uma técnica que funciona como uma espécie de câmara de alta velocidade e que usa dois raios de luz: um que desencadeia uma reação e outro que monitoriza a forma como as moléculas reagem, permitindo observar as suas interações em tempo real e perceber como as células se tornam cancerígenas.
No âmbito do estudo, cujos resultados foram publicados, esta quarta-feira, na revista científica EBioMedicine, os cientistas constataram que um grupo específico de moléculas chamadas "compostos FMD" consegue identificar e matar células cancerígenas, protegendo, ao mesmo tempo, as células saudáveis contra os químicos tóxicos.
Trata-se de um tipo de moléculas inofensivas para as células saudáveis e que se assemelha à cisplatina, um fármaco utilizado para tratar vários cancros (como o do ovário, dos testículos, do pulmão ou do cérebro) mas que é altamente tóxico, tornando-se perigoso para a saúde.
Ao entrar nas células cancerígenas, os compostos FMD reagem de forma intensa, libertando radicais que fazem com que a célula se "suicide". Por outro lado, ao penetrar nas células saudáveis, estas moléculas aumentam a produção de uma substância protetora (a glutationa) que as protege dos químicos, evitando que sejam danificadas.
Ensaios clínicos com humanos começam "assim que possível"
"Sabemos que os danos no ADN são um fator inicial crucial no desenvolvimento do cancro", explica Lu, principal autor do estudo, em comunicado. "Com a abordagem FMD, podemos retroceder até ao início do processo e descobrir o que danifica o ADN, o que causa as mutações e, por fim, o que provoca o cancro", revela o investigador.
Segundo o especialista, a utilização destas moléculas "é promissora", já que se trata de "uma abordagem económica e racional para a descoberta de novos fármacos, poupando recursos e evitando que seja necessário analisar toda a vasta 'biblioteca' de compostos moleculares existentes".
Os compostos foram testados em células humanas e modelos animais de diversos tipos de cancro, tendo os investigadores observado que estas moléculas conseguem desacelerar e, muitas vezes, travar totalmente o crescimento dos tumores.
"Estamos muito entusiasmados com esta descoberta. Conseguimos provar que as moléculas FMD são tão eficazes como a cisplatina em ratinhos mas com a vantagem de não serem tóxicas", realça Lu.
"Acreditamos que têm potencial para ser usadas no tratamento de um amplo conjunto de cancros sem que os pacientes tenham de se sujeitar aos efeitos secundários tóxicos dos fármacos que existem atualmente", acrescenta o investigador, adiantando que a equipa planeia "dar início a ensaios clínicos com pacientes assim que possível".
Via [Boas Notícias]
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