INTRODUÇÃO
Um ouvinte do programa “Lições da Bíblia”, que apresento na Rádio Novo Tempo diariamente, disse que eu havia me equivocado em dizer que “Deus Pai ressuscitou a Cristo”. Afinal, na opinião dele, Ellen G. White escreveu que
o Salvador tinha vida em Si mesmo para sair da sepultura. Por isso, na visão do amigo ouvinte, Cristo não necessitaria da intervenção de outro membro da divindade para voltar à vida no “terceiro dia” (Cf. 1Co 15:4).
Nesse post abordarei de forma muito sucinta essa questão, que foi mais detalhada por Alberto Timm na “Revista do Ancião” de abril-junho de 2009. Sua resposta pode ser lida no site do Centro de Pesquisas Ellen G. White clicando aqui.
Também farei uma análise de um “argumento” de defensores da doutrina da “imortalidade natural da alma” em torno desse assunto. Vários deles alegam que, se Jesus é Deus (Is 9:6) e não pode morrer (Cf. 1Tm 6:15, 16), isso significa que Ele estava consciente durante a morte. Veremos se eles possuem na Bíblia algum embasamento para tal afirmação, e saberemos o momento certo em que os mortos tornarão a viver para receber a recompensa que cada um merece (Jo 5:28, 29).
Para um estudo bíblico e erudito sobre o tema, recomenda-se a leitura da obra Imortalidade ou Ressurreição, de Samuele Bacchiocchi, publicado no Brasil pela Imprensa Universitária Adventista.
A TRINDADE SEMPRE ATUA UNIDA
Realmente, Ellen G. White, ao comentar sobre João 10:17, 18 em O Desejado de Todas as Nações, p. 785 (entre outras referências), afirma que “o Salvador saiu do sepulcro pela vida que havia em Si mesmo”. Todavia, ela não afirma que a ressurreição do Senhor aconteceu apenas através da vida que havia nEle.
No mesmo parágrafo a autora afirma que Seu retorno à vida ocorreu “Quando foi ouvida no túmulo de Cristo a voz do poderoso anjo, dizendo: ‘Teu Pai Te chama’”.
Isso não diminui a Divindade de Cristo, mas, mostra a atividade Triúna em tudo o que acontece no universo (veja-se, por exemplo, Gn 1:1-2 e Jo 1:1-3).
A Bíblia, nossa regra de fé e prática, é muito clara em ensinar que as Três Pessoas da Divindade estiveram envolvidas na ressurreição do Salvador. Veja:
- O Pai ressuscitou a Cristo: Gl 1:1;
- O Espírito Santo ressuscitou a Cristo: Rm 1:8;
- Cristo, com a vida presente em Si, voltou à vida: Jo 2:19; 10:17, 18.
Já Romanos 8:11 mostra uma relação muito profunda entre o Pai e o Espírito num trabalho conjunto para ressuscitar o Salvador: “Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus [o Pai] dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita”.
Perceba que nesse texto Paulo nem menciona a Cristo como tomando parte na própria ressurreição. Quem o faz é outro autor, o apóstolo João (Jo 10:17, 18). Como é bom vermos que a Bíblia se completa, não é?!
Biblicamente, podemos concluir que as Três Pessoas estiveram envolvidas no processo. Saber “como” isso aconteceu é outra história. Esse é mais um dos mistérios da divindade que não nos foi revelado (Dt 29:29).
ESPECULAÇÃO DOS IMORTALISTAS QUANTO À MORTE DE CRISTO
Alguns conjecturam que Jesus estava “consciente” na morte por Ele ser Deus e não poder morrer. Porém, isso não passa de mera especulação, que tenta encontrar algum tipo de argumento filosófico para defender a ideia antibíblica de que há “consciência depois da morte”.
Esse argumento filosófico, por mais lógico que possa parecer, não se sustenta com inúmeros textos bíblicos que mostram ser a morte:
Inimiga (1Co 15:26) e não “amiga”, que sirva de “ponte” para a eternidade;
Um estado de plena inconsciência (Ec 3:19, 20; 9:5, 6, 10), no qual as pessoas se encontram “dormindo” (Sl 13:3; Jr 51:57; Dn 12:2, 12; Jo 11:11-14; 1Co 15:6, 18; 1Ts 4:13; 2Pe 3:4) até a Segunda Vinda de Cristo (Jo 14:1-3; 1Co 15:23), quando ocorrerá a ressurreição (1Ts 4:13-18).
Um momento em que as pessoas não estão adorando a Deus (Sl 6:5), seja num “estado intermediário” ou no paraíso (Sl 88:10-12; 115:17);
Um momento em que as pessoas não estão sofrendo o castigo no “inferno”, pois a Bíblia diz que: (a) na morte elas não sentem ódio e nem inveja daqueles que foram salvos (Ec 9;5, 6, 10); (b) o castigo no lago de fogo é um evento futuro e não presente (Compare-se Mc 9:43-47 com At 17:30, 31, 2Pe 2:4, Ap 20:10 e Ml 4:1-3).
Além disso, esse argumento filosófico não pode ser sustentado porque tenta explicar humanamente um mistério divino e, portanto, é uma manifestação da arrogância humana. Arrogância essa que ainda não se dispôs a submeter-se à lógica divina (Is 55:8,9) por meio do silêncio humilde, em reconhecimento de que há coisas (como esse assunto) que só entenderemos quando tivermos uma explicação do próprio Deus, no momento em que estivermos com Ele face a face (Ap 22:4).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As Três Pessoas da Trindade sempre trabalharam juntas e continuarão atuando em perfeita harmonia por toda a eternidade (Gn 1:1; Jo 1:1-3; Hb 9:14).
O Deus encarnado morreu na cruz para pagar por nossos pecados (At 20:28) e não temos como explicar, com nossa lógica corrompida pelo pecado, um mistério tão inatingível (Dt 29:29; Is 55:8,9).
Se na cruz tivesse morrido apenas uma “criatura” e não o Deus encarnado, ainda estaríamos perdidos. Criatura alguma, nem mesmo anjos (Cf. Hb 1:14; compare com Hb 1:8) poderia pagar a dívida da humanidade para com a Lei de Deus (ver Gn 3), a não ser Ele mesmo, o “Legislador” da Lei (Ver Is 33:22; Tg 4:12). Nisso, os amigos Testemunhas de Jeová devem refletir com oração.
O ensino de que há “consciência” na morte é uma negação de inúmeros textos bíblicos já citados no presente artigo (entre eles Sl 6:5; 1Co 15:23) e contradiz o ensino bíblico da ressurreição (1Co 15:1-58). Além disso, essa questão não deve ser abordada à luz de algum que é um dos “mistérios da piedade” (1Tm 3:16, adaptado): a encarnação e morte do Senhor Jesus Cristo.
Além disso, a doutrina da imortalidade da alma contradiz a antropologia bíblica (holismo bíblico), que mostra ser possível existir vida e consciência apenas enquanto os três elementos da natureza humana (físico, mental e espiritual) estiverem em perfeito funcionamento, desenvolvendo-se harmonicamente (Cf. 1Ts 5:23, 24).
Despeço-me amigo(a) leitor incentivando-lhe a ter sua esperança na Volta de Cristo (Tt 2:13; Ap 1:7), assim como o apóstolo Paulo (2Tm 4:7, 8). Afinal, é a volta do Senhor – e não a nossa grande inimiga chamada morte – que trará de volta pessoas que amamos, e nos permitirá estarmos na presença dEle em um mundo sem dor, sofrimento, morte e incerteza do amanhã (Ap 21:4).
“Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (2Tm 4:8).
Um fraterno abraço!
[www.leandroquadros.com.br]
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