O CONVITE DE DEUS PARA ADORÁ-LO
“Deus convida o Seu povo para adorá-Lo: Jesus afirmou categoricamente que o Pai procura os Seus adoradores (João 4:23). No coração da última mensagem há um convite para adorar ‘Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas’ (Apocalipse 14:7). Isto é natural e compreensivo até certo ponto, à nossa mente pequena e finita. Deus criou o homem para viver em comunhão com Ele. Foi feito à Sua imagem. Isto significa que o homem foi dotado de capacidade intelectual e mental, que possibilita essa comunhão, associação e participação com Deus. É o único ser vivente na terra que pode manter comunhão com Deus.”¹
O vocábulo sagad, no hebraico bíblico, é o termo mais comumente traduzido como adorar e significa “curvar-se até o chão”. O vocábulo indicado reflete uma atitude de humilde submissão e reverência diante da presença de Deus. A atitude de adorar não se limita simplesmente a uma forma ou posição corporal que o adorador deve assumir. De acordo com as Escrituras, a adoração pode ser expressa mediante duas posturas pessoais: uma estática, e outra, dinâmica. A atitude estática da adoração é aquela na qual o adorador restringe seus movimentos corporais à expressão mínima, como nos momentos de oração, meditação, leitura da Palavra, momento de ouvir a mensagem, louvor, etc. A atitude dinâmica da adoração é representada pela sucessão de atividades de relacionamento do adorador com Deus e com seus semelhantes. Nessa conduta, a postura assumida pelo adorador é de obediência e serviço. Um exemplo claro de atitude dinâmica de adoração está no cântico de Maria no qual expressa sua condição de “serva” (Lucas 1:48), para cumprir a vontade de Deus.
E ME FARÃO UM SANTUÁRIO
A construção do Tabernáculo, na travessia do deserto e na posse da terra de Canaã, seguida pela grandeza arquitetônica do Templo de Jerusalém, teve o propósito divino de ser a habitação de Deus, o lugar da revelação divina para conceder ao povo a salvação esperada. No período do Novo Testamento, Cristo cumpre as funções pelas quais o Templo havia sido erguido. Ele é a mais autêntica revelação de Deus. Seu nome, Emanuel, dá clara prerrogativa ao seu significado “Deus conosco”.
Assim, Cristo na Sua missão terrena, substitui o Templo; ou melhor, Ele é o próprio Santuário (João 2:19-21). Não havendo o Templo para expressar adoração a Deus, esse ato, que renova a comunhão do humano com o divino, deve ser efetuado em “espírito e em verdade”. Não se deve considerar que os templos atuais não sejam lugares de adoração. Não são, na medida da função cerimonial e sacerdotal que caracterizava o Templo do período do Velho Testamento. Mas os templos atuais exercem outras funções e, como tais, são lugares sagrados de adoração.
AO DEUS DESCONHECIDO
Nas páginas do evangelho de João, o discípulo amado, está registrado um evento que permite verificar como um grupo social pode estabelecer um comportamento religioso improcedente, adorando o que não se conhece. É o encontro de Jesus com a mulher samaritana, na região da Galiléia, no entorno do poço de Jacó.
Os samaritanos foram denominados assim, com sentido pejorativo, porque eram um grupo social heterogêneo constituído por remanescentes das tribos que formavam o reino de Israel ou do Norte, que se uniram em matrimônio com pessoas de diversas nacionalidades. Essa miscigenação começou durante o exílio, após a destruição da cidade de Samaria em 722 a.C. pelas forças do exército assírio comandadas, inicialmente, por Salmanasar V, e concluída por Sargão II. Os sobreviventes foram levados ao cativeiro onde puderam formar famílias com pessoas do paganismo. A mistura étnica era tão grande que, nas veias das novas gerações, parecia correr mais o sangue do paganismo do que o israelita. A volta do exílio permitiu que muitos estrangeiros fizessem parte do novo grupamento, adotando a religião judaica alienada com o ritualismo idolátrico das suas origens.
Os judeus de Jerusalém não os reconheceram como descendentes de Israel. Eles os desprezaram e não permitiram que colaborassem com a construção do Templo. Então, os samaritanos decidiram construir para si um Templo, no monte Gerizim. O local escolhido tinha precedentes de sacralidade: fazia parte da região de Hamor, adquirida por Jacó. Foi o lugar em que Josué leu para o povo a Lei de Moisés. Flávio Josefo, historiador judeu, afirma que os samaritanos, além de construir o Templo, estabeleceram uma casta sacerdotal, que propiciou o inicio de um cerimonial festivo e inovador.
A controvérsia sobre a validade da adoração no Templo de Jerusalém ou no edificado no monte Gerizim é colocada em destaque pelas palavras da mulher samaritana, quando se referiu aos juízos enunciados pelos ancestrais dos samaritanos e dos judeus (João 4:20). Jesus, então, procurou elucidar a controvérsia que persistia sobre o lugar de adoração, afirmando que os samaritanos adoravam o que não conheciam. A religiosidade e o ritualismo dos samaritanos eram fruto de bem intencionadas prerrogativas humanas; mais nada que isso. ²
“VEM A HORA E JÁ CHEGOU”
No Seu encontro com a samaritana, Jesus mostrara ser isento do preconceito judaico contra os samaritanos, mas manifestou o desejo de que a recíproca se tornasse verdadeira: “Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-Me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus” (Jo 4:21, 22). Ao mesmo tempo que aludia à corrupção da fé dos samaritanos pela idolatria, declarou que as grandes verdades da redenção haviam sido confiadas aos judeus, e que dentre eles devia aparecer o Messias. “Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque Ele é a nossa paz, o Qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na Sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em Si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade”(Efésios 2:13-16).
ADORANDO “EM ESPÍRITO”
O “Espírito” que Jesus mencionou é o Espírito Santo, e não o nosso próprio espírito. “Aí se declara a mesma verdade que Jesus expusera a Nicodemos, quando disse: ‘Aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus’. Não por procurar um monte santo ou um templo sagrado, são os homens postos em comunhão com o Céu. Religião não é limitar-se a formas e cerimônias exteriores. A religião que vem de Deus é a única que leva a Ele. Para O servirmos devidamente, é mister nascermos do divino Espírito. Isso purificará o coração e renovará a mente, dando-nos nova capacidade para conhecer e amar a Deus. Comunicar-nos-á voluntária obediência a todos os Seus reclamos. Esse é o verdadeiro culto. É o fruto da operação do Espírito Santo.
“É pelo Espírito que toda prece sincera é ditada, e tal prece é aceitável a Deus. Onde quer que a alma se dilate em busca de Deus, aí é manifesta a obra do Espírito, e Deus Se revelará a essa alma. A tais adoradores Ele busca. Espera recebê-los, e torná-los Seus filhos e filhas.”³
Salmo 1:3: “[Justo] Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido.” O salmista diz que os adoradores que o fazem “em Espírito” são como a árvore plantada junto a corrente de águas, porque essa corrente é “uma fonte de sustento sem limites.”
As raízes de “tais adoradores” são abastecidas, ininterruptamente, com a seiva espiritual; “ obra silenciosa do Espírito Santo que sobe pelo tronco e alcança os ramos, desabrochando em verdes folhagens e lindas flores de uma vida cristã exemplar, culminando na produção de frutos dignos da apreciação de Deus.”
ADORANDO “EM VERDADE”
É impossível separar da identidade de Jesus o conceito de verdade. “Eu sou... a verdade” (João 14:6), disse Ele. E mais: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Conhecer a verdade é conhecer o amor de Deus, que é revelado em Jesus para salvar os seres humanos, livrando-os da escravidão do pecado.
Como pecadores, somos impotentes para efetuar nossa própria salvação. As boas novas da mensagem cristã são sobre o que Deus fez por nós através de Cristo: “Aquele que não conheceu pecado, Ele O fez pecado por nós; para que, nEle, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Coríntios 5:21). Como Nicodemos, intrigados, podemos indagar: “Como poderá suceder isto?” (João 3:9). As Escrituras respondem: “Sendo justificados gratuitamente, por Sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus... O homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Romanos 3:24, 28). “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus’ (Romanos 5:1). “Que é exatamente a justificação? Podemos defini-la da seguinte maneira: justificação é um ato instantâneo e legal da parte de Deus pelo qual Ele: 1. Considera os nossos pecados perdoados e a justiça de Cristo como pertencente a nós e 2. Declara-nos justos à vista dEle.” (Pastor José Sílvio Ferreira, Cristo Nossa Salvação, p. 273).
A Bíblia, claramente, ensina que a justificação não pode ser adquirida – é um “dom gratuito” (não merecido – Romanos 3:24). “Imputar pecado é lançar o pecado na conta de alguém e tratá-lo de conformidade com isso. De semelhante forma, imputar justiça é lançar justiça na conta de alguém, e daí tratá-lo de conformidade com isso.” C. H. Hodge (Citado pelo pastor José Sílvio Ferreira, Cristo Nossa Salvação, p. 257). Portanto, não alcançamos paz com Deus por conquistas espirituais, seja de que nível for, nem por nascer de novo. A pessoa não é salva porque nasceu de novo, porém, nasce de novo porque foi salva.
Quando Jesus disse a Nicodemos, “importa nascer de novo” (João 3:3, 7), Ele prosseguiu indicando-lhe a base da aceitação do indivíduo para com Deus nos versos 14 e 15: “E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nEle crê tenha a vida eterna “. Esta é a base da aceitação de um indivíduo por Deus – a experiência de Cristo (vida e morte), não a experiência humana.
“Por ser Substituto e Garantia do pecador, Sua morte expiatória é aceita pelo Pai como satisfação dos reclamos da justiça divina contra o pecador. A perfeita obediência de Cristo é aceita e creditada ao penitente, de forma que ele, por amor de Cristo, é livremente perdoado por Deus e declarado justo. O nome do pecador é escrito no Livro da Vida (Lucas 10:30; Filipenses 4:3) e o perdão entra nos respectivos registros. O penitente é misericordiosamente aceito como filho de Deus (João 1:12; 1João 3:1-3).”4
A FÉ QUE SALVA
Não devemos confundir grande arroubo emocional como evidência de que fomos aceitos por Deus. Um novo converso pode ou não ter grande emoção no momento de sua conversão. Deus nos chama a agir por princípio, e não por impulso. Ele nos convida a viver pela fé nEle – não por nossos sentimentos. Fé é simplesmente confiar em Deus, tomando-O em Sua palavra.
“...A fé tem um lugar exclusivo no plano da expiação. Porque fé não é fazer, mas receber. O amor dá; a fé recebe. A expressão ‘a fé salva’ poderia somente ser equivalente a ‘Deus salva’. Fé é conexão, é o instrumento de ligação entre Deus e o homem. Por outro lado, fé em si mesma não é nada. Fé é instrumental, não meritória. Somente Cristo pode salvar, e fé salvadora é fé Nele, como Salvador Divino e pessoal; fé na Sua divindade.”5
“A salvação se consegue pela graça. E o que é a graça? Um presente, um dom imerecido que vem por meio da fé. A fé é a tubulação, e a graça é o líquido que passa pelos tubos. A tubulação foi dada por Deus e o líquido também, para que nós, que éramos um poço seco, fôssemos beneficiados por essa bondade.”6
EU O SOU, EU QUE FALO CONTIGO
É possível encontrar-se autenticamente com Deus e relacionar-se com Ele em Sua própria esfera. Essa possibilidade é oferecida agora, já não é necessária a vida sem sentido. Isto não pode, entretanto, ser encontrado pelo ser humano por intuição própria. Necessita de uma revelação direta de Deus.
Portanto, Cristo lhe confirma que esse tempo ao qual a samaritana se refere, quando vier o Messias, já chegou, porque o Messias, disse Jesus: “Eu O sou, Eu que falo contigo” (João 4:26). É de extrema importância perceber que a adoração diz respeito a Deus e não a nós. Precisamos ter certeza de que a adoração não esteja centralizada nas pessoas, na cultura nem nas necessidades pessoais, mas em Deus. Portanto, a ênfase da adoração deve estar em adorá-Lo “em espírito e em verdade.”
Pastor Vagner Alves Ferreira
Jubilado – Associação Norte Paranaense/IASD
Referências
1. Horne P. Silva, Culto e Adoração, p. 8.
2. Ruben Aguilar, Comentário da Escola Sabatina,
III Trimestre, 2011.
3. Ellen G. White, DTN, p. 133.
4. Frank B. Holbrook, O Sacerdócio Expiatório de
JESUS CRISTO, p. 118.
5. José Silvio Ferreira, Cristo Nossa Salvação, p. 198.
6. Ibid., p. 202.
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