Glorificados na vinda de Jesus, viveremos com Ele no éden restaurado, desfrutando da Nova terra por toda a eternidade.
“O Céu tem três andares e um subsolo”, disse um garotinho à professora. “O assoalho são as nuvens. Deus dorme nos dois primeiros andares, Papai Noel mora com suas renas e brinquedos no terceiro andar e os anjos dormem no subsolo. Todas as casas são feitas de pão de mel e os rios têm cores diferentes – vermelho, azul, rosa, verde, alaranjado, e isso é tudo!”
Seria assim o mundo em que os salvos vão morar após a parousia? Essa palavra significa aparição, presença, vinda, manifestação e traduz o desejo final dos cristãos: a vinda de Jesus em glória para nos buscar e levar para o Céu, lugar perfeito em todos os sentidos. O Rei dos reis virá como o relâmpago que “sai do oriente e se mostra até no ocidente” (Mt 24:27). Virá de maneira literal, corpórea, visível, acompanhado das hostes angelicais.
Então, o luto findará. O Filho de Deus despertará os justos, que se levantarão incorruptíveis das sepulturas, e os vivos serão transformados. Desse modo, eles se tornarão imortais! Preparados para tomar posse do reino do qual até ali haviam sido apenas herdeiros, serão reunidos pelos santos anjos e elevados para encontrar “o Senhor nos ares”. Todos os ímpios morrerão e Satanás ficará cativo neste planeta desolado, enquanto os remidos permanecerão no Céu durante mil anos. Após esse período, Cristo descerá com os salvos e estabelecerá a Cidade Santa – a Nova Jerusalém – na Terra, que, após a ação do fogo que consumirá Satanás, os anjos maus e os ímpios, será o eterno lar dos salvos.
Embora os adventistas do sétimo dia tenham uma compreensão correta desses temas, as outras denominações se perdem num emaranhado de ideias confusas. Isso se deve a uma equivocada interpretação da escatologia – ou doutrina das “últimas coisas”. A escatologia deu seus primeiros passos no fim do século XVIII e início do século XIX, na Europa e América do Norte, devido a uma intensa expectativa em torno da “iminência” do advento de Cristo. Conquanto Ellen G. White tenha mantido a posição predominante do cristianismo conservador sobre temas como Trindade, cristologia, expiação, justificação e santificação, sua compreensão dos eventos finais divergia dos conceitos escatológicos geralmente aceitos, causando objeções na comunidade cristã. Em contraste com a base futurística da escatologia dispensacionalista (pré-tribulacionismo, arrebatamento secreto, sionismo) e outras concepções como pós-milenialismo e amilenialismo, a senhora White construiu sua escatologia com base no método historicista de interpretação profética. Ela esboçou períodos de tempo com eventos específicos,1 como os descritos em nossa introdução.
Neste artigo, faremos algumas considerações sobre a glorificação dos salvos, o Céu e a Nova Terra, sem muita preocupação com a sequência cronológica, a parousia de nosso Salvador e os acontecimentos que a envolvem.
Vinda do Rei – Daniel 12:1 fala do “tempo de angústia qual nunca houve”, durante o qual os filhos de Deus estarão foragidos em diversos lugares (prisões, retiros solitários, florestas e montanhas), sendo perseguidos por ferozes inimigos, instigados pelas hostes de anjos maus, preparados para matá-los. Por meio desse decreto de morte, o objetivo será “em uma noite” dar um golpe decisivo a fim de silenciar toda voz dissonante.
Em meio ao caos, Miguel Se levantará para livrar Seu povo. Haverá um grande terremoto “como nunca tinha havido” (Ap 16:18), o firmamento parecerá se abrir e fechar, e o caos se tornará global – montanhas tremerão, o mar avançará sobre a terra (furacões, maremotos, tsunamis) e cidades litorâneas serão tragadas. Sob a sétima praga, grandes pedras cairão, destruindo metrópoles. Mas o povo de Deus contemplará as celas se abrindo, libertando os presos. As armas apontadas pelos inimigos cairão das mãos deles, os quais fugirão aterrorizados.
As sepulturas se abrirão e dois grupos especiais ressuscitarão. “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para a vergonha e horror eterno” (Dn 12:2). Esse momento de ressurreição é anterior ao da ressurreição “geral” dos justos (Jo 5:28, 29). João menciona “todos”; Daniel fala de “muitos”. Os ressuscitados para a vida eterna são “todos os que morreram na fé da mensagem do terceiro anjo” 2 (Dn 12:12; Ap 14:13) e os que vão passar pelo “horror eterno” são os que traspassaram o corpo de Jesus (Mt 26:62-64; Ap 1:7). O grupo dos salvos terá o privilégio de participar das cenas finais, estendendo as boas-vindas ao seu Redentor. Os que O traspassaram verão, horrorizados, Aquele a quem desprezaram e crucificaram. Então, morrerão novamente com o fulgor da Sua glória!
Aparecerá no céu uma mão segurando a lei de Deus, causando pavor e desespero aos que desobedeceram aos mandamentos. Nesse momento, os inimigos da lei têm nova concepção da verdade e do dever. A voz de Deus será ouvida do Céu, declarando o dia e a hora da vinda de Jesus. Os filhos de Deus a
ouvirão, fixando o olhar no alto.
“Surge logo no oriente uma pequena nuvem negra, aproximadamente da metade do tamanho da mão de um homem [...]. O povo de Deus sabe ser este o sinal do Filho do Homem.”3 Acompanham a chegada gloriosa do Rei Jesus. O céu está repleto de anjos cantando melodias celestiais. Ao Jesus Se aproximar mais da Terra, os céus se enrolam como um “pergaminho” e a Terra se revolve.
Apocalipse 6:16, 17 menciona o desespero total dos ímpios, dos ricos e poderosos: “Eles gritavam às montanhas e às rochas: ‘Caiam sobre nós e escondam-nos da face dAquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro! Pois chegou o grande dia da ira dEles; e quem poderá suportar?’” (NVI). A descrição de João faz eco às palavras proféticas de Isaías: “Entre no meio das rochas, esconda-se no pó, por causa do terror que vem do Senhor e do esplendor da sua majestade! [...] Fugirão para as cavernas das rochas e para as brechas dos penhascos, [...] quando Ele Se levantar para sacudir a Terra” (Is 2:10, 21, NVI). Entre os ímpios estão também os que “traspassaram” Jesus, zombaram dEle e O humilharam (Herodes; os sacerdotes e autoridades; os homens que O espancaram e colocaram a coroa de espinhos em Sua cabeça; os cravos nas mãos e pés; o soldado que Lhe feriu o lado), os quais, com terrível precisão, recordam os acontecimentos do Calvário e exclamam: “Ele é verdadeiramente o Filho de Deus!”
Durante o caos que se instala, Jesus chama os justos mortos, ressurretos e revestidos de imortalidade. Defeitos e deformidades são deixados no túmulo; os salvos mantêm a mesma estatura, mas, ao se alimentarem da árvore da vida no Éden restaurado, crescerão até a altura completa da raça primitiva. Os justos vivos são transformados “num piscar de olhos”. Crianças são levadas aos braços de suas mães, amigos se reúnem para nunca mais se separar e ascendem ao Céu.
Para o Céu com o Rei – “De cada lado do carro de nuvens existem asas, e debaixo dele se acham rodas vivas; e, ao volver o carro para cima, as rodas clamam: ‘Santo’, e a asas, movendo-se, clamam: ‘Santo’, e o cortejo de anjos clama: ‘Santo, santo, santo, Senhor Deus todopoderoso’. E os remidos bradam: ‘Aleluia!’ – enquanto o carro prossegue em direção à Nova Jerusalém. Antes de entrar na cidade de Deus, o Salvador concede a Seus seguidores os emblemas da vitória, conferindo-lhes as insígnias de sua condição real.” 4
À frente está a santa cidade. Jesus abre as portas de pérolas e diz: “Vinde, benditos de Meu Pai, possuí o reino.” Os remidos entram. Contemplam maravilhados o paraíso de Deus. Cristo os apresenta ao Pai como a aquisição de
Seu sangue: “Eis-Me aqui, com os filhos que Me deste.” A grande multidão está sobre o mar de vidro misturado com fogo, diante do trono. Com Jesus, sobre o monte Sião, estão os cento e quarenta e quatro mil – os quais entoam um cântico que ninguém pode aprender, pois é o da sua experiência. Tendo sido trasladados da Terra, dentre os vivos, são as “primícias” para Deus e o Cordeiro.
Chega o momento mais esperado – “o encontro dos dois Adões” – Jesus, em pé, estende os braços para receber o pai da raça humana. Adão se aproxima e, ao reconhecer os sinais que os cravos cruéis deixaram no Salvador, cai a Seus pés e diz: “Digno, digno é o Cordeiro que foi morto!” Com ternura, Jesus o levanta e mostra-lhe o paraíso. Vê as videiras, as árvores que foram seu deleite, as flores das quais cuidara com tanto prazer. O Salvador o leva à árvore da vida, apanha o glorioso fruto e Adão tem permissão para comê-lo novamente. Anjos e remidos testemunham a cena, compreeendem a grande obra da redenção e unem
as vozes num cântico de louvor.
Milênio na Terra e no Céu – Por ocasião da vinda de Cristo, os ímpios serão eliminados, mortos pelo resplendor de Sua glória. Serão tantos que seus cadáveres jazerão de uma a outra extremidade da Terra, “não serão pranteados, nem recolhidos, nem sepultados” (Jr 25:33). Ruína, destruição, desordem e desolação – eis a condição da Terra. Apocalipse 20 menciona que Satanás e os anjos maus serão seus únicos habitantes.
Ocorrerá, então, o cumprimento do cerimonial prefigurado no dia da Expiação, quando, ao findar a solenidade no lugar santíssimo do santuário terrestre, os pecados dos israelitas eram perdoados pelo sangue do bode da expiação (que representava Cristo). Depois, era trazido o bode emissário (Satanás) e sobre ele o sumo sacerdote colocava toda a culpa pelo mal que Satanás levara o povo a cometer. Após isso, era enviado ao “deserto” para lá perecer.
“Aqui deverá ser a morada de Satanás com seus anjos maus durante mil anos. Restritos à Terra, eles não terão acesso a outros mundos, para tentar e molestar os que jamais caíram.”5 Satanás sofrerá intensamente. Verá os resultados de seus enganos e refletirá sobre sua rebelião.
No Céu, os justos participarão com Cristo do julgamento dos ímpios, confirmando a parte que devem sofrer, segundo suas obras. Também Satanás e seus anjos maus serão julgados e condenados.
Os remidos glorificados desfrutarão do ambiente celestial. Não haverá vestígios do mundo pecaminoso. Apenas uma lembrança permanecerá: Jesus levará para sempre os sinais de Sua crucifixão, as únicas marcas da maligna obra que o pecado efetuou. Os que antes eram cegos verão; os surdos ouvirão; os mudos cantarão e os coxos saltarão. Gozarão alegria eterna, porque deles fugirão a tristeza e a dor (Is 35). Essa felicidade será intensificada ao encontrarem e reconhecerem aqueles que eles levaram a Cristo. “Eu era pecador sem Deus e sem esperança no mundo, e você me conduziu a Jesus”, alguém dirá. Outros dirão: “Eu era ateu, vivia num ambiente pagão. Você abriu mão de seu tempo valioso e me ajudou a encontrar Jesus.”
Nova Terra e eternidade – No fim dos mil anos, com Jesus à nossa frente, desceremos da Cidade Santa para a Terra. Os fundamentos da cidade tocarão o Monte das Oliveiras, que se repartirá, transformando-se em uma grande planície, sobre a qual se assentará a Nova Jerusálem. Nela estará o paraíso de Deus, o Jardim do Éden. Com imponente majestade, Jesus chamará os ímpios mortos, que ressuscitarão com os corpos doentios com que baixaram à sepultura. As marcas do pecado serão visíveis em todos. Eles retomarão o fio dos pensamentos que alimentavam por ocasião de sua morte. Ali estarão governantes, guerreiros e tiranos ambiciosos. Os antediluvianos, com estatura de gigantes – mais do que o dobro da altura dos homens de hoje – causarão espanto!
Satanás verá a inumerável multidão de seus cativos e exultará com a possibilidade de arregimentá-los para a batalha. Ele os convencerá de que o grupo de justos dentro da cidade é muito pequeno. Assim, ele reunirá um grande exército para a última grande luta pela supremacia do Universo.
O destino final dos ímpios será fruto da escolha deles. Devido a uma vida de rebeldia contra Deus, os ímpios considerariam grande tortura conviver com os redimidos. Não se prepararam para isso. Deus lhes seria um fogo consumidor. Então, marcharão pela superfície da Terra, a fim de destruir a cidade e o povo santo; mas descerá fogo do céu e consumirá a todos (Ap 20:9, 10). Estará para sempre terminada a obra de Satanás, raiz e ramos – Satanás, a raiz; seus seguidores, os ramos (Ml 4:1-3).
O fogo que vai destruir os ímpios purificará a Terra. “Vi um novo céu e nova Terra”, disse João. A herança dos salvos é chamada de país. Ellen G. White, ao
escrever a nova vida no Céu, diz: “A linguagem é demasiadamente fraca para tentar uma descrição do Céu.”6
No último capítulo do livro O Grande Conflito, ela procura sintetizar a vida nesse glorioso Lar: “Ali o Pastor celestial conduz Seu rebanho às fontes de águas vivas. A árvore da vida produz seu fruto de mês em mês, e as folhas são para a saúde das nações. [...] Ali as extensas planícies avultam em colinas de beleza, e as montanhas de Deus erguem seus altivos píncaros. [...] Ali, não mais haverá lágrimas, cortejos fúnebres, manifestações de pesar. [...] Ali está a Nova Jerusálem, a metrópole da nova Terra glorificada [...] Ali os remidos conhecerão como são conhecidos.” 7
O Cristo ressurreto foi modelo da ressurreição final. Seu semblante, linguagem, maneira, eram familiares aos discípulos. Identificaremos nossos entes queridos e amigos. “Talvez hajam sido deformados, doentes, desfigurados nesta vida mortal, ressurgindo em plena saúde e formosura; no entanto, no corpo glorificado será perfeitamente mantida a identidade. [...] No rosto glorioso da luz que irradia da face de Cristo, reconheceremos os traços daqueles que amamos.” 8 “Todos os santos ligados aqui por laços familiares conhecerão ali uns aos outros.” 9
“Ali, mentes imortais contemplarão, com deleite que jamais se fatigará, as maravilhas do poder criador, os mistérios do amor que redime. [...] Todas as faculdades se desenvolverão [...]. Ali os mais grandiosos empreendimentos poderão ser levados avante, alcançadas as mais elevadas aspirações [...]; e surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a admirar. [...] Todos os tesouros do Universo estarão abertos ao estudo dos remidos de Deus” 10 e a cruz de Cristo será a ciência dos remidos por toda a eternidade. Alçarão voo para os mundos distantes, adquirirão a sabedoria dos seres não caídos.
“Todos serão uma família unida e feliz.” 11 Não se casarão, nem terão filhos. Serão como os anjos de Deus, membros da família real. Haverá casas belíssimas, com aparência de prata e colunas marchetadas de pérolas. Campos de relva viva, repletos de flores que jamais murcharão. Lindos bosques com todas as espécies de árvores, porém, “nenhuma árvore da ciência do bem e do mal”. Pomares com variados e deliciosos frutos. Animais, todos juntos em perfeita união. Os remidos plantarão, edificarão, pois é desígnio de Deus que todos sejam operosos. Os que desejam um céu de inatividade ficarão decepcionados. “Vi muitos dos santos [...] saindo então para o campo ao lado das casas, para lidar com a terra.” 12
O sábado será observado e a lei de Deus permanecerá firme e existirá por toda a eternidade (Is 66:23). “O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. [...] Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor.”13
O elevador descia lentamente os andares do enorme edíficio. Dentro dele, em meio a vários ocupantes, uma mãe vestida de luto segurava nos braços sua filhinha. Trazia na face as lágrimas, o pesar pela perda do marido que acabara de
sepultar. De repente, um solavanco. O elevador parou – escuridão, gritos, pânico. Acendeu-se a luz de emergência, a mãe olhou serenamente para sua pequena e disse: “Não tenha medo, olhe somente para a luz.”
Estamos a caminho do Lar. Jesus, a luz do mundo, construiu uma cidade para nós. Logo O veremos. Então, todas as angústias, provações e sofrimentos desta vida serão como nada. Hoje é tempo de vivermos a verdade presente. A vida na
Terra é preparo para a vida no Céu. O que somos hoje é o prenúncio daquilo que seremos na eternidade. Vivamos, portanto, na luz da presença de Deus.
Márcio Nastrini é editor associado na Casa Pulicadora Brasileira.
* Nota: O roteiro principal deste artigo foram os capítulos 40 a 42 do livro O Grande Conflito.
Referências
1. A. R. Timm, A. Rodor e V. Dorneles, O Futuro (Unaspress, 2004), p. 311-313.
2. Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 637.
3. Ibid., p. 640.
4. Ibid., p. 645.
5. Ibid., p. 659.
6. Ellen G. White, O Lar Adventista, p. 538.
7. __________, O Grande Conflito, p. 675-677.
8. __________, O Desejado de Todas as Nações, p. 804.
9. __________, Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 316.
10. __________, O Grande Conflito, p. 677.
11. __________, A Ciência do Bom Viver, p. 506.
12. __________, O Lar Adventista, p. 546.
13. __________, O Grande Conflito, p. 678.
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