PERGUNTA : Isaías 45:7 diz claramente que Deus criou o mal. Seria Ele o responsável pelo pecado e pelas coisas ruins em nosso mundo?
Um princípio exegético importante é o de que a Bíblia não se contradiz, visto ser inspirada pelo Espírito Santo (2 Pe 1:21). Muitos versos bíblicos afirmam que Deus é o autor ou criador do que é bom (Gn 1:31; lTm 4:4, etc.). Assim sendo, como poderia Ele ser autor do mal?
O texto de Isaías (45:7) deve ser entendido dentro de seu contexto (capitulos 44-49), que é o de Ciro (44:28; 45:1, 13; 48:14) conquistando a Babilônia (47:1, 5; 48:14,20), libertando o povo judeu e permitindo a volta dele para a Palestina (44:28; 45:13).
Com esse contexto em mente, analisemos o verso 7 de Isaías 45:
• "Eu formo a luz": "Foi no tempo de Ciro, ou pouco depois, que o Zoroastrismo se tornou a religião da Pérsia. O grande deus dessa religião e Ahura-Mazda, O deus da luz e da vida, aquele que esta em constante conflito com as hostes das trevas lideradas pelo deus Ahriman. Deus fez conhecido a Ciro e, por meio dele ao mundo, que Ele é o criador do mundo, o verdadeiro Deus da luz" (SDABC, v. 4, p. 267). Essa expressão também nos remete a criação, quando Deus disse: "Haja luz" (Gn 1:3).
• "...e crio as trevas": novamente e evocada a cena da criação, quando é dito que Deus "fez separação entre a luz e as trevas" (Gn 1:4). Ao dizer que faz tanto a luz quanta as trevas, Deus esta chamando a atenção dos seres humanos para Sua soberania sobre tudo e sobre todos. Como diz o salmista: "...até as próprias trevas não Te serão escuras" (Sl 139:12).
• "... faço a paz": No manuscrito 1QIsª (achado numa caverna em Qumrã, região do Mar Morto), se diz: "faço o bem" (ibid.). É Deus quem estabelece a paz: "Estabelecerei paz na terra; deitar-vos-eis, e não haverá quem vos espante; farei cessar os animais nocivos da terra, e pela vossa terra não passará espada" (Lv 26:6).
• "... e crio o mal": "Era uma doutrina hebraica comum que Deus é a causa única de tudo; e isso fazia dEle a causa do mal, por igual modo. ... Devemos relembrar que a teologia dos hebreus era fraca quanto a causas secundárias, pelo que, equivocadamente, atribuía tudo à agência divina, até mesmo as coisas más" (R.N. Champlin, O Antigo Testamento Interpretado, v. 5, p. 2.917). Ou seja, tudo o que Deus permitia era como se Ele tivesse feito. Platão tinha razão ao dizer: "Deus, se Ele é bom, não é o autor de todas as coisas, conforme muitos asseveram, mas é a causa somente de algumas coisas, e não da maior parte das coisas que acontecem aos homens. Pois poucos são os pontos bons da vida humana, e muitos são os males; e somente o que é bom deve ser atribuído a Ele. Quanto ao que é mal, outras causas têm que ser descobertas" (A República, II, 379, in: ibid.).
No contexto em que esta, Isaias 45:7 mostra a soberania de Deus sobre a história e todas as coisas. É Ele quem domina sobre a luz e as trevas (e não Ahura-Mazda, nem Ahriman ou qualquer outro deus). Ele "faria a paz" para seu povo cativo, na Babilônia, através do rei Ciro. Esse rei, ao conquistar Babilônia, permitiu a volta dos judeus para a Palestina. Mas Deus também "criaria o mal" para os cruéis babilônicos. Ou seja, permitiria que eles fossem conquistados pelos Medo-Persas, sob o comando de Ciro. O contexto, portanto, mostra que os vocábulos trevas/mal indicam punição para os babilônios; enquanto que luz/paz indicam salvação para o povo de Deus. (C. F. Keil & F. Delitzsch. Commentary on the Old Testament, v. 7, p. 220.)
Um dia, acontecerá o mesmo: Deus castigará os ímpios e recompensará os justos (Mt 25:31-46). Em que grupo estaremos?
Hoje é o dia de se fazer a escolha.
Ozeas C. Moura - Doutor em Teologia Bíblica
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