Para auxiliar a sua leitura os manuscritos foram dispostos em grupos ou famílias, considerando-se as características semelhantes ou diferentes que apresentavam.
Esta classificação foi feita após uma cuidadosa comparação de centenas de manuscritos. Hoje sabemos que cada uma dessas famílias é representada por um manuscrito “padrão”, preparado numa sede eclesiástica importante da antiguidade, como Alexandria, Cesaréia, Antioquia e Roma.
O procedimento seguido era este: os bispos dirigentes das sedes reuniam os manuscritos à sua disposição, pediam emprestados todos os manuscritos que pudessem conseguir, estudavam-nos minuciosamente, resultando daí o manuscrito padrão.
O termo técnico para o exame do material de que dispunham e o conseqüente agrupamento em famílias é recensão.
O objetivo primordial desta classificação era descobrir os manuscritos mais antigos, porque mais se deveriam assemelhar aos originais. O precursor da classificação em famílias, ou do método genealógico foi o erudito alemão Karl Lachmann (1793-1851), que nos ensinou o seguinte princípio: o melhor método para descobrir o texto bíblico é traçar sua árvore genealógica através da qual atingiremos seu arquétipo.
Destas classificações em famílias, a de Westcott e Hort é uma das mais conhecidas e discutidas. A classificação destes eruditos é a seguinte:
a) Texto Siríaco
O nome siríaco deriva-se da conclusão de que na Síria, provavelmente em Antioquia, uma revisão textual se processou durante a primeira metade do 4º século. Esta revisão se fez necessária, porque o texto já apresentava muitas variantes e a Igreja ardentemente almejava uniformidade nas Escrituras.
Neste grupo está a maioria dos manuscritos gregos do Novo Testamento, sendo muitos unciais do V século e quase todos os minúsculos.
b) Texto Ocidental
Assim denominado porque suas mais influentes evidências são predominantemente latinas. Tem como característica preponderante divergir das outras famílias.
Ao contrário do siríaco, neste grupo se encontra um pequeno grupo de manuscritos, sendo liderado pelo Códice Beza ou D. Fazem também parte dele antigas traduções latinas e Pais da Igreja latinos, como Cipriano, Irineu e Tertuliano.
c) Texto Alexandrino
Também formado por pequeno grupo de manuscritos que não puderam ser colocados nas outras classes por eles apresentadas.
d) Texto Neutro
Para Westcott e Hort sob este nome se encontram os dois principais manuscritos, isto é, o a = alef e o B.
De acordo com o conceito destes eruditos, era o melhor texto por ser o mais primitivo e ter sido transmitido com pureza de forma. Denominaram-no de Neutro por não se desviar na direção seguida pelos outros grupos.
As idéias de W. H. marcaram época, e os princípios por eles defendidos ainda são válidos, mas o progresso da Crítica Textual e a descoberta de novos manuscritos mostraram a necessidade de revisão em seus métodos.
Quem se interessar por um conhecimento mais completo da teoria de Westcott e Hort deve estudar nas obras especializadas em Crítica Textual ou em Introduções ao Novo Testamento, como a de Everett F. Harrison, páginas 71 a 74.
A classificação mais usada e aceita por todos hoje pouco difere da de W. H. Ao estudá-la observe seus pontos afins e suas divergências.
a) Texto Bizantino
É conhecido como Asiático por Bengel, Constantinopolitano por Griesbach, Siríaco, por W. H., oriental por Semler e K por Von Soden.
O chefe da recensão deste tipo de texto foi Luciano. Trabalho feito nos últimos anos do século terceiro, levando-se em conta que foi martirizado em 312, por ordem do imperador Maximino. O principal objetivo desta recensão foi fundir passagens paralelas para que nada se perdesse do texto sagrado e aclarar o texto, fazendo com que passagens difíceis se tornassem mais fáceis. Como um exemplo da fusão de variantes pode ser citado Lucas 24:53, que aparece em alguns manuscritos – “e estavam sempre no templo louvando a Deus”, mas em outros se encontra – “orando a Deus”. O texto bizantino reuniu as duas expressões, aparecendo: “e estavam sempre no templo louvando e orando a Deus”.
Este é o texto da grande quantidade de unciais e cursivos. Nele está baseado o Novo Testamento de Erasmo, o Textual Receptus e todas as edições do Novo Testamento anteriores à de W. H. em 1881. Dentre seus unciais destacam-se A, E, L, F e o W.
O Bizantino tem sido classificado pelos entendidos como bastante deficiente.
b) Texto Ocidental
Recebe este nome por ser representado pelo códice Beza, Greco-latino D, e pela velha Versão Latina.
A característica deste texto, é a divergência sensível que se nota ao compará-lo com outros grupos.
São seus principais representantes: D, DP, F, P29, P48, 171, Velha Latina.
Preeminentes vultos da Crítica Textual considerando a falta de homogeneidade do Texto Ocidental afirmam que nele não se processou nenhuma recensão, embora Ropes e Hatch afirmam ser ele o resultado de uma recensão.
c) Texto Alexandrino
Westcott e Hort o denominaram de Neutro, e Von Soden de H (Hesiquiano). O grupo consta especialmente dos manuscritos: alef, B, P 75 e 33.
Como o nome indica, teve a sua origem no Egito, na famosa cidade de Alexandria, um dos principais centros de cultura na antiguidade. É o produto da mais aprimorada e minuciosa recensão já efetuada no texto bíblico. Este trabalho foi dirigido por Hesíquio, com uma técnica bastante adiantada.
d) Texto Cesareense
O nome cesareense não indica que teve sua origem em Cesaréia, pois a crítica textual comprova sua origem no Egito. Cesareense vem da circunstância de ser o tipo de texto usado em Cesaréia.
O manuscrito padrão deste grupo é o Coridete ou B. Apresentam características semelhantes ao Coridete as Famílias 1 e 13 dos minúsculos.
A recensão do tipo cesareense de texto tem sido atribuída a Panfílio, grande admirador de Orígenes, que por defender a multiplicação das cópias das Escrituras foi martirizado em 309.
Este estudo é difícil, complexo, e mesmo as idéias apresentadas foram simplificadas, para que até pessoas não muito relacionadas com a Crítica Textual o pudessem compreender razoavelmente.
O agrupamento de manuscritos em famílias simplificou bastante o trabalho da Crítica Textual, que não se baseia mais no número de manuscritos, mas no número de famílias e suas características predominantes. É muito mais fácil e apresenta melhores resultados consultar cinco manuscritos de famílias diferentes do que uma centena pertencentes à mesma família.
O texto perfeito, ideal, ainda não foi encontrado, os problemas vão sendo superados e os esforços de muitos denodados trabalhadores, neste campo, merecem nosso respeito e consideração.
Texto de Pedro Apolinário, História do Texto Bíblico, Capítulo 11.
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