Gadara (hoje Um Queis) é uma cidade da Transjordânia, a dez quilômetros
ao sudeste do mar da Galileia, na Palestina. Nos tempos de Jesus, havia
ali um homem fora de si. Ele era muito estranho: não parava em casa,
passava dias e noites nas cavernas e nos cemitérios, feria-se de
propósito, gritava pelas estradas, tinha uma força capaz de arrebentar
correntes de ferro, era violento e perigoso, andava nu e assustava todo
mundo. Poderia ser um louco varrido, mas, no caso desse gadareno, o
diagnóstico era outro. O rapaz estava de fato endemoninhado.
Os
demônios são anjos caídos, espíritos maus (também chamados de imundos) a
serviço de Satanás, capazes de entrar numa pessoa e dominá-la por
completo, causando tormentos, doenças, deformidades físicas, convulsões e
principalmente transtornos mentais. Eles são inimigos de Deus, mas não
são ignorantes. Referem-se a Deus como o “Deus Altíssimo” (Mc 5.7; At
16.17) e a Jesus como o “santo de Deus” (Mc 1.24) ou o “Filho do Deus
Altíssimo” (Mc 5.7). Eles chegam a falar dos dois temas contrários: a
salvação (At 16.17) e o dia do juízo (Mt 8.29). Quando Jesus pisou em
terra, depois da difícil travessia do mar da Galileia, o tal
endemoninhado de Gadara foi ao seu encontro e o Senhor o curou. Pouco
depois o rapaz “estava assentado aos pés de Jesus, vestido e em perfeito
juízo” (Lc 8.35). O milagre provocou grande reboliço em toda a região e
reações diferentes. Os envolvidos com aquele acontecimento fizeram
pedidos diferentes e curiosos a Jesus. Os demônios pediram “com
insistência” a Jesus que os transferisse do corpo daquele homem para os
porcos que pastavam nas imediações. Os gadarenos pediram “com
insistência” que Jesus saísse da terra deles. E o ex-endemoninhado pediu
“com insistência” que Jesus o deixasse permanecer na companhia dele.
O
pedido dos demônios foi atendido de pronto. A manada de porcos, “que
era de cerca de dois mil, precipitou-se despenhadeiro abaixo, para
dentro do mar, onde se afogaram” (Mc 5.13). O pedido dos gadarenos
também foi atendido: “Jesus subiu no barco e foi embora” (Lc 8.37).
Todavia, o pedido coletivo e unânime do povo daquela cidade é um dos
mais estranhos de que se tem notícia! Em vez de pedir que Jesus fosse
embora, eles deveriam ter realizado um culto de ação de graças a Deus
pela cura daquele homem infeliz e perigoso. Eles deveriam ter levado
outros doentes da região para serem também curados. Por trás do estranho
pedido estava o dinheiro. Com a morte dos porcos, o prejuízo dos
porqueiros e seus associados foi enorme (quase meio milhão de reais,
caso os porcos estivessem no ponto de abate).
Mas o pedido do
ex-endemoninhado não foi atendido. Jesus tinha outros planos para ele:
“Volte para casa e conte aos seus parentes o que o Senhor lhe fez e como
ele foi bom para você” (Mc 5.19). Naquele dia, Jesus e o homem curado
se separaram e seguiram direções opostas: o Senhor atravessou o lago e
foi para o oeste e o ex-endemoninhado seguiu não só para sua própria
casa, mas também para a vasta região de Decápolis, no lado leste (Mc
5.20).
Entre as dez cidades que formavam a antiga Decápolis, cuja
população em sua maioria era grega, estavam Gadara, Gerasa, Damasco e
Filadélfia. Essa Filadélfia (não a Filadélfia da Ásia Menor) é hoje Amã,
capital da Jordânia. Quem sabe o ex-endemoninhado de Gadara teria sido o
primeiro missionário da atual Jordânia!
Via Ultimato
0 comentários:
Postar um comentário