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sábado, 21 de abril de 2012

Da Parousia à Gloria


Glorificados na vinda de Jesus, viveremos com Ele no éden restaurado, desfrutando da Nova terra por toda a eternidade.


“O Céu tem três andares e um subsolo”, disse um garotinho à professora. “O assoalho são as nuvens. Deus dorme nos dois primeiros andares, Papai Noel mora com suas renas e brinquedos no terceiro andar e os anjos dormem no subsolo. Todas as casas são feitas de pão de mel e os rios têm cores diferentes – vermelho, azul, rosa, verde, alaranjado, e isso é tudo!”


Seria assim o mundo em que os salvos vão morar após a parousia? Essa palavra significa aparição, presença, vinda, manifestação e traduz o desejo final dos cristãos: a vinda de Jesus em glória para nos buscar e levar para o Céu, lugar perfeito em todos os sentidos. O Rei dos reis virá como o relâmpago que “sai do oriente e se mostra até no ocidente” (Mt 24:27). Virá de maneira literal, corpórea, visível, acompanhado das hostes angelicais.


Então, o luto findará. O Filho de Deus despertará os justos, que se levantarão incorruptíveis das sepulturas, e os vivos serão transformados. Desse modo, eles se tornarão imortais! Preparados para tomar posse do reino do qual até ali haviam sido apenas herdeiros, serão reunidos pelos santos anjos e elevados para encontrar “o Senhor nos ares”. Todos os ímpios morrerão e Satanás ficará cativo neste planeta desolado, enquanto os remidos permanecerão no Céu durante mil anos. Após esse período, Cristo descerá com os salvos e estabelecerá a Cidade Santa – a Nova Jerusalém – na Terra, que, após a ação do fogo que consumirá Satanás, os anjos maus e os ímpios, será o eterno lar dos salvos.


Embora os adventistas do sétimo dia tenham uma compreensão correta desses temas, as outras denominações se perdem num emaranhado de ideias confusas. Isso se deve a uma equivocada interpretação da escatologia – ou doutrina das “últimas coisas”. A escatologia deu seus primeiros passos no fim do século XVIII e início do século XIX, na Europa e América do Norte, devido a uma intensa expectativa em torno da “iminência” do advento de Cristo. Conquanto Ellen G. White tenha mantido a posição predominante do cristianismo conservador sobre temas como Trindade, cristologia, expiação, justificação e santificação, sua compreensão dos eventos finais divergia dos conceitos escatológicos geralmente aceitos, causando objeções na comunidade cristã. Em contraste com a base futurística da escatologia dispensacionalista (pré-tribulacionismo, arrebatamento secreto, sionismo) e outras concepções como pós-milenialismo e amilenialismo, a senhora White construiu sua escatologia com base no método historicista de interpretação profética. Ela esboçou períodos de tempo com eventos específicos,1 como os descritos em nossa introdução.


Neste artigo, faremos algumas considerações sobre a glorificação dos salvos, o Céu e a Nova Terra, sem muita preocupação com a sequência cronológica, a parousia de nosso Salvador e os acontecimentos que a envolvem.


Vinda do Rei – Daniel 12:1 fala do “tempo de angústia qual nunca houve”, durante o qual os filhos de Deus estarão foragidos em diversos lugares (prisões, retiros solitários, florestas e montanhas), sendo perseguidos por ferozes inimigos, instigados pelas hostes de anjos maus, preparados para matá-los. Por meio desse decreto de morte, o objetivo será “em uma noite” dar um golpe decisivo a fim de silenciar toda voz dissonante.


Em meio ao caos, Miguel Se levantará para livrar Seu povo. Haverá um grande terremoto “como nunca tinha havido” (Ap 16:18), o firmamento parecerá se abrir e fechar, e o caos se tornará global – montanhas tremerão, o mar avançará sobre a terra (furacões, maremotos, tsunamis) e cidades litorâneas serão tragadas. Sob a sétima praga, grandes pedras cairão, destruindo metrópoles. Mas o povo de Deus contemplará as celas se abrindo, libertando os presos. As armas apontadas pelos inimigos cairão das mãos deles, os quais fugirão aterrorizados.


As sepulturas se abrirão e dois grupos especiais ressuscitarão. “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para a vergonha e horror eterno” (Dn 12:2). Esse momento de ressurreição é anterior ao da ressurreição “geral” dos justos (Jo 5:28, 29). João menciona “todos”; Daniel fala de “muitos”. Os ressuscitados para a vida eterna são “todos os que morreram na fé da mensagem do terceiro anjo” 2 (Dn 12:12; Ap 14:13) e os que vão passar pelo “horror eterno” são os que traspassaram o corpo de Jesus (Mt 26:62-64; Ap 1:7). O grupo dos salvos terá o privilégio de participar das cenas finais, estendendo as boas-vindas ao seu Redentor. Os que O traspassaram verão, horrorizados, Aquele a quem desprezaram e crucificaram. Então, morrerão novamente com o fulgor da Sua glória!


Aparecerá no céu uma mão segurando a lei de Deus, causando pavor e desespero aos que desobedeceram aos mandamentos. Nesse momento, os inimigos da lei têm nova concepção da verdade e do dever. A voz de Deus será ouvida do Céu, declarando o dia e a hora da vinda de Jesus. Os filhos de Deus a
ouvirão, fixando o olhar no alto.


“Surge logo no oriente uma pequena nuvem negra, aproximadamente da metade do tamanho da mão de um homem [...]. O povo de Deus sabe ser este o sinal do Filho do Homem.”3 Acompanham a chegada gloriosa do Rei Jesus. O céu está repleto de anjos cantando melodias celestiais. Ao Jesus Se aproximar mais da Terra, os céus se enrolam como um “pergaminho” e a Terra se revolve.


Apocalipse 6:16, 17 menciona o desespero total dos ímpios, dos ricos e poderosos: “Eles gritavam às montanhas e às rochas: ‘Caiam sobre nós e escondam-nos da face dAquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro! Pois chegou o grande dia da ira dEles; e quem poderá suportar?’” (NVI). A descrição de João faz eco às palavras proféticas de Isaías: “Entre no meio das rochas, esconda-se no pó, por causa do terror que vem do Senhor e do esplendor da sua majestade! [...] Fugirão para as cavernas das rochas e para as brechas dos penhascos, [...] quando Ele Se levantar para sacudir a Terra” (Is 2:10, 21, NVI). Entre os ímpios estão também os que “traspassaram” Jesus, zombaram dEle e O humilharam (Herodes; os sacerdotes e autoridades; os homens que O espancaram e colocaram a coroa de espinhos em Sua cabeça; os cravos nas mãos e pés; o soldado que Lhe feriu o lado), os quais, com terrível precisão, recordam os acontecimentos do Calvário e exclamam: “Ele é verdadeiramente o Filho de Deus!”


Durante o caos que se instala, Jesus chama os justos mortos, ressurretos e revestidos de imortalidade. Defeitos e deformidades são deixados no túmulo; os salvos mantêm a mesma estatura, mas, ao se alimentarem da árvore da vida no Éden restaurado, crescerão até a altura completa da raça primitiva. Os justos vivos são transformados “num piscar de olhos”. Crianças são levadas aos braços de suas mães, amigos se reúnem para nunca mais se separar e ascendem ao Céu.


Para o Céu com o Rei – “De cada lado do carro de nuvens existem asas, e debaixo dele se acham rodas vivas; e, ao volver o carro para cima, as rodas clamam: ‘Santo’, e a asas, movendo-se, clamam: ‘Santo’, e o cortejo de anjos clama: ‘Santo, santo, santo, Senhor Deus todopoderoso’. E os remidos bradam: ‘Aleluia!’ – enquanto o carro prossegue em direção à Nova Jerusalém. Antes de entrar na cidade de Deus, o Salvador concede a Seus seguidores os emblemas da vitória, conferindo-lhes as insígnias de sua condição real.” 4


À frente está a santa cidade. Jesus abre as portas de pérolas e diz: “Vinde, benditos de Meu Pai, possuí o reino.” Os remidos entram. Contemplam maravilhados o paraíso de Deus. Cristo os apresenta ao Pai como a aquisição de
Seu sangue: “Eis-Me aqui, com os filhos que Me deste.” A grande multidão está sobre o mar de vidro misturado com fogo, diante do trono. Com Jesus, sobre o monte Sião, estão os cento e quarenta e quatro mil – os quais entoam um cântico que ninguém pode aprender, pois é o da sua experiência. Tendo sido trasladados da Terra, dentre os vivos, são as “primícias” para Deus e o Cordeiro.


Chega o momento mais esperado – “o encontro dos dois Adões” – Jesus, em pé, estende os braços para receber o pai da raça humana. Adão se aproxima e, ao reconhecer os sinais que os cravos cruéis deixaram no Salvador, cai a Seus pés e diz: “Digno, digno é o Cordeiro que foi morto!” Com ternura, Jesus o levanta e mostra-lhe o paraíso. Vê as videiras, as árvores que foram seu deleite, as flores das quais cuidara com tanto prazer. O Salvador o leva à árvore da vida, apanha o glorioso fruto e Adão tem permissão para comê-lo novamente. Anjos e remidos testemunham a cena, compreeendem a grande obra da redenção e unem
as vozes num cântico de louvor.


Milênio na Terra e no Céu – Por ocasião da vinda de Cristo, os ímpios serão eliminados, mortos pelo resplendor de Sua glória. Serão tantos que seus cadáveres jazerão de uma a outra extremidade da Terra, “não serão pranteados, nem recolhidos, nem sepultados” (Jr 25:33). Ruína, destruição, desordem e desolação – eis a condição da Terra. Apocalipse 20 menciona que Satanás e os anjos maus serão seus únicos habitantes.


Ocorrerá, então, o cumprimento do cerimonial prefigurado no dia da Expiação, quando, ao findar a solenidade no lugar santíssimo do santuário terrestre, os pecados dos israelitas eram perdoados pelo sangue do bode da expiação (que representava Cristo). Depois, era trazido o bode emissário (Satanás) e sobre ele o sumo sacerdote colocava toda a culpa pelo mal que Satanás levara o povo a cometer. Após isso, era enviado ao “deserto” para lá perecer.


“Aqui deverá ser a morada de Satanás com seus anjos maus durante mil anos. Restritos à Terra, eles não terão acesso a outros mundos, para tentar e molestar os que jamais caíram.”5 Satanás sofrerá intensamente. Verá os resultados de seus enganos e refletirá sobre sua rebelião.


No Céu, os justos participarão com Cristo do julgamento dos ímpios, confirmando a parte que devem sofrer, segundo suas obras. Também Satanás e seus anjos maus serão julgados e condenados.


Os remidos glorificados desfrutarão do ambiente celestial. Não haverá vestígios do mundo pecaminoso. Apenas uma lembrança permanecerá: Jesus levará para sempre os sinais de Sua crucifixão, as únicas marcas da maligna obra que o pecado efetuou. Os que antes eram cegos verão; os surdos ouvirão; os mudos cantarão e os coxos saltarão. Gozarão alegria eterna, porque deles fugirão a tristeza e a dor (Is 35). Essa felicidade será intensificada ao encontrarem e reconhecerem aqueles que eles levaram a Cristo. “Eu era pecador sem Deus e sem esperança no mundo, e você me conduziu a Jesus”, alguém dirá. Outros dirão: “Eu era ateu, vivia num ambiente pagão. Você abriu mão de seu tempo valioso e me ajudou a encontrar Jesus.”


Nova Terra e eternidade – No fim dos mil anos, com Jesus à nossa frente, desceremos da Cidade Santa para a Terra. Os fundamentos da cidade tocarão o Monte das Oliveiras, que se repartirá, transformando-se em uma grande planície, sobre a qual se assentará a Nova Jerusálem. Nela estará o paraíso de Deus, o Jardim do Éden. Com imponente majestade, Jesus chamará os ímpios mortos, que ressuscitarão com os corpos doentios com que baixaram à sepultura. As marcas do pecado serão visíveis em todos. Eles retomarão o fio dos pensamentos que alimentavam por ocasião de sua morte. Ali estarão governantes, guerreiros e tiranos ambiciosos. Os antediluvianos, com estatura de gigantes – mais do que o dobro da altura dos homens de hoje – causarão espanto!


Satanás verá a inumerável multidão de seus cativos e exultará com a possibilidade de arregimentá-los para a batalha. Ele os convencerá de que o grupo de justos dentro da cidade é muito pequeno. Assim, ele reunirá um grande exército para a última grande luta pela supremacia do Universo.


O destino final dos ímpios será fruto da escolha deles. Devido a uma vida de rebeldia contra Deus, os ímpios considerariam grande tortura conviver com os redimidos. Não se prepararam para isso. Deus lhes seria um fogo consumidor.  Então, marcharão pela superfície da Terra, a fim de destruir a cidade e o povo santo; mas descerá fogo do céu e consumirá a todos (Ap 20:9, 10). Estará para sempre terminada a obra de Satanás, raiz e ramos – Satanás, a raiz; seus seguidores, os ramos (Ml 4:1-3).


O fogo que vai destruir os ímpios purificará a Terra. “Vi um novo céu e nova Terra”, disse João. A herança dos salvos é chamada de país. Ellen G. White, ao
escrever a nova vida no Céu, diz: “A linguagem é demasiadamente fraca para tentar uma descrição do Céu.”6


No último capítulo do livro O Grande Conflito, ela procura sintetizar a vida nesse glorioso Lar: “Ali o Pastor celestial conduz Seu rebanho às fontes de águas vivas. A árvore da vida produz seu fruto de mês em mês, e as folhas são para a saúde das nações. [...] Ali as extensas planícies avultam em colinas de beleza, e as montanhas de Deus erguem seus altivos píncaros. [...] Ali, não mais haverá lágrimas, cortejos fúnebres, manifestações de pesar. [...] Ali está a Nova Jerusálem, a metrópole da nova Terra glorificada [...] Ali os remidos conhecerão como são conhecidos.” 7


O Cristo ressurreto foi modelo da ressurreição final. Seu semblante, linguagem, maneira, eram familiares aos discípulos. Identificaremos nossos entes queridos e amigos. “Talvez hajam sido deformados, doentes, desfigurados nesta vida mortal, ressurgindo em plena saúde e formosura; no entanto, no corpo glorificado será perfeitamente mantida a identidade. [...] No rosto glorioso da luz que irradia da face de Cristo, reconheceremos os traços daqueles que amamos.” 8 “Todos os santos ligados aqui por laços familiares conhecerão ali uns aos outros.” 9


“Ali, mentes imortais contemplarão, com deleite que jamais se fatigará, as maravilhas do poder criador, os mistérios do amor que redime. [...] Todas as faculdades se desenvolverão [...]. Ali os mais grandiosos empreendimentos poderão ser levados avante, alcançadas as mais elevadas aspirações [...]; e surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a admirar. [...] Todos os tesouros do Universo estarão abertos ao estudo dos remidos de Deus” 10 e a cruz de Cristo será a ciência dos remidos por toda a eternidade. Alçarão voo para os mundos distantes, adquirirão a sabedoria dos seres não caídos.


“Todos serão uma família unida e feliz.” 11 Não se casarão, nem terão filhos. Serão como os anjos de Deus, membros da família real. Haverá casas belíssimas, com aparência de prata e colunas marchetadas de pérolas. Campos de relva viva, repletos de flores que jamais murcharão. Lindos bosques com todas as espécies de árvores, porém, “nenhuma árvore da ciência do bem e do mal”. Pomares com variados e deliciosos frutos. Animais, todos juntos em perfeita união. Os remidos plantarão, edificarão, pois é desígnio de Deus que todos sejam operosos. Os que desejam um céu de inatividade ficarão decepcionados. “Vi muitos dos santos [...] saindo então para o campo ao lado das casas, para lidar com a terra.” 12


O sábado será observado e a lei de Deus permanecerá firme e existirá por toda a eternidade (Is 66:23). “O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. [...] Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor.”13


O elevador descia lentamente os andares do enorme edíficio. Dentro dele, em meio a vários ocupantes, uma mãe vestida de luto segurava nos braços sua filhinha. Trazia na face as lágrimas, o pesar pela perda do marido que acabara de
sepultar. De repente, um solavanco. O elevador parou – escuridão, gritos, pânico. Acendeu-se a luz de emergência, a mãe olhou serenamente para sua pequena e disse: “Não tenha medo, olhe somente para a luz.”


Estamos a caminho do Lar. Jesus, a luz do mundo, construiu uma cidade para nós. Logo O veremos. Então, todas as angústias, provações e sofrimentos desta vida serão como nada. Hoje é tempo de vivermos a verdade presente. A vida na
Terra é preparo para a vida no Céu. O que somos hoje é o prenúncio daquilo que seremos na eternidade. Vivamos, portanto, na luz da presença de Deus.


Márcio Nastrini é editor associado na Casa Pulicadora Brasileira.


* Nota: O roteiro principal deste artigo foram os capítulos 40 a 42 do livro O Grande Conflito.


Referências
1. A. R. Timm, A. Rodor e V. Dorneles, O Futuro (Unaspress, 2004), p. 311-313.
2. Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 637.
3. Ibid., p. 640.
4. Ibid., p. 645.
5. Ibid., p. 659.
6. Ellen G. White, O Lar Adventista, p. 538.
7. __________, O Grande Conflito, p. 675-677.
8. __________, O Desejado de Todas as Nações, p. 804.
9. __________, Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 316.
10. __________, O Grande Conflito, p. 677.
11. __________, A Ciência do Bom Viver, p. 506.
12. __________, O Lar Adventista, p. 546.
13. __________, O Grande Conflito, p. 678.

domingo, 1 de abril de 2012

O uso de dramatizaçőes na igreja


Especialistas na área de comunicação têm afirmado que aprendemos 83% das informaçőes do mundo exterior através da visão; 11% através da audiçăo; e 6% distribuídos entre o tato, o olfato e o paladar. Isto significa que nos lembramos muito mais daquilo que vemos do que daquilo que meramente ouvimos.


Se a visão é tăo eficaz no processo da comunicaçăo, deveria a Igreja Adventista do Sétimo Dia valer-se apenas de recursos auditivos na proclamação do "evangelho eterno" (Apoc. 14:6)? Até que ponto poderia esta denominação incorporar recursos visuais e dramatizaçőes em seus serviços religiosos, sem com isso infringir princípios expostos na Bíblia e nos escritos de Ellen White? 


A fim de respondermos a estas questões, consideraremos, inicialmente, alguns antecedentes do uso de dramatizações na literatura bíblica e nos escritos da Sra. White. Procuraremos, então, identificar alguns princípios básicos que poderăo nos ajudar a estabelecer parâmetros seguros sobre o assunto.


No Antigo Testamento


A liturgia do Antigo Testamento centralizava-se nos rituais simbólicos, primeiro, dos altares patriarcais; depois, do tabernáculo mosaico; e, por último, do tempo de Jerusalém. Esses serviços, ministrados por sacerdotes (cf. Êx 28 e 29; Lv 8), constituíam uma prefiguraçăo dramática da salvação que haveria de se concretizar através do sacrifício e do sacerdócio de Cristo. Animais representavam a Cristo; a imolação desses animais simbolizava a morte de Cristo; e o sangue deles prefigurava o sangue de Cristo. Também as festas de Israel eram marcadas por inúmeras dramatizações (ver Êx 12:1-27; Lv 16 e 23). Ellen White denomina todo esse sistema centralizado no santuário de "o evangelho em figura".


Outro ato religioso dramático do Antigo Testamento era a cerimônia da circuncisão. Esse ato foi ordenado por Deus como um símbolo exterior do concerto entre Ele e Seu povo.
Em Números 21:4-9, Deus ordenou que Moisés preparasse e levantasse uma "serpente de bronze", como um símbolo de Cristo. Todos aqueles que olhassem com fé para aquela serpente, viveriam.


Dramatizações săo encontradas também nos livros proféticos do Antigo Testamento. O próprio Deus usou recursos pictóricos para descrever realidades sócio-políticas e religiosas nas visőes proféticas registradas em tais livros, como Ezequiel, Daniel e Zacarias. Por exemplo, no capítulo 2 do livro de Daniel, a Segunda Vinda de Cristo é representada pela grande pedra que feriu os pés da estátua. Já no capítulo 1 de Oséias, encontramos Deus ordenando que o próprio profeta (Oséias) dramatizasse a apostasia espiritual de Israel, casando-se com uma prostituta.


Portanto, o uso de recursos visuais (incluindo dramatizaçőes) permeava o culto do Antigo Testamento. Tais recursos eram parte do serviço do santuário, da cerimônia da circuncisão e dos ensinos proféticos. Mas o emprego de tais recursos visuais não se limita apenas ao Antigo Testamento. 


No Novo Testamento


Os quatro Evangelhos apresentam inúmeras ocasiőes em que Cristo usou ilustraçőes vívidas da Natureza e da vida diária para ensinar liçőes espirituais. Ele năo apenas Se valeu do recurso didático das parábolas, mas até comparou-Se a Si mesmo com tais figuras como a água (Joăo 4:10), o păo (6:41 e 48), a luz (8:12), a porta (10:9), o pastor (10:14) e a videira (15:1-5).


A própria cerimônia do Batismo é uma dramatização simbólica, instituída por Cristo para marcar o início de uma vida de consagração a Deus. Cristo năo apenas submeteu-Se a essa cerimônia (Mateus 3:13-17), mas também ordenou que ela fosse ministrada a todos quantos aceitassem o evangelho (28:18-20).


Até mesmo Sua morte dramática sobre a cruz tinha propósitos didáticos. Ellen White declara que "a cruz é uma revelação, aos nossos sentidos embotados, da dor que o pecado, desde o seu início, acarretou ao coração de Deus". Ela acrescenta que "o Calvário aí está como um monumento do estupendo sacrifício exigido para expiar a transgressão da lei divina".


Esse evento dramático ocorreu sobre uma cruz com o objetivo de tocar os "nossos sentidos embotados". Ele é relembrado simbolicamente através da cerimônia da Santa Ceia (ver Mateus 26:17-30; João 13:1-20), que é, por sua vez, uma dramatizaçăo litúrgica ordenada por Cristo para ser repetida periodicamente por Seus seguidores (cf. Joăo 13:13-17;  1Co 11:23-26).


À semelhança de alguns livros proféticos do Antigo Testamento, o conteúdo do Apocalipse de João é caracterizado por dramatizaçőes simbólicas, que descrevem pictoricamente o desenvolvimento do plano da salvação no contexto do grande conflito entre as forças do bem e os poderes do mal.


Por conseguinte, o Antigo e o Novo Testamentos estão permeados de dramatizaçőes simbólicas. Especialmente o Batismo e a Santa Ceia são dramatizaçőes do plano de salvaçăo, instituídas pelo próprio Cristo como parte da liturgia de Sua igreja.


Nos Escritos de Ellen White


Analisando-se os escritos de Ellen White, percebe-se, por um lado, que ela: (1) endossa reiteradas vezes as dramatizaçőes litúrgicas do Antigo Testamento (o cerimonial do santuário, etc.); (2) enaltece as dramatizaçőes litúrgicas do Novo Testamento (o Batismo, o Lava-pés, a Santa Ceia, etc.); (3) engrandece o ritual sacerdotal de Cristo no Céu; (4) năo criticou a dramatização a que assistiu na Escola Sabatina de Battle Creek, em 1888; (5) năo condenou a encenação do Natal de 1888, em Battle Creek, mas simplesmente expressou sua aprovação aos pontos positivos do programa e sua desaprovaçăo aos pontos negativos; e (6) não condenou o uso das bestas de Daniel e do Apocalipse como ilustraçőes evangelísticas.


Por outro lado, várias citaçőes de Ellen White desaprovam o uso de qualquer tipo de exibicionismo teatral. Estariam essas citaçőes condenando indistintamente todo tipo de dramatização? Eu creio que năo, pois, se assim fosse, teríamos que eliminar até mesmo o Batismo e a Santa Ceia de nossas igrejas.


É interessante notarmos que as próprias citaçőes de Ellen White que desaprovam o uso de exibiçőes teatrais, identificam também as características negativas básicas que a levaram a se opor a tais exibiçőes. Dentre essas características destacamos as seguintes: (1) afastam de Deus; (2) levam a perder de vista os interesses eternos; (3) alimentam o orgulho; (4) excitam a paixão; (5) glorificam o vício; (6) estimulam o sensualismo; e (7) depravam a imaginação.


Disto inferimos que dramatizaçőes săo aceitáveis, em contrapartida, quando: (1) aproximam de Deus; (2) chamam a atenção para os interesses eternos; (3) năo alimentam o orgulho; (4) năo excitam a paixăo; (5) desaprovam o vício; (6) năo estimulam o sensualismo; e (7) elevam a imaginaçăo.


Na Igreja Adventista


Grupos de dramatização têm participado frequentemente em vários programas de TV mantidos pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, ao redor do mundo. Elencos especiais de dramatização foram necessários também para a produçăo dos filmes e/ou videos Um em Vinte Mil (EUA), O Grande Conflito (Argentina), Heróis da Fé (Austrália), O Barquinho Azul (Brasil) e muitos outros. Evangelistas adventistas usam um número significativo de filmes em suas séries de conferências públicas.


Dramatizaçőes fazem parte ainda da vida da grande maioria dos internatos mantidos pela denominaçăo. Elas são usadas também em nível de igrejas locais, tanto em programas alusivos ao Dia das Mães e ao Natal, como nos departamentos infantis da Escola Sabatina.


Várias dessas dramatizaçőes tęm elevado espiritualmente tanto os apresentadores como aos que a elas assistem. Existem, no entanto, aqueles que pensam que os fins justificam os meios e que boas intençőes săo o único critério determinante para a aceitaçăo de um determinado programa. Mas se restringíssemos os critérios apenas ao nível das intençőes, certamente incorreríamos no grave erro de abrirmos as portas a todo e qualquer tipo de programaçăo "culturalmente" aceitável.


Critérios básicos


Cuidadosa consideração deve ser dada, năo apenas ŕs intençőes, mas também ŕ própria natureza do programa, ŕ escolha dos participantes, bem como ao tempo e local adequados tanto para o ensaio como para a apresentação da cena.


As dramatizaçőes devem: (1) evitar o elemento jocoso e vulgar; (2) evitar o uso de fantoches (animais e árvores que falam, etc.); (3) ser bíblica e historicamente leais aos fatos, como estes realmente ocorreram; e, acima de tudo, (4) exaltar a Deus e Sua Palavra (e năo os apresentadores da programação).


Já os apresentadores devem ser pessoas cuja vida espiritual e conduta estejam em plena conformidade com os princípios adventistas, e que estejam dispostos a acatar as orientaçőes da liderança da congregação local e das organizaçőes superiores da denominaçăo. Prudente seria que todos os participantes de um elenco de dramatização fossem escolhidos bom base nas diretrizes sugeridas pelo Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia para a seleção dos "membros do coro da igreja".


A liderança da igreja, por sua vez, é responsável por prover orientaçőes adequadas aos apresentadores de dramatizaçőes. A ela compete exercer uma função equilibradora, para que as programaçőes sejam um meio (e não um fim) de melhor glorificar a Deus e de mais efetivamente comunicar o evangelho ao mundo. Jamais deve permitir que dramatizaçőes venham obliterar a centralidade da pregação da Palavra na liturgia adventista.


Conclusão


Portanto, dramatizaçőes permeiam a liturgia tanto do Antigo como do Novo Testamentos. Ellen White, por sua vez, não condena todo tipo de dramatizaçăo, mas apenas as exibiçőes teatrais que afastam de Deus, levam a perder de vista os interesses eternos, alimentam o orgulho, excitam a paixão, glorificam o vício, estimulam o sensualismo e depravam a imaginação.


Se alegarmos que toda e qualquer dramatização é inapropriada, teremos, conseqüentemente, de suspender: (1) o uso de filmes, que são o produto de dramatizaçőes; (2) a maior parte das programaçőes dos departamentos infantis da Escola Sabatina (colocar coroas na cabeça das crianças, cenas do Céu, etc.); (3) todas as "cantatas" e grande parte das apresentaçőes musicais de nossas igrejas; e, até mesmo (4) a celebraçăo das cerimônias do Batismo e da Santa Ceia.


Por outro lado, devemos ser cuidadosos tanto na avaliação da natureza do programa, como na escolha dos apresentadores e do tempo e do local dos ensaios e da apresentação. O uso adequado de dramatizaçőes implica năo meramente agirmos em conformidade com nossa própria consciência (sendo ela santificada), mas também com base nos princípios bíblicos e dos escritos de Ellen White. Toda cena deve glorificar a Deus e não aos apresentadores.


Referências:


1. Fundamentos da Educação Cristã, pág. 238.
2. Educação, pág. 263.
3. Caminho a Cristo, pág. 33.
4. Educação, pág. 263.
5. Para um estudo mais detido das declaraçőes de Ellen White sobre dramatizaçőes, ver Arthur L. White, "Representaçőes Dramáticas em Instituiçőes Adventistas" (Documento disponível no Centro de Pesquisas Ellen G. White, Instituto Adventista de Ensino - Campus 2, Engenheiro Coelho, SP). Tais declaraçőes podem ser melhor compreendidas através da leitura do artigo intitulado "Divertindo as Massas", de Benjamin McArthur, em: Gary Land, ed., The World of Ellen G. White (Washington, DC: Review and Herald, 1987), págs. 177-191.
6. A. L. White, "Representaçőes Dramáticas em Instituiçőes Adventistas", pág. 1.
7. Idem, págs. 5 e 6.
8. As principais citaçőes de Ellen White nas quais ela expressa sua desaprovaçăo ao uso de exibiçőes teatrais, encontram-se no livro Evangelismo, págs. 136-140.
9. Ver A. L. White, "Representaçőes Dramáticas em Instituiçőes Adventistas".
10. Ver Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia, 8Ş ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1992), pág. 111


Alberto R. Timm - Publicado na Revista Adventista de setembro de 1996

segunda-feira, 5 de março de 2012

Literal ou simbólico?


Gosto de analisar a maneira pela qual as pessoas interpretam a Bíblia por meio das atitudes de Caim e Abel. O primeiro representa uma visão simbólica do texto bíblico. Em outras palavras: está escrito, mas não quer dizer que foi ou tenha que ser exatamente assim. Já o segundo representa uma visão literal, ou seja, daqueles que simplesmente decidem crer na revelação da forma como está apresentada, mesmo que isso entre em conflito com a visão popular. 
Na história de ambos fica claro o conflito entre a visão literal e a simbólica. Mas esse não é o único debate do gênero em Gênesis. O livro das origens levanta essa discussão nos seus primeiros capítulos. Aliás, um debate que até pouco tempo atrás existia apenas no âmbito da ciência secular, mas agora também agita algumas mentes em nossa igreja. A questão em evidência é: tanto o relato da criação do mundo em seis dias quanto o da origem do pecado são literais ou alegóricos?
Pela ótica de Abel, essa é uma descrição literal. Afinal, está na Bíblia que é a revelação escrita de Deus. Envolve Sua ação sobrenatural, que está fora do alcance de nossa razão. Precisa ser lida e aceita pela fé.
Já, pela visão de Caim, é difícil imaginar uma pessoa culta, inteligente e com visão científica, acreditar que um mundo tão complexo tenha surgido de forma tão simples. Ou mesmo que possa crer em um Deus que expressa Suas grandes ações de forma tão “infantil”. Crer que tudo é fruto de uma evolução natural parece mais lógico, inteligente, científico e politicamente correto do que crer na simples ação sobrenatural de Deus. Afinal, como não crer nisso, uma vez que o tema é apresentado por homens inteligentes e eruditos, enquanto a mensagem da Bíblia parece alcançar pessoas simples e movidas por algo tão inocente chamado fé? Parece mais lógico tentar substituir a ação direta de Deus pela ação humana, apresentando nossa criação como um fenômeno natural, nosso desenvolvimento como um processo evolutivo e nossa sobrevivência como a vitória do mais apto. Esse foi o sacrifício de Caim. Substituiu a palavra de Deus pela visão humana, o literal pelo simbólico.
Como você compreende os primeiros capítulos de Gênesis? Pela ótica de Abel ou de Caim? Parece que, quanto mais “evoluídos” estão os seres humanos, mais cadeados precisam colocar em suas portas. Que evolução é essa? Estamos num processo de evolução ou degeneração? Veja o contraste entre o que ensinam os homens e o que vem da Palavra de Deus. A teoria da evolução indica que surgimos de forma natural, dentro de processos muito primitivos. A partir daí, a vida humana começou a se desenvolver de formas primarias até formas superiores, como as que temos hoje. Já a Revelação indica que fomos criados em nosso máximo potencial, de forma perfeita e pela mão de Deus, nosso Criador. Mas, com a entrada do pecado, começamos um processo de degeneração, alcançando nossos níveis mais baixos, até o fim da história, quando Cristo voltará para nos levar de volta ao estado original. São visões totalmente contrastantes. Na primeira, a ação humana e natural está no comando. O homem é quem dirige os processos. Em outras palavras, nossa vida está completamente em nossas mãos. E para onde estamos indo com o completo controle da vida em nossas mãos? O que está acontecendo com o mundo? A outra mostra Deus no comando. Ele nos fez e dEle dependemos para viver e decidir. Sua vontade é que nos mostra o caminho para nos desenvolvermos e ser felizes. Qual é sua visão, de Abel ou Caim?
Visão literal ou simbólica? - O mais preocupante, porém, são as consequências de uma visão bíblica literal ou simbólica. Para os que têm a visão de Caim, o relato dos primeiros capítulos de Gênesis não tem autoridade. Contém apenas uma mensagem ilustrada ou alegórica. Naturalmente, essa visão acaba se expandindo para toda a Bíblia e, com isso, qualquer pessoa pode escolher, de acordo com seu gosto, o que é simbólico ou literal. A Revelação passa a ser um simples brinquedo nas mãos humanas. Por essa razão, existem tantas crenças, polêmicas, diferenças religiosas e contradições entre os próprios cristãos. Além disso, a visão alegórica de Caim, sobre o Gênesis, destrói verdades fundamentais de nossa fé. O casamento, estabelecido por Deus entre um homem e uma mulher, perde sua razão. A família passa a ser um passatempo e o homossexualismo se torna aceitável. O sábado perde seu papel como memorial da criação. Se não houve criação em seis dias literais, significa que ele também não foi dado por Deus no Éden. Sendo assim, passa a ser apenas opcional e pertencente ao povo judeu. A existência de Satanás e do pecado se torna apenas uma história destinada a amedrontar ou manipular as pessoas. Como consequência, se não existe Satanás nem pecado, também não há necessidade do sacrifício expiatório de Cristo na cruz. Todo o plano da salvação perde sua função. Sendo assim, por que Jesus deveria voltar para nos recriar em uma nova Terra sem pecado?
Como você vê, a visão dos primeiros capítulos de Gênesis pela ótica de Caim abala as verdades bíblicas fundamentais, especialmente o plano da salvação. Mais ainda, anula nossa identidade. Somos adventistas do sétimo dia e levamos em nosso DNA o sábado e a vinda de Jesus. Se não cremos na literalidade dos primeiros capítulos da Bíblia, por que estabelecer um memorial para algo que não existe? O sábado passa a ser um simples dia de descanso e relacionamentos sociais. Se estamos evoluindo para uma raça superior, por que a necessidade da segunda vinda de Cristo?
Mantenhamos a posição de Abel e permaneçamos fiéis à pura revelação da Palavra de Deus.
Erton Köhler é presidente da Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Jesus, o “unigênito Filho de Deus” – Gerado ou Eterno?


A palavra “unigénito” (monogenês), quando aplicada a Cristo, destaca Sua singularidade – Ele é o único através do qual podemos obter vida eterna.


As Escrituras falam de Jesus como sendo eterno (Jo 1:1; Hb 1:8,10-12, etc). No entanto, deparamo-nos com passagens onde Jesus é chamado de “unigênito” (por exemplo, Jo 3:16), palavra que vem do latim ”unigenitus” cujo significado é “único gerado por seus pais, filho único”.1 Mas, se Jesus é eterno, como pode ter sido “gerado”?


As línguas bíblicas são de muito auxílio para uma boa interpretação dos textos bíblicos. Nesse sentido, um estudo do significado da palavra grega monogenês nos ajuda a compreender melhor a Pessoa do Filho em Sua relação com o Pai e a humanidade.


A palavra grega monogenês é composta de duas outras: monos, que significa “único” “só” “sozinho” “sem igual”2 e genos, cujo significado é “espécie” “gênero” “classe”3 Sua melhor tradução seria, então, “único” “único de sua espécie” “único de seu gênero”4.


A palavra monogenês tem sua correspondente na palavra hebraica yachíd , cuja tradução é “único” “precioso” como era o caso de Isaque (Gn22:2,12,16). Ele era “único”, no sentido de ser o único filho da promessa, e não no sentido de ser o único filho gerado por Abraão.5 Talvez a melhor tradução da palavra [monogenês] seja ”único” no sentido de “sem igual”.6


“Monogenês, único! é achado como título cristológico somente em João. Monogenês se emprega para destacar Jesus de modo sem igual, acima de todos os seres terrestres e celestiais.”7 Jerônimo empregou “unigenitus” na Vulgata, para combater a alegação ariana de que Jesus teria sido feito pelo Pai. Ao dizer que Jesus era “unigenitus” (“único gerado”), queria dizer que o Filho procede do Pai e que tem a mesma natureza divina do Pai, mas não foi feito 8, como é o caso das demais criaturas. “Jesus como monogenês é Aquele que pode dizer ‘Eu e o Pai somos um’” (Jo 10:30).9


Monogenês – [...] se traduz corretamente como “único” “único de seu gênero” [...] Monogenês se refere à posição (único em seu gênero). [...] Assim também com respeito aos cinco textos de João que se referem a Cristo, a tradução deveria ser uma das seguintes: “único” “precioso” “exclusivo” “incomparável” “o único de sua classe”; porém não “unigénito” que se originou com os primeiros pais da Igreja Católica e entrou nas primeiras traduções da Bíblia devido à influência da Vulgata Latina, texto oficial da Bíblia para a Igreja Católica. Refletindo com exatidão o grego, vários manuscritos redigidos em latim antigo, anteriores à Vulgata, dizem ”único” e não “unigénito”10


O vocábulo monogenês aparece nove vezes em o Novo Testamento11, três vezes no Evangelho de Lucas, cinco no Evangelho de João e uma vez no livro de Hebreus.


No Pvangelho de Lucas, monogenês não tem conotação teológica ou cristológica, mas se refere a filhos únicos de seus pais: o filho único de uma viúva de Naim (Lc 7:12), a filha única de Jairo (8:42), e o filho único de certo homem que rogou a Jesus que expulsasse o demônio de seu filho (9:38).


Já em Hebreus (11:17) o vocábulo monogenês é empregado para se referir a Isaque – filho único de Abraão e Sara (pois esse patriarca tinha outros filhos: Ismael, de sua escrava Hagar, cf. Gn 16:15; mais seis filhos, de sua esposa Quetura, cf. Gn 25:1, 2; além de outros filhos, de várias concubinas, cf. Gn 25:6). Pode-se também aplicar o termo monogenês a Isaque no sentido de que ele era o único filho da promessa.12


João é o único que aplica o termo monogenês como título cristológico, e o faz em todas as cinco vezes onde 0 termo aparece em seus escritos (4 vezes em seu Pvangelho e 1 vez em 1 Jo 4:9). João faz uso desse vocábulo para enfatizar a natureza ímpar, sem igual, de Jesus Cristo. Analisemos, mais detidamente, as passagens joaninas onde ele emprega o vocábulo monogenês:


João 1:14: “E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do unigénito do Pai.” Nesse texto, aparecem dois títulos dados ao Filho: Ele é o Verbo [lógos] ou a Palavra divina, o Criador, Aquele que ”estava com Deus” quando tudo foi criado, e “era Deus” (Jo 1:1-3). Além de Criador, Ele é também o Filho único de Deus, único de Sua espécie, pois é Deus pleno e homem pleno. Ele é o homem lesus Cristo, mas também é “Emanuel” – “Deus conosco” (Mt 1:23). “Quando João fala do Filho de Deus, ele tem primeiramente a idéia de que o homem Jesus Cristo não é exclusivamente homem, mas também o exaltado e pré-existente Senhor.”13 Assim, tendo em vista a argumentação no início deste artigo quanto ao significado de monogenês, poderia se traduzir esse termo como ”único”: “E vimos a Sua glória, glória como do [Filho] único do Pai.”


João 1:18: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem O revelou.” A expressão “Deus unigênito” (seria mais bem traduzida para “Deus único”) aparece em alguns manuscritos.14 Outros, no entanto, em vez de ”Deus único” trazem “o Filho único”15 Aqueles manuscritos que trazem ”Deus único” contribuem com uma afirmação adicional quanto à divindade do Verbo.16 Os que apresentam a expressão “o Filho único” destacam o relacionamento de Jesus com o Pai. ”Como Filho único Jesus está em íntima comunhão com Deus. Não há outro com o qual Deus possa ter semelhante relacionamento. Ele compartilha cada coisa com Seu Filho. Por essa razão, Jesus pode revelar Deus, não por ouvir dizer, mas por causa de Sua incomparável proximidade de relacionamento com Ele [o Pai] .”17


João 3:16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” Essa passagem pode ser considerada o resumo do Evangelho, e até da Bíblia. Como vimos, “unigênito” deveria ter sido traduzido por ”único” O emprego de monogenês, neste verso, segue a idéia joanina de enfatizar a forma particular de comunhão que o Filho tem com o Pai, como nenhum outro ser o tem. Cristo não é Filho de Deus por Seu nascimento natural (Encarnação), pois Seu relacionamento com o Pai antecede a esse acontecimento. Tal relacionamento é eterno. Assim, o fato de Deus dar Seu único Filho realça a profundidade de Seu amor pela humanidade.18 Ele deu o que de mais precioso poderia ser dado.


João 3:18: “Quem nEle crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigénito Filho de Deus.” Mais uma passagem de João, onde ele enfatiza a natureza ímpar de Jesus como o Filho de Deus.19 Só pode haver salvação se houver a aceitação do Filho único de Deus, “o qual, devido à Sua natureza sem par, é o único salvador dos homens.”20 Essa passagem de João ecoa as palavras de Pedro: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4:12).


1 João 4:9: “Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o Seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dEle.” Mais uma vez o vocábulo monogenês é empregado por João para destacar a natureza sem igual de Jesus Cristo, sem qualquer ênfase na idéia de geração. “Ele é o único Salvador e Mediador. O Filho de Deus é declarado unigênito, ‘termo que fala sobre ’relacionamento’ e não sobre origem.. Tal relacionamento é eterno.”21


Em conclusão ao estudo da palavra monogenês no Novo Testamento, pode-se ver que, nas passagens referentes a Cristo, ela é empregada pelo apóstolo João para destacar Sua singularidade, Jesus é o Único que é Deus pleno e homem pleno, o Único através do qual podemos obter vida eterna, o Único que tem poder absoluto sobre a morte, pois a venceu, ao ressurgir dos mortos pela vida que havia em Si mesmo (Jo 10:17 e 18; 11:25).


Referências:


1. Novo Dicionário Aurélio da Língua Poituguesa, p. 2020.
2. BARTELS, K. H, in: COENEN, L. & BROWN, C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 2. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 2564.
3. NICHOL, F. D, ed. Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia, v. 5. Boise: Publicaciones lnteramerianas, 1987, p. 880.
4. Angel Manuel Rodriguez chama a atenção para o fato de genos estar relacionado ao verbo ginomai (nascer, ser feito, tornar-se), e assim o vocábulo monogenès poderia também significar “único gerado”. Contudo, afirma ainda Rodriguez, que “há evidência lingüística indicando que no tempo do Novo testamento a idéia de derivação ou nascimento estava separada do substantivo verbal genos”. Assim, seria melhor não dar demasiada ênfase na etimologia de monogenês, mas na maneira como os autores o empregam. (R0DRÍGUEZ, M. A. “Christ as Monogenês: Proper Translation and Theological Significance”, Reflections – A BRI Newsletter, January, 2007, p. 6).
5. WRIGHT, J, in: COENEN, L. & BROWN, Dicionário lntemacional de Teologia do Movo Testamento, v. 2, op. cit, p. 565.
6. Ibid.
7. BARTELS, K, in: Ibid, p. 25 65.
8. Quisesse um escritor bíblico dizer que Jesus foi “gerado” no sentido de”ter sido feito” ou “concebido”pelo Pai teria empregado monogênnetos e não monogenês (cf. MOULTON e MILLIGAN, citado por APOLINÁRIO, P. As Testemunhas de Jeová e sua Interpretação da Bíblia,4. ed. São Paulo: Instituto Adventista de Ensino, 1986, p. 147).
9. Ibid, p. 2566.
10. NICH0L, F.D., ed. Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia,v.5. Boise: Publicaciones Interamericanas, 1987, p. 880.
11. As citações são da Versão Almeida Revista e Atualizada no Brasil, edição de 1993.
12. WRIGHT, J., in: COENEN, L & BR0WN, Dicionário Internacional  do Novo Testamento, v. 2, op. cit, p. 565.
13. KITTEL, G., Theological Dictionary of the New Testament, v. 4. Grand Rapids: Eerdmans Printing Company, 2006, p. 741.
14.
15.
16. WRIGHT, J, in: COENEN, L. & BROWN, C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 2, op. cit, p. 570.
17. KITTEL, G., ed. Theologial Dictionary of the New Testament, v. 4, op. cit., p. 740.
18. CHAMPLIN, R.N.O Novo Testamento lnterpretado, v. 2. São Paulo: Candeia, 1995, p. 312.
19. Ibid, p. 313.
20. Ibid.
21.lbid,v.6,p.278.


Texto de autoria de Ozeas C. Moura,Th . D., editor na Casa Publicadora Brasileira. Publicado na Revista Adventista de Janeiro/2008.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ossos secos, revivei!


Imagine que você está andando e de repente chega a um lugar, um vale em que você encontra centenas de ossos, ossos de seres humanos, secos.
De repente, você escuta um barulho estranho e observa uma cena aterrorizante: os ossos começam a se mexer, a unirem-se uns aos outros. Você logo observa que sobre aqueles ossos que estavam secos e dispersos, começam a surgir tendões, artérias, veias, carne, os órgãos começam a aparecer em seus devidos lugares, até que a pele, os pelos, e os cabelos finalmente nascem, transformando aqueles ossos secos em seres viventes. Como você reagiria?

Não, não estou descrevendo uma cena de filme de terror lançado por Hollywood. O que estou descrevendo, de forma semelhante, aconteceu a um profeta, da parte de Deus. O relato encontra-se em Ezequiel 37:1-10.
“Veio sobre mim a mão do Senhor; e ele me levou no Espírito do Senhor, e me pôs no meio do vale que estava cheio de ossos; e me fez andar ao redor deles. E eis que eram muito numerosos sobre a face do vale; e eis que estavam sequíssimos.

Ele me perguntou: Filho do homem, poderão viver estes ossos? Respondi: Senhor Deus, tu o sabes. Então me disse: Profetiza sobre estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor Deus a estes ossos: Eis que vou fazer entrar em vós o fôlego da vida, e vivereis. E porei nervos sobre vós, e farei crescer carne sobre vós, e sobre vos estenderei pele, e porei em vós o fôlego da vida, e vivereis. Então sabereis que eu sou o Senhor. Profetizei, pois, como se me deu ordem. Ora enquanto eu profetizava, houve um ruído; e eis que se fez um rebuliço, e os ossos se achegaram, osso ao seu osso.
E olhei, e eis que vieram nervos sobre eles, e cresceu a carne, e estendeu-se a pele sobre eles por cima; mas não havia neles fôlego.
Então ele me disse: Profetiza ao fôlego da vida, profetiza, ó filho do homem, e dize ao fôlego da vida: Assim diz o Senhor Deus: Vem dos quatro ventos, ó fôlego da vida, e assopra sobre estes mortos, para que vivam.
Profetizei, pois, como ele me ordenara; então o fôlego da vida entrou neles e viveram, e se puseram em pé, um exército grande em extremo.”

Você pode estar pensando: foi uma estória espantosa e até que interessante, mas de fato o que isso significa?
Muitas lições podem ser aprendidas neste relato bíblico, porém gostaria de levá-lo(a) a refletir em pelo menos uma. Como todo livro profético esta visão representa algo maior do que a própria ilustração. Observe seu significado nos versos seguintes:
“Então me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que eles dizem: Os nossos ossos secaram-se, e pereceu a nossa esperança; estamos de todo cortados.
Portanto profetiza, e dize-lhes: Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu vos abrirei as vossas sepulturas, sim, das vossas sepulturas vos farei sair, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel.
E quando eu vos abrir as sepulturas, e delas vos fizer sair, ó povo meu, sabereis que eu sou o Senhor. E porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos porei na vossa terra; e sabereis que eu, o Senhor, o falei e o cumpri, diz o Senhor.” Ezequiel 37:11-14
A visão tem como tema a restauração do povo de Israel. Eles estavam exilados, no cativeiro babilônico. Lá Israel estava morto espiritualmente, sem esperanças e espalhados como uma multidão de ossos secos. Não tinham mais esperança de “ressuscitar” para o recomeço do reino de Judá.
Para muitos exilados, a então recente experiência da destruição de Jerusalém, da deportação do povo para um país estrangeiro, marcava o fim de Israel como nação. Sua estrutura política e religiosa que os unia como nação havia sido destruída, e entre os cativos de Jerusalém na Babilônia, no ano de 586 a.C., estava Ezequiel.

A essa altura você pode se perguntar: Como Israel, o povo de Deus, havia perecido dessa forma?
Motivo: “Eles, porém, se rebelaram, e contristaram o seu santo Espírito; pelo que se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles.” Isaías 63:10
O povo de Deus havia perecido porque o Espírito Santo, triste por suas iniqüidades e por sua rebeldia, havia se retirado dele. Israel havia decaído espiritualmente ao ponto de adotar divindades pagãs, esquecendo-se do seu Deus. A desolação de Jerusalém e o cativeiro do povo israelita foram apenas conseqüências daqueles que resolveram não aceitar mais a proteção divina. Eles estavam como ossos secos, mortos espiritualmente. Sua fé em Deus havia morrido.
Foi então que a figura importante de Ezequiel, um dos remanescentes fiéis. Ele foi escolhido para transmitir uma mensagem que revitalizasse a fé em Deus e, como símbolos são mais impressionantes, ele deveria contemplar a cena dos ossos secos no vale e da ressurreição, como símbolo da ressurreição nacional e espiritual que Deus poderia realizar, se eles permitissem.
Quando indagado por Deus se aqueles ossos poderiam reviver, Ezequiel respondeu sabiamente: “Senhor Deus, tu o sabes”. Aliás, como Deus do impossível e originador da vida, certamente, se Ele quisesse, poderia fazer os ossos reviverem.
Foi então que, com a autoridade dada por Deus (não como sendo uma coisa pertinente de si próprio) Ezequiel dirigiu-se aos ossos secos e disse: “Ossos secos, ouvi a Palavra do Senhor”. Note a maneira pela qual ocorreu a vivificação, o reavivamento: A Palavra do Senhor fez com que os ossos se reintegrassem e os corpos ficassem em pé!

“Tudo bem”, você pode pensar, “foi uma história interessante do povo de Deus, a quase 3 mil anos atrás, e ainda bem que já passou”. Porém, eu lhe digo que o apelo de Deus a seu povo nos dias de Ezequiel nos alcança com a mesma força e igual significado. Somos igualmente confrontados e igualmente chamados à vida, visto que estamos numa situação semelhante ao povo de Israel na época.
Ellen White, dotada do mesmo espírito profético que Ezequiel foi habilitado, orienta ao povo de Deus nestes últimos dias:
“Um reavivamento da verdadeira piedade em nós, eis a maior e a mais urgente de todas as necessidades.” Reavivamento Verdadeiro, p. 9.
Isso porque todo reavivamento verdadeiro, proveniente do Senhor produz mudança, transformação, reforma, e nos dias de hoje mudanças são necessárias para o cumprimento da missão, para a proclamação do evangelho eterno.
Nós somos o povo de Deus nestes dias, o Israel espiritual, e precisamos ser reavivados como aqueles ossos secos, como o povo de Deus naqueles dias. Essa é a nossa maior necessidade!

A essa altura você já deve está se perguntando: “mas como eu posso ser reavivado?”
Recentemente a Igreja Adventista, ciente dessa necessidade, tomou um voto institucional, em suas mesas administrativas, da necessidade de haver um Reavivamento e Reforma. Apesar de ser uma iniciativa louvável que demonstra a preocupação da liderança quanto ao rumo da igreja, gostaria de te dizer que o Reavivamento não acontecerá em sua vida se depender dos outros. Se depender da igreja, não haverá uma Reforma nos seus hábitos e práticas. Não depende de votos administrativos. Ousaria até dizer que não depende nem de Deus! Isso porque Ele já está disposto a reavivar sua igreja:
“Nosso Pai celestial está mais disposto a dar seu Espírito Santo àqueles que Lhe peçam, do que pais terrenos o estão a dar boas dádivas a Seus filhos.” Reavivamento Verdadeiro, p. 9.
De quem depende, então? Só depende de você. O Espírito Santo espera que você permita ser reavivado. Entende? Você precisa permitir.
Mas como?
Note o que aconteceu nos reavivamentos e reformas segundo a História:
No século V a. C. (em Neemias 8), nos tempos de Esdras e Neemias, período em que o povo de Deus estava cativo pelo domínio persa, a leitura diária das Escrituras Sagradas produziu arrependimento e o povo se comprometeu em cumprir fielmente a Lei de Deus;
No 1º século depois de Cristo os apóstolos uniram-se em íntima comunhão cristã. Através da Palavra de Deus milhares foram convertidos;
No século CVI, através de Lutero, Calvino e outros, pelo estudo das Escrituras houve um grande movimento de reforma, de modo que tradições e crenças supersticiosas foram abandonadas;
No século XIX iniciado por Guilherme Müller, através do estudo das Escrituras, aprofundando-se em Daniel e no Apocalipse, houve um grande movimento de reavivamento e o resultado foi o nascimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia;
Percebeu? O elemento propulsor sempre presente nesses reavivamentos históricos sempre foi a Palavra de Deus! E não aconteceu diferente no relato bíblico inicial. Ezequiel 37:4 diz: “Ouça a Palavra do Senhor”. Dessa forma os ossos secos se tornaram seres viventes!
O reavivamento só acontecerá se você decidir buscar a Palavra de Deus! Para tanto, crie bons hábitos, tais como:
Despertar mais cedo do que o de costume só para buscar a Cristo em oração;
Dedicar mais tempo para estudar a Palavra de Deus;
Ser sincero e buscar por em prática os ensinos aprendidos na Bíblia.

Em nossos dias, pela graça de Deus, um gigantesco movimento de Reavivamento cristão acontecerá, e como resultado, a igreja de Deus iluminará a terra com a Glória de Deus, milhares se converterão, e finalmente veremos o Senhor retornar.
Tome agora um firme propósito de buscar a Deus e, através de Seu Espírito, ser reavivado! Ossos secos, revivei! 
[Baseado no artigo, de mesmo título, da Revista Adventista edição de julho de 2011, sob a autoria de Alceu L. Nunes]

domingo, 20 de novembro de 2011

Quantas Vezes Satanás foi Expulso do Céu?



O texto de Apocalipse 12:7-12, parece que fala de duas expulsões de Satanás – uma quando ele se rebelou e guerreou contra Cristo no Céu e outra quando o Cordeiro derramou Seu sangue na cruz. Seria isso assim?


O contexto do capítulo 12 de Apocalipse mostra que os versos 7-12 são um parêntese entre 12:6 e 13, que falam do dragão (Satanás) em sua obra de perseguir a igreja, representada por uma mulher. E a razão para esse texto parentético é que ele explica como um anjo criado perfeito chegou a se tornar “diabo” (acusador, caluniador) e “Satanás” (adversário).


O texto de Apocalipse 12:7-12 mostra que houve dois momentos em que Satanás foi expulso do Céu – em um, como seu lugar de habitação (v. 9) e em outro, como “acusador dos irmãos” (v. 10).


Os versos 7-9 falam da primeira expulsão de Satanás e  seus anjos do Céu como “o lugar deles” (v. 8). Ou seja, ele e seus anjos foram expulsos de sua morada celeste. Isaías 14:12 lamenta esse fato: “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva!” E Ezequiel aponta a razão para essa expulsão: “Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra…” (Ez 28:17). Foi o orgulho de Satanás, que resultou em rebelião e guerra contra Deus, que acarretou sua expulsão do Céu. Então ele e seus anjos “foram atirados para a Terra” (Ap 12:9), não por uma escolha arbitrária da parte de Deus, mas porque foi neste planeta que as mentiras desse anjo rebelde foram aceitas, em contraposição à clara ordem de Deus para que o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal não fosse comido (Gn 2:17). Fazendo nossos primeiros pais transgredirem a ordem divina, Satanás tomou de Adão o título de “Príncipe deste mundo” (Jo 14:30)


Os versos 10-12 de Apocalipse 12 falam da segunda expulsão de Satanás, dessa vez com respeito ao acesso dele ao Céu. Jesus, referindo-Se à Sua morte na cruz (Jo 12:27), exclamou: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso” (12:31). O Salvador não estava Se referindo à primeira expulsão de Satanás porque: (1) o verbo está no futuro passivo (“será expulso”). Ou seja, era uma expulsão a ocorrer ainda no futuro, e (2) é dito que o momento dessa expulsão seria quando chegasse a “hora” de Cristo (12:27), e quando Ele fosse “levantado da terra” – expressões inequívocas para Sua morte na cruz. Foi olhando ao futuro, ao momento de Sua morte (cf. Comentário Adventista, em inglês, v. 5, p. 781), que Cristo pôde dizer: “Eu via Satanás caindo do Céu como um relâmpago” (Lc 10:18), momento em que seu poder seria quebrado. Os versos 10-12 de Apocalipse 12 aludem a essa segunda expulsão pelas seguintes razões: (1) a expressão “Agora, veio a salvação…, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos” não pode ser aplicada à primeira expulsão de Satanás, visto que só depois dela é que ele se tornou “acusador dos irmãos” (Comentário Adventista, em inglês, v. 7, p. 810), e (2) o “agora” aponta, não à primeira expulsão de Satanás, mas para aquela que ocorreu no momento em que o “sangue do Cordeiro” foi vertido na cruz (v. 11).


Apocalipse 12:12 mostra o resultado dessa segunda expulsão de Satanás, de seu acesso, mesmo que limitado, ao Céu, bem como aos mundos que não pecaram: “Por isso, festejai, ó céus, e vós, que neles habitais. Ai da Terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta.” Anjos e seres de outros mundos que não pecaram podem festejar, pois não mais podem ser tentados nem incomodados pelo diabo. A Terra e seus habitantes devem se lamentar, visto que, após a cruz e restrito a esse planeta, Satanás e seus anjos concentram todos os seus malignos esforços na degradação deste mundo e na perdição de seus habitantes.


Expulso de sua morada celestial, Satanás não ficou restrito somente à Terra. Isso é evidenciado pelos dois concílios celestiais aos quais ele se fez presente, mencionados no livro de Jó (1:6; 2:1). Embora não saibamos onde ocorreram (e parece que não foi no Céu, visto que ele foi expulso de lá), vê-se que não foi na Terra, pois, ao ser perguntado de onde vinha, ele respondeu: “… de rodear a Terra e passear por ela” (Jó 1:7; 2:2). Tais concílios ocorreram em algum lugar do Universo, que não a Terra.


Ellen G. White menciona que, mesmo após sua expulsão do Céu, Satanás tinha acesso (limitado) a ele: “Um anjo do Céu está passando. Ele o chama e suplica uma entrevista com Cristo. Isto lhe é concedido. Então, relata ao Filho de Deus que está arrependido de sua rebelião e deseja voltar ao favor divino. [...] Cristo chorou ante o infortúnio de Satanás, mas disse-lhe, como pensamento de Deus, que ele jamais poderia ser recebido no Céu. [...] as sementes da rebelião ainda estavam nele. [...] Como não poderia ser admitido no interior dos portais celestes, aguardaria, mesmo à entrada, para escarnecer dos anjos e procurar contender com eles ao passarem” (História da Redenção, p. 26).


A verdade é que, até a morte de Cristo, ainda havia simpatia por Lúcifer entre os seres de outros mundos que não pecaram. Mas ao verem o que ele fez com Cristo na cruz, “desarraigou-se Satanás das simpatias dos seres celestiais. Daí em diante, sua obra seria restrita” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 761). E essa restrição se deu quando, na cruz, “foi expulso o acusador dos nossos irmãos” (Ap 12:10), sendo ele restrito apenas a esse mundo. É por isso
que “os céus e os que nele habitam” (Ap 12:12) podem festejar, pois estão para sempre livres do tentador.


Por Ozeas C. Moura, doutor em Teologia Bíblica e professor no SALT Unasp – Campus 2, Engenheiro Coelho. Publicado na RA de Set/2011.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Deus Se revela de várias maneiras


“Muitas vezes e de modos diversos falou Deus” (Hb 1:1, BJ)


Jesus enalteceu a fé dos que não precisam ver para crer, mas não recriminou aqueles que, como Tomé, precisam de algo mais.


À medida que o tempo avança para seu fim e as pessoas transitam confusas entre o relativismo pós-moderno e o pensamento secular, vai se cumprindo a profecia de que a fé (genuína) seria artigo raro (cf. Lc 18:8). Neste mundo carente de referenciais seguros, duvidoso quanto à existência da verdade absoluta (para muitos, só existe uma verdade absoluta: a de que não existem verdades absolutas!), Deus tem sido misericordioso e, como fez com Tomé, está revelando evidências mais que suficientes de que Ele continua conosco e de que Suas promessas são certas.


Deus Se revela. É isso que Ele nos garante em Sua Palavra: “Há coisas que não sabemos, e elas pertencem ao Senhor, nosso Deus; mas o que Ele revelou…, é para nós e para os nossos descendentes” (Dt 29:29, NTLH). É verdade que Deus é infinito, todo-poderoso e, por isso mesmo, difícil de ser compreendido plenamente pelos seres humanos caídos. Por isso, Ele tem que falar de “muitas maneiras” (Hb 1:1). Veremos quatro delas a seguir; três presentes e uma futura.


1. Revelação natural


“Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o Seu eterno poder, como também a Sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens [incrédulos] são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1:20).


Em 9 de outubro de 2009, a matéria de capa da revista Science destacou a incrível arquitetura do genoma e a capacidade que o DNA tem de armazenar quantidade formidável de informações que supera em muito os maiores computadores conhecidos.


“Nós sabemos há muito tempo que o DNA, em pequena escala, tem o formato de espiral dupla”, disse o pesquisador Erez Lieberman-Aiden. “Mas se a espiral dupla não se dobrasse, o genoma de cada célula teria dois metros de comprimento. Os cientistas de fato não entendiam como a espiral dupla se dobra para caber no núcleo de uma célula humana, que tem cerca de um centésimo de milímetro de diâmetro.”


O genoma adota uma organização muito incomum, conhecida como fractal. A arquitetura específica que os cientistas encontraram, chamada “glóbulo fractal”, permite que a célula empacote o DNA em um formato incrivelmente denso – a densidade de informações alcançada é trilhões de vezes mais alta do que a encontrada na memória de um computador!


E isso sem permitir que o genoma se embarace ou dê nós, o que inviabilizaria o acesso da célula ao seu próprio genoma. Além disso, o DNA pode facilmente ser desdobrado e novamente dobrado durante os processos de ativação genética, repressão genética e replicação celular.


No livro Signature in the Cell (Assinatura na Célula), o Dr. Stephen Meyer mostra que o código digital embutido no DNA aponta poderosamente para o design inteligente e ajuda a desemaranhar o mistério que Darwin não conseguiu: Como a primeira forma de vida surgiu? As pesquisas do Dr. Meyer mostram que as novas descobertas científicas estão apontando para o design inteligente como a melhor explicação para a complexidade da vida e do Universo.


Origem do sexo e o milagre chamado homeobox – Em seu livro Crer Para Ver (Editora Textus), Ken Taylor aponta uma das grandes dificuldades para o modelo darwinista: a explicação para a origem dos sexos: “Parece ser muito mais fácil acreditar em um Deus que criou homem e mulher do que em uma mutação simultânea que produziu um macho e uma fêmea humanos da mesma geração, em um mesmo local.” Como explicar que mutações aleatórias tivessem dado origem aos complexos órgãos sexuais que, apesar de totalmente diferentes, são perfeitamente compatíveis, capazes de gerar um novo ser? Mas, quando o assunto é genética, a coisa fica ainda pior para os que sustentam o pensamento darwinista-naturalista…


Na matéria “Genética não é destino”, a revista Veja de 22 de abril de 2009 aponta outra maravilha relacionada à reprodução: “Embora bastante investigados, os mecanismos que levam à concepção de um ser humano ainda guardam mistérios para a ciência. Durante os nove meses de gestação, o zigoto – célula única que resulta da fecundação do óvulo pelo espermatozoide – se divide paulatinamente até se transformar nos 100 trilhões de células que formam os 220 tipos de tecido do corpo humano. O que ainda intriga os cientistas é como essa divisão se dá de modo tão organizado que o resultado é um bebê com dois olhos, dois ouvidos, dois braços, duas pernas – tudo sempre no mesmo lugar e distribuído de forma simétrica. O que impede que um zigoto produza aleatoriamente um ser com pés nos ombros e nariz no umbigo? Essa é uma das questões centrais da embriologia, ramo científico que estuda o desenvolvimento fetal.”


Uma das descobertas recentes relacionadas a esse assunto foi a do gene controlador homeobox, que age acionando outros genes e garantindo seu correto funcionamento, produzindo órgãos diferenciados a partir das células iniciais iguais. O texto diz que “esses genes mantiveram-se praticamente intactos durante a evolução” e que “são eles que ensinam aos outros genes o caminho a seguir para dar continuidade às espécies e não deixam a receita da vida perder o caminho”.


A pergunta é: Como o homeobox surgiu? E até que isso acontecesse, não deveria ter ficado um rastro de anomalias no registro fóssil? Em vez disso, o que se percebe é a simetria, de alto a baixo da coluna geológica…


Complexidade do cérebro – No livro Como o Cérebro Funciona (Publifolha), John McCrone afirma que o cérebro humano “é o objeto mais complexo que o homem conhece. Dentro dessa massa aparentemente grosseira e disforme há o maior projeto de design já visto”.


McCrone prossegue: “Um cérebro humano tem aproximadamente 100 bilhões de neurônios, células nervosas cerebrais. Cada um desses neurônios pode fazer entre mil e várias centenas de milhares de sinapses. Uma sinapse é a junção entre dois neurônios. Logo, seu cérebro é capaz de produzir cerca de 1.000 trilhões de conexões. [...] Estamos apenas começando a decifrar o cérebro, um órgão extremamente complexo. [...] Se a substância branca de um único cérebro humano fosse desenrolada, formaria um cordão longo o suficiente para dar duas voltas ao redor do globo terrestre. Então, imagine só… Tudo isso, os neurônios e as suas conexões, as células de apoio, o cabeamento, fica emaranhado dentro de seu crânio.”


Davi não conhecia todos os detalhes de complexidade biológica revelados pela ciência moderna, mas foi capaz de dizer a Deus: “Graças Te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as Tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem” (S1 139:14).


Davi tem toda razão: as obras criadas apontam para o Criador. O design inteligente aponta para o Designer superinteligente.


2. Revelação escrita


Como vimos, a criação revela o design inteligente que aponta para o Designer. Mostra as digitais do Criador, mas não diz muito a respeito do caráter, dos sentimentos e propósitos desse Criador. Por isso, Ele resolveu tornar esses aspectos mais claros e permanentes na forma de um livro divino-humano, escrito por pessoas escolhidas, mas inspirado pelo Espírito Santo.


O conceituado escritor Moacyr Scliar, em artigo publicado na revista Biblioteca Entre Livros (Editora Duetto), em maio de 2008, se admira: “O que dizer de um livro que está traduzido em 2.167 idiomas e dialetos, que, no último século, teve edições totalizando mais de 2 bilhões de exemplares, está ao alcance de 85% da humanidade e é lido há cerca de 3 mil anos? Que tal coisa não existe, responderia um editor incrédulo (sobretudo em editor brasileiro, acostumado a pequenas tiragens). Mas existe, sim. Esse livro é a Bíblia, que merece, com justiça, o título de maior best-seller de todos os tempos. [...] Como se explica que um livro que começou a ser escrito há quase três mil anos, ainda tenha tantos, e às vezes tão importantes, leitores? Essa pergunta é mais significativa quando se considera que os textos envelhecem. Mas a Bíblia é uma exceção. Trata-se de um livro eminentemente legível, mesmo em tradução, e mesmo nos dias atuais, uma fonte de sabedoria e ensinamento até para pessoas não religiosas.”


Uma área de estudos que tem demonstrado a veracidade das Escrituras é a Arqueologia. Apenas um exemplo entre inúmeros:


O livro do profeta Daniel, no capítulo 5, menciona que o rei de Babilônia em 539 a.C. era Belsazar. Mas a história oficial afirmava que esse homem nem sequer havia existido. “Para vexação de tais críticos, W. Fox Talbot publicou em 1861 a tradução de uma oração – escrita em caracteres cuneiformes – proferida pelo rei Nabonidus, na qual ele pede aos deuses que abençoem seu filho Belsazar!” (II. Fox Talbot, “Translation of Some Assyrian Inscriptions”, Journal of the Royal Asiatic Society 18 [18611:195 – citado por C. Mervyn Maxwell, no livro Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel, p. 91).


Os críticos, então, aceitaram a existência de Belsazar, mas em sua resistência contra a Palavra de Deus, alguns deles continuaram insistindo em declarar que Belsazar jamais fora identificado como rei, fora da Bíblia. Até que, em 1924, foi traduzido e publicado o Poema de Nabonidus (Tablete n° 38.299 do Museu Britânico) por Sidney Smith. Esse documento histórico oficial atesta que Nabonidus deixou Babilônia e se dirigiu a Tema, e no trono deixou quem? Belsazar!


Para vergonha dos críticos, uma vez mais o relato bíblico foi confirmado. Daniel vivia na corte de Babilônia e estava familiarizado com esse costume de o filho assumir o cargo do pai quando este saía em excursões militares. Portanto, “em instância após instância quando se destacava a inexatidão histórica como sendo prova da autoria tardia e espúria dos documentos bíblicos, o relatório dos hebreus tem sido vindicado pelos resultados das escavações recentes, e comprovou-se que os juízos zombeteiros dos documentaristas carecem de fundamento” (Gleason L. Archer Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento, p. 183, 184).


Por isso (e muito mais), podemos crer na Bíblia, que diz de si mesma: “Toda a Escritura é inspirada por Deus” (2Tm 3:16).


3. Revelação pessoal


Jesus Cristo é “a imagem do Deus invisível” (Cl 1:15). Ele assumiu a forma humana para transpor a barreira entre o divino e o humano e Se relacionar de perto com Suas criaturas. Por isso, Jesus é Emanuel, “Deus conosco” (Mt 1:23).


Deus caminhou entre nós! Sentiu fome e sede. Experimentou perseguição e abandono. E, finalmente, sem pecado, morreu como malfeitor a fim de que pudesse oferecer vida eterna aos que mereciam a morte eterna. Mas não para aí. Ele ressuscitou e está vivo! Mas Jesus ressuscitou mesmo?


Em seu livro O Jesus Que Eu Nunca Conheci (Editora Vida), o jornalista Philip Yancey apresenta algumas razões que nos fazem crer nesse evento espetacular. Destaco duas:


Mulheres foram as primeiras testemunhas da ressurreição, fato que nenhum conspirador do primeiro século teria inventado. Os tribunais judeus nem mesmo aceitavam o testemunho de mulheres. Uma cobertura deliberada teria destacado Pedro ou João, ou, melhor ainda, Nicodemos. Considerando que os evangelhos foram escritos décadas após os acontecimentos, os autores tiveram tempo para corrigir tal anomalia – a não ser, naturalmente, que não estivessem criando uma lenda, mas registrando os fatos como eram.


Uma conspiração também teria ajeitado as histórias das primeiras testemunhas. Havia duas figuras vestidas de branco ou apenas uma? Por que Maria Madalena confundiu Jesus com um jardineiro? Ela estava sozinha ou com Salomé e a outra Maria? Conspiradores poderiam ter feito um trabalho mais ordeiro que descrevesse o que mais tarde proclamariam ser o acontecimento mais
importante da história.


E mais: “Naturalmente, havia uma verdadeira conspiração posta em movimento não pelos discípulos de Jesus, mas pelas autoridades que tiveram que lidar com o embaraçoso fato da sepultura vazia. Elas poderiam ter dado um basta a todos os loucos rumores acerca de uma ressurreição simplesmente apontando para uma sepultura selada ou apresentando um corpo. Mas o selo fora quebrado e o corpo havia desaparecido; por isso, houve a necessidade de uma conspiração oficial. [...] Certamente, os discípulos não dariam a vida por amor a uma teoria de conspiração remendada. Seria mais fácil e mais natural honrar um Jesus morto como um dos mártires-profetas cujas sepulturas eram tão veneradas pelos judeus.”


Jesus disse de Si mesmo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por Mim” (Jo 14:6). E João registrou: “No princípio era o Verbo [Logos], e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dEle. [...] E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do Unigênito do Pai” (Jo 1:1-3, 14).


“O brilho do ‘conhecimento da glória de Deus’ vê-se ‘na face de Jesus Cristo’. Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai; era a ‘imagem de Deus’, a imagem de Sua grandeza e majestade, ‘o resplendor de Sua glória’. Foi para manifestar essa glória que Ele veio ao mundo. Veio à Terra entenebrecida pelo pecado, para revelar a luz do amor de Deus, para ser ‘Deus conosco’. [...] Desde que Cristo veio habitar entre nós, sabemos que Deus está relacionado com as nossas provações, e Se compadece de nossas dores. Todo filho e filha de Adão pode compreender que nosso Criador é o amigo dos pecadores. Pois em toda doutrina de graça, toda promessa de alegria, todo ato de amor, toda atração divina apresentada na vida do Salvador na Terra, vemos ‘Deus conosco’ (Mt 1:23)” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 19, 24).


4. Revelação plena


Jesus Cristo é vida e todos os que O recebem têm a promessa da vida eterna. Quando formos para o Céu, “todos os tesouros do Universo estarão abertos ao estudo dos remidos de Deus. Com indizível deleite os filhos da Terra entram de posse da alegria e sabedoria dos seres não caídos. Participam dos tesouros do saber e entendimento adquiridos durante séculos e séculos, na contemplação da obra de Deus. E ao transcorrerem os anos da eternidade, trarão mais e mais abundantes e gloriosas revelações de Deus e de Cristo” (Ellen G. White, Educação, p. 307).


E o mais importante e maravilhoso: “Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povo de Deus, e Deus mesmo estará com eles” (Ap 21:3).


Habitando a Terra recriada e libertos das maiores limitações humanas – o pecado e a mortalidade – seremos capazes de contemplar o Criador face a face e vislumbrar dimensões até então inimagináveis. Poderemos obter respostas às nossas mais profundas inquietações – com o próprio Criador do Universo que utilizou diversas maneiras para Se revelar, simplesmente porque nos ama e antecipava com grande alegria esse momento do reencontro!


O que você vai fazer com isso? – Uma coisa é certa: ou toda essa história (a revelação de Deus) é o maior embuste de todos os tempos – afinal, Jesus dizia ser Deus e os autores bíblicos dizem falar em nome dEle – ou tudo isso é a pura verdade. Meio termo aqui é impossível. Jesus não pode ser encarado como simplesmente um mestre, filósofo ou sábio. Não! Um homem sábio jamais se faria igual a Deus nem diria ser ele o caminho, a verdade e a vida. Se não fosse Deus, seria um louco e deveria ser desprezado. Ou aceitamos Jesus como Deus, ou O abandonamos!


Com a Bíblia ocorre o mesmo: ou ela é a Palavra de Deus, como de fato afirma ser, ou é uma grande coleção de “lorotas”. Mais: ou seus autores estavam sinceramente enganados, pensando ter ouvido a voz de Deus, ou planejaram tudo para enganar as pessoas. Ou, então, ela é verdadeiramente a Palavra de Deus. Não tem como ficar em cima do muro, considerando a Bíblia um livro de sabedoria ou de histórias.


Deus Se revelou. O que você fará com essa revelação?


Texto de autoria de Michelson Borges, editor associado de livros na Casa Publicadora Brasileira. Publicado na RA de Set/2011.

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